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No verão de 2003,
comecei a filmar a série Ateísmo: uma breve história da descrença.
Como parte do trabalho, falei com escritores
cientistas, historiadores e filósofos.
Obtida a cooperação deles,
fiquei constrangido em saber que grande parte das conversas
acabou no chão da sala de edição.
Simplesmente porque, do contrário, a série teria durado 24 horas.
Mas, por sorte, a BBC e eu concordamos que as conversas
eram muito interessantes para serem desperdiçadas.
Com estes seis programas complementares, tomamos
a inusitada decisão de retomar o material original
e exibir a íntegra de algumas das conversas que tive.
Conversas com pessoas como o biólogo inglês Richard Dawkins,
o filósofo americano Daniel Dennet,
o teólogo de Cambridge Denys Turner,
o dramaturgo americano Arthur Miller,
o filósofo inglês Colin McGinn
e o físico americano ganhador do Nobel, Steven Weinberg.
UNITED4EVER A p r e s e n t a
AS FITAS DO ATEÍSMO
Legenda: Kakko | Cape
Quando falei com o filósofo inglês Colin McGinn,
no seu apartamento em Nova Iorque,
discutimos em profundidade o significado do termo "crença".
Boa parte dessa discussão está na série Ateísmo,
mas, originalmente, eu só queria extrair de Colin
a noção do que era ser um filósofo inglês céptico
num país aparentemente religioso como os EUA.
Às vezes, os americanos dizem: "Você não acredita em Deus?"
E respondo: "É verdade. Não creio em Deus."
Então dizem: "Você acredita em alguma coisa?
E digo: "Acredito em muitas coisas".
Não faço piada dizendo que acredito em mesas e cadeiras.
Respondo: "Acredito em várias causas éticas e ideias políticas
"e em outros valores estéticos e intelectuais.
"Há muitas coisas nas quais acredito."
Então dizem: "Isso é tudo em que acredita?"
"Isso é tudo em que acredito."
"Não acredita em algo divino?"
"Não acredita no Deus tradicional?
"Você crê que exista algo?"
Respondo: "Não. Não há nada."
É difícil se fazer entender por pessoas religiosas quando se é ateu.
Que você não acredita em nada desse tipo.
Não é que você acredite que Deus é a natureza, ou
que não tenha qualidades humanas ou algo do tipo.
Você não crê em nada desse tipo.
Nada sobrenatural, milagroso ou supersticioso.
Nada de fantasmas, telepatia, nada desse tipo.
É isso do que se trata. Não que eu esteja zombando de Deus.
Ou do Deus cristão por não acreditar nele.
É apenas em nada desse tipo.
Você não recebe a mesma resposta que eu de pessoas
que não são necessariamente religiosas, digo,
que não pertençam as três principais religiões monoteístas...
Elas dirão, não apenas que deve existir algo,
ao que eu responderia da mesma forma que você,
mas "de onde você tira sua espiritualidade?"
- Certo, eu... - Parece algum tipo de carência.
Não consigo entender se é algum tipo de deficiência vitamínica.
Exato. O que exatamente querem dizer com isso?
Espiritual... Pode um ateu ser espiritualizado?
Acho que é questão de definição, na verdade.
Certamente não dá para ser se denotar algo sobrenatural, mas...
valores estéticos e éticos podem levar ao que chamam...
A maioria das crenças sobre o comportamento humano
podem ser tidas como espirituais, não sei.
Sensações sobre a natureza, suponho, possam ser. Não usaria essa palavra.
Não me parece um bom termo para se usar. É um termo arriscado.
Isso não quer dizer que não tenha opiniões sobre as coisas
ou convicções profundas sobre as coisas, mas...
Mas os clérigos à espreita nos arbustos surgem e dizem:
"seus sentimentos são, de fato, desconhecimento... o reconhecimento
"do Deus que você nega".
Bem, o meu sentir é que não existe Deus,
que é má ideia crê em Deus e muito prejudicial.
Se isso reflete minha crença em Deus, então é algo estranho!
Uma das minhas convicções mais fortes é que Deus não existe.
Comungo da convicção de Colin de que não existe Deus
e, no meu caso, nunca acreditei Nele,
então questionei se houve algum momento na vida de Colin
em que ele tenha acreditado em Deus.
Comigo foi muito bem delineado.
Foi... não lembro datas ou hora exatas.
Mas acho que tinha 17 ou 18 anos
quando a ideia de crer em Deus, e fui exposto ao cristianismo,
tornou-se real para mim e durou cerca de um ano,
eu diria, não mais que isso.
Se me perguntasse aos 10 anos: "Acredita em Deus?"
Provavelmente eu diria: "Sim, não sei".
Mas isso não significava nada. Era algo do tipo todos acreditam.
Como as vacas. Todos acreditam nelas. Certo?
Mas então comecei a estudar a Bíblia
porque eu estava cursando Divindade.
Comecei a estudar, tínhamos um professor carismático,
um homem admirável, o Sr. Marsh,
escrevi sobre ele na minha autobiografia.
Ele era muito entusiasta e nos ensinava a Bíblia.
Eu tinha de aprender a Bíblia, estudá-la atentamente,
Antigo e Novo Testamentos.
Conheço mais o Novo Testamento que muitos cristãos.
Mesmo hoje, 25 anos depois, o conheço melhor que religiosos.
Eu o conheço muito bem. Por isso interessei em Filosofia.
Assim, ao mesmo tempo, me interessei por filosofia
enquanto pensava em religião, estudando a Bíblia.
Acho que houve dois fatores, a confluência de dois fatores.
Um, o interesse por questões metafísicas,
questões básicas sobre o universo: "O que é tudo isto?",
"O que significa tudo isto?", esse tipo de questão.
Do outro lado, havia um componente ético,
pois há no Novo Testamento, obviamente,
uma forte ênfase nos aspectos éticos da vida.
Eu era um jovem idealista, como sabe, eram os anos 60
e isso teve profundo impacto em mim, o lado ético,
não fui criado numa casa onde as ideias éticas fossem debatidas.
E ainda tem um impacto profundo, o lado ético disso.
Assim, essas duas coisas me fizeram pensar que há mais na vida
que a realidade mundana com a qual estava acostumado,
vivendo em Blackpool,
com fliperamas, pubs, restaurantes e um frio de rachar.
Havia essa ideia de pensamento filosófico,
ideias metafísicas, e esses altos ideais éticos.
Uma bela combinação. Então me interessei por isso.
Por algum tempo, fui influenciado por isso e entrei na universidade
para estudar psicologia e, como parei de estudar a Bíblia,
não via mais o Sr. Marsh para aulas sobre divindade.
Continuei por certo tempo, ocasionalmente falava sobre religião
e subitamente isso desapareceu.
Lembro-me de persistir, de tentar mantê-lo,
indo a reuniões religiosas, ficar sentado ouvindo e pensar:
"Isto é um monte de besteira. Não creio mais que seja verdade."
Eu estava lendo Bertrand Russell, "Porque Não Sou Cristão".
E em alguns... não lembro detalhes, mas num curto tempo,
decidi que tudo estava errado.
Também decidi que podia manter os lados ético
e filosófico e descartar o resto.
Russell representou uma alternativa ao idealismo religioso.
Era mais um idealismo secular.
Percebi que podia manter alguns dos aspectos da religião
que me atraiam, mas sem a religião.
E os que não me atraiam: a imaculada concepção, milagres,
ideias estranhas sobre como surgiu o universo,
isso é difícil de acreditar.
Dá para eliminar essa parte e conservar a boa.
Elimina-se a bagagem teológica da religião
e mantém-se o lado que você gosta.
E foi o que fiz desde então, basicamente a mesma coisa.
Teve alguma crise, por assim dizer...
ao separar o metafísico e o divino
- do ético ao qual continuou ligado? - Não no meu caso.
Que acho difere do das outras pessoas.
Na descrição de Russell de sua rejeição ao teísmo,
ele a classifica como um doloroso, traumático
e irrecuperável episódio. Ele passou a vida toda lidando com isso.
Comigo, foi relativamente fácil. Aconteceu naturalmente.
Como digo em minha autobiografia, foi como trocar a pele,
a pele cai e você ganha uma nova, está tudo bem.
Houve um certo alívio ao mudar de pele?
Não, não diria alívio. Creio que foi decepção.
Eu gostaria que a religião fosse verdade.
Gostaria que fosse verdade, porque gostaria que existisse
a imortalidade, recompensas para os virtuosos
e castigos para os que não foram.
Especialmente os castigos. Não há justiça neste mundo
seria bom se houvesse uma força cósmica
que distribuísse justiça da forma que devia ser.
Isto ainda é, para mim, uma fonte de constante irritação e dor,
que os maus prosperem e os virtuosos não!
Por isso, um pouco de decepção sobre esses aspectos,
mas também um pouco de exultação.
Russell fez uma descrição que acho apropriada
de um sentimento de um universo ateu como um universo exultante.
Há algo hígido nisso. Algo fortalecedor.
Enquanto que a ideia dessa presença sufocante
observando cada movimento e pensamento seu
avaliando tudo que você faz...
É um pouco opressivo pensar dessa forma.
Bem, agora que você é
- o filósofo que pensou ser... - Sim.
...que sua formação está concluída.
Em sua formação, como filósofo,
gostaria que você desenvolvesse os argumentos
que anteriormente eram apenas ecdise intuitiva.
Agora seja mais sistemático e preciso
e diga por que, de fato, a noção de um Deus...
- é ilógica. - Um dos vários argumentos,
é o da inexistência de provas.
Russell o expõe dizendo que não há razão para se acreditar
mais no Deus cristão que nos deuses gregos.
Não há mais razão para acreditar. Não há prova que o confirme.
Não há teoria que precise recorrer a Deus
para explicar alguns fenômenos naturais,
que não possam ser explicados por outra teoria.
As pessoas dirão: "Bem, houve milagres."
Nunca houve prova da realização de milagres.
A ideia de que houve milagres é baseada na opinião prévia
de que Deus existe mais do que ser uma fonte independente
para acreditar que Ele exista.
Não há provas em termos do que alguém já observou.
Não há nenhum fato no mundo que não possa ser explicado
sem recorrer a Deus. Portanto, não há nenhuma razão para crer Nele,
mais do que em Zeus ou nos demais deuses gregos.
Isso do lado do se há alguma razão para acreditar.
Surge a questão:"há alguma razão para desacreditar?"
Algum argumento contra?
Há alguns argumentos favoráveis, como o ontológico.
- Fale dele. - O argumento ontológico.
Esse é um bom argumento.
Anselmo da Cantuária pensou nele, no século XV, creio.
Ele afirmou que a definição de Deus acarreta a Sua existência.
Isto seria um resultado fantástico.
A mera definição impõe Sua existência.
Então, qual a definição de Deus? O ser mais perfeito.
Ou o ser mais poderoso, também é uma boa forma de defini-lo.
Anselmo argumenta o seguinte:
bem, imagine que este ser poderoso e perfeito não existisse.
Certo? Então, lhe faltaria o atributo da existência.
Mas o atributo da existência é uma das perfeições,
uma das coisas que torna um ser poderoso.
mas como Ele é, por definição, o ser mais perfeito,
Ele deve ter o atributo da existência, logo Deus existe.
Então vamos rever o argumento.
Pegue a definição de Deus. Como Deus é definido?
Vamos comparar com o unicórnio. Como o unicórnio é definido?
O unicórnio é um cavalo com um chifre na testa.
Não há nada nessa definição
que implique a existência de unicórnios, e eles não existem.
Mas vamos definir Deus. Certo?
Um ser onipotente, bom, onisciente.
Essas são algumas de Suas características.
Todos concordam que é a definição de Deus.
Um das definições é que Ele é o ser mais perfeito.
Um dos Seus atributos é a perfeição superior, a perfeição absoluta.
Certo? Essa é a definição de Deus.
Então Anselmo argumenta, mas e se Deus não existisse,
não seria Ele menos perfeito que um ser semelhante a Ele
em todos esses atributos, exceto que esse ser existiria?
Pois existir é mais perfeito que não existir.
É melhor existir que não existir.
Deus é tão bom como você,
tão superior como você, logo Ele deve existir.
Assim, sabemos, por definição, que Deus existe.
É um argumento genial. Certo?
Mas é inconvincente para todos que o ouvem,
eles acham que há algo de errado com isso.
É um argumento muito estranho.
- O que há de errado? - É esta a dificuldade.
Ninguém conseguiu apontar o seu erro.
Direi o que acho que há de errado,
mas a questão não é clara.
Acho que a coisa estranha nessa tese, a parte que...
que parece atraente e sofisticada é aquela que diz:
"Deus é o mais perfeito. A existência faz parte da perfeição."
Parece superficialmente plausível, mas o que isso significa de verdade?
"Faz parte da perfeição". Gosto de comparar isso a alguém que diz:
"Vamos comer a melhor refeição
"concebível, a melhor
"refeição concebível." Significa alguma coisa dizer isso?
Essa é a melhor refeição que eu já fiz.
Mas não está bem definido, a melhor refeição concebível ou
a melhor partida de futebol concebível...
Nenhuma que eu já tenha visto...
O que isso quer dizer? Não é...
Não é uma ideia com um significado claro.
Se dissermos que definimos Deus como o ser mais perfeito,
não deixamos claro o que queremos dizer com perfeito,
o que significa "o ser mais perfeito"? Ele tem...
Sabemos que Ele não tem as cores mais perfeitas,
pois Ele não possui nenhuma cor.
Não está claro o que isso significa.
Então não podemos pensar sempre que expressões como
"o mais perfeito "F" concebível" tenha sempre significado.
Às vezes têm significado, "o mais perfeito triângulo concebível",
significa um cujos ângulos têm precisamente 180 graus.
Mas "o mais perfeito ser moral concebível"...o que isso quer dizer?
Não está bem definido.
Acho que é esse o erro, mas como muitos argumentos filosóficos,
só porque não pode refutá-lo,
não quer dizer que o deva levar a sério, especialmente
quando se trata de formar o próprio senso comum em sua base.
- Essa era a prova ontológica... - Sim, era a prova ontológica.
Agora, o que me diz das demais?
Bem, eis uma que eu gosto.
As pessoas pensam... creio que psicologicamente
é muito importante para elas.
E por isso que este argumento é importante psicologicamente.
Elas pensam: "Sem Deus a vida não tem sentido. Onde está o sentido?
"É só uma farsa vazia que consiste
em passar sem rumo, sem objetivo e inutilmente da uma coisa a outra."
Bem, a primeira resposta a dar é que
não é preciso buscar o sentido da vida fora da vida.
Eis a premissa, o pressuposto desse argumento.
Se não houver um ser fora da vida humana,
a vida humana não terá sentido.
Então o sentido da vida humana deve ser conferido por um outro ser.
Eis minha questão: "O que dá sentido a vida desse ser?
Como a vida dele, a vida de Deus, obtém sentido?"
Eis o dilema, certo?
Ou a vida de Deus tem sentido intrinsecamente só por sua
existência ou não, certo?
Se tiver, então é possível ter uma vida significativa, intrinsecamente.
Por que a vida não pode ter um sentido inerente?
Seu sentido não precisa ser conferido por um outro ser.
Mas os religiosos podem rebater,
sem recorrer a prova ontológica da existência de Deus,
mas o fato, o fato evidente, que temos valores
e um sentido é, de fato, uma prova do fato que algo deu...
deu esse significado da mesma
forma que a tese do desígnio diz que algo deu desígnio as coisas.
Bem, creio que são dois pontos a analisar. O primeiro, é que
a existência de valores é uma prova da existência de Deus.
Como uma argumento de prova.
Um outro ponto, é a ideia de que a moral só poder ter fundamentos
se baseada nas ordens de Deus ou nos desejos de Deus,
na vontade de Deus.
Você... começou...
O primeiro ponto. A coisa a se dizer é que
não há nenhuma razão para pensar
que a existência de valores na sociedade humana
dependa da existência de Deus. Por que deveria?
Não há um argumento lógico claro para isso...
Não mais que a existência de orelhas seja uma razão...
Há muitos aspectos da vida humana,
a arte, os valores, a família...
Todos esses tipos de coisas que tomamos como valiosas.
Por que essas coisas requerem que recorramos
a Deus para explicar sua existência?
Uma questão mais preocupante para muitos é
que não entendem que a moral possa ter alguma base ou perfeição,
a menos que haja um deus para certificá-la, que a legitime.
Essa questão é compreensível.
Essa questão foi discutida por Platão em "O Eutífron",
o argumento de Eutífron.
Ele faz... bem, creio que Sócrates faz uma convincente
confrontação desse argumento.
Ele diz o seguinte, o argumento diz o seguinte:
"Suponha que tenha como princípio moral, "é errado roubar."
As pessoas dizem: "Por que isso é errado? Por que é errado roubar?"
Resposta: "Porque Deus diz que é errado roubar,
"Deus determinou que não deve roubar".
O que Sócrates sustenta nesse diálogo é:
"Como pode Deus dar fundamento a essa regra moral?
"Ou a regra moral é, por si,
"intrinsecamente uma regra moral sólida, ou não se pode atribuir
"a ela solidez e legitimidade com uma ordem externa."
Suponhamos, por exemplo, que tivéssemos a regra "é certo matar".
Alguém diria: "Isso não é certo! Matar é errado!"
E alguém refuta: "Mas Deus diz que é certo matar!".
Isso não lhe convence que é certo matar.
Se Deus diz que algo é certo, mas não o é... Deus está errado.
Ele não pode tornar algo certo simplesmente porque diz que o é.
Deus pode apenas... O que Deus deve fazer é
refletir o que é certo em seus mandamentos.
E é o que Ele faz. Roubar é errado... É errado roubar e matar.
Então Deus diz que isso é errado, e Ele tem razão em dizer isso.
Por quê? Porque é errado, em ambos os casos.
Ele não torna algo errado apenas porque o diz.
Ele não pode fazer isso. Se fosse assim, não teríamos
motivo para respeitar a moral de Deus.
Então Deus, pelo que diz, se apropria...
dos nossos valores espontâneos e intrínsecos...
que vêm a ser refletidos nessa hipotética entidade
e isso parece convalidar as nossas crenças.
Exato. Não precisamos que Deus confirme
nossas crenças morais. Ele não pode fazê-lo.
Ele só... as Suas convalidações só funcionam
apenas se corresponderem ao que é moralmente certo ou errado.
Não pode tornar algo moralmente aceitável quando não o é.
Em outros termos, não pode ser uma decisão ou capricho de Deus
estabelecer o que é certo ou errado.
As pessoas sabem o que é a moral. Sabem o que deve fazer.
Mas os seres humanos são fracos. Temos fraqueza de vontade.
Nem sempre fazemos o que bem sabemos devemos fazer.
E isso, para muitos, produz o fenômeno da culpa.
A culpa é uma potente força negativa na mente das pessoas.
As pessoas odeiam a culpa. A culpa é um sentimento ruim.
Então precisamos de algo que evite a culpa.
Para evitá-la, precisamos de algo que diga que o que fazemos é certo.
Mas como os seres humanos são fracos, nem sempre fazem
o que sabem ser o certo.
Mas Deus lhe dá um motivo extra, para fazer o que é certo,
além da própria moral. A moral lhe dá motivação,
mas é uma motivação muito frágil.
Muito momentânea, intermitente...
e facilmente quebrável.
Mas se tem a ideia de Deus, pode lhe dar mais energia, mas força,
e daí poderá fazer aquilo que sabe ser certo mais fácil e regularmente.
E isso é perfeitamente sensato.
É razoável... Não é irrazoável todavia para um ateu
pensar que precisemos de Deus, ou que precisem de Deus,
porque sem Deus elas não podem fazer aquilo que sabem ser certo.
Pessoalmente não creio nisso. Penso que as pessoas
não são tão moralmente corrompidas como diz a religião.
Creio que a maioria das pessoas fará o que é certo em condições normais.
Não sempre, mas usualmente sim. Não precisam de Deus.
E penso que as pessoas que viveram com Deus
como seu apoio moral,
seu moral... ou o que quer que extraiam Dele,
quando deixam de acreditar em Deus sentem
que no fundo ser virtuoso não era difícil como pensavam que seria.
Na verdade era melhor,
porque havia uma parte corrompida naquela concepção de Deus,
que é a ideia que faz algo bom
porque Deus te recompensará e pensará bem de você.
Essa é uma ideia corruptível.
É muito melhor fazer algo bom porque é bom,
e somente porque é bom.
Essa é a única razão para fazê-lo.
Mas a ideia que você obterá uma sensação agradável:
"Oh, Deus está realmente contente comigo hoje."
A moral não se trata disso.
Tendo discutido os vários argumentos
a favor da existência de Deus,
pedi a Colin para resumir
alguns dos melhores motivos para não crer.
Bem, o argumento clássico contra é o problema do mal.
Isso é... Até os religiosos acham-no muito desagradável.
O argumento é simplesmente... Se supõe que Deus seja um ser
onisciente, onipotente e boníssimo.
Então como há sofrimento e dor no mundo?
Por que Deus os permitem?
Deus, se Ele fosse bom, pensaria que haver isso seja um mal,
preferível que não ocorresse,
como qualquer pessoa respeitável preferiria que não houvesse,
e, ainda assim, Ele permite que ocorra.
Estaria tudo bem se Ele não pudesse mudar isso, mas Ele é onipotente.
Os religiosos dizem que Ele intervém a todo tempo, de vários modos.
Então por que Ele não intervém para evitar
a morte de uma criança ou a tortura de um prisioneiro?
Ele não faz, então...
Não vamos, com isso, chegar à conclusão que Deus seja mau,
ou uma pessoa má, essa é uma conclusão possível.
Mas chegamos à conclusão que
a combinação destas duas características é incoerente.
Ele é bom e onipotente.
E deve ser onisciente, certamente, porque deve saber o que ocorre,
mas essencialmente se trata do conflito entre ser bom
e onipotente e a existência do mal.
A clássica resposta a isso, a resposta que
será dada pelo apologista da religião é:
"Deus criou o homem com livre arbítrio."
Ora, a pergunta é: "Por que Ele fez isso,
sabendo que os resultados seriam terríveis?"
Essa foi uma coisa má a se fazer, para começar.
Mas vamos deixar isso de lado.
O problema desse argumento é que nem todo o sofrimento
do mundo deriva do exercício do livre arbítrio humano.
Grande parte disso advém de catástrofes naturais ou...
doenças, acidentes, todas as coisas que
podem causar um tremendo sofrimento ao homem.
Se alguém nasce com uma doença genética
nenhum ser humano teve papel na criação dessa moléstia.
Isso vem da natureza, da criação de Deus, como nos disseram.
Deus criou um mundo no qual fosse inevitável
que houvesse tremendo sofrimento
para seres humanos completamente inocentes.
Mas pode...
Mas deve haver argumentos religiosos para dizer que
Ele criou essa pista de obstáculos...
para que Suas criaturas dotadas de livre arbítrio...
pudessem despertar o seu melhor.
E eu sempre acho que isso traz uma espécie de
lado cruel e imoral desse modo de pensar as coisas.
Vamos pensar no que está sendo dito quando ouvimos isso.
Tem uma criança inocente com uma moléstia terrível,
e Deus está lá em cima dizendo a si mesmo:
"Eu preciso testar algumas pessoas.
"A pista de obstáculos precisa ser posta ali.
"Deixe-me pegar essa garotinha de 2 anos,
"fazê-la passar por essa prova terrível, e testarei as demais."
Se um ser humano lhe dissesse que fez algo similar...
suponhamos que eu decidi, em meu bom senso:
"Preciso testar algumas pessoas, devo melhorar sua índole moral,
então vou fazer essa coisa terrível com o filho deles."
Pensariam que eu era a pessoa mais malvada do mundo por fazer isso.
Por que não Deus? Se é o que Ele faz, não o respeito.
É uma coisa má a se fazer.
Deus não devia fazer isso. Se Ele se preocupa conosco,
não devia permitir que isso acontecesse.
Tendo discutido os argumentos a favor e contra a religião,
passamos a especular a razão pela qual
tantas pessoas ainda têm a necessidade de acreditar.
Não creio que ninguém faça ideia
do porquê disso, especialmente porque creem a tal ponto.
O que diria a esse respeito... penso que tenha pouco a ver com
a ideia da morte e da sobrevivência da morte, a recompensa no paraíso
e punição no inferno.
Acho que é um tipo de solidão cósmica que esteja por trás disso.
É difícil para as pessoas aceitarem que estamos sós,
e que ninguém se importa. Além de nós.
Acho que há uma razão basilar para isso, que a consciência humana
é essencialmente isolada de outras consciências.
Eu sou isolado, a minha é isolada da sua. Nos conhecemos indiretamente,
através dos sintomas do corpo.
E todavia decidimos fazer contato com outras pessoas.
O amor tem muito a ver com isso.
Então temos esta sensação de ser,
enquanto seres viventes conscientes, dotados de um corpo,
solitários em nossa essência, bloqueados em nossa essência,
e é um sentimento contra o qual lutamos.
Podemos ver a literatura tratar desse tema.
Frankenstein o aborda profundamente.
Então sentimos um tipo de solidão metafísica e existencial no universo
e Deus é um ótimo antídoto pra isso, porque, no caso de Deus, sentimos
que penetra em nossa mente, e estamos em contato direto com Ele.
Deus não nos conhece através dos nossos corpos,
Deus nos conhece intimamente nas nossas mentes.
E isso satisfaz um profundo desejo, penso, da alma humana
de comungar com algo além de si mesmo.
Só queria concluir com uma coisa.
Eis você, como eu,
resistindo a usar o termo "ateu" para descrever o que somos,
pois é uma acusação, muito mais... muito mais que uma convicção,
em um país que, de fato, está ficando intensamente religioso.
Você acha difícil
sustentar tais ideias na América do século XXI?
Me deixe dizer algo sobre o primeiro ponto,
o rótulo... o rótulo que se dá.
Sim, ser chamado "ateu" tem uma conotação negativa
e sugere que alguém é um ateu profissional...
que passa sua vida argumentando contra Deus, como fez Russell.
E acho isso um método indigno e inútil.
Quando decide que Deus não existe,
não há muita lógica em investir contra isso,
a menos que ache que causa um dano enorme crer em Deus.
Mas ninguém passa seu tempo tentando demonstrar aos outros
que os deuses gregos não existem.
Apenas decidiu que eles não existem, ponto final.
Gosto de distinguir o ateísmo do antiteísmo.
O antiteísmo é é oposição ao teísmo.
Eu sou um antiteísta porque creio que a religião é prejudicial
à vida humana. Por isso sou antiteísta, não sou só um ateu
cujos valores repentinamente são que não concordo com isso.
Sou ativamente contra isso.
Mas então distingo isso daquilo que chamo pós-teísmo ou pós-ateísmo,
que é o estado são da mente em que você deixa tudo isso para trás.
Não podemos fazer isso ainda pois há muita religião no mundo
e muito dos seus efeitos negativos, mas
para mim, a sociedade ideal seria aquela em que
não levantasse nas pessoas a questão da religião, ou se assim fizesse,
não fosse uma questão opressiva para elas.
Diriam uma para outra:
"Sabe, aqueles humanos acreditavam, no ano de 2003,
"alguns deles acreditavam que existia Deus, outros não...
"faziam programas de TV sobre por que não acreditavam.
"Que debate estranho devia ser!"
Seria uma sociedade pós-teísta, onde isso não fosse um problema.
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