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A HISTÓRIA OFICIAL
Ouçam, mortais, o grito sagrado:
Liberdade, liberdade, liberdade!
Ouçam o ruído de correntes quebradas
Vejam no trono a nobre igualdade
Já seu trono digníssimo abriram
as províncias unidas do Sul
e os livres do mundo respondem:
Ao grande povo argentino, saúde!
Ao grande povo argentino, saúde!
E os livres do mundo respondem:
Ao grande povo argentino, saúde!
E os livres do mundo respondem:
Ao grande povo argentino, saúde!
Senhores, por favor. Silêncio, por favor.
Sou Alicia Marnet Ibañez. Alguns já me conhecem.
Nossa matéria é História Argentina.
Conforme o programa, estudaremos
as instituições políticas e sociais desde 1810.
Teremos 3 aulas por semana
o que não é muito.
Quero avisá-los de três coisas:
Não gosto de perder tempo.
Acredito na disciplina.
Não dou boas notas de presente.
Alguns já sabem disso.
Através da história, entendemos o mundo.
Nenhum povo sobrevive sem memória.
A História é a memória dos povos.
É assim que devemos estudar nossa matéria.
Presente.
Presente.
Onde?
Presente.
Presente.
Presente.
Aqui, professora.
Bicha.
Senhores, por favor!
Usa a toalha.
Eu sei enfiar a cabeça sozinha, olha!
Não, não faça isso.
Vai entrar água nos seus ouvidos.
Vou fazer um manto de espuma. Também toma banho nua, mamãe?
Acabe logo, Gaby, ou não vamos terminar nunca.
Canta, pra eu saber que não se afogou.
Tá bom!
No país do Não-me-lembro...
dou 3 passos e me perco
Um passinho deste lado, não me lembro de ter dado
Um passinho para lá, ai que medo que me dá.
Perdão, senhora.
O trem quebrou de novo.
- Como está sua irmã? - Bem, obrigada.
E ele ainda pára de repente.
Gaby, tudo bem?
Estou bem. Mamãe fez carne pra mim.
Então, está mais gostosa que a minha!
Dona Luísa ligou para lembrá-la sobre
o encontro com as amigas do colegial.
Riscou o Rodrigo?
Não, porque ele pode vir com Dolores e voltam a ser amigos.
Não, ele já tem namorada. Risca.
Dolores tem sorte de ter uma amiga solidária como você.
O que é "solidária"?
É ruim que alguns órgãos de notícia abusem de seus direitos.
Pregando a desestabilização, encorajando idéias subversivas.
- Ainda está assim? - Olá.
Não tem que se vestir?
O exército está se preparando para confrontar os infiltrados.
Um beijo, né?
Você a comprou!
É linda! Gaby vai adorar.
- Parece de verdade! Sinta! - É mesmo.
Papai, papai.
O que faz aqui?
Vamos pra cama.
Foi um susto!
Minha esposa teme que eu tenha um enfarte.
Nesses assuntos, não pode esquecer nenhum detalhe.
Se descuidar, é um problema seu, Macci.
Fiz o que disseram.
Quem disse?
Vamos, Doutor! Vocês!
Ibañez e Dante armaram tudo com meu pessoal.
Somos assessores, Macci. Só assessores.
- Achamos que não vinha. - Perdão.
- E Elvira? - Ficou em casa, de castigo.
Por que minha amiga ficou de castigo? Ou é segredo militar?
Ela é quem manda em casa. E dureza...
- Olá, Ibañez. - Olá, General.
Não, Por quê?
Miller, já perdeu sua esposa tão cedo?
Minha empregada tinha primos nas Malvinas.
Nunca disseram se estão vivos ou mortos.
E perdemos a guerra há um ano!
Uma batalha, não a guerra.
Pretendem continuá-la?
Semana passada, na Espanha, estava com Ballesteros, um empresário...
um socialista de longa data. Sabe o que ele disse?
Contra Franco, vivíamos melhor.
Agora eles são governo...
não sabem em quem pôr a culpa.
É inútil. Faz 25 anos que digo a ele que
não se fala de negócios à mesa. E grosseiro e indigesto.
Quem fala de negócios?
De política. Pior.
Nós mulheres temos culpa por não impor a conversa.
Regina, fale de seu filho. Dizem que está enorme.
Está tão bonito.
Nasceu com 4 quilos! É incrível.
Deve ser a mistura de raças.
E você, Miller, de quem suspeita?
Não, não.
Minha mãe era muito alta, por isso...
É brincadeira. Não precisa se justificar.
Roberto, você viu sua filha nascer?
Não. Pareço mais seu marido que o dela. Somos de outra geração.
De outra geração parece a Alícia.
Não é muito moderna pra essas coisas, não é?
Não, não sou muito moderna.
Essa criança deve ter 4 ou 5 anos, não é?
Vai fazer 5.
Vocês são bem diferentes, não é, Roberto?
Aí que está a graça!
Tem que estar em alguma parte!
Estas coisas são mútuas. Acho que ela é uma infeliz.
E ela acha que você merecia alguém que não fosse estéril.
O Andrada contou para ela. Ela sabe!
Começou com o filho da boba e do americano:
"Roberto, estava presente no parto?"
Ah, Alícia, está fazendo barulho por nada.
Que importa a ela se a cegonha trouxe a Gaby ou a roubamos?
Claro que importa pra ela! Ela sabe que eu me importo.
Ela é igual ao marido.
Sempre fala como...
quem me contradiz, cai fora!
E só pode despedir a empregada, então, provoca a todos.
Notou? Chamou o *** de corno e a Regina de puta,
você de coitado e eu de imbecil, tudo numa só frase.
Só não se mete com o General.
Ela tem seus limites, temos que admitir.
Moreira entra decidido a lutar pela última vez.
O Oficial e seus soldados
se defendem com bravura de seu violento ataque.
Mas, impelidos pelo empurrão...
recuam até se perderem pelos corredores...
pela direita e esquerda o...
O Sargento Chirino, dominado pelo medo, esconde-se no poço.
Moreira, pensando estar só, vai pular o muro para escapar.
O sargento o vê e aproveita para usar sua arma.
Ao sentir em suas costas o frio da baioneta, Moreira..."
Vai, Chirino!
Moreira dispara no sargento um tiro de pistola.
Não, não!
Sim! Ele é só um policial!
Moreira está muito ferido.
Vincenta aparece no lado esquerdo. Quem vai ser Vincenta?
Cullen! Vamos, Cullen!
Cullen é a Vincenta! Cullen é a Vincenta!
Abram caminho, covardes!
- Ai, que bruto! - Covardes.
Ao vê-lo, lança-se sobre eles, louca de dor.
Uma voz distante, como que anunciando sua morte, canta estes versos:
E aqui estendo à sorte...
do meu laço todo o rolo, pois o amor que nasce...
nem asco tem à morte."
Pois forte e vigoroso gaúcho...
Bom dia.
A literatura sempre se encontra com a história.
Bom dia, senhores.
Bom dia, sr. Professor.
A mãe da Macarena não saiu da escola.
Ela tem que ficar de castigo.
Hoje, ela queria fugir e Maqui não deixava.
Agarrava as pernas dela e chorava, chorava...
Já faltei alguma vez?
Nunca chega tarde! Como está?
Justo este ano, que tenho que ir cedo.
Está linda! Que vestido bonito! Está ótima.
A última moda. Está tão magra.
Magra? Faz meia hora que comecei o regime.
Seu cabelo continua longo. Está fora de moda!
Sabe quem mandou lembranças?
Anna.
Ontem...
Amanhã...
A vi no supermercado. Parecia com nossa avó.
Mulher de pele delicada envelhece antes.
Não sabe o que aconteceu com ela?
O filho foi ao Sul durante a guerra das Malvinas.
O último filho que sobrou.
- E os outros? - A mais velha casou e se foi.
Todos os filhos saíram subversivos.
Assim ela os criou.
Como sabe que eram subversivos?
Não os levaram à toa, certamente tinham um motivo.
- Do que está falando? - Melhor mudar de assunto.
Anna, como está seu filho? Já deve ser um homenzinho.
Fez 17 em fevereiro.
Meu Deus, Ana. Como você está velha!
Nasceu na mesma semana que a primeira da Clara.
Diziam que éramos duas bolas.
Clara não vem?
Foi pra Caracas há 5 anos. Você também foi nessa época.
- Fui há 7 anos. - Já 7?
Foi em 76, em 2 meses faz exatamente 7.
Estou solteira.
Solteira, nunca.
Não, não dá. Ninguém agüenta.
Voltou pra ficar?
Ainda não sei.
Nem todos podemos escolher entre o caviar do exílio e o lar.
Por isso, não espere compaixão.
Pensei muito em você estes anos.
- Mesmo? - Juro.
Era uma obsessão.
Quando a vi, lembrei de tudo.
Porque você está igual... idêntica!
Passaram-se anos,
tanta coisa aconteceu e você está igual!
Igual à dedo-duro da carcereira...
Aquela que deu 2 saleiros de prata quando eu não tinha nem onde dormir.
Assim, Dora...
desprezível companheira...
inesquecível filha da puta
por que não vai à merda?
E como é viver num país tão longe? Tem filhos?
Sim, mas ele já é grande. Não gosta de histórias.
Minha filha tem o cabelo feio, como uma vassoura.
Se cortar, cresce?
Gaby, hora de dormir.
Só mais um pouquinho. Mais uma história.
A da pintura invisível?
Ela faz com que você não veja as coisas.
Pintamos sua cama e ela desaparece.
A mamãe entra e pensa que você dorme no chão.
Mamãe, ela é como Dolores, sua amiga solitária?
Era horrível o edifício do Liceu. Clara o chamava de "O cárcere".
- Parece com aquele onde dá aula. - Não, imagine, Roberto!
O Liceu é da mesma época. Janelas com grades.
É verdade, não tinha notado.
Gaby é maravilhosa.
Disse que sou a "amiga solitária".
Ela não sabe dizer solidária.
Ela gosta da palavra e usa toda hora.
Pensa em ficar?
Não sei ainda.
Você está linda!
É a primeira vez que a vejo de saia.
A Europa lhe fez bem, não foi?
É como se tivessem torneado você.
Aqui estou, em Caracas...
com 8 quilos a mais do que permite alguém apaixonado.
Com 3 filhas adolescentes descobrindo que...
entre elas e a liberdade está a idiota da mãe...
passando fome e correndo em volta da cama...
o equivalente a 5 km por dia.
Pra descobrir que só consigo ser uma gordinha ágil.
40 anos! Como foi...
Como foi que cheguei até aqui sem descobrir?
A gorda!
Nós estamos muito bem!
Ela costumava nos servir licor de ovos.
Fiquei doente. Te contei? Não, não contei.
Quando fiz 40, Roberto me levou a um restaurante.
Elegante, caríssimo...
e eu me intoxiquei.
Fiquei de cama 3 dias!
3 dias de cama! Nunca fiquei tão doente.
- Você e o Roberto estão bem? - Bem.
Então está tudo bem. Assim dá gosto voltar.
Por que não me avisou que ia embora?
Nem me escreveu.
Estava apressada pra me despedir.
E por que tanta pressa?
- Como é um porre com licor de ovo? - Um horror.
Por que não quer me contar?
Conheceu meu apartamento da rua Laprida?
Não. Aquele, não.
Na porta tinha um pôster do Gardel.
Acabaram com ele.
Entraram, cobriram minha cabeça com um suéter...
e arrebentaram tudo.
Levaram-me num carro com os pés em cima de mim.
Me bateram.
Acordei nua sobre uma mesa, e eles me davam choques.
Um homem veio com um estetoscópio.
E falou para pararem.
Não me lembro se foi no mesmo dia.
Perdi a noção do tempo e...
é como se algo dentro de mim tivesse quebrado.
E já não sei se tem conserto.
De manhã, acordo afogada.
Estou pendurada e me enfiam a cabeça dentro de um tambor de água.
Após 7 anos ainda me sinto afogar.
Quando saí dali,
disseram-me que havia ficado por 36 dias.
Emagreci 12 quilos e recebi todo o tratamento.
No começo...
livrei-me do estupro.
Sabe por quê?
Porque o que veio em casa, o único que eu vi o rosto...
sorriu e disse:
Vou guardar você pra mim.
Depois, sempre ouvia sua voz quando vinha...
e perguntava se haviam me guardado pra ele.
Tenho pavor de ouvir sua voz na rua, no metrô.
Por quê? Por que fizeram isto com você?
Por quê?
No início, perguntavam por Pedro.
Dizia a verdade. Que não o via há 2 anos.
Voltavam a perguntar.
E eu repetia, "Não o vejo há 2 anos".
Perguntavam de novo.
Respondia de novo, e aí eram pancadas, choques, afogamentos...
O que o Pedro fez?
Ele já estava condenado.
Devia já estar morto quando me interrogaram.
Você fez a denúncia?
Que boa idéia! Por que não pensei nisso?
A quem você teria feito a denúncia?
Bem... se você não tinha feito nada.
Como "a quem"?
Esse lugar estava cheio.
Era difícil saber se era eu quem gritava ou os outros.
Tinham grávidas que perdiam seus bebês lá.
Outras eles levavam e elas voltavam sozinhas.
Os bebês eram dados a famílias que compram sem questionar.
Por que me diz isso?
Nunca contei a ninguém.
Escrevi uma vez para uma comissão.
Que incrível!
Me sinto culpada.
Tudo bem...
Gaby.
Você me assustou.
Pra cama, vamos.
Muitos textos de Moreno são exemplo do espírito republicano.
Um poderia ser o decreto de supressão de honras...
que redigiu após 5 de dezembro, quando um oficial bêbado...
embriagado, cujo nome não lembro.
Não importa. Continue.
Este oficial... o livro diz somente que ele...
se excedeu nos elogios ao brindar por Saavedra.
Acho que o chamou de "Imperador" ou algo assim.
Assim, deu-lhe títulos que não eram democráticos.
E com relação às honras?
Estavam suspensas.
Claro. Lembra das palavras de Moreno?
- Alguém se lembra? - Eu, professora.
Dizia que entre os membros da junta não devia haver diferença...
baseada na ordem onde sentavam.
Também diz nesse documento que "nenhum cidadão de Buenos Aires...
bêbado ou sóbrio, poderia falar contra a liberdade de seu país."
Muito bem, Duran.
Alguém se lembra de outro texto de Moreno...
que demonstre seu espírito republicano?
Eu!
Eu...
Tem um artigo de jornal que fala sobre a liberdade de imprensa.
- Seu nome? - Fercovich.
Por que não se levanta e nos conta?
Eu não sei... não sei.
Na verdade, não sei nada de cor.
Meu pai me diz que se a gente decora, não grava.
Por isso não aprendo nada.
Faz sentido, mas o que importa é a sua idéia.
É algo como: Se proíbem publicar a verdade,
triunfará a mentira, o empobrecimento,
a ignorância. Não foi à toa que o mataram.
Quem?
Moreno. Não foi à toa que o jogaram no mar.
Não foi à toa.
Costumavam jogar os mortos em alto-mar.
Em viagens longas não havia como preservar os corpos.
Mas Moreno foi envenenado.
É uma teoria.
Esteve em moda uma época. E alguns acreditam, mas não há provas.
Não há prova porque a história é escrita por assassinos!
Meu nome é Horacio Costa.
Sr. Costa, espere lá fora.
Esta é uma aula de história, não um debate.
Quem quiser falar, levante a mão e peça permissão.
Porque a indisciplina não se aprende e nem se ensina.
Faz truques ou mágica de verdade?
Mágica de verdade.
Veja. Ele é mágico mesmo.
- Rosa, tem mais Coca na geladeira? - Está cheio!
E eu também!
Se não levar sua sogra daqui, eu me demito!
Se demite nada.
Quem vai engolir o que você cozinha?
Alícia, tem mais Coca?
Meu irmão não vem até terminar tudo.
Está em uma reunião com gente de fora.
Pena que não convenceu seu pai.
Papai é teimoso. Se Roberto não ceder, ele não cede.
Diga que o velho está louco pra ver Gaby.
Faz reuniões aos domingos também?
Às vezes penso na mãe da Gaby e sinto medo.
- Medo de quê? - Eu me demito!
Aceite, Alícia. Antes que ela mude de idéia.
Vamos fazer o mesmo que com o balão.
Sim ou não?
Acontece que é o aniversário da sua filha.
Nada. Está bem.
Tudo bem.
Meu bebê está triste? Não chora.
Vamos pra cama. Vai dormir, né?
Durma bem. Quer que a mamãe fique?
Não chore mais. Veja, a mamãe está aqui.
Está bem, minha pequena. Está tudo bem.
Meu filhinho está com sono.
Por que tem sono, meu pequeno?
Pequenino, vá dormir.
Vire de lado. Veja os brinquedos que ganhou dos seus primos.
O que houve, meu amor?
Machucaram você? O que lhe disse?
Não aconteceu nada. Entramos e ela começou a gritar desesperada.
Também não fiz nada.
Não te disse há pouco.
Ela se assustou. Não sabíamos que estava aqui.
O que foi, ficou louca? Não, pai por favor!
Ela não sabe brincar, ainda é muito pequena.
Parece mentira que já se passaram 5 anos.
Naquele dia você chegou bem tarde. Lembra? Como hoje.
Não sabia nem segurá-la.
Você a trazia como um cãozinho.
No momento...
achei que tinha razão, não devia ir ao hospital.
Agora acho que devia ter ido. Devia mesmo.
- Não quero. - Não?
Quem era aquela mulher no carro com você?
- Quem era? - Uma enfermeira.
O médico se chamava Jaifel, Jeifel?
Não lembro. Como quer que eu lembre?
Não se lembra do médico que lhe deu a Gaby?
Prometemos nunca falar sobre isso.
Pagou pra ele?
Alícia.
Ao médico ou à mãe?
Por que isso agora?
Disse que ela concordou. Como sabe se ela concordou?
Você a viu no hospital?
Responda, Roberto.
Não se aborreça.
Talvez ela não soubesse que levavam sua filha.
O que está perguntando?
Que diabos está perguntando?
Sei lá o quê? Não sei.
Sempre me chateio nesse dia.
Nunca lhe diremos a verdade?
Sabe que comemoramos nosso dia, não o dela.
Comemoramos o dia em que a trouxe pra casa.
Comemoramos o dia em que a registramos.
Esse é o aniversário dela.
Porque não tendo liberdade de pensamento,
continuarão a aceitar os absurdos que consagraram nossos pais,
e autorizaram o tempo e os costumes.
Sejamos uma vez menos partidários de nossas obsoletas opiniões.
Menos egoístas, e permitamos o acesso a verdade."
Espere, idiota, veja como termina. Escuta, Horácio!
A verdade, assim como a virtude, têm em si sua apologia.
Ventilando-as, aparecem em todo o seu esplendor e brilho.
Veja só: "Se se opõe...
...restrições ao discurso, a matéria e o espírito vegetarão...
Sentem-se.
E o erro, a mentira, o fanatismo e a ignorância...
Tire isso!
Não vou perguntar quem foi, pois todos o viram.
E ignorância..."
Assim, todos pagarão por essa brincadeira.
Dividirão os povos e causarão...
para sempre seu abatimento, sua ruína e miséria.
E evitarão na próxima vez.
Mariano Moreno, Gazeta de Buenos Aires, 12 de Junho de 1810.
Poderia se atrasar um pouco?
Para quê?
Para tomar um café comigo.
Desculpe, Benitez. Estou com pressa. Tenho que ir ao centro.
Me leva? Quero falar com você.
Vamos tomar um café?
Agora não, Benitez. O que você quer?
Talvez, um pequeno romance?
Está louco?
Que mau humor! Imagine se eu...
a tivesse convidado pra cama, que escândalo faria!
O quê?
Não, não é nada disso. Não se iluda.
Quero devolver uns papéis que esqueceu na sala do diretor.
É de um aluno, Costa...
que anda dizendo bobagens na aula.
Como estão com você?
- Sou amigo da secretária. - Por que pegou?
Com que direito o pegou?
Com direito nenhum, que fique claro.
Peguei porque sei bem onde vivo.
A esse garoto, a paixão pode custar bem mais caro do que só um castigo.
E porque até você merece outra oportunidade.
A sala inteira foi muito insolente.
Hoje encheram a lousa de recortes.
Sinceramente, não sei o que eles querem. Veja.
Querem que se informe.
Por que o expulsaram da Universidade Cuyo?
Porque sou muito perigoso.
Não fui expulso.
Foram em casa quando não estava e destruíram tudo.
Assim, entendi a mensagem... sozinho.
E essas listas...
como todos esses desaparecidos, até bebês,
será verdade?
Deve ter gente como você, que mudou de emprego.
E está em outro lugar, certo?
O que importa a você se é verdade?
É problema seu?
Vai acabar, vai acabar, esse costume de matar.
Vai acabar, vai acabar.
É sempre mais fácil crer que não é possível.
Porque se fosse possível, precisaria de muita cumplicidade.
Muita gente não crê, embora tenha diante de si.
Tome os papéis do Costa, se quiser reapresentá-los.
FAMÍLIA DOS DESAPARECIDOS POR RAZÕES POLÍTICAS
Os desaparecidos. Digam onde estão, os desaparecidos.
Onde estão as crianças desaparecidas!
Milicos mal-paridos...
o que fizeram com os desaparecidos?
Dívida externa e corrupção,
a pior merda que teve nossa Nação.
O que aconteceu com as Malvinas?
Onde estão esses garotos?
Não devemos esquecê-los.
Por isso é preciso lutar.
Milicos mal-paridos...
o que fizeram com os desaparecidos?
DEVOLVAM AS CRIANÇAS NASCIDAS NA PRISÃO
PARA SUAS FAMÍLIAS As Avós da Plaza de Mayo
Da próxima vez, tem que ficar mais, Sr. Dillinger.
Claro, é uma bela cidade.
E sua secretária pode estar por aqui...
Tem algum compromisso essa noite?
Não, mas talvez possa me ajudar nisto.
- Certo. Eu lhe vejo na próxima. - Espero que sim.
- Tenha um bom dia, Sr. Dillinger. - Obrigado, Dante.
- Dante, por favor. - Só um instante, Macci.
Diga ao Ibañez que vai receber mais 5.
Agora não posso.
Acho que seus cálculos estão errados.
E leve o velho daqui, ou o Andrada nos mata!
Por que você não leva?
Temos muito trabalho hoje.
Não sabia que estava aqui! Entre e espere-me.
Não. Melhor marcar para amanhã.
- O que houve? - Queria falar com você.
Esqueceu? Tenho que ir embora. Vamos agora.
Não posso esperar mais, sabe disso!
Se Andrada não me receber já, não me importo se for preso.
Como preso, Macci? O que há com você?
Cadeia é pra criminosos.
Este é um país civilizado. E você tem amigos.
Vamos ver se ele pode recebê-lo.
Tanto escândalo porque um juiz o intimou.
Vem comigo até o aeroporto?
O que há?
Nada, nada.
Deixa comigo. Não perca o vôo. Ligue pra alguém.
Pra quem?
Estamos com as passagens?
Diga-lhe que nos vingaremos dele.
- Sr. Rossan, está é minha esposa. - Muito prazer, senhora.
Seu marido é um homem brilhante.
São casados há anos, não?
E ainda vem se despedir dele. Parabéns!
A senhora é professora, não é?
De história.
Não deve ser fácil ensinar história no colegial.
Os rapazes já não acreditam como antes
O que vocês acham da juventude de hoje?
Resta esperança?
Tenho um sobrinho de 16 anos que nem acredita...
que San Martin cruzou os Andes.
Sei que é tolice, mas não queria que viajasse. Tenho medo de ficar só.
Como se fosse a primeira vez. O que foi?
Agora não. Quando voltar, conversamos.
Sr. Ibañez!
Queria viajar com você. Pode ser até pra Bolívia.
Quando voltar, poderíamos viajar. Faz tempo que não viajamos.
Cuide da Gaby. Como ela estava?
Reclamando, porque você não pára aqui.
Puxou a mãe.
Se puxar a mãe, sabe-se lá como será!
Outra vez com essa história! Era isso, não?
Vamos perder o vôo!
Tenho que ir.
Pare de pensar nisso. Não faz sentido. Pare de pensar!
Mamãe, tenho uma lista de compra. Diz que eu tenho que comprar...
lápis, lápis de cor, borracha. Mas apontador não...
ou em uma semana acabo com os lápis...
ficam tão pequenos que não dá pra segurar.
Acha que vou correr atrás de você pela casa?
Você está doente? Vai morrer?
Vamos. Tem que terminar de comer.
Quando o papai vem?
Em uma semana.
Assim?
Não, assim. A outra mãozinha inteira.
Depois e depois e depois de amanhã.
Solta meu rosto. Vá comer!
Vá comer! Vá comer, vamos!
Coma. Já está tarde.
Tem muita gordura. Não quero.
Eu tirei a gordura.
CERTIDÃO DE NASCIMENTO
Como tiram a carne da vaca?
- Primeiro matam-na. - A tiros?
Gaby, come logo.
- Dá preguiça de mastigar tanto. - Veja o que fez.
SALA DE PARTOS
PAVILHÃO "A"
Dr. Jaifer. Com "r''no final.
Há 3 anos que não vem aqui.
3 anos? Sabe onde ele está?
Não, não sei.
Talvez na administração possam informar.
Sente-se bem?
Era como a Gaby. Sentava na cadeira de balanço...
e não entendia por que demoravam tanto.
Tinham morrido os dois num acidente de carro.
Vovó, coitada, me falava de uma viagem...
inventava cartas.
Durante anos, esperei ali sentada...
na cadeira de balanço.
Achava...
que papai e mamãe haviam me abandonado.
Quando cresci, vi o túmulo deles...
e comecei a perdoá-los.
Sempre acreditei no que me disseram.
Mas agora não posso.
Não sei quem Gaby é.
É como se nada fosse verdade.
Nem pensamos em contar-lhe que é adotada.
Às vezes pergunta sobre seus avós...
e os avós dos avós, e por aí vai.
Diz que... Deus é "biônico".
Pois ele nos vê e nós não o vemos.
E é verdade.
Sempre pensei...
que a mãe não a quisesse.
Mas, agora...
Nunca tirei nada de ninguém antes.
Deus a encomendou a você, Alícia. Ele quis assim.
Por que duvidar de Sua infinita sabedoria?
Não ofenda o Senhor.
O que lhe foi dado não deve rechaçar.
Eu não a rejeito! Por que diz isso?
Você teve piedade e misericórdia.
Protegeu-a dos males e perigos a que ela podia estar condenada.
Que perigos?
Sabe a verdade, padre? Por que não me conta?
Você não pecou...
mas sua aliança com Deus foi rompida.
Pode me ajudar, padre?
Ele nos disse:
Não destruirei as cidades em consideração a 10 justos.
Disse o Senhor...
Padre, sabe o que aconteceu, não sabe?
Deus pai misericordioso que reconciliou...
Diga a verdade, padre! Você sabe.
Tem que me dizer a verdade!
Estava com o Roberto naquele dia, não é?
Te absolvo de seus pecados.
Não preciso de absolvição. Preciso da verdade!
Dê graças ao Senhor, pois Ele é bom.
E eterna é a Sua misericórdia.
O Senhor perdoou seus pecados.
Vá em paz.
Alícia! Rosa já passou aqui. Gaby estava com febre.
Já pode vesti-la.
Não. Já sei me vestir sozinha!
Claro que sabe, perdão, mocinha.
Pensei que falasse com uma menininha.
Que diz aqui, doutor?
Sinal de Ortolani. Uma subluxação dos quadris...
é de nascença. Falamos sobre isso, lembra?
Volte quando ela estiver mesmo doente.
Só perdem dinheiro comigo.
Você me disse que se pode supor que ela...
era primogênita, por causa deste sinal, certo?
Claro. É possível.
E também que o dia do nascimento pode ser determinado...
pelo dia em que caiu o cordão umbilical.
Esses dados se anotam ao nascer.
O peso, altura, tudo isto tem que estar no hospital, certo?
Cullen, puta que o pariu.
Cullen, a resposta.
A dois.
Marcelo me arrumou este trabalho. Não estrague.
Roberto não volta no sábado?
Veio aqui pra falar sobre seu marido?
Gaby é adotada.
Lembra-se? Falou sobre bebês que eram doados...
para famílias que não questionavam.
Eu não podia ter filhos. Fiz todo tipo de tratamento.
A oportunidade veio pelo escritório do Roberto.
Não questionei. Agora, não tenho a quem perguntar.
Roberto disse que não sabe, mas sei que não quer contar.
Mas já me organizei.
Já sei que nasceu num hospital de La Plata.
Sei mais ou menos a data, altura e peso.
Sei que tinha um sinal de nascença por aqui.
Preciso de sua ajuda, Anita.
Tenho que averiguar. Vamos ao hospital.
Lembra que íamos juntas pra todo lado? Até ao banheiro.
Por que não volta ao arquivo?
Me mandaram pra cá. Você me manda de volta.
Desculpe, mas você me mandou procurar nos arquivos.
Lá me disseram que deve estar aqui.
Já disse que não temos os registros de 1978.
Senhora, já disse que é só o deste ano.
Ninguém quer ajudá-la?
É triste quando se sofre e ainda é mal atendida.
Também procuro minha família.
Talvez possamos nos ajudar.
Não, não é isso.
Procura por um bebê?
Sim.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo.
Tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo.
Tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo.
Dai-nos a paz.
Ser pobre não é vergonha.
Como ser rico não é honra.
Mas é melhor ser rico.
Depende do que fez pra juntar até ter de sobra...
e do que quer continuar fazendo.
Mas, se você não rouba...
Os ladrões não são só os que aparecem na TV.
Prefere ser pobre, vovô?
Não tenho saída. Mas prefiro minha consciência em paz.
Vamos tomar um vermute?
Por favor, cunhada. Não vai dar um fora agora, hein?
Deve receber várias cantadas.
Com esta aparência!
Sabe que as mulheres...
se matam por um viúvo pobre, falido,
e com 3 filhos...
e que teve que voltar pra casa dos pais.
Sabe que sou capa das revistas de moda?
O Mais Desejado do Ano.
Diga uma só mulher que já o rejeitou.
Está brincando! Sou cuidadoso,
se não tem água, eu não pulo.
Teve uma que me rejeitou.
Cecília me rejeitou.
Duas vezes me atirei...
e as duas ela disse não. Mas, finalmente, não resistiu.
Roberto, parece mentira.
Acabo com meus netos se torturam um animal.
- Usou a máquina de lavar? - Usei, filho. Obrigada.
Vamos, mãe.
Não se aborreça.
Agradeço sempre que a uso.
Estou feliz que tenha vindo.
Mas tem que prometer...
Por que eu? Por que não pede a eles que prometam?
E como sabe o que peço a eles?
Viu o que está saindo nos jornais?
Os anúncios, tudo isso?
Dizem que há bebês desaparecidos.
Sim, e daí?
- Alguém lhe disse algo? - Não. Ninguém disse nada.
- Mas é possível. - E, poderia...
Se você não pensar...
Mãe! Vamos comer?
No bairro, seu pai e seu irmão são muito bem tratados.
- Não sabe como gostam deles. - Sei, sei sim.
Falou com o Roberto?
Roberto também não sabe, não acha?
Não disse que estava ótimo pra comer aqui fora?
Tinha razão, filho. Mas no rádio anunciaram mau tempo.
E me assustei com as nuvens.
Sua mãe não aprende. Acredita em tudo o que ouve nos aparelhos.
Quando meu filho e eu nos enganamos com o tempo?
Quando disse filho, quis dizer o Enrique, não é?
É o costume. Ele mora aqui. Mas no seu caso,
quando olha para cima pra saber do tempo?
Só se chover dólares!
Se chover dólares.
Quer mais?
Sempre caio. Como me enrolam.
- Sua mãe está falando. - Você, mamãe, até a Gaby.
Enrolam, enrolam até eu cair de novo!
Fiz com lagostim, como você gosta.
Como começou desta vez? Falávamos do tempo!
Até mamãe entrou nessa do tempo.
Terminaram, então vão brincar.
Pra que merda nos fazem vir aqui?
Vão brincar no quintal, vamos.
Desta vez o Roberto tem razão.
Ouça, Enrique...
enfia sua defesa no rabo, ouviu?
Posso falar?
Vá ver as nuvens com papai, e pra onde sopra o vento.
- Posso falar? - Vai, fala.
Foi brincadeira, de mau gosto.
Mas foi brincadeira!
Não posso brincar com os defeitos do meu próprio filho?
- Que brincadeira, pai! - Estou falando!
Sou seu pai e criei você pra outra coisa.
Seu irmão gosta demais de vinho.
E você de muito dinheiro.
Mas seu irmão nunca se embriaga,
pois prefere outras coisas além do vinho.
Quanto a você...
acho que nos entenderíamos melhor se estivesse bêbado.
Claro, me adoraria se eu fosse um fracassado.
Todo o país foi pra baixo, exceto...
os filhos da puta,
os ladrões,
os cúmplices e meu filho mais velho estão ricos.
Vai morrer acreditando nisso, não é?
Nunca vai admitir que pra vocês foi uma merda.
E os iguais a vocês!
O que foi? Roberto, por favor.
Usam as mesmas máquinas há 40 anos.
O mundo continua, entendeu?
E passa por cima de quem fica olhando as nuvens!
Não tem vergonha desse discurso imoral, com tantos famintos por aí?
Fome? Quem está faminto aqui?
Quem diabos está faminto aqui?
Nesta casa se empanturram de palavras sem significado.
Repetindo as velhas tolices anarquistas!
A Guerra da Espanha terminou. E vocês perderam!
E querem que me sinta culpado porque não sou um perdedor?
Não, não! Não sou um perdedor.
Enfiem isso na cabeça! Não sou um perdedor!
E esta outra guerra?
Que você e seu bando ganharam. Quem perdeu?
Sabe quem perdeu, irmão? Os garotos.
Garotos como os meus.
Pois vão pagar pelos dólares que roubaram.
Vão pagar passando fome e sem poder estudar.
Porque você não vai pagar. Claro. Por que deveria?
Se você não é um perdedor!
ASSASSINADA NO VENTRE DA MÃE
ENCONTRADA ASSASSINADA
Veja aqui. Achei algo.
- Entre 15 e 20 de março, certo? - Mais ou menos.
Embora esta seja mais nova.
- Tem certeza do hospital? - Em La Plata.
Os dados anatômicos: Crânio, tórax, etc,
devem estar arquivados no hospital?
Mas nós não temos esses dados.
E não nos serviriam agora.
Não teríamos com que compará-los.
Ou você tem como?
Não, não.
Que roupa linda! Veja só: 5 corações.
- Como se chama? - Gaby!
- Gelby? - Gaby!
Paciência, senhores. Falta pouco.
- Uma taça, Dante? - Não, obrigado.
Preciso estar firme pra acabar com este cara.
Posso usar o telefone?
Assim, o Andrada não vai conseguir ligar.
- É rapidinho. - Vai lá, cara.
Andrada não vai ligar mesmo.
- Ele disse "Gelby", não Gaby! - Tem de ensiná-lo!
Sua mãe me mata se não for dormir.
Mas ela não está aqui agora.
- Papai, posso esperá-la um pouco? - Só um pouquinho!
Vou comer toda a sua comida.
- Mas você já comeu! - Esta comida não é pra garotinhas.
Papai, os homens não cozinham. Só as mulheres.
- Tomou o remédio? - Outra, General, e acabou.
- Parece que está ganhando. - Quem joga para perder?
Está bem. Eu gosto de vê-lo feliz.
Me dá um beijinho.
Parece que sua mãe nos abandonou.
Não me emociono mais com esses jogos.
Preocupações demais.
Larga o telefone, Miller.
Ninguém atende.
Acho que vou embora.
Saiu ao meio-dia pra casa da mãe com o filho e ainda não voltou.
Paciência, as argentinas são muito especiais.
Rosa, abaixe o fogo e não pare de mexer.
- Como sabe? - Olfato. Sinto o ponto daqui.
É o segredo de um bom chef: O olfato.
Tudo que sei é fazer churrasco.
No campo não aprendemos outra coisa.
Não imagino meu pai preparando um molho.
Se fizéssemos só o que nossos pais fazem...
Como o mundo iria progredir?
Pelo menos eu nunca teria chegado ao Diretório.
Perdão. Não sabia que ia comemorar.
Comemorar o quê?
Não tenho nada para comemorar.
Tive um problema.
Depois te conto.
Acho que o Andrada vai deixar todos na mão.
Todos, menos o ***, que deve ser seu sócio.
Não entendo. O que está havendo?
Eu é que pergunto. O que está havendo com seu cabelo?
E "Esta perseguição contra-revolucionária...
oposta ao ideais de Maio,
visando exterminar os patriotas...
que tentavam propagar para a América,
a influência libertadora do Rio de La Plata.
Armou o braço que cravou a faca nas costas de Monteagudo...
e que cortou a língua de Castelli para silenciá-lo.
A batalha que enfrentou de Unitários e Federais..."
Sr. Costa, o que disse sobre Castelli?
No cárcere cortaram sua língua, para não falar.
Em que texto se baseia?
Como assim?
Em que livro leu isso?
Você só crê no que lê nos livros?
Para o que houve há 150 anos, nada mais prudente...
que recorrer à documentação existente.
É sério, Costa. Os protagonistas já morreram.
Moreno, Saavedra, Monteagudo, Pueyrredón, Dorrego, Lavalle...
Rosas, Mitre e o pobre Castelli: Mudo e morto.
A menos que faça sessões de espiritismo,
peço que traga a bibliografia, já que lhe interessa...
a investigação histórica. Sua nota é 9.
- Olá. - Tudo bem?
- Fica bem de cabelo solto. - Pareço uma louca.
Será que gosto de loucas?
Esparramei as peças.
Joguei de novo contra mim e ganhei.
- Bem... - E...?
Seus alunos continuam aprontando com você?
Sim.
Se continua atirando fósforos acesos,
como pretende evitar as explosões?
Muitas explosões, não?
O que acontece?
Parece que tudo desmoronou.
E desmoronou. Desmoronou.
Mas não completamente.
Também não se iluda.
Ainda que estejam dispostos a abrir a boca e engolir o anzol.
Um chá.
Mas não vai terminar por aí. Vocês gostariam que acabasse.
Benitez, como assim "vocês"?
Nada mais comovente que uma burguesa com sentimento de culpa.
Como diria uma querida amiga minha:
Por que não vai à merda?
A mãe da Julieta disse pra ligar pra ela.
Não quero ir brincar lá. Ela zombou da Macarena.
Por que ela fez isso?
Diziam pra ela: Bebê! Bebezinho!
Mas eu, a Teresa e a Danita a defendemos.
Olá.
Temos nos visto muito pouco, hein?
Ai, puta que o pariu!
Que mania da Rosa em mudar os móveis de lugar!
Não, está bebendo muito ultimamente?
Um cego não duraria 2 dias nesta casa.
Ai que bom, ai que bom.
Liguei pra você às 8:00h...
e Rosa me disse que trouxe a menina e saiu de novo.
Que anda fazendo?
Tenho medo.
Medo de quê?
Vai me responder?
Gaby pode ser a filha de uma desaparecida?
De onde tira essas idéias?
Que imbecil eu sou! Claro.
No instante que a vi, sabia que aconteceria.
Ana não tem nada com isso. Está saindo nos jornais.
Ela vivia com um subversivo.
Não entendo como conseguiu voltar ao país...
e andar à solta...
Quem vivia com um subversivo?
- Por que acha que deixou o país? - Por quê?
- Não sabia quem era o Pedro? - Não, não sabia.
Ela contou que estavam separados há 4 anos
fazia 2 anos que ela não o via.
Isso é o que ela diz.
E você sabia?
Sabia?
Como você sabia?
Sei lá. Talvez você tenha me contado.
Está brava?
Não, amor. Não estou.
A Rosa não sabe fazer tranças, você sabe.
Porque quando eu era criança, faziam tranças em mim.
Essa não sei quem tirou. Deve ter sido o velho.
Olha que água linda tem esse rio.
Tão claro que dá pra ver o pé dele no fundo.
Aqui parece magrinho, mas ele era forte.
Já sabia ler, olha.
Não tinha mais que 5 anos.
Vê a cicatriz que tinha na bochecha?
Quem não sabe, acha que está suja.
Os irmãos Diaz estavam brincando.
Os meninos não costumavam brincar com meninas.
Foi o velho se descuidar um pouco e atiraram uma pedra.
Sangrou muito, mas ela nem chorou.
E ele jogou os quatro na água. Os quatro.
Começou a brigar, dando cabeçadas. Sempre fazia isto.
Depois foi se sentar ao lado dela.
Nunca tinham se visto antes.
E depois...
ninguém podia separá-los.
Ninguém.
Esta, o Bráulio tirou.
Era o seu aniversário e ganhou uma câmera.
Tirava fotos de tudo,
gastou o filme todo, fotografando de surpresa.
Ela ainda tinha tranças, está vendo?
Nessa época, ele a chamava "pata de cegonha",
pois tinha as pernas finas.
Veja a inocência. As mãos embaixo da mesa.
Achavam que ninguém os via.
Parece mentira. Já eram noivos.
Estava agitada no dia do casamento.
Deviam ser os nervos. Disse que os sapatos apertavam.
Foi a primeira vez que usou saltos altos.
Tinha 19 anos.
Um bom juiz os casou. Falou bonito.
Pena que ela não conseguia parar de rir.
Ele parece mais alto. E por causa do traje.
Um colega emprestou. Era pequeno nos ombros.
Na saída do cartório, ele tirou o paletó e devolveu.
Aqui, estão com um ano de casados.
A barriga dela já aparecia.
Fomos todos, porque era domingo e...
cada um levou algo para o churrasco.
Ajudamos a descarregar o material pra fazer outra parede...
porque só tinham uma de alvenaria, está vendo?
Bem...
Alguns vizinhos que viram quando os levaram...
disseram que o incêndio pode não ter sido intencional.
Mas destruíram tudo e só restou uma parede.
Não restou nada.
Nada.
Só essas quatro fotos.
E nossa lembrança.
Não digo que seja ela...
mas as datas coincidem mais ou menos, não é?
E esta foto.
Pode ver que a menina que está com você...
poderia ser minha neta.
Não chore.
Chorar não adianta.
Sei por que lhe digo isso.
Chorar não adianta.
O que faz aqui?
Sua secretária disse que estaria aqui. Preciso falar com você.
Estou ocupado. Outra hora atendo você.
Odeio falar com você, mas não tem outro jeito.
Alícia não retorna meus telefonemas.
Que bom. Fico contente em saber!
O barco está afundando?
Sabe o que a Alícia está botando na cabeça?
Não. Mas sei o que você anda pondo na cabeça dela.
Se tivesse influência sobre ela, não a deixaria casar com você!
Com certeza seria um bom partido, como o seu marido.
Vocês todos tinham de ser varridos daqui.
Como lixo!
Foi o que fizeram! Foram varridos e enterrados...
como lixo!
Não sabia quem era Pedro?
Sabia. Era igual a você! Por isso se odiavam.
Me odiava? O que tinha a ver com ele?
Você é mais perfeito que ele! Ele nunca se questionou.
Então, você é inocente? Não tem nada a ver com ninguém.
Não me denunciou para ficar bem com algum amigo seu?
Teria feito de muito bom grado.
Quem foi que disse? Quem?
Então, ele desapareceu.
Sim, Rolo, desapareceu. Sumiu. Se foi pra sempre.
Nada, nada. Estou rindo de nós.
Quem iria denunciá-lo, Rolo, se ninguém pode provar?
Está tudo bem. A menina e a empregada dormiram, tudo bem.
Desculpe-me.
Pare, pare! Por que está me contando isso?
Não, não! Não tenho nada a ver com isso!
Já disse que não tenho nada a ver com isso.
Nada.
Você me disse que podia pegá-la na escola.
Claro, se você não pudesse. Mas são 11h30 da noite.
Nem omissão, nem anistia! Aparecimento com vida!
Queremos que nossos filhos
apareçam com vida e os culpados punidos.
Queremos nossos filhos!
Queremos nossos filhos!
Com vida nos tiraram. Com vida os queremos.
FAMILIARES DOS DESAPARECIDOS E PRESOS
E SEUS FILHOS NASCIDOS NA PRISÃO.
Que digam onde estão os desaparecidos.
Se Gaby for sua neta, o que faremos?
É muito estranho, sempre achei que...
seria capaz de qualquer coisa pra não perder o que tinha...
seria capaz de tudo para deixar...
contanto que ficasse tudo como estava.
Que estranho, não?
Queria não perder o que amo, mas não consegui.
- Rosa, pode vir aqui? - Olá, meu amor.
Quero lhe apresentar...
- Agora, não. Estou ocupado. - Por favor.
Sra. Reballo, meu marido, Roberto Ibañez.
- Olá. - Como vai?
Reballo.
Conheci um Reballo na faculdade.
Mas já faz tanto tempo.
Nós não somos daqui.
Sara pode ser a avó de Gaby.
Você está completamente louca.
Isso é uma armadilha. Na minha própria casa?
No que está se tornando, sua infeliz?
Percebe o que está fazendo? O que há? Medo?
O que quer? Livrar-se da menina?
Não precisa dá-la à primeira louca que encontra na rua!
Tire esta velha daqui. Fora da minha casa!
Bem, eu vou indo.
Amanhã você me liga?
Ou eu ligo?
Eu ligo, Sara.
Até amanhã.
Não entendo.
O que há com você?
O que quer fazer com a Gaby?
- Quero saber. - Saber o quê?
Por que a entregaram a você?
Que fizeram com a mãe? Está viva?
Sei lá! O que sou? Um torturador?
- O que temos a ver com isso? - Claro que temos.
Tem medo. Nem pode encará-la.
Não quero saber nada dessa gente. Nada.
Sabe o que são?
Como poderia?
Não sabe o que se passa diante do nariz.
Claro que tenho medo, imbecil!
Estão acontecendo coisas graves. Andrada desapareceu.
E estou envolvido até aqui! O general está uma fera!
Disse que se a casa cair, alguém vai ter que pagar.
Podemos perder tudo!
Podemos perder a Gaby.
Você vai perder Gaby, você!
E se for verdade?
Se os pais fossem quem você diz?
O que muda isso? O quê?
Ela já perdeu uma mãe. Quer que perca outra?
É isso que quer?
Ouça...
Sei como gosta desta menina.
Nós a estamos criando como Deus manda.
- É melhor que seja nossa filha... - Então é verdade.
Quem trouxe esta velha aqui? Quem?
Nem se importa se é verdade!
Eu me importo! Não quero fazer isto pra Gaby.
Eu a trouxe. Quero saber se Gaby é sua neta...
ou a neta de outra avó.
Ou de alguém que nem sequer tem forças...
para andar com a foto pela praça.
A Gaby não está.
Onde está?
Onde está a Gaby?
- É terrível, não? - O que é terrível?
Não saber onde sua filha está.
- Onde está? - Na casa da sua mãe!
Onde está minha filha?
Foi com a Rosa pra casa de sua mãe, para podemos conversar.
Me solta, Roberto!
Me solta!
Alô.
Sim, mamãe.
Não, é que eu estava longe.
Nada, nada.
Diz pra ela me dar um boa noite, primeiro.
Alô, papai.
Alô, meu amor.
Quero falar com a mamãe.
- Ela não... - Chama ela.
Ela já vem.
- Vai dormir aí? - Com vovô e vovó.
Ótimo.
Quero cantar pra mamãe.
Se...
Se cantar alto, ela escuta.
Sei a música inteira. Ouça.
No país do Não-me-lembro...
dou 3 passos e me perco.
Um passinho deste lado, não me lembro de ter dado,
Um passinho para lá,
ai que medo que me dá.
No país do Não-me-lembro...
dou 3 passos e me perco...
Um passinho para trás.
E não tenho nenhum mais. Por que choras meu bebê?
Onde pôs o outro pé?
Ouviu, papai? Gostou?
Sim. Gostei muito.
- Agora vou dormir. - Um beijo.
Outro pra você e pra mamãe.
Desligo, papai?
Sim, meu amor. Desliga.
Boa noite, papai.
Tchau, minha vida.
No país do Não-me-lembro...
dou 3 passos e me perco...
Um passinho para trás.
E não tenho nenhum mais.
Um passinho para cá.
Ai que medo que me dá.
((((( J.A.P ))))) Jota Alves Productions