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Tradutor: CRISTIANA HONORATO Revisor: Gislene Kucker Arantes
Então, gostaria de começar focando
no animal mais perigoso do mundo.
Assim, quando falamos sobre animais perigosos,
a maioria das pessoas pode pensar em leões ou tigres ou tubarões.
Mas é claro que o animal mais perigoso
é o mosquito.
O mosquito já matou mais seres humanos
do que qualquer outra criatura na história da humanidade.
Na verdade, provavelmente somando todos eles juntos,
o mosquito matou mais seres humanos.
E o mosquito já matou mais seres humanos que as guerras
e a peste.
E poderíamos pensar, não é,
que com toda nossa ciência, com todos os nossos avanços na sociedade,
com melhores cidades, melhores civilizações, melhor saneamento,
riqueza, que o controle de mosquitos seria mais eficaz,
e consequentemente reduziria esta doença.
E isso não é realmente o caso.
Se fosse o caso, não teríamos
entre 200 e 300 milhões de casos de malária a cada ano,
e não teríamos
um milhão e meio de mortes por malária,
e não teríamos uma doença
que era relativamente desconhecida 50 anos atrás
e de repente se transformou
na maior ameaça de vírus transmitida por mosquitos que temos,
e a qual é chamada de dengue.
Então, há 50 anos, praticamente ninguém tinha ouvido falar dela,
ninguém certamente no ambiente europeu.
Mas atualmente a dengue, de acordo com a Organização Mundial de Saúde,
infecta entre 50 a 100 milhões de pessoas a cada ano,
o que é equivalente a toda a população
do Reino Unido sendo infectada anualmente.
Outras estimativas colocam esse número em cerca do dobro
do número de infecções.
E a dengue tem crescido em velocidade fenomenal.
Nos últimos 50 anos, a incidência de dengue
aumentou trinta vezes.
Agora me deixe dizer-lhe um pouco sobre o que é a dengue,
para aqueles que não sabem.
Vamos supor que você saia de férias.
Vamos supor que você vá para o Caribe,
ou que você vá para o México. Você poderia ir para a América Latina,
Ásia, África, em qualquer lugar na Arábia Saudita.
Você poderia ir para a Índia, no Extremo Oriente.
Isso realmente não importa. É o mesmo mosquito,
e é a mesma doença. Você está em risco.
E vamos supor que você foi picado por um mosquito
transmissor do vírus.
Bem, você poderia desenvolver os sintomas da gripe.
Que poderiam ser bastante leves.
Você poderia sentir náuseas, dor de cabeça,
seus músculos podem sentir como se estivessem contraindo,
e você poderia realmente sentir como que os seus ossos estivessem quebrando.
E esse é o apelido dado a esta doença.
É chamada de "febre quebra-ossos”,
porque é assim que você pode sentir.
Agora, o estranho é, uma vez que você foi picado
por este mosquito, e você teve essa doença,
seu corpo desenvolve anticorpos,
por isso, se você for picado novamente por este sorotipo,
ele não causará efeito em você.
Mas não é um vírus, são quatro,
e a mesma proteção que lhe dá os anticorpos
e protege contra o mesmo vírus que você tinha antes,
na verdade faz você muito mais suscetível aos outros três.
Então, da próxima vez que você contrair a dengue,
se for uma cepa diferente, você estará mais suscetível,
é provável que você tenha sintomas piores,
e você terá mais chances de ter as formas mais graves,
dengue hemorrágica ou síndrome do choque.
Então, você não quer a dengue uma vez,
e certamente não quer isso de novo.
Então, por que está se espalhando tão rápido?
E a resposta é isso aqui.
Trata-se do Aedes aegypti.
É um mosquito que veio, como o próprio nome sugere,
do Norte da África, e se espalhou pelo mundo.
Agora, de fato, um único mosquito só vai viajar
cerca de 180 metros em toda a sua vida. Não viajam muito longe.
O que eles são muito bons em fazer é pegar carona,
particularmente os ovos.
Eles colocam seus ovos em água limpa, qualquer piscina, qualquer poça,
qualquer bacia para pássaros, qualquer vaso de flores,
qualquer lugar onde haja água limpa, eles vão colocar seus ovos,
e se essa água limpa estiver perto de algum meio de transporte, perto de um porto,
se estiver em qualquer lugar perto de um transporte,
aqueles ovos, então, serão transportados ao redor do mundo.
Foi o que aconteceu. A humanidade tem transportado
esses ovos ao redor do mundo,
e esses insetos infestaram mais de 100 países,
e agora há 2,5 bilhões de pessoas vivendo em países
onde esse mosquito reside.
Para dar apenas alguns exemplos
do quão rápido isso aconteceu,
em meados dos anos 70, o Brasil declarou: "Nós não temos o Aedes aegypti."
e, atualmente, eles gastam cerca de um bilhão de dólares
por ano tentando se livrar dele, tentando controlá-lo,
apenas uma espécie de mosquito.
Dois dias atrás, ou ontem, eu não me lembro bem,
vi uma reportagem da Reuters onde dizia
que a Ilha da Madeira teve seus primeiros casos de dengue,
cerca de 52 casos, com cerca de 400 casos prováveis.
Ou seja, dois dias atrás.
Curiosamente, Madeira recebeu o primeiro inseto em 2005,
e aqui estamos nós, alguns anos mais tarde,
com os primeiros casos de dengue.
Assim, a única coisa que você descobrirá é que aonde o mosquito vá,
a dengue seguirá.
Uma vez que tenha o mosquito em sua área,
qualquer um que venha para essa área, com dengue,
o mosquito irá mordê-lo, o mosquito vai morder em outro lugar,
em outro lugar, em outro lugar,
e começará uma epidemia.
Portanto, temos de ser bons em matar mosquitos.
Quero dizer que não pode ser muito difícil.
Bem, há duas maneiras principais.
A primeira delas é usar larvicidas.
Usar produtos químicos. Coloca-os em água, onde eles se reproduzem.
Porém, em um ambiente urbano, é extraordinariamente difícil.
Tem que depositar os produtos químicos em cada poça,
cada bacia para pássaros, cada tronco de árvore.
Não é nada prático.
A segunda maneira que podemos fazer
é tentar matar os insetos que voam ao redor.
Esta é uma imagem de fumigação.
Aqui o que alguém está fazendo
é uma mistura de produtos químicos em uma fumaça
e basicamente espalhando através do ambiente.
Poderíamos fazer o mesmo com pulverização aérea.
Isso é realmente uma coisa desagradável,
e se fosse um pouquinho bom, não teria esse aumento maciço
de mosquitos e não haveria esse aumento maciço de dengue.
Portanto, não é muito eficaz, mas é provavelmente
a melhor coisa que temos no momento.
Dito isto, a sua melhor forma de proteção
e minha melhor forma de proteção é uma camisa de manga longa
e um pouco de DEET (repelente) para acompanhar.
Então, vamos começar de novo. Vamos projetar um produto,
desde o início, e decidir o que queremos.
Bem, nós claramente precisamos de algo que seja eficaz
na redução da população de mosquitos.
Não faz sentido apenas matar o estranho mosquito aqui e ali.
Queremos algo que faça com que a população caia
para que não ocorra a transmissão da doença.
É evidente que o produto que teremos precisa ser seguro para os seres humanos.
Usaremos em torno de seres humanos.
Tem que ser seguro.
Não queremos um impacto duradouro sobre o meio ambiente.
Não queremos fazer nada que não possa ser desfeito.
Talvez um produto melhor venha em 20, 30 anos.
Legal. Não queremos um impacto ambiental prolongado.
Queremos algo que seja relativamente barato, ou de baixo custo,
porque há uma quantidade enorme de países envolvidos,
e alguns deles são mercados emergentes,
alguns deles países emergentes, de baixa renda.
E, finalmente, queremos algo que seja específico para a espécie.
Queremos nos livrar do mosquito que causa a dengue,
mas realmente não queremos atingir todos os outros insetos.
Alguns são muito benéficos. Alguns são importantes para o ecossistema.
Este não é. Ele é um invasor.
E não queremos atingir todos os insetos.
Só queremos atingir este.
E na maior parte do tempo, encontraremos essa variedade
de insetos em torno de nossas casas,
de modo que - seja o que for tem que atingir esse inseto.
Tem que ir até a casa das pessoas, nos quartos,
nas cozinhas.
Há duas características da biologia do mosquito
que realmente nos ajudam neste projeto,
e que é, em primeiro lugar, os machos não picam.
É só o mosquito fêmea que realmente pica.
O macho não pode picá-lo, não vai picá-lo,
não tem as partes da boca para picá-lo.
Somente a fêmea.
E em segundo lugar é um fenômeno
que os machos são muito, muito bons em encontrar fêmeas.
Se há um mosquito macho que você libera,
e se há uma fêmea ao redor, aquele macho vai encontrar a fêmea.
Então, basicamente, usamos esses dois fatores.
Então aqui está uma situação típica,
macho encontra fêmeas, muitas crias.
Uma única fêmea vai colocar cerca
de até 100 ovos de uma só vez,
até cerca de 500 em sua vida.
Se o macho for o portador de um gene
que causa a morte das crias,
então a prole não irá sobreviver,
e em vez de ter 500 mosquitos voando por aí,
não terá nenhum.
E se pudermos acrescentar mais, vou chamá-los de estéreis,
pois a prole vai realmente morrer em fases diferentes,
mas vou chamá-los de estéreis por enquanto.
Se liberarmos mais machos estéreis no meio ambiente,
em seguida, as fêmeas estarão mais propensas a encontrar um macho estéril
que um fértil, e arrastaremos essa população para baixo.
Então os machos são soltos, procuram pelas fêmeas,
eles acasalam. Se eles se acasalarem com sucesso, então não haverá prole.
Se não encontrarem uma fêmea, então morrerão de qualquer jeito.
Eles só vivem alguns dias.
E é exatamente onde estamos.
Portanto, esta é a tecnologia que foi desenvolvida
na Universidade de Oxford, há alguns anos.
A própria empresa, Oxitec, vem trabalhando
muito nos últimos 10 anos, em uma espécie de
via de desenvolvimento semelhante a que se obteria com uma empresa farmacêutica.
Assim, depois de 10 anos de avaliações internas, ***,
chegamos a um ponto em que acreditamos que está pronto.
E então, temos saído para grandes ambientes abertos,
sempre com o consentimento da comunidade local,
sempre com as licenças necessárias.
Então, fizemos *** de campo agora nas Ilhas Cayman,
um pequeno, na Malásia,
e mais dois agora no Brasil.
E qual foi o resultado?
Bem, o resultado tem sido muito bom.
Dentro de quatro meses de lançamento,
alteramos a população de mosquitos
— na maioria dos casos estamos lidando com vilas
de aproximadamente 2.000, 3.000 pessoas, esse tipo de tamanho,
começando pequeno —
reduzimos a população do mosquito
em 85 por cento em cerca de quatro meses.
E, de fato, os números depois que começamos,
ficam muito difíceis de contar, porque simplesmente não há qualquer vestígio.
Então, foi o que vimos em Cayman,
tem sido o que temos visto no Brasil
nos ensaios.
E agora o que estamos fazendo é que estamos passando por um processo
de expansão para cidades de cerca de 50.000 habitantes,
para que possamos ver este trabalho em grande escala.
E nós temos uma unidade de produção em Oxford,
ou ao sul de Oxford, onde produzimos esses mosquitos.
Podemos produzi-los,
em um espaço um pouco maior do que este tapete vermelho,
podemos produzir cerca de 20 milhões por semana.
Podemos transportá-los ao redor do mundo.
Não é muito caro, pois é uma xícara de café -
algo do tamanho de uma xícara de café
conterá cerca de três milhões de ovos.
Assim, os custos de frete não são o nosso maior problema.(Risos)
Foi o que conseguimos. Poderíamos chamá-la de fábrica de mosquitos.
E para o Brasil, onde temos feito alguns ensaios,
o governo brasileiro já construiu
sua própria fábrica de mosquitos, muito maior que a nossa,
e será usada para a expansão no Brasil.
Em suma... Enviamos ovos de mosquitos.
Separamos os machos das fêmeas.
Os machos foram colocados em potinhos
e o caminhão vai descendo a estrada
e vão soltando os machos conforme caminham.
Na verdade é um pouco mais preciso do que isso.
Liberamos de modo que
se obtenha uma boa cobertura da área.
Então, pegue um mapa do Google, divida-o,
identifique até que ponto eles podem voar,
e certifique-se que está soltando de forma que se tenha
a cobertura da área, e depois você volta,
e dentro de um espaço de tempo muito curto,
haverá o declínio da população.
Isso já foi feito na agricultura.
Existem várias espécies diferentes na agricultura,
e espero que logo
seremos capazes de juntos obter algum financiamento para que possamos
começar a olhar para a malária
Essa é a nossa posição no momento,
e ainda tenho algumas considerações finais,
ou seja, que esta é outra maneira que a biologia
vem sendo usada para complementar a química
em alguns avanços sociais nesta área,
e essas abordagens biológicas estão chegando
sob formas muito diferentes,
e quando pensamos sobre a engenharia genética,
há enzimas destinadas ao processamento industrial,
enzimas, enzimas geneticamente modificadas em alimentos.
Temos culturas geneticamente modificadas, fármacos,
novas vacinas,
todos utilizando mais ou menos a mesma tecnologia, mas com resultados bem diferentes.
E eu sou a favor, na verdade. É claro que sou.
Sou favorável especialmente onde as tecnologias mais antigas
não funcionam bem ou se tornaram inaceitáveis.
E, embora as técnicas sejam semelhantes,
os resultados são muito, muito diferentes,
e se você considerar a nossa abordagem, por exemplo,
e comparar a, digamos, a culturas G.M.,
ambas as técnicas tentam produzir um enorme benefício.
Ambos têm um benefício adicional,
que é a tremenda redução no uso de pesticidas.
Mas, enquanto uma cultura G.M. está tentando proteger a planta,
por exemplo, e dar-lhe uma vantagem,
o que fazemos é tomar o mosquito
e dar a ele a maior desvantagem possível,
tornando-o incapaz de se reproduzir de forma eficaz.
Portanto, para o mosquito, é um beco sem saída.
Muito obrigado. (Aplausos)