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O que significa isto?
Não sei.
-Está olhando para onde? -Para os seus pés.
Por quê?
Levam você por aí... por eles mesmos.
Não seria melhor chamar um médico?
-Tem frio? -Um pouco.
O calor é horrível.
Se descansar agora, podemos voltar para casa amanhã.
-Graças a Deus! -Sei que você quer ir embora.
-Está abafado? -sim...
Então, abra a janela.
-Posso fechar a porta? -Claro.
-Johan, venha lavar minhas costas. -Já vou!
Assim está bom.
Espera no outro quarto.
Vamos fazer uma sesta.
Tire a camisa e as calças.
Venha...
Sim...
Mão.
Mamãe!
Johan, cale-se! Eu te disse que queria dormir.
Olá.
Está muito morena.
-Vou sair. -Espere!
-O que quer? -Nada.
Está bem.
Que humilhação, não vou suportar!
Tenho que manter a calma...
Consideram-me uma pessoa sensata...
Deus, por favor, deixe-me morrer em casa!
Assim está melhor.
Preciso tentar comer algo, me sinto vazia.
Fui tão estúpida... beber de estômago vazio.
Obrigada.
Tem fome?
Pode comer um bocado da minha comida.
Tem saudades de casa?
Estaremos em casa na segunda-feira.
-Posso ir na casa da minha avó? -Assim que chegarmos.
-Quanto tempo vou ficar lá? -Todo o verão e o próximo inverno.
Vai à escola.
-Você vem me visitar? -Claro.
-E o papai também? -Se tiver tempo.
-Mas é um homem muito ocupado. -Eu sei...
Mas tem outras coisas boas. Cavalos...
Tenho medo de cavalos.
Sério?
Bem, há coelhos. E você pode ir andar de barco com o tio Persson.
A água é tão limpa e clara que podemos ver o fundo.
Anime-se.
Vai estar lá?
Pode pescar.
-O que é que se pode pescar? -Percas. E às vezes albures.
Já chega, obrigado.
Deixa a porta aberta, por favor.
Faço para você um desenho bonito, se quiser.
Não se preocupa, a mamãe já volta.
E eu estou aqui.
Ah, está melhor. Assim está bem.
-O que está fazendo? -Trabalhando, como pode ver.
Então, se meta com a sua vida e não me espie.
E pensar que tive medo de você!
Quando voltamos para casa?
Esta tarde, talvez.
-A Esther também vem conosco? -Não sei.
-Como se chama este lugar? -Timoka, acho.
O que é isso? Música?
-Fiquei sem cigarros. -Os meus estão na mesa.
-Posso tirar alguns? -Claro.
Muito obrigada.
Devia pegar o trem da noite e voltar para casa.
Não podemos deixá-la assim.
Ainda não estou em condições de viajar. Dentro de uns dias, quem sabe...
-Que música é essa? -Bach.
É bonita.
Vou sair um pouco. Não suporto o calor que faz aqui.
Já volto. Por que não diz alguma coisa à Esther?
Vá, enquanto sua consciência permite.
Johan, saia um pouco. Quero falar com a Anna.
-Não quer que leia? -Mais tarde.
-Vou para o hall. -Não se afaste muito.
-Onde você esteve? -Por aí, passeando.
-Aonde foi? -Ah, não muito longe.
-Que grande passeio. -Não queria aqui por perto.
-Por quê? -Não me satisfazia.
Está mentindo.
Quer saber todos os detalhes?
Responde apenas às minhas perguntas.
Lembra daquele inverno há 10 anos, quando estivemos com o papai em Lyon?
Eu tinha estado com o Claude.
Naquela época, você também me interrogou.
Ameaçou falar para o papai se não contasse a você todos os detalhes.
Fui ao cinema e me sentei numa fila do fundo.
Um homem e uma mulher fizeram amor mesmo à minha frente.
Quando acabaram, foram embora.
Entrou um homem, alguém que conheci num bar.
Sentou do meu lado e acariciou as minhas coxas.
Fizemos amor no chão.
Por isso sujei o vestido.
-Isso é verdade? -Por que mentiria?
Sim, por quê?
-Por acaso estou mentindo. -Não importa.
Sim, vi um casal fazendo amor.
Depois fui ao bar, e este homem saiu comigo.
Não sabia para onde ir, por isso entramos numa igreja.
Fizemos amor num recanto escuro, atrás de umas colunas.
Ali era mais fresco.
Estou vendo.
Da próxima vez tenho de me lembrar de tirar a roupa antes.
Não seria melhor se deitar?
Sente-se comigo. Aqui, na beira da cama.
Só por um momento.
Vai se encontrar com ele?
Não faça...
não esta noite.
-É um tormento. -Por quê?
Porque...
...me sinto humilhada.
Deve pensar que tenho ciúmes.
Eu tenho que ir.
Ia ler para mim...
Parece esquisita.
E se lesse alguma coisa?
Em vez disso lhe mostro o meu Punch e Judy.
Socorro! Estou morrendo!
-O que ele está dizendo? -Não sei.
Está assustado, por isso fala numa língua estranha.
O Punch pode cantar?
Não enquanto estiver zangado.
Que bom...
Que bom que não nos entendemos um ao outro.
Quem me dera que a Esther morresse.
Esther...
Por que você é tradutora?
Para poder ler livros em outras línguas.
-Conhece esta língua? -Não, mas aprendi algumas palavras.
Não esquece de escrever mais..
Não me esqueço.
Por que a mamãe não quer estar conosco?
Ela quer.
Não, sempre que pode, sai.
-Só foi passear. -Não é verdade.
Está com alguém. Beijaram-se e beijaram-se...
E depois foram para um quarto.
-Tem certeza? -Eu vi.
-Está bem? -Não. Tem mesmo que ser assim?
Esperávamos desfrutar desta viagem.
-Mas em vez disso... -Eu me diverti muito.
A mamãe é a única que pode tocá-lo, não é?
Gostamos da mamãe, você e eu.
Sabe como se diz "cara" nesta língua?
"Naigo" e "mão" é "kasi".
Desde que está doente, quer tudo do jeito dela.
Encontra sempre defeitos.
"É uma esfomiada!", ela fala.
"Olhe como está gorda."
"Precisa fazer dieta."
Gosto de comer.
Ela também gostaria, se não bebesse tanto.
Mas sou uma boa condutora.
Até a Esther admite.
Está aí?
Quer o quê?
Tenho que falar contigo.
Ela ainda está ali.
Está chorando.
Onde está?
-O que eu fiz para merecer isto? -Nada de especial.
É só que está sempre se gabando dos seus princípios...
...e tagarelando sobre o quanto tudo é importante.
Mas é só garganta.
Quer saber por quê?
Eu lhe digo.
Tudo gira em torno de seu ego.
Não pode viver sem se sentir superior.
Tudo tem que ser desesperadamente importante e significativo...
-... e sabe Deus que mais. -De que outra maneira devemos viver?
Costumava pensar que tinha razão.
Tentei ser como você porque a admirava.
-Não percebia que não gostava de mim. -Isso não é verdade...
É sim!
Eu nunca lhe agradei, mas até agora não tinha me dado conta.
-E de certa maneira me receia. -Não tenho medo de você.
Eu te amo.
Fala sempre muito de amor.
O que é que não devo dizer?
Que a Esther odeia?
É só uma ideia estúpida minha, não é?
Você me odeia, tanto quanto odeia você mesma.
A mim, e a tudo o que é meu.
Está cheia de ódio.
Você que é tão culta...
e traduziu tantos livros importantes...
pode me responder isto?
Quando o pai morreu, você disse: "Não quero continuar vivendo "
Então por que continua viva?
É por mim? Pelo Johan?
Pelo seu trabalho, talvez?
Ou por nada de concreto?
Tenho certeza que compreendeu mal.
Não usa esse tom de voz!
Saia! Deixe-me sozinha!
Pobre Anna.
Por que não cala a boca?
Pobre Anna.
O Johan e eu vamos na rua comer alguma coisa.
A gente parte no trem das 2h.
Este calor é terrível.
-Adeus. Volto já. -Adeus.
Dê-me alguma coisa para escrever!
PARA JOHAN
PALAVRAS ESTRANGEIRAS
Já saiu há uma hora, e levou o menino com ela!
Tecido eréctil...
É tudo uma questão de tecido inchado e secreções.
Uma confissão antes da extrema unção:
o sémen tem um cheiro repugnante.
Tenho um olfato muito delicado...
...e fedia a peixe podre quando fui fertilizada.
É opcional.
Eu não aceitaria o meu miserável papel.
Mas agora estou muito só.
Tentamos as nossas atitudes, e descobrimos que são todas inúteis.
As forças são muito poderosas.
Quero dizer as forças...
...as horríveis forças.
Tem que ver por onde anda...
entre todos os fantasmas e recordações.
Toda esta conversa...
não tem necessidade de falar da solidão.
É uma perda de tempo.
Dê-me alguma coisa para escrever.
Deixe eu lhe dizer que me sinto melhor agora.
Sabe que nome se dá a este estado? Euforia.
Aconteceu o mesmo com o papai. Ele ria e dizia piadas.
Então, olhou para mim...
"Agora é a Eternidade, Esther", disse.
Era tão amável...
Apesar de ser um homem tão grande e tão pesado.
Pesava quase 190 quilos.
Gostaria de ter visto quem levou o seu caixão.
Estou tão cansada.
Não, não quero morrer assim!
Não quero sufocar.
É horrível. Tenho medo.
Esta me assustou. Não deve voltar outra vez.
Onde está o médico? Será que tenho que morrer sozinha?
Não tenha medo, não vou morrer.
Estou reunindo as minhas forças.
Olhe.
Escrevi para você uma carta, como tinha prometido.
Está no chão...
se conseguir encontrar.
É importante. Compreender.
Temos que nos apressar, o trem parte daqui a uma hora.
Não se preocupe.
Não se preocupe.
Depressa, Johan, está ouvindo?
Ainda bem que vai embora.
Não pedi sua opinião.
-O que é isso? -Esther me escreveu uma carta.
Posso ver?
"Para Johan, palavras estrangeiras."
Que simpático da parte dela.