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A Escócia é celebrada mundialmente
por sua beleza natural,
seus vales e charcos selvagens,
seus lagos profundos,
suas montanhas escarpadas e litoral magnífico.
É difícil imaginar que o homem tenha causado algum impacto,
mas cada centímetro quadrado
foi afetado por séculos de atividade humana.
Vou analisar com o homem criou a paisagem escocesa,
e como essa história moldou o presente.
Neste episódio, o clima.
Fomos definidos por ele, lutamos para entendê-lo
e atualmente até o modificamos.
MUSK3TEERS Otoni Jr e Kakko
CRIANDO A PAISAGEM ESCOCESA
Este é o Parque Eólico de Whitelee.
É o maior parque eólico da Europa.
140 turbinas
espalhadas por Eaglesham Moor, ao sul de Glasgow.
Cada uma dessas turbinas pode gerar energia
para 1.000 casas da cidade próxima.
Atualmente, há mais 70 parques eólicos pela Escócia
e mais 200 estão por vir.
Eles transformarão nossa paisagem
e irão fornecer mais da metade da energia eólica
de todo o Reino Unido,
mas são mais que meros geradores de energia.
Estas turbinas eólicas são os soldados
na luta contra a mudança climática.
Há pretensão de usar a paisagem natural escocesa
para combater a ameaça do aquecimento global.
A preocupação e o debate sobre o aquecimento global
dominam o mundo,
mas é um fantasma que criamos que nos assombra.
A culpa é de nossa dependência dos combustíveis fósseis.
Sob vários aspectos, essa dependência começou na Escócia.
No período da Revolução Industrial,
foram os engenheiros e empresários escoceses
que possibilitaram o uso do carbono.
Hoje, essas turbinas representam a mais recente reviravolta
na história dramática da relação da Escócia com o clima.
História que viu o povo e a paisagem modificados,
não apenas por forças humanas,
mas também pelas naturais, durante milhares de anos.
Durante o inverno de 1850,
uma grande tempestade atingiu Orkney.
Ela arrancou a vegetação de uma grande duna
conhecida como Skara Brae.
Sob a areia,
as ruínas de antigas construções de pedra foram reveladas,
fornecendo uma pista de como as mudanças anteriores no clima
transformaram não apenas vidas, mas sociedades inteiras.
Quando os arqueólogos começaram a escavar,
logo notaram que a tempestade revelara
a aldeia neolítica mais bem preservada do norte da Europa.
É incrível imaginar que pessoas viveram, amaram e morreram aqui,
séculos antes do início da construção de Stonehenge.
Apesar do que sabemos,
ainda há mistério por aqui.
Quando os arqueólogos escavavam as pedras de Skara Brae,
descobriram algo intrigante nos escombros.
Sementes de trigo.
Para que as sementes de trigo cresçam
é preciso verões longos e quentes,
sem muita umidade e vento,
o que normalmente não se encontra em Orkney.
Hoje, ventos de 140 km/h assolam regularmente a ilha
que é cerca de 2 graus mais fria que as terras baixas escocesas.
Se trigo brotava aqui há 5 mil anos,
o clima devia ser diferente,
mais quente e menos tempestuoso que hoje.
E tem mais.
Escavações arqueológicas posteriores
acharam restos de conchas e ossos de bacalhau
e, numa ilha hoje sem árvores,
indícios de aglomerados de bétula, nogueira e salgueiro,
florestas que abrigavam cervo-nobre e javali.
Devia ser um paraíso insular.
O registro arqueológico começa a desaparecer
há cerca de 4 mil anos,
e não mostra sinais de luta, conquista,
restos ou esqueletos.
Pelo contrário, parece que a idílica Skara Brae
foi abandonada voluntariamente.
A pergunta é: por quê?
Um meio de entender o que houve
ao povo de Skara Brae há 4 mil anos
é vir até aqui, a este lago.
Lago Inch, nas Montanhas Cairngorm.
Aqui, cientistas como a professora Mary Edwards
acharam um meio de viajar no tempo à época de Skara Brae,
viajando na lama.
Os sedimentos aqui são uma espécie de diário.
Se souber como interpretá-los,
eles revelam muito sobre o passado.
Fico fascinado ao saber que os sedimentos do leito do lago
são arquivos do passado. É como ver o passado emergir.
Dá muita emoção neste momento?
Nunca se sabe o que irá obter até removê-los assim.
É surpreendente, a gente se empolga, quer apalpar,
analisar e ver se há algo que nos interesse.
É fascinante. A época que os faraós construíram as pirâmides
e que Skara Brae foi formada?
É fascinante.
Que tipo de indicadores temos aqui?
Diversos. Pólen, indicador de vegetação,
sementes ou fragmentos de plantas podem estar presentes.
Coisas assim. Até pedaços de madeira, trazidos para a praia.
Vemos camadas de cinzas vulcânicas
derivadas das grandes erupções da Islândia
que cruzam o Atlântico. Sabemos quando elas ocorreram
por isso nos fornecem períodos de tempo.
Conforme avançamos, vemos mais alterações.
Vemos coisas bastante quentes e belas que se desenvolviam bem.
Depois o clima começou a piorar.
Houve um grande declínio geral do clima
e alguns eventos climáticos muito fortes.
Combinar informação de sondagens como esta
com evidências arqueológicas
mostra que o povo de Skara Brae
vivenciou um desses eventos climáticos.
Hoje, a temperatura média na Escócia
é de pouco mais de 7 graus.
Entre 4.000 a.C. e 3.000 a.C.,
a Escócia desfrutou de um período climático mais quente
quando a temperatura era 2 graus mais alta do que hoje.
Mas então a temperatura começou a cair 2 graus,
2 graus que representaram importante diferença.
Invernos tempestuosos.
Verões úmidos.
Perda de plantações.
Fome.
O idílio de Skara Brae foi destruído pela mudança climática.
As amostras nos dizem o que aconteceu a seguir.
Entre 4 mil a 2 mil anos atrás,
a temperatura oscilou lentamente.
Depois, ela subiu bruscamente até o quente período medieval,
depois caiu rapidamente,
o início de um período chamado Pequena Era Glacial.
Iniciando no século XIV, a Pequena Era Glacial
era cerca de 2 a 3 graus mais fria que hoje
e durou 500 anos,
período que trouxe não apenas neve
mas também tempestades,
algumas das piores já registradas,
tão ruins que seus efeitos ainda são visíveis na paisagem.
Culbin Sands, no litoral nordeste da Escócia,
é uma paisagem impressionante de dunas
que abriga a maior floresta litorânea da Grã-Bretanha.
Muito antes de a floresta ser plantada nos anos 30,
as dunas se estendiam continente adentro,
onde ocultavam algo ainda mais incrível...
terras agricultáveis.
Sob as raízes desta floresta
estão os restos de um casarão, seus campos férteis e pomares.
Terras férteis, que sumiram completamente
durante uma única noite.
Naquela noite no final de 1694,
uma grande tempestade veio do norte.
Um relato da época fala de ventos com a força de um furacão no mar.
Em terra, as margens suportaram o impacto de sua violência.
A areia foi arrastada da praia, pelos campos,
cobrindo tudo em seu trajeto.
Foi um evento climático tão extraordinário
que foi registrado por uma testemunha chamada John Martin
das cercanias de Elgin, que escreveu:
"O vento desce através das aberturas entre as colinas,
"carregando com ele uma imensa corrente de areia,
"com força e violência praticamente inoponíveis."
Dizem que a tempestade durou 30 horas.
Quando os aldeões voltaram,
encontraram suas casas soterradas
e seus campos viraram um solo arenoso.
Uma área de terra agricultável tão fértil
que era conhecida como o celeiro de Moray
foi perdida para sempre.
As grandes dunas de Culbin ainda estão acumulando areia,
mas hoje as árvores agem como âncoras da areia
firmando-a no litoral, ao qual ela pertence.
Tudo isso, legado de uma noite tempestuosa
durante a Pequena Era Glacial.
O povo de Culbin Sands procurava por respostas.
Ele encontrou explicação em seu próprio comportamento,
nos atos do homem.
Nesse caso, de um certo homem,
seu proprietário, Alexander Kinnaird.
Dizem que ele jogava cartas no sabá
e tinha um pacto com o demônio.
A tempestade havia sido o castigo de Deus por seus pecados.
Haveria mais castigo divino por vir
conforme a Pequena Era Glacial atingia o ápice de sua violência.
Os anos seguintes a 1694
trouxeram mais ventos fortes e frio paralisante.
Milhares morreram, outros milhares saíram do país.
Houve relatos do trajeto dos pobres pelo país,
em busca de alimento e caridade.
Muitos morreram de fome, mortos onde tombaram,
corpos expostos enchendo as estradas e campos.
Quando essas vítimas do clima procuravam consolo espiritual,
elas receberam apenas condenação.
Os pastores escoceses ficavam diante das assembleias
pregando condenação ao fogo do inferno,
porque era uma fome bíblica,
um claro sinal da fúria de Deus,
um castigo justo para um país pecador.
Eis uma amostra do consolo insensível dispensado à época:
"A ira e o descontentamento de Deus
"estão visíveis contra nós no frio implacável
"através do qual Deus ameaça destruir
"nossas expectativas e esperanças dos frutos da terra."
Condenação ao fogo do inferno era realmente um consolo insensível.
Os habitantes de Culbin eram tão ignorantes
quanto os de Skara Brae
quanto às reais causas de seu infortúnio.
Eles ignoravam que era o ritmo natural da órbita da Terra,
as explosões vulcânicas
e o comportamento do sol
que controlavam o clima.
Eles também ignoravam
que o mundo entraria num período de mudança tecnológica,
que veriam uma nova força climática,
a influência do homem.
No surgimento desse processo
estavam alguns escoceses brilhantes e hábeis.
Esta imagem ilustra uma grande fábula da história da ciência.
Ano de 1751, numa cozinha em Greenock,
um menino de 15 anos senta-se observando uma chaleira.
Observando e pensando.
O menino era James Watt.
Na foto, ele é observado gentilmente por sua tia.
O primo dele conta outra versão.
"Jamie Watt, nunca vi um garoto tão preguiçoso.
"Na última hora, não disse uma palavra,
"apenas tirou a tampa da chaleira e colocou de volta,
"segurando uma xícara
"e depois uma colher de prata acima do vapor,
"observando como ele saia pelo bico,
"capturando e contando as gotas de água quente."
Claro, hoje sabemos que não era um sonhador preguiçoso.
O jovem James guardou suas observações
e anos mais tarde criaria uma nova caldeira de condensação
que tornou os motores a vapor mais poderosos e eficientes.
Isso iniciou a Revolução Industrial.
Motores a vapor moviam pistões, manivelas e trens.
Moviam esteiras, teares e tornos.
O número de fábricas explodiu,
ligadas por uma rede de ferrovias.
O vapor era a força motriz,
mas tudo era alimentado por isto.
Carvão.
O carvão é fascinante.
É difícil crer que são os restos fossilizados
de florestas enterradas há 300 milhões de anos.
É praticamente carbono puro.
De certa forma, este material é como a pedra filosofal.
Ele transformou as fortunas de quem o possuía.
Indústrias, até cidades, foram construídas com base nisto.
Sem dúvida, transformou a Escócia.
A invenção de James Watt ajudou a criar
uma grande demanda por carvão.
No final do século XVIII,
extraía-se uma tonelada e meia de carvão anualmente na Escócia.
Em 1870, esse número era de 17 milhões de toneladas.
O Cinturão Central da Escócia
continha um das jazidas mais ricas da Grã-Bretanha,
e o centro da indústria do carvão escocesa
logo se estabeleceu ao redor da minha cidade natal.
Glasgow.
No século XIX, Glasgow era uma cidade em expansão.
Ela ressoava aos sons da Revolução Industrial,
o barulho do metal, o rugido das máquinas.
Uma cidade cheia de chaminés que expeliam gases nocivos.
A mais alta era a chaminé de St. Rollox.
Construída em 1842, ela tinha 122 metros de altura
e era conhecida como a coluna de Tennant.
Era uma homenagem a Charles Tennant, o industrial escocês,
fundador da St. Rollox produtos químicos,
que em meados do século XIX
era a maior indústria química do mundo.
Usava 30 mil toneladas de carvão por ano.
Industriais como Tennant
geravam grandes lucros e grande número de empregos.
E ele não era o único.
Havia dezenas de industriais, centenas de fábricas,
usando milhões de toneladas de carvão.
Eles transformaram Glasgow,
transformaram-na na fábrica do mundo,
a segunda cidade do Império.
Mas sua rápida transformação teve um preço.
A poluição causou nos glasgownianos
a menor expectativa de vida da Grã-Bretanha.
Embora fosse fácil ver os efeitos da poluição
no povo e nos prédios,
seu efeito na atmosfera era difícil de notar.
Este belo lago, na floresta de Galloway,
a quilômetros de tudo.
Durante gerações a água foi famosa entre os pescadores daqui.
No final do século XIX, os peixes,
sobretudo a truta marrom,
tinham quase desaparecido dos lagos desta região.
Os que sobraram eram deformados,
muitas vezes com metade do rabo ou faltando nadadeiras.
Várias teorias foram propostas.
A predileta era de que os peixes se atritavam no leito rochoso.
Mas não eram as pedras que causavam as deformações.
Era a poluição.
Poluentes nocivos expelidos dos motores a carvão
da Irlanda do Norte, do norte da Inglaterra e Escócia.
Gases como o dióxido de enxofre.
Quando essas emissões entravam em contato com a água na atmosfera,
o dióxido de enxofre se transformava em ácido sulfúrico.
Caindo sob a forma de chuva ácida nos lagos do sudoeste escocês.
E os peixes?
Eles eram contaminados e deformados.
Esses lagos recebem poluentes
desde o início da Revolução Industrial.
A água ficou ácida no início do ano de 1800.
A culpa foi do combustível da indústria distante.
A moral da história é simples.
Tudo que sobe, desce.
O mau tempo.
Sem dúvida, mau tempo,
e um alerta de que a atividade humana
podia alterar a atmosfera.
O dióxido de enxofre não era o único gás
liberado na queima do carvão.
Havia outros,
incluindo um gás invisível e inodoro.
Gás que ocorre naturalmente na atmosfera,
também criado quando o carbono no carvão
inflama-se em contato com o oxigênio do ar.
O dióxido de carbono.
Em meados do século XIX,
o dióxido de carbono estava sendo liberado do carvão como nunca,
e graças a outro escocês,
ele logo seria liberado de outro recurso natural vital.
O óleo.
James Watt deu energia ao mundo,
James Young, a luz.
Nascido em 1811, em Glasgow,
James Young era químico e empresário.
PARAFINA YOUNG PIONEIRO DO ÓLEO
Young literalmente lubrificava as máquinas da indústria,
fornecendo lubrificantes a moinhos e fábricas.
Mas seu suprimento de óleo estava acabando,
por isso ele dedicou sua mente inventiva a achar outra fonte.
Parece que temos de criar óleo.
Criarmos óleo?
Minha ideia é obter óleo do carvão por destilação.
Um amigo mandou amostras há algumas semanas,
encontradas perto de Edimburgo.
Eis umas amostras.
Claro, ele teria de ser destilado de forma especial.
Pode parecer improvável
mas Young sabia que tinha potencial lucrativo.
Young continuou a procurar amostras.
A 32 km de Edimburgo, ele achou o que procurava.
É chamada torbanita.
Uma espécie de mistura entre carvão e xisto betuminoso.
Foi extraída primeiramente a oeste de Edimburgo
numa colina chamada Torbane Hill, de onde origina seu nome.
É incrível pensar que esta pedra deu início a uma indústria
que mantinha milhares de pessoas empregadas
na região central da Escócia.
Para isso,
preciso de um almofariz e pilão para triturá-la um pouco.
Dá para sentir um cheiro de óleo diesel
como num posto de gasolina.
Que legal. Veja só. Uma chama clara e brilhante.
O que não se vê é que vapores estão sendo liberados
e são eles que verdadeiramente importam.
Isto se chama condensador dedo frio.
Basicamente, um tubo de ensaio, dentro do qual
há um condensador pelo qual passa a água fria.
Colocar isto,
liberar a água.
Agora vou reaquecê-la,
mas desta vez o vapor será liberado
condensado pela água fria,
impregnando o lado externo do condensador.
Veja só...
óleo cru.
É incrível imaginar que este processo simples
foi o início da indústria do óleo escocesa.
Como fede.
Em 1851,
James Young inaugurou sua primeira fábrica em West Lothian.
Parafina para lampiões e velas começou como um subproduto,
mas logo se tornou a parte mais lucrativa do seu negócio,
e a cera ficou conhecida pelo brilho de sua luz.
Young acumulava títulos.
Primeiro dono de uma patente para destilar óleo do xisto.
Primeira fábrica de óleo comercial do mundo.
Ele também acumulava resíduos.
O que sobrava após a extração do óleo
era coletado nestes montes.
O que eu chamo de "pegadas de carbono".
Outros chamam de rejeitos.
Diz-se que havia tanto óleo aqui
que ele escorria para os riachos abaixo
e que os moradores o inflamavam.
De perto, os fragmentos de xisto parecem lindos.
Ainda há bastante dele, o que não é surpresa.
Para cada tonelada extraída e queimada para extrair óleo,
80% terminavam como resíduos.
Surpreende que os outros 20% fossem tão lucrativos.
Durante um curto período, esta região da Escócia
pôde se denominar a "capital mundial do óleo".
Ela virou o centro mundial da produção de óleo,
onde, graças a Young,
milhares chegavam para participar do crescimento do setor.
E o óleo betuminoso não iluminava apenas lampiões.
Seria usado para produzir um novo combustível
chamado petróleo.
Hoje, os rejeitos de xisto são usados na construção de estradas,
nas quais dirigimos nossos carros movidos a petróleo,
provavelmente até todo o petróleo acabar
e a era do carbono chegar finalmente ao fim.
As incríveis inovações de gente como James Watt e James Young
ajudaram-nos a firmar nossa sociedade industrial
com uma gama de recursos naturais finitos,
uma era de crença no progresso de hoje
sem pensar nas consequências do amanhã.
O grande escritor escocês Thomas Carlyle
registrou bem o espírito da época ao escrever:
"Removemos montanhas,
"fazemos do mar nossa via suave, nada resiste a nós.
"Combatemos a natureza selvagem,
e, com nossos motores irresistíveis,
"sempre saímos vitoriosos, carregados de espólios."
Realmente espólios.
Ar poluído, pessoas contaminadas,
rios poluídos, prédios enegrecidos.
Se Watt e Young ajudaram a iniciar a era do carbono,
eles também foram precursores da era do dióxido de carbono.
Cada tonelada queimada de carvão libera 2 toneladas de CO2.
Cada tonelada de petróleo libera mais de 3 toneladas.
Invisível e inodoro,
um subproduto inofensivo da industrialização.
Ou não?
Um dos primeiros a especular o efeito
do dióxido de carbono na atmosfera da Terra
foi John Tyndall.
Tyndall era professor de Filosofia do Royal Institute,
e dedicado montanhista.
Em uma viagem às montanhas, seus olhos astutos notaram
os rastros deixados por imensas geleiras.
Sua mente aguçada cuidou do resto.
Em 1859, ele especulou que, para as geleiras derreterem,
o clima devia ter mudado.
E que um dos gases no ar, como o dióxido de carbono,
poderia ter provocado isso.
Então ele se propôs a testar sua tese.
Hoje, usando equipamento laboratorial simples,
podemos demonstrar a experiência que ele realizou.
- O que temos aqui? - Duas garrafas.
Esta contém apenas ar e esta contém dióxido de carbono.
Ela foi enchida para ter maior percentual
de dióxido de carbono do que esta aqui.
Uma atmosfera diminuta e outra enriquecida com CO2.
Isso mesmo! Uma versão radical de como seria a atmosfera
se continuarmos liberando CO2 nela.
O que fazemos para...
Temos um simulador do sol, esta imensa luz será o sol.
Vamos jogar luz nelas. Veremos que o dióxido de carbono
se aquece mais rápido do que o ar da 1ª garrafa.
Isto está registrando a temperatura interna?
Sim, ambas estão à mesma temperatura
pois já estão aí há algum tempo.
Se colocarmos o sol no meio de ambas,
a ideia é que as duas se aqueçam igualmente.
Tentamos manter tudo o mais equilibrado possível.
- Vamos ligar o sol? - Vamos.
Em poucos minutos,
o recipiente que contém mais dióxido carbono se aquece,
ficando mais quente do que aquele que contém apenas ar.
2,5 graus.
Isso porque o CO2 retém calor
- e não o deixa... - E não o deixa sair.
Hoje conhecemos a descoberta de John Tyndall
como efeito estufa.
Ele provou que o CO2 não era inócuo como se pensava
e identificou um mecanismo que podia mudar o clima.
Para ele, era a resposta para o problema
de o porquê as montanhas de geleiras derreteram,
mas a especulação científica persistiu.
Se o clima mudou uma vez, ele poderia mudar de novo?
O clima era imutável ou ainda era fluido?
A pergunta exigia uma resposta,
mas as evidências eram escassas.
O clima era uma grande incógnita.
Os registros eram falhos ou inexistentes.
Nessa lacuna científica interveio um grupo
de intrépidos meteorologistas vitorianos.
Homens como Clement Wragge.
Wragge trabalhava para um órgão chamado
Sociedade Meteorológica Escocesa
cuja missão era compreender e prever o clima,
incluindo climas extremos
como o da montanha mais alta da Grã-Bretanha,
a Ben Nevis.
Mas antes eles precisavam registrar o clima.
Regularmente.
Entre junho e outubro de 1881,
Wragge fazia este percurso todo dia.
Às vezes nestas horríveis condições climáticas.
Sua aparência pessoal foi abalada.
Ele ficou conhecido como "Wragge, o inclemente".
Com a obtenção de resultados interessantes,
a sociedade decidiu inaugurar
uma estação climática permanente no cume,
e começou a arrecadar fundos,
para o qual a Rainha Vitória contribuiu com £50.
A obra começou no verão de 1883
com um trajeto de 8 km
serpenteando pela montanha,
e um ano depois, a estação climática estava pronta.
Aqui está ela. Eis ela.
Estas são as ruínas do observatório
construído no verão de 1884.
Ao redor de uma estrutura de madeira,
eles ergueram paredes com até 3 metros de espessura.
No topo da parede, ergueram uma torre de madeira,
onde mantinham os instrumentos, com uma porta do lado de fora,
para que mesmo que a neve encobrisse,
eles pudessem registrar os dados.
Wragge e outros observadores eram liderados por Alexander Buchan,
que ficou conhecido como o pai da meteorologia.
Ele sabia da importância da coleta de dados
que um dia revelaria padrões de grande importância.
Alexander Buchan era o cientista chefe
e organizava o programa de trabalho,
que consistia na obtenção de leituras padrões,
que um dispositivo como este consegue obter.
Por exemplo, este ventilador indica a velocidade do vento.
Pouco inferior a 2,4 km/h,
surpreendente pois aqui eles atingem até 160 km/h.
Também indica que a temperatura
está pouco abaixo dos 10 graus Celsius
e a pressão é de 862 milibares.
É estranho que este pequeno aparelho eletrônico
registre um momento que os pioneiros há mais de 100 anos
lutavam para registrar.
Dia após dia, eles registravam suas leituras,
sem ligar para a severidade das condições que encontravam.
Estas pedras são testemunhas da época da medição manual,
época que se tinha de estar no local e anotar os dados,
a árdua tarefa de coleta de dados,
na qual os vitorianos eram bons,
e por meio da qual revelaram os mecanismos ocultos da natureza.
Não havia nada de glamoroso no que eles faziam,
mas as descobertas científicas que surgiram foram gloriosas.
Talvez nenhuma seja maior que a importância do próprio registro.
Ao firmar a tradição da coleta básica de dados,
os primeiros meteorologistas deram às gerações futuras
um meio de descobrir que o mundo está aquecendo
e em quantos graus.
Enquanto Buchan e seus colegas estabeleciam as bases do clima,
outros cientistas especulavam
sobre o impacto do dióxido de carbono nele.
Em 1896, dois cientistas suecos,
Svente Arrhenius e Arvid Hogbom,
com base na descoberta de John Tyndall,
propuseram que as emissões de dióxido de carbono
da queima do carvão e óleo
um dia poderiam aquecer demais o planeta,
causando aquecimento global.
Eles começaram a fazer as contas.
Imaginaram que levaria 3 mil anos
para o CO2 atingir níveis perigosamente altos,
suficientemente altos para aquecer o planeta.
Mas os suecos se enganaram.
O Monumento a Scott de Edimburgo foi iniciado em 1844,
no auge da Revolução Industrial.
Em homenagem ao escritor Walter Scott,
mas também é um monumento involuntário à era do carbono.
É difícil crer que este monumento foi construído
a partir de um belo arenito creme,
que contém resíduo de óleo betuminoso.
Esse resíduo age como uma espécie de cola,
prendendo a fuligem e partículas de fumaça na face da pedra.
Por isso ela é tão escura.
A aparência suja é o resíduo das fornalhas e fumaça
dos séculos XIX e XX.
As fornalhas podem ter acabado,
mas parte do CO2 que liberaram há mais de 100 anos
ainda está conosco.
É um ótimo lugar para medição? É alto o suficiente?
É um lugar perfeito para medir a quantidade de CO2
no ar de Edimburgo, especialmente sobre a Princes Street.
Que valor está indicando?
No momento, cerca de 390 partes por milhão de CO2,
praticamente o mesmo do resto do planeta.
É a concentração atmosférica aproximada planeta afora.
Um grande aumento de concentração de dióxido de carbono
desde a construção deste monumento.
E qual era na época da Revolução Industrial?
Cerca de 290. Tivemos um aumento
de 100 partes por milhão em cerca de 150 anos.
Essas 100 partes a mais por milhão de CO2,
muitos cientistas acreditam
que estão ajudando a aquecer o planeta.
Na Escócia, a temperatura média aumentou quase 1 grau
desde que os registros começaram.
A comunidade científica tem certeza
de que esta é uma tendência real?
E muita. O nível de consenso é maior
que qualquer outra área científica.
Ao analisarmos o registro geológico,
sabemos que o sol é muito importante.
Ele é o fator natural da mudança climática.
Sabemos que a atividade vulcânica também é muito importante.
Mas ao analisarmos a mudança climática contemporânea,
o rápido aquecimento que vimos nos últimos 50 anos,
os fatores naturais não o explicam.
A explicação é o rápido aumento dos gases do efeito estufa
e das concentrações de CO2.
A mudança climática natural produziu seu impacto
em Skara Brae e Culbin Sands,
mas hoje é o CO2 de nossa era industrial
que está aumentando a temperatura da Terra.
O carvão não impera mais na Escócia.
A era do vapor e do xisto betuminoso acabou há muito,
a coluna de Tennant foi removida há anos.
Elas podem representar o passado escocês,
mas os gases do efeito estufa que começaram a liberar
ajudarão a definir nosso futuro.
É muito fácil se livrar da fumaça, gordura e sujeira
da Revolução Industrial. Basta removê-las.
Mas remover o CO2 da atmosfera,
é uma história bem diferente.
Para mim, é inquestionável que nossos gases do efeito estufa
fomentam o aquecimento do planeta.
O impacto disso pode ser visto em vários cantos do mundo.
O que não está muito claro é o impacto que terá no futuro.
Muito depende do quanto reduziremos
as emissões de carbono.
O último relatório da Agência de Proteção Ambiental Escocesa
projeta que em 2080,
a temperatura anual do verão escocês
variaria de otimistas 1,2
a catastróficos 6,8 graus centígrados.
A previsão média indica um aumento de 3 graus.
Nessa nova Escócia mais quente,
o período vegetativo pode ser prolongado em 33 dias.
Com o aumento de temperatura,
novas culturas que eram inimagináveis podem ser viáveis.
Culturas como a uva.
Nas margens do lago Tay já pode ser visto
o vinhedo mais setentrional da Grã-Bretanha.
Espera-se que em alguns anos,
a produção seja boa o suficiente para produzir vinho.
Mas o aquecimento global
não implica um clima seco e quente o ano inteiro.
Já estamos vendo mudança significativa.
Isto é um pluviômetro que coleta a chuva diária.
Graças a instrumentos como este espalhados país afora
é que sabemos que a Escócia está ficando mais úmida.
Nos últimos 50 anos, a pluviosidade aumentou 20%.
E no inverno, ela subiu quase 60%.
Esta agora é a pluviosidade média que temos no oeste da Escócia.
A má notícia é que vem mais chuva pela frente.
As projeções são de que em 2080,
haverá um acréscimo de mais 20% na pluviosidade no inverno.
Brilhante!
Parece que os inuítes têm uns 50 sinônimos para neve...
Creio que os escoceses têm uns 100 sinônimos para chuva,
isso é impressionante.
Mesmo que tenhamos 100 sinônimos para chuva,
ainda vamos precisar inventar mais alguns,
pois a pluviosidade que a Escócia deve esperar
será dramática e desconhecida.
Chuva súbita torrencial,
dilúvios que farão os bueiros da cidade transbordarem,
e rios inundarem suas margens.
A Agência de Proteção Ambiental Escocesa
estima que a vazão de alguns rios escoceses
já aumentou 40% nos últimos 25 anos.
E projeta-se que volte a aumentar.
Sem controle, a mudança climática pode ser catastrófica.
Mas diferente dos habitantes de Skara Brae ou Culbin Sands,
hoje temos o conhecimento e tecnologia
para fazer algo a respeito.
E assim devemos fazer.
A Escócia pode capitanear a redução das emissões de CO2.
O objetivo é reduzi-las em 80% até 2050.
Assim como os recursos naturais escoceses, seu óleo e carvão,
ajudaram-nos a iniciar a mudança climática,
outros agora podem ser usados para combatê-la.
A natureza já forneceu uma arma em potencial,
uma arma que os cientistas florestais estão testando.
O reflorestamento é uma forma simples
de retirar dióxido de carbono da atmosfera.
A natureza produziu um recurso incrível para isso, a árvore.
Quando a árvore cresce e fotossintetiza,
esse processo absorve dióxido de carbono,
que a árvore então, gentilmente para nós,
converte em madeira, uma forma sólida de carbono.
Parece um sistema tão simples que nós não o valorizamos.
Não teríamos criado algo melhor
nem indagando a um milhão de cientistas.
Como todos os cientistas do mundo lhe dirão,
não temos muito tempo para pôr as coisas em ordem,
por isso as florestas que se firmam e crescem rapidamente
irão nos dar essa solução rápida para o carbono.
Parece que algumas árvores são melhores que outras?
Tem uma que é nativa, o pinheiro escocês,
mas há outras não-nativas, mas muito produtivas.
- Como o abeto sitka. - É uma das principais espécies.
Nós o conhecemos bem.
Fizemos reflorestamento por décadas usando essa espécie.
Ela cria uma floresta rapidamente
e armazena muito carbono. Mas também analisamos
novas e exóticas espécies como o eucalipto.
O eucalipto vem da Austrália e adora clima quente e úmido.
Ele também cresce mais rápido que qualquer outra espécie
que a Comissão Florestal já testou.
Se estiver procurando sinais de que nossas florestas
estão sendo projetadas com um clima mais quente,
não precisará ir além dessas mudas de eucaliptos.
O fato dessa árvore crescer rapidamente,
em poucos anos, retendo toneladas de dióxido de carbono,
só reforça a urgência,
o ímpeto de que a mudança climática
tem nos círculos florestais.
Além disso, tem um cheiro gostoso.
As plantações de eucalipto
transformariam a paisagem escocesa
rapidamente,
levando talvez menos de 25 anos para virar florestas maduras.
Mas mesmo as árvores de crescimento rápido
capturarão apenas uma fração do CO2 que continuaremos a emitir.
Elas podem até ajudar a controlar a mudança climática,
mas não irão detê-la.
Um meio mais imediato de lidar com o problema
é achar fontes de energia não baseadas no carbono.
É um desafio que a Escócia está disposta a cumprir.
Assim como a Escócia outrora teve
energia baseada no carbono em abundância,
hoje ela tem novas fontes de energia natural em abundância.
Há 120 anos, quando a invenção de James Watt reinava suprema
e o carbono fomentava a economia mundial,
um cientista escocês ocupava-se em inventar
a primeira turbina eólica mundial.
James Blyth era professor de Filosofia Natural
no Anderson's College, em Glasgow.
Seu interesse era gerar eletricidade a partir do vento.
Ele montou um laboratório em sua casa de férias
em Marykirk, Aberdeenshire.
CASA DE BLYTH
Sei que vai parecer loucura, mas posso olhar seu jardim?
- Claro que sim, dê a volta. - Obrigado.
Estou com a foto, esta é a Casa de Blyth...
deve ser ela.
Foi tirada daqui.
Lá estão as duas janelas, três aqui.
Esta é a grande ampliação.
Este galpão ficava ali.
Em algum lugar perto desta macieira
ficava a primeira turbina eólica de geração de energia.
Blyth armazenava a energia eólica em baterias no galpão
e a usava para iluminar sua casa.
Ele construiu uma turbina eólica no fundo do jardim,
mas Blyth não era um professor lunático.
Ele patenteou um sistema que funcionava tão bem
que gerava muita energia excedente.
Ele ofereceu essa energia ao povo de Marykirk,
para iluminar a rua principal, mas eles rejeitaram,
dizendo que a eletricidade era obra do demônio.
Assim Blyth direcionou a obra do demônio para os loucos.
Ele construiu outra turbina eólica
para o manicômio de Montrose.
Ela funcionou por quase 30 anos.
Blyth acreditava que a energia eólica
era uma opção melhor que os combustíveis fósseis.
Mas Blyth era uma voz solitária.
Surgida na era do carbono, a energia eólica não tinha chance.
Outro século se passou até a Grã-Bretanha dar o simples passo
de transformar a invenção de Blyth
em um parque eólico funcional.
Hoje, eles surgem por todo o país.
Blyth foi um profeta à frente do seu tempo,
e hoje, pouco mais de 100 anos após sua morte,
imagino o que ele acharia deste lugar.
Provavelmente ele se sentiria vingado, orgulhoso
e talvez surpreso que seus projetos primitivos
tenham virado estas máquinas poderosas e elegantes,
cada turbina gerando 750 vezes a energia
que aquela que iluminava sua casa em Marykirk.
Outrora estivemos à mercê do clima bravio como o vento.
Ele definiu nosso modo de vida,
até se viveríamos ou morreríamos.
Mas hoje,
podemos dominar até os piores extremos do clima mundial.
Este é o Grind da Navir,
no litoral noroeste de Shetland.
Nome e lugar fantásticos,
até pouco tempo um campo de pedras
que apresentava um mistério geológico.
É surreal.
Parece que um gigante andou jogando pedras ou algo assim.
Veja esta aqui, é colossal!
Como elas chegaram até aqui?
Parece inacreditável, elas são imensas.
Mas elas foram trazidas aqui pelo mar.
Algumas foram retiradas sob as ondas
em imensas tempestades e largadas no litoral,
mas a maioria delas, é a força das ondas
circulando por aquele orifício no penhasco
escavado pela erosão,
que força no seu trajeto estas rochas
como uma britadeira separando blocos.
Vemos superfícies recentes onde blocos foram removidos,
talvez nas últimas tempestades de inverno.
Depois, esses blocos são levados daqui
e largados no continente, às vezes 80 metros adentro.
A força das ondas e o vento para transformar esta paisagem
é absolutamente incrível.
Imagine que possamos capturar a força de uma onda
que move uma montanha.
Imagine a energia que poderia ser produzida,
o carbono que seria poupado.
Os mares ao longo do litoral norte da Escócia
têm as ondas e marés mais fortes do mundo.
Uma fonte enorme de energia intocada e renovável.
Mas transportar energia de locais remotos como Shetland,
seja gerada por vento ou ondas, tem um custo.
Torres de 65 metros de altura
devem levar os cabos de energia do nordeste da Escócia
até o Cinturão Central, ao longo de 220 km
da mais bela paisagem das Terras Altas.
Isso é uma simulação. Logo se tornará realidade.
A retirada do carbono será indolor.
Evoluímos muito nos últimos 10 mil anos.
A superstição deu lugar à ciência.
Podemos não ter dominado o clima mas conseguimos compreendê-lo.
A genialidade e a geologia da Escócia nos deram
a Revolução Industrial, o carbono e a mudança climática.
Hoje, quero acreditar que a Escócia pode levar o mundo
a uma nova era mais limpa.
Um filho da Escócia, James Watt,
iniciou a Revolução Industrial.
Talvez outro grande escocês, James Blyth,
seja o precursor da próxima revolução.
A transformação da economia baseada em carbono
para uma economia verde.
Essa será uma grande revolução.
MUSK3TEERS Legendas Para a Vida Toda!