Tip:
Highlight text to annotate it
X
Tradutor: Luiz Alexandre Gruszynski Revisor: Wanderley Jesus
Pensei que se eu pulasse me ajudaria a ficar menos nervoso,
mas na verdade estou tendo uma reação paradoxal,
então foi uma má ideia. (Risos)
Fiquei muito satisfeito em receber o convite
para apresentar a vocês um pouco de minha música e um pouco do meu trabalho
como compositor, provavelmente porque apela para
o meu narcisismo abundante e bem conhecido. (Risos)
Não estou brincando, acho que deveríamos
dizer apenas isso e seguir adiante. (Risos)
Mas na verdade, logo um dilema surgiu,
e acontece que estou entediado com a música
e estou muito entediado do papel de compositor,
e então decidi colocar essa ideia, o tédio,
como foco de minha apresentação para vocês hoje.
E vou compartilhar minha música com vocês, mas espero
compartilhar de um jeito que conte uma história,
conte uma história sobre como usei o tédio como um catalizador
para a criatividade e invenção, e como o tédio
me forçou a mudar a pergunta fundamental
que eu fazia em minha disciplina,
e como o tédio, também, de certo modo,
me levou adiante ao desempenhar papéis fora da
mais tradicional definição restrita de um compositor.
O que eu gostaria de fazer hoje é começar com um trecho
de uma música ao piano.
(Música)
Ok, eu escrevi isso. (Risos)
Não, não foi - (Aplausos) Oh, obrigado.
Não, não, eu não escrevi isso.
Na verdade, esse foi um trecho de Beethoven,
e eu não estava atuando como compositor.
Agora mesmo eu estava na função de intérprete,
e lá estou eu, um intérprete.
Mas um intérprete do quê? De uma música, certo?
Mas podemos perguntar o seguinte: "Mas isso é música?"
E digo isso retoricamente porque, é claro,
a partir de qualquer padrão temos que admitir
que isso, claro, é uma música,
mas eu lancei essa pergunta
apenas para colocar a ideia em suas cabeças
porque voltaremos a essa questão.
Será um tipo de refrão
enquanto a apresentação acontece.
Então aqui temos esse trecho de uma música de Beethoven,
e meu problema é: isso é chato.
Quero dizer - eu apenas, shhh, huh - é como - (Risos)
É Beethoven, como posso dizer isso?
Bem, não sei, é muito familiar para mim.
Tive que praticar quando era criança, e estou cansado disso. Então - (Risos)
irei, mas o que eu gostaria de tentar mudar isso,
transformar isso, personalizar,
então eu poderia pegar o início, como esta ideia --
(Música)
e depois eu poderia substituir -- (Música)
e além disso eu poderia criar essa melodia
que prossegue a partir daí -- (Música)
(Música)
Logo, isso deve ser o tipo de coisa - Ora, obrigado.
(Aplausos)
Seria o tipo de coisa que eu faria,
e não é necessariamente melhor do que Beethoven.
Na verdade, acho que não é melhor. O negócio é o seguinte -- (Risos) -- (Risos)
é mais interessante para mim. É menos entediante para mim.
Porque estou mesmo me debruçando sobre mim, porque, porque tenho
que pensar correndo sobre que decisões tomar
já que o texto de Beethoven está passando pela minha cabeça
e estou tentando descobrir que tipos de mudanças
vou fazer com ele.
E isso é uma iniciativa interessante para mim, e
me refiro a isso em primeira pessoa,
e agora meu rosto aparece duas vezes, então acho que podemos concordar
que isso é uma iniciativa fundamentalmente solipsista. (Risos)
Mas é atraente e é interessante para mim
por um tempo, mas então eu fico entediado com isso, e por isso,
na verdade, quero dizer, com o piano, porque ele se torna
um instrumento familiar, o alcance do seu timbre é na verdade
muito comprimido, pelo menos quando usamos o teclado
e se não estivermos fazendo coisas como escutando piano
após tê-lo colocado no fogo ou algo assim, sabem?
Fica um pouco chato, e logo em seguida
vou para outros instrumentos, eles se tornam familiares,
e ao final me vejo planejando e construindo
meu próprio instrumento, e trouxe um comigo hoje,
e pensei que poderia tocar um pouco para vocês
de modo que possam ouvir o seu som.
(Música)
Precisamos ter um peso de porta, isso é importante. (Risos)
Tenho pentes. Eles são os únicos que tenho.
Eles estão todos integrados aos meus instrumentos. (Risos)
(Música)
Posso fazer todo o tipo de coisa. Posso tocar
com um arco de violino. Não preciso usar os pauzinhos.
Então temos este som. (Música)
E com um banco de instrumentos eletrônicos vivos
posso mudar radicalmente o som. (Música)
(Música)
Como este, e este. (Música)
E por aí vai.
Então isso lhes dá uma ideia um pouco melhor do mundo do som
deste instrumento, que eu acho muito interessante
e me coloca na função de inventor, e o mais legal disso tudo --
Este instrumento é chamado de Mouseketeer ... (Risos)
e o legal disso é que
sou o maior tocador de Mouseketeer do mundo. (Risos)
Ok? (Aplausos)
Nesse aspecto, isto é uma das coisas,
este é um dos privilégios de ser,
e aqui está outra função, a de inventor, e por falar nisso,
quando eu disse que sou o maior do mundo,
se vocês estiverem acompanhando, temos o narcisismo e o solipsismo
e agora uma saudável dose de egocentrismo.
Sei que alguns de vocês estão, sabem, bingo! Ou, não sei. (Risos)
A propósito, essa também é uma função muito agradável.
Eu também deveria admitir que sou o pior tocador de Mouseketeer do mundo,
e foi com essa distinção que eu estava mais preocupado
quando estava no lado anterior da diferença de estabilidade no emprego.
Estou feliz por ter passado por isso. Não vamos entrar nessa questão.
Estou chorando por dentro. Ainda há cicatrizes.
De qualquer forma, acho que minha questão é que todos estes empreendimentos
são atraentes para mim em sua multiplicidade, mas como eu os apresentei
a vocês hoje, na verdade eles são empreendimentos solitários
e por isso em breve eu quero me aproximar de outras pessoas, e assim
fico satisfeito que de fato eu tenha que compor trabalhos para elas.
Escrevo, às vezes para solistas e trabalho com uma pessoa,
às vezes para orquestras inteiras, e trabalho com muitas pessoas,
e essa é provavelmente a capacidade, a função criativa
pela qual eu provavelmente sou mais conhecido profissionalmente.
Algumas das minhas partituras como compositor são assim,
e outras assim,
e algumas assim,
e faço todas à mão, e é muito entendiante.
Levo um tempo, um longo tempo para fazer estas partituras,
e no momento estou trabalhando numa música
que tem 180 páginas,
e é apenas uma parte importante da minha vida, e estou arrancando os cabelos.
Tenho muito cabelo, e acho que isso é bom. (Risos)
Isso é realmente chato e cansativo para mim,
então depois de um tempo o processo de notação musical não é apenas chato,
mas na verdade eu quero que a notação seja mais interessante,
e então isso me levou a outros projetos como este aqui.
Este é um fragmento de uma partitura chamada
"The Metaphysics of Notation."
A partitura inteira tem cerca de 21 metros de largura.
É um monte de notações pictográficas loucas.
Vamos dar uma aproximada nesta seção. Vocês podem ver
que é mais detalhada. Faço tudo isso com moldes de rascunho,
com bordas retas, curvas francesas, e à mão livre,
e os 21m foram na verdade dividos
em 12 painéis de cerca de 1,5m que foram instalados
ao redor da sacada do saguão do Museu Cantor Arts Center,
e permaneceu por um ano no museu,
e durante aquele ano, foi observado como uma arte visual
pela maior parte da semana, com exceção, como podemos ver nestas gravuras,
das sextas-feiras, do meio dia até à uma hora, e apenas durante esse horário,
vários artistas vinham e interpretavam estes estranhos
e indefinidos glifos pictográficos. (Risos)
Essa foi uma experiência muito emocionante para mim.
Eu estava satisfeito com a música, mas acho
que o mais importante é que foi emocionante porque me levou
à outra função, especialmente devido ao fato de ele ter aparecido num museu,
e isso é como um artista plástico. (Risos)
Vamos encerrar o assunto, não se preocupem. (Risos)
Eu sou múltiplo. (Risos)
Então uma das coisas é que, quero dizer, algumas pessoas
diriam algo como 'Oh, você está sendo amador,"
e talvez isso seja verdade. Posso entender como, quero dizer,
porque eu não tenho um histórico em artes plásticas
e não tenho nenhum treinamento, mas é apenas uma coisa
que eu queria fazer como uma continuidade da minha música,
como uma continuidade de um tipo de impulso criativo.
Posso entender a pergunta, no entanto. "Mas isso é música?"
Quero dizer, não há nenhuma notação tradicional.
Também posso entender esse tipo de crítica implicita
na música "S-tog", que eu fiz quando estava morando em Copenhagen.
Peguei o mapa do metrô de Copenhagen.
e renomeei todas as estações para abstratas provocações musicais,
e os músicos, que estão sincronizados com cronômetros
seguem os cronogramas que estão listados em minutos a cada hora.
Então esse é um caso de adaptar alguma coisa
ou talvez de roubar alguma coisa,
e transformá-la em uma notação musical.
Outra adaptação seria esta música.
Peguei a ideia do relógio de pulso e o transformei numa partitura.
Fiz meus próprios mostradores e uma empresa os fabricou,
e os músicos seguem essas partituras.
Eles seguem os ponteiros dos segundos, e enquanto eles seguem
os vários símbolos, os intérpretes respondem musicalmente.
Aqui está um exemplo de uma outra música,
e sua realização.
Nesses dois recursos, eu fui um catador
no sentido de pegar, como o mapa do metrô, certo?
Ou um ladrão, talvez, e também fui desenhista,
como no caso dos relógios de pulso.
E mais uma vez isso é, para mim, interessante.
Uma outra função que eu quero realizar é a de artista visual
Algumas das minhas músicas têm esses tipos de elementos teatrais esquisitos,
e costumo apresentá-las. Quero lhes mostrar um clipe
de uma música chamada "Echolalia".
Ela tem sido apresentada por Brian McWhorter,
que é um extraordinário artista.
Vamos assistir um pouco, e por favor, prestem atenção nos instrumentos.
(Música)
Ok. Ouvi vocês rindo nervosamente porque
vocês também puderam ouvir que a broca estava um pouco afiada,
a entonação estava um pouco duvidosa. (Risos)
Vamos assistir outro clipe.
(Música)
Podem ver que o caos continua e há, sabem,
não há clarinetes e trompetes
e flautas e violinos. Aqui está uma música que tem
uma instrumentação ainda mais incomum, mais peculiar.
Este é "Tlön", para três maestros e nenhum músico. (Risos)
Isso foi baseado na experiência de assistir de fato
duas pessoas tendo uma forte discussão em linguagem de sinais,
que não produziu nenhum som de fala,
mas afetivamente, psicologicamente, foi uma experiência muito barulhenta.
Sim, entendi, com os aparelhos esquisitos
e a total ausência de instrumentos convencionais
e este excesso de maestros, as pessoas devem pensar, sabem,
imaginar, sim, "Isso é música?"
Mas vamos avançar para uma música em que claramente estou me comportando,
e esse é o meu "Concerto for Orchestra".
Vocês vão perceber muitos instrumentos convencionais
neste clipe. (Música)
(Música)
Esse na verdade não é o título dessa música.
Fui um pouco malicioso. Na verdade, para torná-la mais interessante,
coloquei um espaço bem aqui, e este é o título verdadeiro da música.
Vamos continuar com aquele mesmo trecho.
(Música)
Fica melhor com um florista, não é? (Risos) (Música)
Ou pelo menos não é tão entediante. Vamos assistir mais alguns clipes.
(Música)
Com todos esses elementos teatrais, isso me leva a outra função,
e esta seria, possivelmente, a de dramaturgo.
Joguei bem. Tive que escrever os trechos da orquestra, certo?
Ok? Mas havia esta outra coisa, certo?
Havia o florista, e posso entender que,
mais uma vez, estamos colocando pressão na ontologia da música
como a conhecemos convencionalmente.
Mas vamos olhar para uma última música que vou compartilhar com vocês hoje.
Esta vai ser uma música chamada "Aphasia",
e os gestos das mãos são sincronizados com o som,
e esta convida para uma outra função, a função final,
que vou compartilhar com vocês, que é a de coreógrafo.
E a pontuação para essa música fica assim,
e isso me leva, o intérprete, a fazer
vários movimentos com as mãos em determinados momentos
sincronizados com uma fita de áudio e essa fita de áudio
é feita exclusivamente de amostras vocais.
Gravei um ótimo cantor,
e coloquei o som de sua voz no meu computador,
e a distorci de incontáveis maneiras até chegar
à trilha sonora que vocês irão ouvir.
Vou executar apenas um trecho de "Aphasia" para vocês, ok?
(Música)
Isso lhes dá uma pequena mostra daquela música. (Aplausos)
Certo, ok., isso tá uma coisa meio esquisita.
Isso é música? É assim que quero concluir.
Decidi, recentemente, que essa é a pergunta errada.
que essa não é a pergunta importante.
A pergunta importante é "Isso é interessante?"
E lanço essa questão, sem me preocupar se "Isso é música?" --
sem me preocupar com a definição daquilo que estou fazendo.
Permito que minha criatividade me leve
em direções que simplesmente me interessam,
e não me preocupo com a semelhança do resultado
com alguma noção, algum paradigma,
de qual composição musical deve ser,
e isso na verdade me instigou, de certo modo,
a assumir uma série de funções diferentes,
e então o que quero que vocês pensem é em
até que ponto vocês devem mudar a pergunta fundamental
em sua disciplina, e, ok.
vou colocar uma pequena nota de rodapé aqui,
porque, tipo, me dei conta de que mencionei
anteriormente alguns defeitos psicológicos, e nós também,
em nossa caminhada, tivemos uma boa quantidade de comportamento obsessivo,
e houve algum comportamento ilusório e coisas assim,
e acho que poderíamos dizer que esse é um argumento
para autoaversão e um tipo de esquizofrenia,
pelo menos no uso popular do termo,
e quero dizer mesmo um distúrbio de identidade dissociativa, ok, (Risos) (Risos)
Enfim, apesar desses riscos, eu pediria a vocês
que pensassem sobre a possibilidade de assumirem funções
em seu próprio trabalho, sejam eles próximos
ou distantes de suas definições profissionais.
E com isso, agradeço muito a vocês. (Aplausos)
(Aplausos)