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Eu sou Bill Turnbull.
Nesse verão, estou partindo para chegar
ao fundo de uma história que tem captado as manchetes...
...e é uma da qual eu tenho certa experiência,
porque eu também sou um apicultor.
- Aí está. Assim está bem? - Perfeito.
OK. Oh, eu odeio apertá-la dessa forma.
Eu encontrei alguns cientistas
fazendo experimentos extraordinários -
colocando pequenas antenas nas abelhas.
Ela saiu, ela saiu.
Lá vai ela.
Isso é apenas parte de uma tentativa
para entender o que está havendo com nossas abelhas.
Esse é o maior mistério
a atingir o campo de que se tem notícia.
As abelhas estão morrendo aos montes e não sabemos o porquê.
Eu irei examinar as evidências
que apontam para três dos principais suspeitos.
Primeiro, um invasor mortal que está devastando as colônias.
Eu sei, através de uma má experiência,
que se você vir um deles em sua colméia,
você sabe que estará em grandes problemas,
porque eles podem eliminar uma colônia
em um par de meses, não é?
Um tempo muito curto, sim. O beijo da morte, não é?
Segundo - pesticidas. Seu uso está gerando muita controvérsia.
E, finalmente, as mudanças que estamos fazendo
na forma como cultivamos nossa terra.
O que está claro é que essas criaturas extraordinárias
estão morrendo aos bilhões.
Esse é um documentário sobre o que as está matando.
O QUE ESTÁ MATANDO NOSSAS ABELHAS?
Eu cuido de abelhas há mais ou menos 12 anos.
Elas sempre me pareceram criaturas belas e complexas.
Pense nisso: uma abelha, em um único dia,
irá visitar dezenas de milhares de flores.
Suas asas irão bater 200 vezes por segundo,
elas irão voar a 24 km/h,
em um raio de até 6.5 km da colméia, em busca de comida
e, no entanto, elas sempre encontram o caminho para casa.
E isso, para minhas abelhas, é o lar.
Elas não vivem muito -
em média, apenas algumas semanas durante o verão.
Mas, nessa época,
elas percorrerão 640, talvez 800 km no total.
E aqui está a melhor parte:
elas são o único inseto que nos fornece alimentos,
na forma de um líquido dourado - o mel.
Mas nossas abelhas estão claramente com problemas.
Eu vim à fazenda Heather Hills, em Perthshire,
para encontrar o produtor comercial de mel Mark Noonan,
e descobrir o que está havendo com suas abelhas.
Você tem um bom número de abelhas por aqui, não é?
Sim, esse é um de nossos quatro locais
nos arredores de Blairgowrie
e temos, provavelmente, cerca de 40 colméias aqui.
Elas estão aqui há cerca de 3 ou 4 semanas.
É junho e Mark está emprestando suas abelhas
a um fazendeiro local
para polinizar centenas de acres de framboesas.
Então, qual é o trato entre você e o fazendeiro, aqui?
Bem, é uma simbiose natural
onde ele sabe que se nossas abelhas polinizarem sua fruta,
ele terá muito mais frutas.
Ele terá uma melhor qualidade nas frutas
e nós obteremos o néctar das framboesas,
o qual produz um mel fantástico.
É um acordo que atende bem às abelhas e ao fazendeiro.
Então, essas têm florescido durante as últimas 2, 3 semanas.
E como você pode ver, o fruto já começou a se formar.
Parece bastante saudável.
Os frutos ali têm um belo formato.
E isso irá produzir toneladas de framboesas.
Mas nem tudo está bem na fazenda Heather Hills.
As abelhas de Mark estão morrendo
e as colméias vazias servem para prová-lo.
Então, vocês tiveram um ano difícil?
Tivemos sim, Bill.
Foi um inverno incrivelmente ruim...
...e se agravou com, certamente,
o pior verão que já tivemos, também no ano passado.
Então, essas caixas deveriam estar todas
cheias de abelhas trabalhando?
Sim, elas foram retiradas do campo,
porque as abelhas não sobreviveram ao inverno,
o qual veio exatamente em maio.
- Deve ter sido devastador. - Foi muito triste, sim.
Acreditamos ter perdido 300 ou 400 colméias
só nesse inverno passado.
E tivemos 5 anos ruins em sequência.
Bem, Heather Hills deveria ter
1.300 colméias funcionando, nessa época do ano,
e temos menos da metade disso.
E isso é bastante comum não apenas através da Escócia,
mas em todo o Reino Unido.
Eu ouvi relatos de alguém que perdeu 96%.
Certo.
E menos uma abelha! Ela voou pro meu ouvido.
Então, é uma posição bem delicada para você.
O que você está fazendo para sobreviver?
Venha dar uma olhada.
Aqui nós temos algumas abelhas importadas,
recém-chegadas essa manhã, diretamente da Itália.
Elas provavelmente viajaram na estrada uns 2-3 dias.
Espero que tenham comido bem até agora, não é?
Ver isso realmente me faz entender
o problema que nós temos aqui com as abelhas.
As perdas de Mark é uma história já bem familiarizada
que está se repetindo ao redor da Grã-Bretanha.
Hoje, eu irei ajudá-lo a pôr centenas de milhares
de novas abelhas recém-chegadas dentro de suas colméias.
É isso.
Vamos lá, garotas. Isso mesmo.
Eu não gosto de chacoalhá-las...
- ...mas precisa ser feito. - Precisa ser feito, sim.
E trata-se de 1.5 kg de abelhas.
- Todas ficarão bem aí? - Sim, sim.
Mark culpa as perdas em sua fazenda
pelos verões ruins que tivemos nos últimos anos.
O fato é que as abelhas são muito sensíveis ao clima.
Se a temperatura cai abaixo dos 14°C, ou se chove,
elas simplesmente não irão sair da colméia.
A produção de néctar das flores também depende da temperatura -
então, se está mais frio,
haverá menos néctar e, portanto, menos comida.
E se o clima está ruim
quando novas rainhas virgens saem para o vôo de acasalamento,
isso pode implicar em uma baixa fertilização
e em uma colônia mais fraca,
a qual poderá, eventualmente, morrer.
E todos esses fatores somados a um verão ruim podem implicar
que as abelhas não conseguirão sobreviver
a um leve inverno, muito menos a um mais forte.
O número de colméias de abelhas só na Inglaterra
caiu em torno de 50% entre 1985 e 2005.
Diferentes estudos indicam uma queda no número total de abelhas
ao longo dos últimos 50 a 80 anos.
Assim, em termos do clima, por si só,
fica claro que ele não explica
o que está matando as nossas abelhas -
deve haver outros fatores.
Meus colegas da BBC Breakfast
acham que estou um pouco obcecado.
Mas eu quero dar a eles uma idéia do que poderia acontecer
se seguirmos perdendo nossas abelhas.
É manhã de segunda e a equipe do Breakfast está de pé
desde antes do amanhecer.
Esse seria o nosso café da manhã normal, mas não hoje.
Certo, pessoal, aqui vem o café da manhã.
Hoje, eles irão oferecer um menu
que inclui apenas alimentos
que as abelhas não precisam produzi-los.
Certo, sirvam-se.
- Onde está a manteiga? - Oh, sem manteiga...
Oh, torrada seca...
- Um pouco de chá? - Obrigada.
- Sem leite pro meu chá? - Sem leite. - Sem leite...
Vocês devem estar se perguntando o que mais tem.
Querem saber o que mais tem?
Nada. É só isso aí.
Tudo o que eles têm, essa manhã, para escolher
é pão integral, pão comum e chá preto.
Queremos apenas algumas frutas.
Sem frutas. Não há frutas disponíveis hoje.
Algum tomate para pôr na torrada?
Tomates? Não. Nada de tomates.
É uma fruta polinizada pelas abelhas.
Gostaram? Curtindo a refeição?
- Não muito. - Não. - Não.
Está um pouco seca, Bill. Um pouco sem graça.
Vocês devem saber - eu estive examinando o desaparecimento
de nossas abelhas e o que está havendo de errado,
e eu pensei em fazer...
um experimento para ver qual o impacto
que teria em nossas vidas
se não houvesse abelhas aqui na Grã-Bretanha.
E esse é o resultado.
Então, sem as abelhas, ocorre pouca polinização,
então, isso é o que restou.
Mas para compensar isso,
aqui está o café da manhã que vocês podem ter
enquanto ainda tivermos abelhas.
Aproveitem.
Para ser franco, isso é só uma exibição -
não é algo com o qual eles estão acostumados.
Tirem as abelhas e você corre o risco de perder isso.
A maioria das frutas, mas não as bananas e os abacaxis.
E a maioria dos vegetais,
juntamente com o feijão, rico em proteínas.
E como a maioria dos alimentos animais
é feito de plantas polinizadas pelas abelhas,
isso significa que as carnes e os produtos do dia-a-dia
também poderiam tornar-se mais escassos.
Então, realmente temos que salvar as abelhas,
se quisermos ter cafés da manhã, como esse.
Isso nos dá uma idéia do quão importantes são as abelhas.
Eu quero acompanhar as pesquisas mais revolucionárias
sobre o que está matando nossas abelhas em tais números.
Estou começando em um lugar bem especial.
Rothamsted Research -
eles vêem estudando as abelhas aqui há 90 anos
e eles recentemente inventaram
algumas formas engenhosas de as observarmos.
Estou aqui para ver o primeiro suspeito em nosso mistério...
...o ácaro Varroa.
Esse pequeno parasita levou à disseminação de alguns
dos vírus mais contagiosos
e amplamente distribuídos do planeta,
matando bilhões de abelhas e fazendo merecer seu nome -
o Varroa destructor (destruidor).
Ele pode ser absolutamente devastador.
O primeiro passo é realmente tentar entender o inimigo.
Pobre abelhinha.
Então, Jean, onde ele está nessa abelha aí?
OK, eu acho que se você olhar, mesmo que a olho nu,
bem na lateral do abdômen.
- Certo, ali na barriga? - A parte avermelhada...
Céus, parece que ela está carregando
uma bola em seu estômago...
É enorme. Tem, no mínimo, 2 milímetros de diâmetro.
Então, eles ficam aí e meio que se alimentam dos...
Fazem uma punção do tecido mole e, a seguir, começam a comer...
- A alimentar-se dos fluidos corporais. - Exatamente.
Eu sei, através de uma má experiência,
que quando você encontra um desses
você sabe que está com grandes problemas,
porque eles podem eliminar uma colônia
em questão de meses, não é?
Um tempo muito curto, sim. O beijo da morte, não é?
Jean Devonshire usa um dos instrumentos mais poderosos
em seu laboratório -
um microscópio de varredura eletrônica.
Ela congela a abelha com nitrogênio líquido.
A seguir, ela a cobre
com uma camada ultra-fina de ouro condutivo.
Agora, podemos ver cada pequeno detalhe de nosso inimigo.
O que estamos vendo agora aí, no centro da imagem,
é o próprio Varroa...
...e se eu foco nele...
...podemos ver, com óbvia facilidade, os pelos do corpo.
Pode ver as placas esternais e o Varroa situado no centro.
E a cabeça está enterrada ali,
ou seja, ele está se alimentando, agora?
Provavelmente sim... Provavelmente isso.
O Varroa sabe que se ele for para baixo dessas placas,
ele pode, na verdade, perfurar as partes moles do tecido.
O ácaro varroa chegou no Reino Unido em 1992.
Sua disseminação tem sido geralmente relacionada
à importação de abelhas infectadas ao redor do mundo.
E as nossas abelhas não tinham resistência.
Uma vez que acaba de mastigar, ele deixa essas feridas abertas,
o que deixa a abelha propensa a infecções,
então, é um carinha bem esperto, não é?
É sim.
Felizmente, o ácaro, por si só, pode ser tratado.
Mas quando você olha mais de perto,
você pode ver quem poderá ser o verdadeiro culpado -
um vírus.
Aqui estão as partículas do vírus.
Estamos olhando para elas com uma ampliação de 40000x.
Obviamente, haverá um monte delas em seu corpo,
as quais, eventualmente, causarão sua morte.
E esse é o tipo de coisa que eles podem fazer:
essa abelha está sofrendo com o Vírus da Asa Deformada (DWV).
Você pode ver com bastante facilidade o que houve com ela.
Mas o que torna o ácaro Varroa tão sinistro
é que ele pode causar algo bem mais díficil de se ver.
Os vírus carregados pelos ácaros Varroa
podem ter efeitos bem óbvios e devastadores
mas, na realidade,
eles só são vistos nos casos extremos.
E o que preocupa os pesquisadores agora
é que eles podem ser, simplesmente,
uma pequena minoria de todas as infecções,
e que muitas outras abelhas, aparentemente saudáveis,
possam ser afetadas pelos vírus de um modo menos visível,
o que seria igualmente devastador para a colônia.
O que eles estão tentando descobrir aqui é o que acontece
com essas abelhas infectadas, uma vez que saem da colméia.
Para fazer isso, eles inventaram algo realmente notável.
Jason, parece que nós temos algum tipo de
estação militar de espionagem aqui. O que é isso?
Bem, esse é um radar especialmente projetado,
desenvolvido por nós, que nos permite acompanhar
os percursos de vôo das abelhas, quando elas saem da colméia.
Você pode estudar facilmente o que acontece
quando as abelhas retornam à colméia ou saem,
mas o que ocorre em seus vôos de coleta,
a uma certa distância,
sempre foi um desafio enorme para se estudar,
e só quando desenvolvemos um sistema, como esse radar,
que fomos capazes de acompanhar, com precisão,
seus trajetos de vôo ao longo de centenas de metros,
inclusive de quilômetros ou mais.
Como ele funciona, então?
Há milhões de insetos lá fora, na área que você está examinando,
mas você mira em indivíduos específicos?
Exatamente. Assim, temos uma abelha em particular,
a qual estará carregando
essa antena bem pequena e fina em suas costas.
Quando o comprimento de onda
do feixe emitido pelo radar a atinge,
o pequeno diodo no centro converte o sinal que chega
em um sinal distinto, o qual tem metade do comprimento de onda
e, assim, podemos escutar esse sinal
com uma placa receptora especial
e, portanto, simplesmente rastrear esse determinado inseto,
sem sermos inundados por ecos.
Isso é quase tão longo quanto a própria abelha.
Não é um pouco grande demais para ela?
As abelhas evoluíram ao longo de milhões de anos
para carregar objetos pesados.
Elas podem carregar quantidades de pólen
praticamente de metade do seu peso corporal,
e esse dispositivo pesa apenas cerca de 1/10 do peso corporal,
então, elas carregam esse peso com bastante facilidade,
e ele não afeta de modo algum o seu comportamento.
Mas, para mim, ver é crer.
O homem do outro lado do experimento é o Dr. Stephan Wolf.
Então, aqui temos a abelha.
- Ela não pode passar por isso, pode? - Ah, ela pode.
OK...
Só para saber... Estaremos aqui o dia todo!
- Aí está! Assim está bom? - Perfeito. - OK.
Eu apenas...oh, eu odeio apertá-la dessa forma.
Segure o transponder na parte branca.
- Na parte branca? - Sim. - Pela base.
E ponha sobre ela, bem suavemente.
- Assim? - Pronto.
E está feito. Vamos lá.
É um pouco como correr
com um cabo de vassoura na sua cabeça, não é?
Talvez.
Essa tecnologia já revelou alguns dos segredos
da vida de uma abelha,
em particular, um dos grandes mistérios sobre essas criaturas -
como, ao deixar a colméia pela primeira vez,
elas conseguem achar o caminho lá fora e o caminho de volta,
visitando até 2.000 flores por dia, sem se perderem.
Ela está em um cenário que nunca viu antes,
então, ela começa com giros bem curtos ao redor da colméia,
e, a seguir, ela estende esses giros para cada vez mais longe,
de modo a compor uma memória do terreno,
o que lhe irá permitir retornar até a colméia.
E aqui está ele - o vôo de uma simples abelha.
Isso é o que chamamos de percurso exploratório -
a rota que ela faz ao redor da colméia pela primeira vez.
Ao longo de vários dias, ela constrói um mapa mental
de mais de 10 km² ao redor da colméia.
O radar nos permite ver isso
com uma precisão sem precedentes.
O que descobrimos é que seu vôo de orientação
é muito, muito eficiente,
explorando uma enorme área em um intervalo curto de tempo
e com um esforço energético mínimo, obviamente.
Vim aqui ver o experimento mais recente de Stephen.
Ele quer descobrir se os vírus transportados pelo ácaro Varroa
afetarão a forma como as abelhas voam.
E isso é importante, porque se elas não puderem
navegar adequadamente, algumas delas irão morrer.
Então, temos um colônia aqui e nessa colônia vivem abelhas,
as quais têm diversos níveis de doenças.
Essas abelhas viveram apenas dentro dessa caixa.
Elas não conhecem o cenário ao seu redor.
Todas as abelhas aqui estão saudáveis o bastante para voar.
A questão é:
o vírus afeta o seu vôo de exploração?
Então, você tem aqui uma voluntária não tão disposta.
Quase a deixei cair ali!
OK, Jason. Abelha equipada. Verifique.
Oh, sim. Aí está. Lá vai ela.
- OK, Jason. Ela saiu, ela saiu. - Aquecendo-se um pouco.
Lá vai ela.
OK, ela saiu, ela saiu, Jason.
OK, a abelha está voando, a abelha está voando.
Voando para longe da caixa.
Ela está lá fora em algum...
Você definitivamente a viu decolando, não foi?
A abelha está fazendo um giro.
A abelha parou, a abelha parou.
Quando a abelha n°1 pousa no chão durante um tempo,
é minha chance de me dirigir
até a estação de radar através do campo.
- Oi, Jason, como vai? - Olá. - Entre. - Certo.
No canto inferior esquerdo da tela,
uma mancha vermelha marca a posição da colméia
a pouco mais de 200 metros do radar.
Abelha a 300 metros, agora.
E cada vez que o radar varre a área,
uma marca branca revela a posição da abelha.
OK, a abelha está voltando, a abelha-alvo está voltando.
O radar registra cada giro sucessivo que a abelha faz,
até que ela retorna em segurança à colméia.
A abelha está na colméia, está na colméia, Stephan.
Então, agora a abelha retornou à colméia?
Sim, exatamente, sim.
Ao longo do verão, Stephan e seus colegas
estarão tentando descobrir se o vírus
afeta o vôo das abelhas.
Vamos ter de esperar por esses resultados.
Mas esse sistema, o qual nos permite acompanhar as abelhas
de uma maneira que jamais pudemos antes,
deve nos fornecer algumas pistas importantes.
Podemos ver se os vôos estão perto ou não do desejado.
É isso que queremos mostrar com esse experimento,
se as doenças, na verdade, mudam um
ou todos esses aspectos, ou talvez nenhum.
O que nós sabemos sobre o ácaro da Varroa, então,
é que ele matou bilhões de abelhas.
Sabemos que ele dissemina vírus,
mas ainda não sabemos qual o efeito total
que esses vírus podem ter.
Mas eu não acho que esse seja o quadro completo...
...não ainda.
O Professor Simon Potts
trouxe-me ao Museu de História Nacional
da Universidade de Oxford...
...para me mostrar uma
das maiores coleções de abelhas no Reino Unido.
Algumas delas não se parecem com abelhas...
...bem, não com as abelhas que nós esperávamos.
Não, exatamente.
Bem, isso é porque elas têm uma incrível diversidade
naquilo que elas fazem.
Aqui está realmente um bom exemplo
da variedade tão grande que você tem.
Nós, na verdade, temos 250 espécies,
algo com o qual muitas pessoas ficarão surpresas.
Algumas pessoas verão abelhas comuns no jardim,
talvez, ocasionalmente, uma mamangava,
mas, na verdade, há 250 para se ver.
Algumas delas são muitíssimo pequenas,
quase como se fossem mosquitos.
Sim, podem parecer, mas quando você olha,
elas têm 2 pares de asas
e elas, de fato, são verdadeiras abelhas.
Como você define uma abelha, então?
Bem, eu...
Bem, essencialmente ela é uma hymenoptera,
logo ela tem uma cintura pequena, comprimida,
a qual você pode ver.
Todas essas abelhas têm isso.
As abelhas são sempre bem distintas de aparência, não?
Elas têm esse "tanquinho".
Oh, sim, elas voam muito, queimando muitas calorias.
E elas saem e coletam o pólen e o néctar,
logo, elas são vegetarianas,
enquanto que suas parentes próximas - as vespas -
são frequentemente carnívoras.
E quando se trata de polinizar os cultivos,
elas são as heroínas anônimas do mundo da polinização.
As abelhas comuns contribuem mas, na verdade,
são as abelhas selvagens, particularmente,
que fazem a maior parte do serviço.
Então, por exemplo, no Reino Unido,
pense nas enormes áreas de sementes oleaginosas,
pés de feijão e de maçãs,
e também todos os frutos de baga que temos.
Nós só temos abelhas comuns o bastante para polinizar
um máximo absoluto: um terço.
Então, quem faz o resto?
São esses caras. Eles trabalham duro
para garantir que tenhamos tudo polinizado.
Não apenas os cultivos, mas também as flores do campo.
Essas abelhas sofrem com o Varroa?
Elas não sofrem com o Varroa,
mas esses caras também estão com um verdadeiro problema.
Parece que o que você está dizendo é que,
mesmo se eliminássemos o problema do Varroa...
...ainda teríamos uma grande questão em nossas mãos?
Absolutamente.
Abelhas comuns e centenas de outras espécies,
todas estão em declínio.
Mas essas outras espécies não sofrem com o ácaro Varroa.
Não há dúvidas de que o Varroa é letal.
Ao se espalhar pelo globo durante os últimos 50 anos,
ele levou à morte de bilhões de abelhas comuns.
Em alguns países, incluindo os EUA, ele está ligado
ao desaparecimento de colônias inteiras.
Algo que eles chamam de Transtorno do Colapso da Colônia.
Aqui na Grã-Bretanha, no entanto, é bem diferente.
Para começar, o Varroa afeta apenas as abelhas comuns,
não as abelhas selvagens,
e elas também têm estado em declínio aqui há algum tempo.
E, crucialmente, ele só chegou aqui cerca de 20 anos atrás
e sabemos que nossas abelhas vêm morrendo muito antes disso.
Então, apesar de ser verdade que o Varroa jogou
uma pressão adicional sobre as abelhas comuns,
as evidências indicam
que ele não é o responsável pelo problema todo.
Nosso segundo suspeito - os pesticidas -
são o mais controverso.
Nesse ano, a Comissão Européia anunciou uma suspensão de 2 anos
sobre o uso de certos pesticidas,
chamados neonicotinóides.
Eles disseram que a evidência agora mostrava que eles eram
um perigo inaceitável para as abelhas que se alimentam
dos cultivos de flores.
E é isso que está gerando
mais tensão do que qualquer outra coisa -
os pesticidas com neonicotinóides.
Muitas vezes, eles ficam aderidos às sementes,
como nessa colza,
assim, quando a planta cresce,
o químico se espalha através do organismo,
atingindo as raízes, as folhas, as flores
e, até mesmo, o néctar e o pólen.
Bem, um dos termos que os cientistas usam
para medir o quão letal são essas coisas
é chamado "LD50" - a dose que é letal em 50% -
metade dos alvos do ***.
E a dose letal para uma abelha
é de cerca de 4 bilionésimos de 1 grama,
o que levanta uma questão importante -
o que essas coisas estão fazendo com nossas abelhas?
Neonicotinóides são agentes nervosos
e afetam apenas os insetos.
Eles foram introduzidos nos anos 1990
para substituir pesticidas mais perigosos.
Quando usados apropriadamente, eles causam uma paralisia letal
em pequenas pragas, como os pulgões.
Mas se eles fazem isso com os pulgões...
...qual é o seu efeito nas abelhas?
Há um cientista na Alemanha investigando exatamente isso.
40 anos de pesquisa tornaram o Professor Randolf Menzel
uma autoridade global no sistema nervoso das abelhas.
Uma das coisas que o excitou durante muitos anos
é o quão avançada é a sua comunicação.
Especialmente a sua famosa dança "agitada".
Ao retornar de uma jornada de coleta,
essa abelha está dizendo a suas colegas de trabalho
exatamente onde ela encontrou seu pólen.
Elas simplesmente usam o corpo para...
...informar os outros sobre qualquer lugar importante,
lá fora, no campo -
uma flor maravilhosa ou uma fonte de pólen.
Ao fazer esses círculos, a abelha requebra repetidamente
durante uma fase de sua dança.
Aqui, andando em linha reta.
É essa parte que codifica
a direção em relação ao sol e a distância.
Andar para frente enquanto requebra
sinaliza às outras abelhas para seguir na direção do sol.
O número de vezes que ela se move de lado a lado
lhes diz o quanto elas terão de voar.
O cérebro que controla esse tipo de comportamento
é, obviamente, bastante sofisticado.
Esse tipo de processamento cognitivo
exige um altíssimo grau de processamento neural
nesse pequeno cérebro.
Isso significa que qualquer coisa que perturbe
esses delicados processos neurais
deve ter um grande impacto.
Com a tecnologia dos radares, Randolf e sua equipe investigam
se neonicotinóides podem afetar os cérebros das abelhas.
Eles estão testando a sua capacidade
de encontrar o seu caminho para casa após se alimentar.
Esse é o local da refeição.
Isso significa que as abelhas foram treinadas na colméia
e nós as treinamos passo-a-passo até esse local.
Nós a capturamos no momento em que ela chega aqui,
a colocamos dentro de um recipiente como esse,
o qual contém 50 microlitros de solução de açúcar.
As abelhas são alimentadas com uma de duas soluções diferentes.
Temos um grupo que é alimentados com pesticidas,
postos na solução de açúcar;
e outro grupo não alimentado com pesticidas.
E nós os comparamos.
As abelhas já viajaram muito até o local da refeição.
E isso significa que elas sabem como voar em uma linha reta
entre esse ponto e a colméia.
Elas fazem isso no piloto automático,
usando o que é conhecido como sua memória vetorial.
Então, quando ela estiver pronta para iniciar o vôo,
ela irá voar de volta à colméia usando a sua memória vetorial.
Isso é tudo que ela precisará fazer.
E ela espera avistar a colméia a 500 metros a noroeste.
Mas hoje Randolf irá confundir as abelhas um pouco.
Ele irá levá-las para centenas de metros de distância
do local onde elas normalmente comiam.
E, a seguir, acompanhará suas tentativas
de retornarem à colméia.
OK, agora estamos no local de soltura.
Então, vamos dizer que esse é o local onde elas são soltas.
O ponto de alimentação está por ali
e essa é a colméia, nessa direção.
Então, digamos que esse é o ponto de alimentação,
essa é a colméia,
e elas têm que voar 500 m ao longo desse vetor.
Agora, vamos liberá-las aqui,
Implica que elas usem sua memória vetorial
e isso implica que elas têm que voar nessa rota.
Mas quando elas chegam aí, não há uma colméia aí.
Então, a pergunta é: se o animal é liberado aqui,
como eles encontram sua casa,
e qual o efeito dos pesticidas em seu comportamento?
Primeiro, ele libera uma abelha de controle
que não foi alimentada com o pesticida.
Enquanto a abelha tenta achar o caminho de volta para casa,
ela é rastreada pelo radar.
Ela voa no piloto automático 500 metros para noroeste.
Ela vai até onde acredita que a colméia deveria estar...
...mas como ela não está lá,
ela tem que usar um sistema
de navegação diferente para encontrá-la.
Um que usa marcações no campo para achar o caminho de casa.
Então, ela está...está voando em direção à colméia?
Sim, ela está pousando lá, agora.
OK, ela já chegou.
- Ela já está lá. - OK, ela já está lá.
Antes de ela desaparecer dentro da colméia,
nossa abelha com radar é interceptada
e a antena é removida.
A seguir vem uma abelha que foi alimentada com o pesticida.
Rapidamente fica evidente que está acontecendo algo.
Então, isso significa que ela retorna.
Ela se vira para o norte.
Ao invés de seguir diretamente para casa,
ela começa a fazer uma série de mudanças aleatórias de curso.
Oeste. OK.
Onde ela está, agora?
Então, ela está voando ainda mais para o norte.
Após alguns minutos,
a abelha parece estar completamente perdida.
Ela está girando ao nosso redor, incerta de que direção seguir.
Ela não fez o que nós esperávamos que fizesse,
voar ao longo da direção vetorial,
o que implicaria em ela voar exatamente nessa direção.
Após 2 anos de estudo, Randolf mostrou que, com essas doses,
os neonicotinóides afetam
os processos cognitivos mais complexos das abelhas.
Especialmente sua memória do cenário ao seu redor.
Nós testamos cerca de 200 abelhas,
sempre com abelhas de controle e umas tratadas com pesticidas.
E nós descobrimos que as abelhas de controle são
simplesmente fantásticas.
Elas encontram a sua casa rapidamente,
elas usam o vetor e a memória da paisagem
e elas se saem muito bem.
Quanto às abelhas tratadas,
dependendo das dosagens e das substâncias,
descobrimos que elas ficam meio que mais confusas.
Elas normalmente se saem bem
quando elas voam ao longo do vetor,
mas quando elas precisam recorrer à memória da paisagem,
então, elas normalmente ficam perdidas.
Eles podem mudar bastante o seu comportamento.
E isso simplesmente me diz que
os neonicotinóides põem em perigo as abelhas domésticas.
São trabalhos como esse
que estão por trás da proibição da Comissão Européia.
Mas uma coisa que eu aprendi nessa história de detetive
é que é fácil demais ir direto às conclusões.
Apesar dessa pesquisa,
os neonicotinóides ainda estão no centro
de uma enorme controvérsia.
O governo britânico não apoiou
a proibição da Comissão Européia sobre os neonicotinóides.
Ele disse não haver evidências o bastante para justificá-la.
Vamos encontrar formas de desenvolver a agricultura
que possam coexistir com a natureza.
É disso que nós estamos falando.
Como apicultor e jornalista, é um debate que segui de perto.
Hoje à noite, a Biblioteca Britânica
pediu-me para conduzir uma discussão sobre o tema.
Nós estamos lidando com uma situação difícil
com as abelhas e outros polinizadores
na Grã-Bretanha, no momento...
O argumento a favor da proibição
foi feito por uma das cientistas do conselho.
Há essas evidências que mostram realmente graves impactos
sobre os níveis de neonicotinóides
aos quais as abelhas, as abelhas selvagens,
poderiam ser expostas em um ambiente mais amplo.
E o argumento contra a proibição foi exposto
por um dos fabricantes dos pesticidas.
Esses *** mostram que não há riscos aos polinizadores,
por parte desses produtos,
quando eles são usados de modo correto no ambiente.
Houve muita preocupação no público.
Estou seriamente preocupado de ir a meu supermercado local
e comprar litros de spray para jardinagem,
os quais contenham diversos neonicotinóides.
Está claro para mim que,
embora haja muitas pessoas aqui, hoje à noite,
com opiniões diferentes, há um desejo por transparência.
Assim, eu estou retornando a Rothamsted...
...onde há outro grupo de cientistas
examinando os pesticidas
a partir de um ângulo completamente diferente.
Esses corredores vermelhos mal-iluminados
são a primeira linha de defesa
contra um grupo bem perigoso de insetos.
Por que a luz vermelha?
Os insetos não enxergam a luz vermelha,
então, para eles, esse corredor está escuro,
o que significa que eles não irão embora voando.
É só uma segurança a mais.
Os quartos estão selados, de todas formas...
A Professora Lin Field quer mostrar-me
como subestimamos o valor dos inseticidas.
Esse quarto aqui.
Então, por que viemos até aqui?
Bem, essa é uma flor de couve chinesa,
e é uma planta que introduzimos às pestes,
e ela tem estado na câmara com as pestes
durante, talvez, uma semana,
e você pode ver que não sobrou muito dela.
Na maioria dos cultivos com que trabalhamos,
algo em torno de 30-40%
será perdido para as pestes e doenças,
se não nos esforçarmos para controlá-los.
Então, a seu ver, realmente precisamos desses pesticidas.
A meu ver, nesse momento.
eu acho que há algumas alternativas,
mas a maior parte da proteção dos cultivos
depende da química moderna,
os quais são inseticidas bastante eficientes,
muito seguros, de toxicidade muito baixa em mamíferos,
e eles desempenham um grande papel
em nosso sistema de produção de alimentos.
Lin recentemente tornou-se a porta-voz da Rothamsted
no debate dos neonicotinóides.
A grande vantagem dos neonicotinóides
é que você pode plantar uma semente já tratada.
Isso significa que o agricultor não precisa pulverizá-la.
Se você tiver que pulverizá-la, sai caro,
gera muito carbono, você corre o risco de falhar,
você precisa esperar pelas condições climáticas certas,
enquanto que se a planta estiver protegida pela química,
enquanto ela se desenvolve, você evita todos esses passos.
Do ponto de vista do agricultor, é muito útil.
É bastante útil.
Você deve conhecer o trabalho do Professor Menzel, na Alemanha,
no qual ele mostrou que os neonicotinóides podem ter
um efeito na capacidade de navegação das abelhas.
E isso pode explicar por que estamos perdendo tantas abelhas.
Eu poderia explicar isso,
e eu, de modo algum, estou questionando seus dados.
Eu acho que, em certas doses,
eles terão alguns efeitos de comportamento sub-letal.
Se a quantidade que a abelha ingere
ao se alimentar dos cultivos tratados com neonicotinóides
têm o valor certo para causar-lhes esse efeito,
eu não sei, mas eu não acho que isso tenha sido mostrado.
Por que alguns deles foram proibidos pela UE?
A meu ver, o lobby que surgiu
com o fato dos neonicotinóides estarem sob suspeita
ficou tão forte que, por fim, foram proibidos
por um princípio de precaução, um princípio circunstancial.
Muitas pessoas buscam respostas claras e simples
para ver se os neonicotinóides podem ser responsabilizados,
mas a forma com que criaturas sensíveis como as abelhas
interagem com o seu ambiente em mudança
é algo complexo.
Por exemplo, na França,
os neonicotinóides foram proibidos há uma década
e, no entanto, a mortandade continuou,
enquanto que, na Austrália,
os pesticidas ainda são amplamente usados
e as abelhas permanecem geralmente saudáveis.
É simplesmente complexo.
Para mim, a questão mais importante aqui, na Grã-Bretanha,
é a respeito da dose e dos efeitos que os "neonics"
estão tendo em baixas quantidades,
o tipo de níveis que você encontraria no campo.
É por isso que eu estou seguindo para East Sussex.
Eu ouvi falar sobre um experimento em andamento,
buscando estabelecer o quanto de pesticidas
as abelhas estão realmente ingerindo na natureza.
Assim, estou juntando-me ao Prof. Dave Goulson e sua equipe
para descobrir como eles irão fazer isso.
O embate foca-se amplamente no fato
de que praticamente todos os experimentos feitos atualmente
exporam as abelhas a pesticidas de um modo não-natural.
E o que nós realmente não sabemos
é ao quê, na verdade, as abelhas selvagens,
abelhas livres na natureza estão sendo expostas.
Porque, obviamente, no mundo real
elas têm uma escolha sobre o que elas podem comer.
Há montes de flores diferentes a sua volta.
Elas podem, por exemplo, evitar aquelas com pesticidas.
Se elas o fizessem, isso significaria que, na verdade,
elas estariam expostas a menos do que pensamos.
Para descobrir ao quanto de pesticidas
as abelhas selvagens estão sendo realmente expostas,
ele montou uma série de colméias de mamangavas em campos
nos arredores de East Sussex.
Cada uma começou apenas com um punhado de abelhas.
Três semanas depois, elas estão florescendo -
novas colônias -
cheias de néctar e pólen coletados nos campos em volta.
Sempre me disseram que a picada de uma mamangava
é mais dolorosa do que as de uma abelha comum.
- Isso é verdade? - Eu não sei.
Eu não acho que seja mais, são iguais... ambas doem.
Então, o que precisamos fazer é pegar uma amostra de pólen,
uma amostra de néctar e uma amostra de cera.
E, então, quando tivermos todas as amostras,
vamos analisá-las todas
para ver se detectamos pequenos traços de pesticidas.
As abelhas refarão tudo isso em um ou dois dias.
A equipe irá coletar amostras a cada semana.
Mas isso lhes dará a primeira medida real
da dosagem que as abelhas selvagens estão ingerindo.
Eles decidiram estudar as mamangavas por uma boa razão:
porque cada colônia vive apenas durante um ano.
Assim, a colônia é fundada por uma rainha, na primavera,
e ela ordena a suas irmãs operárias para trabalharem nela.
E, então, após cerca de 3 meses,
a colméia produz machos e novas rainhas
e a colméia morre.
Então, esse ciclo de vida discreto, na verdade,
nos permite fazer um experimento
durante apenas alguns meses
e medir os efeitos dos pesticidas
na performance da colônia.
Tanto quanto analisar as amostras,
eles irão medir o crescimento de cada colônia.
Então, essa pesa 674 gramas.
Eles têm 40 caixas em East Sussex.
E outras 40 na Escócia.
Dave será capaz de comparar
as taxas de crescimento de cada colônia
com os níveis de pesticida medidos nela.
Os resultados só estarão prontos em setembro.
Sabemos os níveis que foram achados nas culturas de colza.
Está entre uma a seis ou sete partes por bilhão.
O que nós não sabemos é onde mais
esses pesticidas estão presentes no ambiente.
Um tipo de preocupação é que
eles possam permanecer no solo durante anos
e, assim, consequentemente,
se as flores, flores selvagens, por exemplo,
crescerem naquele campo...
Bem, há papoulas, bem aqui no campo -
havia um cultivo de trigo no ano passado,
o qual foi tratado com pesticidas,
então, é bem provável que haja
pequenas quantidades de neonicotinóides
também no néctar e no pólen dessa papoula.
Então, proibir neonicotinóides é uma boa idéia?
Eu acho que a moratória que está prestes a entrar em vigor
é melhor do que nada.
Mas mesmo que paremos de usá-los completamente agora,
levará anos até que eles desapareçam do ambiente.
Então, 2 anos não é o bastante para detectar qualquer benefício
ao ambiente decorrente de sua suspensão.
Portanto, ainda não está bem claro como iremos decidir
o que fazer dentro de 2 anos e, realmente,
estamos apenas adiando a decisão, a meu ver.
Esse é um dos experimentos mais importantes em andamento.
Aquele que poderá nos ajudar a entender
até que grau as pesquisas feitas até agora
têm relevância para as abelhas na natureza.
Então, o que sabemos até agora?
Há bons argumentos para se afirmar
que a doença e a infestação dos ácaros
podem estar desempenhando
um papel maior do que imaginávamos anteriormente.
Aí na imagem temos o próprio Varroa...
Enquanto isso, os resultados do experimento
do Professor Menzel com os pesticidas
poderão parecer persuasivos,
mas teremos que aguardar por mais evidências
do trabalho de pessoas como Dave Goulson e suas mamangavas,
antes de que possamos ter um caso convincente
sobre o efeito dos neonicotinóides.
E você precisa pensar nos efeitos
que a proibição dos pesticidas
poderá ter na agricultura e no custo da produção de alimentos.
Poderá trazer mais males do que benefícios.
Com tantos suspeitos em potencial,
não admira que haja tanto debate e confusão
dentro da comunidade científica.
E justo quando pensamos estar chegando no quadro maior,
nos deparamos com outro ângulo científico
totalmente diferente da história,
o qual levanta a questão bastante preocupante
sobre se perdemos o verdadeiro foco.
Há algumas abelhas que estão se saindo surpreendentemente bem.
Em locais que você não esperaria.
Se pudermos descobrir
porque essas abelhas da cidade estão se saindo bem,
isso poderá nos dar as pistas para o que está acontecendo
com o restante da população de abelhas.
Steve Benbow é um apicultor urbano,
e suas abelhas parecem estar indo bem.
Oh, está ótimo.
Ele deve isso ao ambiente bem incomum de suas abelhas.
Estamos no topo do Tate Britain aqui,
e essas são algumas das abelhas que eu encontrei no Tate.
Eu tenho que admitir, eu parabenizo você
por ter abelhas tão polidas e amigáveis.
Aqui estamos, bem em frente às colméias,
e elas estão simplesmente pairando em volta.
Eu jamais fui capaz de fazer isso
com as abelhas de outra pessoas.
Oh, que bom.
Não, elas são certamente educadas,
mas um pouco diferentes quando você se aproxima.
E elas amam esse lugar.
Está agradável, bem iluminado e ensolarado,
e há muitos bons alimentos nessa área aqui.
A cidade é, realmente, um bom lugar para criar abelhas?
A maioria das pessoas diria "ah, muito metal, vidro,
concreto, estradas, tráfego na cidade..."
Isso espanta as abelhas, do que elas vão se alimentar?
Se você olhar aqui, há castanhas aqui,
e elas vão surgir logo no início do ano.
E todas as abelhas seguem esse caminho, no momento,
e há um monte de limoeiros ao longo daquela direção.
E há menos inseticidas
e há uma abundância de pólen e de néctar.
Há uma verdadeira mistura, eu suponho,
com todos esses diferentes parques,
avenidas e, também, os jardins das pessoas.
Então, elas estão se saindo muito bem.
Evidências de todo o mundo
estão mostrando que os ambientes urbanos
estão contrariando a tendência
no que se trata do declínio das abelhas.
No Reino Unido, por exemplo,
as abelhas produzem mais em Birmingham
do que elas produzem nas áreas em volta.
E as colméias em Paris produzem, aproximadamente,
o dobro do mel das colônias dos campos franceses.
Por ora, a pesquisa parece sugerir que
é a dieta variada que as abelhas da cidade estão comendo
que pode estar mantendo seus números em alta.
E as evidências de como habitats diferentes
afetam o mel são bastante claras.
Então, nós temos aqui um mel Wapping, da E1,
e esse é um mel parecido com caramelo.
Eu o amo. Não sei descrevê-lo, mas o amo.
- É um bom mel. - É um mel muito bom, sim.
E esse é o mel vindo do Tate Modern.
- Tate Modern? - Sim.
E o Wapping não fica muito longe, não é?
Bem, a distância entre a colméia que produziu esse
e a colméia que produziu aquele - quanto é?
Uns 2.4 km, eu diria.
Como você obtém uma variedade tão grande no mel,
apesar de termos uma distância tão curta, tão pequena?
Nas áreas urbanas, especialmente,
estão os conjuntos mais fantásticos de flores e árvores.
É claro que eu não poderia deixar passar a chance
de mostrar minha própria produção.
- Quer provar do meu mel, agora? - É claro que eu quero prová-lo.
Esse é de Buckinghamshire. Bem longe...
Não tão longe, na verdade, está apenas fora da M-25.
Eu gosto da etiqueta.
É como se houvesse algum tipo de alerta.
- Pode ser tóxico. - Pode ser tóxico.
Não, parece ótimo.
É de alguns anos atrás,
pois não produzi mel no ano passado.
- Ah, é antigo... - É antigo.
Está se aprimorando no pote. - Ele ainda não cristalizou.
Oh, está muito bom, Bill. - Está? - Sim, está ótimo.
Muito gostoso.
Eu acho que Steve está, provavelmente, sendo bondoso.
Esse fato de as abelhas estarem se dando bem nas cidades
poderia, é claro, indicar o que está havendo no campo.
E eu gostaria de saber um pouco mais
sobre como esse habitat está mudando.
A Dra. Deepa Senapathi está estudando
as mudanças na terra que usamos no campo.
Legal. Isso não é legal? Eu adoro.
Para demonstrar o que ela descobriu,
ela quer me dar um tipo de visão de pássaro.
Então, nós estamos sobrevoando essa floresta mista aqui,
o que você pensaria ser
um local muito agradável para as abelhas viverem.
Qual é a situação aqui?
Esse local, historicamente,
era uma floresta, e muito pouco mudou.
Menos de 5% desse lugar mudou com o tempo.
E, no entanto, há uma queda de 35%
na variedade de espécies que foram encontradas.
Então, mais de 1/3 dos diferentes tipos de abelha
que certa vez viveram na floresta, agora desapareceram.
O que é intrigante aqui
é que o seu habitat natural pouco mudou.
O que você acha que está causando isso?
Se o habitat daqui é favorável o bastante, o que aconteceu?
O que está acontecendo ao redor desse lugar
é muito importante para as abelhas.
Bem, as abelhas poderiam fazer sua colméia nesse local
mas, para comer, precisariam percorrer 1-2 km para fora daqui.
E o que é realmente chocante
é que o nível de agricultura subiu em até 30%.
Então, se eu mostrar-lhe um antigo mapa...
É assim que se parecia essa área nos anos 1920, 1930.
Toda a parte verde que você vê são prados e pastagens,
com uma pequena parte de agricultura,
a qual é mostrada em marrom.
Mas se você olhar, agora, pela janela,
o campo inteiro transformou-se
em agricultura e pecuária intensiva.
A pesquisa de Deepa foi repetida
em 23 outros locais do Reino Unido,
e todos eles mostraram a mesma coisa.
Apesar de esse cenário parecer mais verde,
é o que os ecologistas chamam de "deserto verde".
Ao longo dos anos, as plantas de que as abelhas se alimentam
foram substituídas por enormes expansões de plantas,
das quais elas não podem se alimentar.
É bastante contraditório, porque você olha o verde,
você tem as porções de plantas que você vê ali
e você acha que deve estar muito bom
para as abelhas e polinizadores.
A conclusão lógica, então, seria que precisamos repensar
nosso sistema inteiro de agricultura moderna,
a forma como cultivamos as coisas.
Eu acho que seria apenas uma ligeira mudança,
talvez pensando em métodos de agricultura
mais amigáveis à vida selvagem,
ao invés de dizer, "agricultura é ruim."
Há, simplesmente, formas de melhorar a agricultura
de um modo que possa ser mais útil à biodiversidade,
que possa ser mais amigável.
Assim, você não ficaria surpreso em ouvir que
os cientistas não estão simplesmente examinando
o porquê as abelhas estão morrendo.
Eles também estão tentando descobrir
o que podemos fazer a respeito.
Uma das primeiras coisas que eles analisaram
está acontecendo nos campos da Universidade de Reading.
Eles estão polinizando morangos manualmente.
Pode parecer estranho, mas a polinização manual
é algo que já foi feito no sudoeste da China,
onde as abelhas selvagens
foram completamente erradicadas
devido à perda do habitat.
Talvez essa possa ser uma resposta para nós.
- Pegue um pouco de pólen dali. - Então, aqui fora? - Sim.
Essas são as anteras, as quais produzem o pólen.
- OK. Aonde eu devo ir? - Vamos tentar essa flor aqui,
...bem aqui no centro. - Bem no centro.
- Essa daqui? - Sim.
E você a esfrega suavemente
e você terá uns resquícios de pólen sobre os estigmas
e isso irá ajudar a desenvolver e fertilizar,
e teremos um novo morango.
Eu posso obviamente ver que não é, exatamente,
o mesmo talento complexo que uma abelha teria...
Somos desajeitados. Somos desajeitados.
O que as abelhas fazem perfeitamente
é espalhar o pólen com bastante precisão
e uniformemente sobre o estigma da flor,
algo extremamente importante
quando se trata do produto final.
Então, como consumidores, o que gostaríamos de ter?
Queremos frutos bonitos, grandes, perfeitamente desenvolvidos -
é isso que buscamos.
E você precisa de uma boa polinização para isso.
Aqui está um exemplo, esse é um exemplo bem extremo,
mas esse não foi polinizado apropriadamente.
- É apetitoso? - Não muito.
Então, dado um mundo onde temos uma redução de polinizadores,
queremos perguntar: quanto custaria
substituir os serviços que as abelhas estão fazendo?
Então, nós treinamos alguns estudantes
e nós lhes demos pincéis
e nós os pedimos para polinizar diferentes plantas -
morangos, maças, sementes oleaginosas, e assim por diante.
E, então, nós calculamos quantas dessas flores
florescem por ano no Reino Unido,
e agrupando os dados, vendo qual salário
poderíamos pagar a eles,
surgimos com um valor de £1.9 bilhões por ano
para substituir o serviço que as abelhas fazem.
Então, está bastante claro
que a polinização manual não é prática
e que realmente não podemos fazer isso sem as abelhas.
Mas há uma segunda opção -
descobrir meios de criar
um ambiente mais amigável à abelha.
Há outro grupo de pesquisa na Universidade de Reading
que está testando uma abordagem bem diferente.
As cientistas Vicky e Jenny Wickens
estão investigando uma forma de ajudar as abelhas
a prosperar nas terras agrícolas,
sem afetar a forma de nossa agricultura.
Então, o que nós temos aqui?
Esse é um canteiro de flores -
então, você põe um canteiro de flores aqui,
de modo que se aumente
o número de polinizadores naturais na área.
De fato, quanto às mamangavas,
tivemos 500% a mais de mamangavas aqui
do que teríamos na relva do campo, em comparação.
Elas estão fazendo um *** em 16 fazendas diferentes.
E onde elas plantaram esses canteiros de flores
elas descobriram que
o número de abelhas solitárias subiu em torno de 1/3
e o das mamangavas aumentou em 5 vezes.
Vimos o benefício para a abelha. E para o fazendeiro?
Eles tiveram melhores rendimentos.
Nós colocamos vasos de plantas,
tanto nos canteiros quanto no campo -
típica grama apenas -
e nós estamos analisando
o número de sementes que são produzidas
por essas plantas em jarros.
Descobrimos um aumento de 50% no número de sementes
nos canteiros de flores, ao invés de no campo comum,
e isso simplesmente prova o quão importantes
esses canteiros de flores são para o fazendeiro.
Assim, se tiver êxito, esses canteiros floridos
poderiam não apenas dar às abelhas
um lar no campo, poderiam, na verdade, aumentar
a quantidade de alimentos que os fazendeiros podem produzir,
sem mudar a forma como eles cuidam de seus cultivos.
Mas há outra solução em potencial a caminho,
a qual, a longo prazo,
pode ser bastante promissora,
apesar de ainda estar um pouco distante.
Lin Field está fazendo algo que poderia nos tornar
menos dependentes dos pesticidas tradicionais.
Ela está criando plantas geneticamente modificadas,
as quais, segundo ela, poderão, um dia,
substituir os pesticidas e ajudar a proteger nossas abelhas.
Aqui, nós estamos tentando usar
um composto natural produzido pelos pulgões
para alertar outros pulgões
de que existe um predador por perto,
de que há algum tipo de risco.
Esse composto, o qual é chamado (E)-beta-farneseno,
é um ferormônio, um ferormônio de alarme,
e é normalmente segregado pelo pulgão
e os outros pulgões o detectam.
Podemos demonstrar a você como ele faz isso.
Se você pegar a seringa, que tem o composto nela,
e eu tirar essa mini-gaiola, então, podemos ver os pulgões,
e você põe a gota aí em cima.
E o que nós fizemos foi desenvolver na planta
a capacidade de criar esse composto,
de modo que a própria planta exale esse cheiro
e que os pulgões não a ataquem.
Então, ela irá espantar os pulgões naturalmente?
Exato.
Então, a respeito da colônia que estava lá,
alguns deles seguem lá, mas a maioria foi embora.
Eles estão vindo para a borda da folha.
De fato, um monte deles já caiu.
É usando um sistema natural,
em que os pulgões evoluíram para detectar uma situação,
que se obterá a proteção para nossos cultivos.
Então, o que isso significa para as abelhas?
A abelha não será minimamente afetada por esse composto.
As abelhas não detectam esse composto,
elas não reagem a ele, logo, ele não afetaria as abelhas.
Ambas estratégias irão levar anos para serem implementadas,
mas espera-se que elas possam ajudar
a reverter a queda na quantidade de abelhas.
Então, o que está matando nossas abelhas?
Essas belas e complexas criaturas
são, definitivamente, muito sensíveis
a quaisquer variações em seu ambiente.
Nós vivemos em um mundo rapidamente em mudança,
com o qual elas estão lutando para lidar.
Vírus, químicos e agricultura moderna
formam uma combinação fatal para esses frágeis insetos
dos quais dependemos tanto.
O que me choca é que há um fator comum
por trás desses três - somos nós.
Nós ajudamos a espalhar o ácaro Varroa,
nós desenvolvemos pesticidas,
nós mudamos a prática da agricultura.
Talvez seja o que estamos fazendo a nós mesmos
que está matando as abelhas.
Traduzido por: VitDoc