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Porque é que os psicanalistas não acreditam em
castidade?
Bom, o fundador da psicanálise, Sigmund Freud,
diz que a castidade, ou seja,
tudo aquilo que nós católicos pregamos, como a fidelidade matrimonial ou o próprio
celibato,
na realidade é
uma espécie de armadura externa que nós colocamos no ser humano.
Nós, que somos
um animal defeituoso, ou seja,
temos dentro de nós uma
pulsão que leva para a vida:
o eros.
Então, nós
queremos fazer sexo, queremos o prazer, queremos celebrar a vida,
no entanto,
existe uma estrutura externa,
uma estrutura civilizacional
que amarra o ser humano
e que o recalca
e que o impede,
impede que o ser humano realize todos os seus desejos.
Essas racionalizações, essas instituições, essas estruturas externas ,são sempre
a casca, a superfície,
tanto que,
Freud ensinava seus alunos
que se você colocar um ser humano numa
prisão e
ali colocar mal feitores,
tarados sexuais, mas também
padres, intelectuais, professores universitários,
se você os matar de fome,
a um certo momento,
todos eles
irão perder essas estruturas externas,
toda essa civilização
e depois um certo
tempo
estarão todos reduzidos a uma única coisa:
eros, ou seja,
instinto de sobrevivência,
vontade de viver.
No entanto,
esta realidade
de Freud,
é uma realidade equivocada. Por quê? Porque
o próprio
psicólogo, aluno de Freud,
Viktor Frankl,
mostrou o quanto isso está errado
na prática.
Por quê? Porque Viktor Frankl viveu num campo de concentração aquilo que
Freud
colocava somente na teoria,
e viu
que as pessoas que tinham verdadeira espiritualidade,
depois de
fome e
tantas dificuldades,
estavam mais saudáveis
do que o outro que não tinha
razão nenhuma
para viver, espiritualmente falando.
Então, é aí que nós vemos que a psicanálise
é, não uma psicologia do profundo,
mas na realidade uma psicologia bastante rasa.
Se nós olharmos para
os clássicos da espiritualidade católica, iremos ver que
na espiritualidade nos encontramos
a razão profunda
do equívoco
de Freud.
Santa teresa d'Ávila, no seu livro
"castelo interior" ou "as moradas",
ela diz que
se você quiser entrar na sua alma, se você quiser
conhecer o profundo do seu ser,
você precisa entrar pela porta do castelo, a porta o castelo
aqui na comparação de santa Teresa, o castelo é a alma.
Você só consegue entrar dentro da sua alma por uma porta,
e essa porta é a
oração.
Uma filósofa do século XX chamada Edith Stein, filósofa
fenomenóloga, que depois se converteu e se tornou carmelita,
ao ler essas afirmações de santa Teresa d'Ávila,
se perguntou: "mas como é possível
que nós psicólogos e filósofos,
acostumados a tanta introspecção, a tanta
análises do nosso interior,
não temos acesso a nossa alma?
Será que santa Teresa não está equivocada? Será que
ela não esta simplesmente
considerando a sua abordagem piedosa como
o único caminho,
quando na verdade existem outros caminhos, existe o caminho da psicologia, da
filosofia."
Edith Stein refletiu bastante a respeito
dessa afirmação da santa
e chegou à conclusão de que santa Teresa d'Ávila tinha razão, ou seja,
qual é a natureza da alma humana?
A alma humana é,
para usar
a linguagem da própria santa Teresa que
comenta o livro de provérbios, a alma humana é o jardim das delícias de Deus, ou seja,
no fundo da nossa alma, ou seja, lá na sétima morada,
no lugar dentro de você que nem você enxerga, lá,
no fundo,
Deus habita,
lá está a Trindade, lá está um Sol extraordinário,
uma Luz
sobrenatural.
No entanto, o grande problema é que, com o pecado,
nós ficamos alienados, ou seja, nós
estamos onde nós não somos, nós estamos
fora de nós,
fora do castelo,
fora da alma
e é por isso que
santa Teresa diz que
a maior parte das pessoas
não está dentro do castelo,
está
ao redor do castelo
está no fosso, onde se encontram
animais
peçonhentos, répteis,
todo tipo de realidade que nos leva à morte. Pois bem,
santa Teresa diz,
se você quer entrar no castelo, você precisa da oração.
É assim que nós vemos que o mergulho de Freud,
a sua psicologia
do profundo, não passou
do fosso do castelo, ou seja,
Freud mergulhou, mas mergulhou pouco.
Ele encontrou aquela realidade
mais externa,
que é a realidade dos desejos desordenados e sexuais.
Santa Teresa
nos convida a entrar através da oração.
Por que a oração?
Porque a oração é um relacionamento amoroso com Deus,
Deus está dentro da minha alma, no núcleo do meu ser está Deus
e se eu quiser entrar no núcleo do meu ser, onde eu verdadeiramente sou,
eu preciso entrar numa relação amorosa
com aquele que habita no núcleo do meu ser.
É por isso que a oração é a única porta de entrada.
Sendo assim,
as pessoas que rezam, elas sim,
encontrarão
dentro da sua alma também
certas
paixões desordenadas,
é evidente,
santa Teresa não era ingênua, ela sabia muito bem
que, nas primeiras moradas, nós
entramos no castelo, mas junto conosco entram também uns
animais
que ela chama de "sabandijas". Essas sabandijas são
animais que ficam nos mordendo o tempo todo e impedem
que nós enxerguemos
a beleza do castelo.
É por isso que
muitos cristãos que iniciam sua caminhada espiritual,
que entraram no castelo, que tem uma vida interior, que rezam,
muitos cristãos são tentados a concordar com Freud, ou seja,
de achar que "puxa,
esse esforço de oração que eu "tô" fazendo aqui,
esse esforço de oração não sou eu de verdade,
de verdade eu sou
esses animais, essas paixões desordenadas que estão me mordendo aqui".
Essas paixões, na verdade, estão impedindo você de
ver a grandeza da sua alma
e a beleza do castelo ao qual você já se encontra.
Então, é necessário ser mais generoso e continuar a viagem, ir para frente.
Vá para as próximas moradas, ou seja,
reze mais,
faça mais penitência, ou seja, seja mais generoso, ame mais a Deus,
porque é no amor que está a verdade da sua alma.
Portanto, amar mais.
É no amor maior que nós alcançamos, por exemplo,
a castidade,
a castidade não é
uma espécie de camisa de força que nos impede de amar,
é o contrário,
a verdadeira castidade
se alcança amando mais profundamente.
Então,
vamos fazer o seguinte:
sigamos o conselho de santa Teresa.
Santa Teresa d'Ávila diz o seguinte:
"não sejam como a mulher de Ló",
a mulher de Ló,
que deixou Sodoma e Gomorra,
recebeu de Deus um mandamento: "não olhe para trás",
mas ela, curiosa, olhou e virou uma estátua de sal.
Assim são muitos cristãos,
que mergulham na alma,
tem uma vida de oração,
começam a entrar na primeira morada, nas primeiras moradas
de sua alma, mas
ficam olhando pra fora do castelo,
fico olhando para o fosso,
para a vida de pecado que eles deixaram lá fora
e por isso não vão pra frente,
ficam imobilizados como a estátua de sal e não progridem no amor.
É por isso que,
de alguma forma,
as pessoas ficam iludidas achando que Freud tinha razão, ou seja,
a vida de oração, de piedade,
a vida de amor e de virtude é simplesmente uma casca,
que na verdade, no fundo de nossa alma, nós somos uns tarados, depravados
e que o Cristianismo é uma
estrutura artificial em nós.
Nada
mais errado do que isto,
ledo engano,
ao contrário,
precisamos mergulhar mais. Se nós ainda não somos
casos o suficiente,
se ainda não amamos o suficiente,
é porque nós estamos
longe de nós mesmos,
estamos nas lonjuras do pecado.
Você não está com saudade de você mesmo?
Entre no castelo pela oração,
seja generoso,
ame a Deus
e você encontrará a castidade.