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Trinta anos essa noite
Naquele momento, Alain observava o rosto de Lydia intensamente
Como havia feito desde que ela chegara para vê-lo
Três dias antes.
O que ele procurava?
Lydia virou sua face,
Fechou os olhos, e manteve-se absorta.
Em que?
Em si mesma?
Em sua cólera satisfeita que enchia seu colo e seu ventre?
Essa sensação que não dizia nada, mas era tão nítida?
Mais uma vez a sensação escapava a ele,
Como uma cobra entre as pedras.
pobre Alain. Você parece estar mal.
Faz tanto tempo.
É minha culpa.
Sorria para mim, Alain.
Foi bom. Estou satisfeita.
Está um dia claro.
Tenho que me apressar.
Tenho que fazer as malas.
Seu avião só sai às 11:00.
Tenho muito a fazer essa manhã.
Francesca vem me buscas às 8:00.
Foi bom vê-lo novamente.
Você sabe...
Eu te amo de uma maneira muito especial.
Obrigado por ter vindo.
Agradeça a Dorothy.
Ela me pediu para vir vê-lo.
Ela me deu o endereço da clínica.
O que devo dizer a Dorothy?
Nada. Por que?
eu disse que ligaria para ela quando voltasse a Nova Iorque.
Ela quer saber como você está.
O que você vai dizer a ela?
A verdade. Que você está completamente curado.
Vou perguntar a ela o que pensa em fazer a seu respeito.
- Vai contar a ela que nós... - Não, Alain.
A não ser que você me peça.
Não pedirei.
Ela vai suspeitar.
Isso sequer vai ocorrer a ela.
Ela tem outras coisas em mente.
Além do mais...
Isso a agradaria.
vocês dois já falaram em divórcio?
Uma vez.
Seis meses atrás, logo antes de minha viagem.
E desde então?
Não nos falamos desde então.
Ela envia mensalmente um cheque ao médico.
Ela nunca escreve a você?
Ela escrevia, no início.
E você?
Eu escrevi a ela duas semanas atrás.
Ela não comentou?
Você ainda a ama?
Eu não sei.
Dorothy não é a mulher para você.
Ela não é rica o bastante. E deixa você fazer o que quiser.
Você precisa de uma mulher que não descuide de você um só instante.
De outra maneira você se deprime
e faz tolices.
você me conhece bem.
Quando estou deprimido, faço qualquer coisa.
Claro que te conheço.
Acho que, na verdade, sempre quis me casar com você.
Mesmo nos tempos de Dorothy.
Não posso acompanhá-la ao aeroporto.
O médico vai estar furioso por eu ter passado a noite fora.
Se eu não voltar agora, eles irão me expulsar.
Francesca me levará.
De qualquer forma, Alain,
Nos encontraremos em breve.
Há quanto tempo não bebe?
Quatro meses, mais ou menos.
Nem mesmo uma gota de álcool?
Desde o fim do tratamento, nem mesmo uma gota.
A cura consiste em fazê-lo beber.
Beber... beber...
Até arrebentar.
É duro?
Se eu soubesse o quanto, não havia feito.
E agora?
Agora?
Nada.
Lydia...
Queria que soubesse -
O que está fazendo?
Eu insisto. Você se esqueceu, mas eu não.
Uma dívida de jogo no barco dos Zoógrafos, quatro anos atrás.
Essa cidade esquecida.
Tão triste.
Essa estranha clínica.
Você está curado, Alain.
Por que continuar lá?
Eu gosto de lá.
A vida de um paciente é simples e ordenada.
Nos dá abrigo.
Não tenho entusiasmo para encarar a vida novamente.
Paris me assusta.
Acha que sou um covarde?
Não, Alain. Acho que está infeliz.
Venha para Nova Iorque.
Me prometa que irá assim que puder.
Para terminar com Dorothy.
Ou mesmo que vocês voltem a estar juntos.
Não vá. Não me deixe.
Eu preciso de você.
Não vá, eu imploro. É sério.
Eu tenho que ir.
Tenho que estar em Nova iorque amanhã.
Eles esperam os projetos.
- É importante? - Tudo depende disso.
Sou uma mulher de negócios agora.
Eu sei, estou deixando você com seu pior inimigo. você mesmo.
Venha para Nova Iorque.
Não, Lydia, não.
Não irei a Nova Iorque.
Não me casarei com você.
Você seria infeliz. Uma outra Dorothy.
De qualquer forma, você não pode me ajudar.
É tarde demais.
Leve a madame a Paris. Hotel Raphael, avenida Kléber.
Clínica DR. LA BARBINAIS
Já estão todos almoçando.
Tomismo vem de São Tomás.
E "santo" implica teologia.
Besteira! São Tomás separou a teologia da filosofia.
Sem dúvida um professor de cidade do interior
Que opõe o mundo de Racine ao de Proust, Cocteau, Genet.
Esse arrogante deveria ler La Palatine.
Acreditar não é saber.
Você chegou essa manhã.
Credo ut intelligam, meu caro.
"Primeiro creio, depois compreendo."
Não se você afirmar que São Tomás separou filosofia e teologia.
Não confunda fé e entendimento. São Tomás afirma,
"Onde há conhecimento, não há fé."
Alguém atencioso deve ter ficado feliz em revê-lo.
Pessoas atenciosas não são dificeis de se agradar.
Mas vocês são.
Se não fossem, não estariam aqui.
Já foi a América?
Não, já é dificil o bastante se conhecer nossa velha Europa.
E eles são tão brutais, poderiam me matar por lá.
Nosso jovem amigo não parece bem, depois de sua escapada.
Ele era mais bonito antes. - Ainda é.
Você o observa demais.
- Comparado a Aristóteles - Me recuso a discutir Aristóteles.
A razão domina a vontade. É ela que determina-
Por que sempre fala somente com Sr. D'Averseau?
Nós gostaríamos de participar dessa conversa.
Certamente gostaríamos!
Seria muito interessante.
você está nos deixando?
Não. Por que?
É isso que o doutor deu a entender.
Não está feliz conosco?
Sim, estou.
Aqui eu me sinto em casa.
Vocês são como minha família.
Sem isso, o nada não teria nenhuma qualidade.
Onde seus pais moram?
Nas províncias.
Estão velhos.
Não os vejo mais.
Pobre rapaz.
Pobre rapaz?
Uma juventude desperdiçada em uma vida inconsequente,
e agora, problemas!
Você não está sendo razoável.
Você deveria tirar um cochilo essa tarde.
Volte para a cama.
Que vergonha!
xeque-mate em cinco jogadas... grande homem!
"Jean-Jacques (5 anos) tenta voar mas se enforca na corda da cortina."
JULHO 23
"Nua, estendida morta, seu marido agonizando a seu lado."
Dorothy.
Dinheiro.
Que escapa por entre seus dedos.
Estou incomodando?
De maneira nenhuma, doutor.
Eu bati várias vezes. Pensei que estivesse dormindo.
Sente-se.
Foi a Paris noite passada?
Não saí de Versailles.
Espero que não tenha sido imprudente em sua primeira noite fora.
Não se preocupe, Doutor.
Estava com uma dama,
Como um bom estudante colegial.
Muito bem. Ótimo, excelente.
Recuperando o tempo perdido.
- Quando sair daqui - Está me expulsando?
Absolutamente! É um prazer tê-lo aqui.
Mas você está curado faz um bom tempo.
Não posso mantê-lo aqui sem um motivo.
Doutor, eu farei de novo.
Se eu for, começarei a beber novamente. Cedo ou tarde.
O que mais eu posso fazer?
Nenhuma novidade da América?
Não há nenhuma. Além de que isso não tem nada a ver.
Sim, tem. Seja paciente.
Eu sou paciente.
Nunca fiz nada além de esperar.
Toda minha vida.
Esperando...
Que algo acontecesse.
Nunca soube o que, exatamente.
Agora você sabe.
Você ama sua mulher e ela te ama.
Isso é o que você imagina. Porque te convém.
Você insistiu que eu escrevesse a ela.
Dorothy sabe que nunca conseguirei parar.
Mas você conseguiu.
- Não consegui, e você sabe. - Eu posso ver que conseguiu.
Isso não durará.
Espere que ela responda.
Chegará a qualquer momento.
Ela não responderá, estou te dizendo!
Ela não pode ter acreditado em mim.
Quando nos casamos dois anos atrás, eu jurei parar.
Como se eu pudesse. Sobretudo em Nova Iorque.
Você está no caminho certo, agora.
Você ainda tem aquelas sensações de angústia?
Não são sensações de angústia, doutor.
É uma única angústia, perpétua.
Se você suportar mais um tempo,
Vai desaparecer gradualmente.
Uma questão de força de vontade.
Uma contradição, Doutor.
Como você pode falar de minha força de vontade?
É justamente onde está minha fraqueza.
E é a ela que você está tratando.
Você não foi sempre assim.
O que quer dizer?
Você esteve no exército. Foi à guerra.
Como um oficial. - Esqueça isso.
Isso não tem nada a ver.
Mande-a um telegrama.
Diga a ela que pegue o próximo avião.
Leve-a para o sul, ou outro lugar.
Qualquer lugar, menos Paris.
Americanas são fortes e saudáveis. Ela o fará esquecer tudo isso.
Não se preocupe.
Partirei até o fim de semana, de qualquer forma.
Como preferir..
E seu projeto de abrir uma loja?
Vender objetos pré-guerra.
Estilo feira mundial de 37.
Uma boa idéia.
Você me vê dirigindo uma loja?
Estou afundando em dívidas.
Percebo que estou te irritando. Vou sair.
E nosso jogo?
Continuaremos amanhã.
Descanse.
A vida é boa.
Boa para que, Doutor?
Amanhã.
A vida...
Passa muito devagar para mim.
Então eu a acelero.
A corrijo.
Amanhã me matarei.
Bom dia.
Trouxe seu desjejum.
Me passe meu roupão.
Está com pressa, hoje.
- Vou sair. - Para onde?
Para Paris, terra das orgias,
Que eu abandonei para sempre -
Quando volta?
Não me demoro.
Tenho que descontar um cheque, rever velhos amigos...
Volto ao amanhecer.
O doutor pediu para lembrá-lo do telegrama.
Para sua esposa.
Estava pensando nisso.
Telegrama.
"Espero sua carta
pacientemente.
...com paciência e esperança. Ponto."
Mais abrupto.
"obrigado
pelo silêncio. Ponto.
Alguém te ama
em Versailles. Ponto."
Por que não provocá-la um pouco?
"Mande resposta.
Ponto.
Preciso você. Ponto.
Minutos contam. Ponto."
Não, tranquilize-a.
"Esqueça carta.
Ponto.
Problemas acabaram.
Ponto.
Seja feliz."
Melhor assim.
"Problemas acabaram. Seja feliz."
Minha carta? Jogue fora. Já não significa nada.
Sim, tenho planos.
Fazer uma viagem.
O que?
Não, não irei a Nova Iorque.
Não se preocupe.
Sim, estou curado.
Lydia deve ter te contado.
Ela contou-lhe tudo? Isso é bom.
Para Nova Iorque! É urgente?
Telegramas costumam ser.
Sweet Aftons, por favor.
O que é isso?
Cigarros Irlandeses.
Nós não temos.
Deveriam.
Não há muita demanda.
Eu estou pedindo.
Uma vez não é suficiente. O estoque se estragaria.
Uma pena. Um maço de lucky, então.
Uma taça de branco.
Indo a Paris?
Me dariam uma carona?
É contra as regras.
Eu pago o drinque.
esse é meu.
À sua saúde.
- O que você bebe? - Nada, obrigado.
Você tem que beber conosco.
Eu não bebo.
Trabalha em Versailles?
Não trabalho.
Vive de renda?
Estou doente.
Então é por isso.
O que?
Parece pálido. O que tem?
Meu coração.
Não se incomoda de não ter dinheiro?
Me incomodo.
Você parece bem...
Só pareço.
Florence, olha quem está aqui!
Sr. Alain! Você não mudou!
- Ganhou um peso, talvez. - Está muito bem.
Acabou de chegar?
Gosta da América?
Mora em Nova Iorque?
Sr. Bernard ainda mora aqui?
Não, ele partiu. Logo após você ter partido.
Partindo, já?
- Vou usar o telefone do bar. - Você pode ligar daqui.
Preciso ver Charlie.
Pobre rapaz. Está realmente mudado. Seu rosto!
E a voz - notou sua voz?
- Sr. Leroy, que surpresa! - Olá, Charlie.
Estava falando sobre você ainda ontem com René.
O bartender do "beach" em Monte Carlo. Ele está na cidade.
Fizemos uma aposta de por onde andaria.
Apostei que ainda estava na América.
Eu perdi. Mas estou satisfeito em vê-lo novamente.
Um Scotch Sour, como sempre?
sério? Era seu primeiro drink do dia.
"para sintonizar," você dizia.
Sr. Lavaud, por favor.
Alain Leroy.
Diga alô ao Charlie. Diga que ele é um covarde.
Nunca mais vem aqui. Homens casados são todos iguais.
Sra. Leroy está com você?
Ela ficou na América?
Sim, Sr. Lavaud é um covarde.
Quando Sr. Castellotti está na cidade, sempre se hospeda aqui.
Lembramos dos velhos tempos.
"O doce Alain," ele fala. Ele o idolatra.
Ele vive em Milão agora.
Casado, duas meninas lindas.
Me mostrou as fotos.
Ele vem a negócios, e um pouco de diversão à parte.
Outro dia ele trouxe uma morena linda, uma striper.
Combinado. Hoje às 8:00.
Quer um café?
Não, estou atrasado.
Me ligue hoje às 7:00.
Uma cerveja, Charlie.
A que horas chegou?
Tarde, Charlie, muito tarde.
Ou cedo, se preferir.
Tem Alka-Seltzer? Minha cabeça...
Os Minvilles não atendem.
- Não estão em casa. - Por que não?
Estão presos.
Argelia de novo?
O guerra acabou, mas não para os irmãos Minville.
Não se lembra de mim? Michel Bostel.
Nos conhecemos na Pamplona Feria cinco ou seis anos atrás.
Você estava com uma americana.
Eu era apenas uma criança na época.
Então me alistei, e você deixou Paris.
- Francis já desceu? - Ainda não.
Vou acordá-lo.
Quem é?
Um bom rapaz. Vive no hotel.
No quarto que era meu.
É meu sucessor.
Nunca! Nós colocamos uma placa na porta:
"Aqui, por vários anos, viveu Alain Leroy."
Aqueles tempos eram outros.
Não era como hoje.
Eu nem mesmo perguntei como está.
Você não parece bem.
Estive doente, mas estou melhor.
Não parece melhor.
Problemas? - Na verdade, não.
Estou em uma clínica em Versailles.
Há quanto tempo?
Quatro meses.
Partindo amanhã?
Para Nova Iorque? - No.
Você nem tocou sua bebida.
Não bebo mais. Nem mesmo uma gota.
Se eu soubesse -
Eu sempre disse que você bebia demais.
Você costumava responder, "Algo estranho para um bartender dizer!"
Pobre rapaz. Era tão cheio de vida.
- E de depressões, também. - Mas nunca duravam.
Não tenho troco.
Fique com o troco.
Está louco?
Que idiota!
Sr. Dubourg está?
Agora? Eles acabaram de sentar para o almoço.
Quem é, Chantal?
Alain.
Camarada Dubourg.
Estava esperando por você.
Mentiroso.
Faveur, diga alô ao Alain.
Agora vá. Diga a mamãe para vir aqui.
Brincando de papai, agora?
Faço muitas coisas, agora.
- Ainda na Egiptologia? - Mais do que nunca.
Senti isso em você desde o princípio.
Me lembro de você na cama com uma loura, de costas para ela,
O nariz enterrado em um livro esotérico.
Sim. Enquanto dissipava minha juventude em St. Tropez, estudei a Kabala.
Ainda acha isso divertido?
Não acho divertido. Acho interessante.
Lembra do famoso Alain de quem você me roubou?
Alain vai almoçar conosco. - Eu não deveria.
Coloque mais uma cadeira, ***.
O almoço está servido.
Você nunca ligou ou escreveu, mas sabia onde você estava.
La Barbinais me contou.
Eu ligo para ele ocasionalmente para saber de você.
Bondade da sua parte.
Mas ele não me deixava visitá-lo.
Total isolamento.
Eu estava cansado.
A cura foi dura, especialmente depois de Nova Iorque.
- Isso não tem nada a ver com Nova Iorque. - Sim, tem.
Aquele não é lugar para nós.
É como um turbilhão louco.
Eu amo Nova Iorque.
Fascinante, mas difícil de se viver. É como uma intoxicação.
Os novaiorquinos penetram pela cidade como viciados.
Me sentia bem, lá. Não estava em casa.
Sempre me senti um visitante. - E Paris?
Em Paris é o mesmo, mas eu prefiro Nova Iorque.
As pessoas te deixam em paz.
- Por que voltou, então. - Para me tratar.
Por que não lá?
Dorothy estava cansada de me ver.
Ela sabe que está curado?
Ela foi avisada.
E você - você sabe disso?
Eu sinto isso.
Você se sente esterilizado, de corpo e alma.
Já é algo.
Em "esterilizado" há também "estéril."
É você quem diz isso.
Você gosta de Françoise Hardy?
De quem, então?
Sylvie Vartan.
Quem é?
Um ídolo adolescente.
Você esquece o crescimento demográfico, seu velho tolo.
Os jovens de hoje estão perdidos.
Belos, elegantes, bem alimentados.
Eles são todos iguais, como laranjas da califórnia.
Mas você não sabe nada a seu respeito.
Você tem trabalhado?
Tenho escrito em um diário nos últimos tempos.
Nada de interessante. Eu o rasguei essa manhã.
Como você está agora?
Me sinto vazio.
Alguns momentos atrozes.
Você pode aguentar?
Aguentar? Está tudo acabado para mim.
Estou partindo.
Você não compreende?
Ainda há coisas na vida.
Certamente você tem um sentido pessoal para sua vida.
Esse sentido não perece.
Odeio coisas que permanecem trancadas.
Um homem tem que mostrar do que é feito.
Fazer algo bem feito é maravilhoso.
Ignoro o que seja isso.
Tudo que fiz foi correr atrás de dinheiro,
Como todo mundo.
Se isso fosse verdade, você teria trabalhado, ou roubado.
Não, o que você chama dinheiro é um pretexto para sonhar.
Continue, não quero estragar seu prazer.
O que eu amo no homem não são suas paixões,
Mas o que essas paixões produzem.
Idéias. Deuses.
Mas onde você vê paixões aqui?
Você não me entendeu.
Não julgue pelas aparências.
Você me vê como um burguês resignado.
Mas minha vida é mais intensa agora
Do que quando eu bebia e dormia por aí.
Acabarei escrevendo um livro
sobre as virtudes do Antigo Egito.
Isso corre em minhas veias.
Outros aprenderão com isso.
O Sol -
Você quase pode tocá-lo.
Venha para o Egito conosco. Aquele povo tem o sol dentro de si.
Vamos caminhar, profeta.
Os Minvilles são diferentes.
São viciados em ação.
Você ainda vê Eva?
Não vejo a ela nem aos outros. Para quê?
Você é duro, para um homem feliz.
Sua vida o satisfaz?
Isso não importa.
E se você se entediar?
*** e suas filhas,
A velha casa -
Tudo isso é parte da minha paixão.
E o velho brilho nos seus olhos?
Sua enorme energia?
Eu envelheci.
Realmente!
Sim, envelheci. As esperanças se foram, mas tenho certezas, agora.
Deixei minha juventude por uma outra vida.
Você vira as costas, Rejeita a maturidade.
Está preso à adolescência.
Daí a sua ansiedade.
É duro ser um homem.
Você precisa querer ser um.
Não está cansado de miragens?
Não suporto mediocridade.
Você desperdiçou dez anos em uma dourada mediocridade.
E já tive o suficiente. Eu deixo de lado.
Me recuso a envelhecer.
Você chora sua juventude como se ela tivesse sido plena.
Ela foi uma promessa. E uma mentira.
Eu era o mentiroso.
Você está atormentado pela idéia de mulheres.
Eu não tenho poder sobre elas.
Isso é uma piada.
Eu era belo aos 20.
Elas ainda me acham divertido e amável.
Mas isso não é suficiente. Não tenho poder sobre elas.
Assim mesmo, foi através das mulheres
Que eu senti dominar algo na vida.
Não é a vida em si que eu condeno,
Mas o que ela contém.
Quando tudo isso começou?
Se eu soubesse talvez pudesse ajudá-lo.
O álcool estava no meu sangue antes de eu me dar conta.
Que quer dizer?
Eu comecei a beber esperando as coisas acontecerem.
Um dia me dei conta de que havia passado toda minha vida esperando.
Por mulheres.
Dinheiro.
Ação.
Então bebi até à morte.
Mas você teve Dorothy, e muitas outras.
Eu nunca as tive. Eu não as tenho agora.
você tem a Dorothy. você não tem que dormir com ela para provar isso.
Não tenho. Não fui um bom amante.
Ela foge porque você bebe demais.
Eu bebo porque sou um péssimo amante.
Estranhas vidas que levamos, agarrados às mulheres.
Você não parece agarrado à ***.
Me refugio em seu calor como um porco na pocilga.
Ela faz com que você queira tocá-la.
Paris é como ela, a vida é como ela.
Você e suas certezas medíocres!
Contente-se com essa mediocridade,
E você vai reencontrar sua verve de antes.
Você é covarde, e fraco.
E preguiçoso.
Certezas assustam a você.
Você defende as sombras, já que o sol fere seus olhos.
Você é meu amigo?
Se é meu amigo, me aceite como sou, não de outra maneira.
Deixe-me olhá-lo.
Queria que me ajudasse a morrer.
Isso é tudo.
Prometa que voltará para nos ver.
Nossa vida é organizada.
você pode escrever.
Se mude para cá amanhã.
Dubourg, Que vai fazer essa noite?
Escreverei algumas páginas sobre meus egípcios...
Então farei amor com ***.
Mergulho em seu silêncio como em um poço.
No fundo desse poço há um grande sol que aquece toda a terra.
Eu trabalho, Alain.
Sou paciente.
Venha morar conosco. Verá o que é paciência.
Alain, eu amo a vida.
O que eu amo em você é essa coisa insubstituível...
A vida dentro de você.
Você parece um cadáver.
Você tampouco tem o frescor de uma jovenzinha.
Você tem olhos adoráveis.
Você escolhe suas companhias. Anda com pessoas saudáveis.
Você vai ver Dubourg . O canalha do Dubourg.
Tenha modos.
Como vai sua bruxa americana?
Nova Iorque?
Sim, nós temos amigos extraordinários.
Eles imaginam que mudam com o tempo.
Então eles correm como loucos, sem saber o que fazem.
Tendo filhos, fazendo negócios, escrevendo livros.
Ou então se matando.
Ou viram místicos, como Dubourg.
A festa acabou.
Falam de sinceridade, mas se dedicam a coisas mesquinhas.
- E você? - Eu?
Abandonada, arruinada,
Devastada... Inalterável!
Eu nunca mudo. Nunca tento compreender.
Dormir é tudo em que acredito.
Você mudou. Agora trabalha.
Pintura? Minha única fraqueza.
A única?
E Carla? Onde está?
Se matou. Ano passado, em um acidente de carro.
Junto de algum imbecil.
É absurdo.
Pode ficar aqui, se quiser.
Obrigado, mas estou partindo.
Eu vim dizer adeus.
Você também?
Desastre, querida! O fogo nos abandonou.
Aquele é Urcel. Vou te avisando, ele é um tagarela.
Detoxicaçãoo. Uma coisa estranha.
Por que fingir desintoxicar-se, meu Deus!
Por bondade.
Para agradar alguns amigos preocupados.
Para não deixar a humanidade só em sua desgraça.
Cale-se, Urcel.
Você desintoxicou-se porque tinha medo de morrer.
Errado.
Nós poetas não precisamos de drogas
Para atingir a fronteira entre a vida e a morte.
O que me levou às drogas, de fato,
é o amor ao perigo em nosso sangue.
Onde você vê morte,
onde vê loucura em tudo isso?
Droga é como a vida.
Estúpida como a vida.
Belo sistema que encontrou para tranquilizar sua mente.
Alguns viciados vivem até os 70 anos.
O risco que corre é de embrutecer-se.
Você pode falar à vontade.
Urcel corre um grande risco. Ele tem que produzir seu trabalho.
Por favor, querida.
Seu trabalho... mais álibis.
Meu pobre amigo, não faz idéia dessas coisas.
Você está vazio por dentro.
Que rude!
Ele se tornou impossível.
Basicamente um fracasso, e um invejoso.
Besteira.
É um homem encantador...
e está profundamente infeliz.
Eu não devia tê-lo deixado partir.
Não se preocupe.
Ele pode estar infeliz, mas não vai se matar.
Como você sabe?
Cale-se.
Eu sei que não gosta de mim.
Eu vim atrás de notícias de Jerome Minville e seu irmão.
Tente o Café Flore.
Ouvi dizer que estavam presos.
Eu estava, semana passada.
É bom ver você. Você não parece muito bem.
O belo Alain!
Ele disse que precisamos de um pouco de ar da montanha.
Ele não mudou nada.
Que tem feito na terra de Kennedy? Festejando muito?
- Preferia estar aqui com vocês. - Nós o convidamos.
Seu plano estava fadado ao fracasso.
Claro. A história segue em frente.
Eles saberão de nós de novo. Somos obstinados, você sabe.
Vocês não desistiram?
Estão loucos? - Não. Nós vamos esquiar na Espanha.
Alain Leroy... um velho amigo da Argélia.
- E dos antros da fronteira esquerda. - Um bom oficial, em seu tempo.
- Um grande amigo. - Um pouco bêbado.
Mais que um pouco. Sempre com as mulheres.
Sem consciência política.
- Não se pode contar com ele. - Uma pena.
Continuar com essa ação é grotesco e estúpido!
Vocês não têm chance!
São dois "escoteiros".
Você não sabe o que fala.
Somos obstinados, eu disse.
Quando estiver acabado,
Vamos dar uma volta, como nos velhos tempos.
Não vive mais por lá? Pensei que vivesse.
Não, eu voltei.
A humilhação da vida.
Em St. Tropez, por todo o mês de junho!
Um asilo de loucos!
Isso foi dez anos atrás. Estavam todos lá, lembra-se?
Foi formidável!
Falamos a Coppi, o ciclista, que sua amante havia se suicidado.
Não foi muito engraçado.
Uma vez ele sequestrou um onibus de turismo da American Express
E fez com eles um tour no Ritz enquanto falava de Scott Fitzgerald.
Viu aquele rosto?
Álcool.
Está acabado.
Uma lástima. ele era belo.
Richard era apaixonado por ele.
Uma corrida de kart nas ruas de Paris!
Ele organizou. Os policiais ficaram loucos!
Cuidado!
Tudo bem?
Sr. Leroy!
- Venha secar-se. - Não se preocupe.
Está ensopado.
Não me sinto bem.
Cheguei cedo.
Fiquei tonto, na rua.
Deite-se até o jantar.
Há tempo, ainda.
Brancion não chegará antes das 10:00. Como de costume.
Conhece Brancion?
Não. Quer dizer, sim, como todo mundo.
É um grande homem, hoje. O assunto da cidade.
Aquele intelectual de tropa de choque me diverte.
Ele e seu número de "homem forte".
Não fale de homens fortes.
Me levantarei mais tarde.
Se precisar de algo, chame.
Deixe-o dormir.
Eu sei o que houve.
Após a desintoxicação, sempre se passa muito mal com o primeiro drinque.
E depois?
Depois está tudo bem, infelizmente.
Pobre Alain.
É bom vê-lo de novo.
Você está feia hoje, Ma Ubu.
A paz de espírito dessa gente!
Ninguém queria tocar no assunto.
A imprensa Anglo-Americana tem mais coragem.
Perdão.
O que minha mãe costumava dizer quando eu me atrasava?
"Alain, começará por onde estão os demais."
Sente-se.
Conhece a todos?
Acredito que não conheça Brancion.
Marc, apresento um "retornado", Alain Leroy.
Um velho amigo de Cyrille, e uma antiga paixão minha.
Hong Kong é supervalorizado.
Erotismo oriental, baseado na minha pequena experiência,
Não é nada como dizem.
Mas há a erótica chinesa.
Não há nada de erótico nisso.
Erotismo é uma invenção ocidental, um conceito cristão
baseado em idéias de bem e mal,
transgressão e pecado original.
Esses conceitos não existem lá.
Não tenho fome, Louis.
Quero apenas queijo.
Jovem como sempre.
Já nos conhecemos.
Em Long Island, na casa dos Fairman.
Como vai Dorothy?
Na verdade, não sei.
Ouvi dizer que está feliz.
Eu disse algo que não devia?
Na verdade, não.
Libertinos chineses
são puros hedonistas para os quais o amor é apenas prazer
prazer que eles buscam refinar.
É algo estético,
onde para nós é um conceito. - Brancion!
Meu amigo Alain não tira os olhos de você.
Deixe-me contar-lhe uma história.
Uma célebre.
Um dia, às 7:00 da manhã,
um policial acha, dormindo o sono dos bêbados,
um jovem deitado sobre a tumba do soldado desconhecido.
O tal jovem,
estava tão convencido que estava em sua cama,
que havia colocado sua carteira, relógio
e lenço ao lado da chama memorial,
como se fosse sua mesa de cabeceira.
Quem foi o herói de sua aventura?
Alain Leroy, aqui presente.
Brancion não gosta de bêbados.
Ele tem um fígado ruim.
Em Nova Iorque ouvi dizer que se separavam.
Crueldade mental?
Quem é?
François Mignac, modelo de Parisiense.
Na cama às 3:00 da manhã. cavalga de 9:00 às 11:00.
Então vai à bolsa, perder ou ganhar alguns milhões.
Almoço de negócios.
Um tempo no escritório. Uma mulher.
Alguns drinques.
Jantar fora. Um nightclub. Então começa tudo de novo.
Vinte anos, e ele ainda ama isso!
É bom vê-lo novamente.
Sentimos sua falta.
Você é amável.
Assim que ele conseguir seu divórcio.
QUe bom. O verdadeiro amor!
Isso é algo novo.
Nunca senti isso antes.
E você me conhece.
Uma mulher apaixonada.
Eu o conheço?
Não, ele nunca sai.
Mas vai conhecer. Ele vem me buscar.
Então esse é o fabuloso, lendário, irresistivel Alain Leroy.
Harlequin, Watteau, festas galantes.
Não seja cruel.
Ele não está em forma, hoje.
Diga-lhe algo agradável.
Isso o ofenderia ainda mais.
Poderíamos ajudar-nos uns aos outros.
Me ligue.
Você tem meu número?
Corrompendo uma menor.
Seu marido está louco. Deu um drinque a Alain.
Uma pena que não tenha se entendido com Brancion.
Ele é irritante, mas é alguém.
Ele é?
Vá em frente, fuzile-o!
Um homem satisfeito.
Bom jogador.
Carrega seu porte com segurança.
Já teve todas as mulheres presentes aqui.
Exceto Solange.
Um verdadeiro marciano!
Invejo sua serenidade.
Me deixe em paz!
Eu faço como quiser!
Cyrille...
Seus Piraneses são superbos.
As melhores fotos que já vi.
Eu admiro o que você faz.
Por que sequer crê nisso.
Você se engana. Eu acredito.
Eu só quero dizer, senhor...
Que assim como você, não acho engraçado...
dormir sobre uma tumba...
Quando é tão fácil abri-la e dormir lá dentro.
Isso é tudo.
Me perdoe. Eu nunca fico bêbado,
E odeio histórias sobre bêbados.
Eu sou um pobre bêbado.
O álcool é uma estupidez.
Nós bêbados somos os primos pobres,
e nós sabemos disso.
De qualquer forma,
desaparecemos rapidamente.
Alain, você foi longe demais.
Não fui ainda, mas estou indo.
Tenho que ir. Estou atrasado.
Como sabe, sou um homem. Mas eu nunca tive dinheiro ou mulheres.
Porém sou muito ativo.
A questão é...
Não posso alcançar com minhas mãos.
Não consigo tocar as coisas.
E quando eu consigo tocar...
Não sinto nada.
Venha saudar aos Filolies.
Te apresento Frédéric.
E você?
Acredita em suas ações?
Não gosto de falar de mim.
Então não gosta de falar.
Eu gosto de ouvi-lo.
Acredita em Maria?
Meus parabéns por achar Maria.
Você tem uma mulher.
Eu não tenho nada.
Vamos!
Vocês não sabem como é,
Ser incapaz de tocar algo.
Eu sou incapaz de querer.
Nem sequer desejar.
As mulheres aqui essa noite...
Não posso desejá-las.
Elas me assustam.
Me assustam!
Solange, por exemplo.
Cinco minutos com ela e me sinto como um inseto.
Desapareceria por trás das paredes.
Que se passa, Alain? Está sombrio.
E triste. O que há?
Solange, você é a própria vida.
Sim, vida.
Mas não posso tocá-la. É horrível.
Está aqui, diante de mim, mas é impossível.
Então tentarei com a morte.
Ela se deixará ser tocada.
A vida é estranha.
Você é uma bela mulher, uma boa mulher.
Você gosta de fazer amor.
Ainda assim...
Nada é possível entre nós dois.
Partir sem ter tocado nada.
Beleza. Bondade.
Sempre mentiras.
Você pode fazer milagres.
Toque o leproso.
Tudo é questão de momento, entre um homem e uma mulher.
E suas belas - Dorothy, Lydia e as demais?
Elas são maravilhosas, e te adoram.
Não são belas o suficiente. Não são boas o suficiente.
Elas se foram.
Elas esperam por você.
Elas gostam do amor tanto quanto eu, das coisas bem feitas.
É isso.
As coisas bem feitas.
Estou partindo.
Fique conosco. Fale comigo.
Eu voltarei.
Mas tenho que ir, agora.
Sem uma palavra. Chega de humilhação.
Você voltará?
- Precisa de dinheiro? - Tenho os bolsos cheios.
Vamos almoçar amanhã. Conversaremos.
Adeus, Alain. Gostamos muito de você.
Adeus, Solange, Cyrille.
Não se esqueça: Almoço amanhã.
Cyrille tem a Solange.
Ele é um bom amante e vale milhões.
Brancion não tem muita chance.
Quando eu tinha 18 e era belo,
Minha primeira amante me traía.
18 é a idade para ser enganado.
Com 18 ou com 30. Elas são sempre amáveis,
Mas todas se vão ou deixam que eu me vá.
Você me surpreende. Chame isso como quiser,
Mas você atrai a elas.
Eu sou bruto, inepto.
A sensibilidade estava em meu coração,
não em minhas mãos.
Quando você se preocupa com as pessoas, Milou, elas são boas.
Elas te dão tudo.
Amor.
Dinheiro.
Você tem que dar-lhes a impressão de que gosta delas
e de que vai se ater a elas.
Você é sensível, Milou, mas você não as quer.
Eu não as amo.
Eu nunca pude amá-las.
Não posso tocar. Não posso pegar.
Tem que vir do coração.
E o que você queria fazer?
Eu gostaria de haver cativado as pessoas,
retê-las,
Mantê-las próximas.
Para que nada mais se movesse ao meu redor.
Mas tudo sempre deu errado.
Realmente ama as pessoas a esse ponto?
queria tanto ter sido amado...
Que eu amo.
Quer um café da manhã?
Não, obrigado.
Não quero ser incomodado essa manhã.
É você, Alain?
Eu o acordei?
Solange.
Querido Alain, estou ligando para lembrá-lo do nosso almoço.
Nós esperamos sem falta. Não se atrase.
Vamos conversar.
Como está hoje?
Nada mal.
Com esse tom de voz? Podemos contar com você?
Claro que sim.
É amável da sua parte.
Eu gosto de você.
Gosta de mim.
E Brancion?
Brancion é seu oposto.
Ele é uma força da natureza.
E você gosta das forças da natureza?
Gosto de todo tipo de gente.
Eu não sou uma força da natureza.
Você tem coração.
Eu não entendo nada disso.
Adeus, Solange.
Solange liga por Dorothy.
Eu me mato porque não me amaram,
E porque eu não os amei.
Porque nossos vínculos eram frouxos,
Me mato para fazê-los fortes.
Deixo a vocês
Uma marca indelével.