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Vem. Venha, Nerissa...
Pois anseio ver esse correio do célere Cupído que chega tão galante.
Bassânio, senhor do amor, se fosse feita sua vontade!
Algo me diz, mas não é amor.
Não vos perderia.
e vós sabeis que o ódio tampouco dá tais conselhos.
Encantado.
Eu vos deteria aqui um mês ou dois...
antes que me postulásseis.
Poderia vos ensinar a escolher certo, mas romperia meu voto.
Isto, jamais farei.
Então, podeis me perder.
Se isso acontecer, far-me-eis desejar tê-lo rompido.
Dispute-me com teus olhos...
pois eles me contemplaram e me repartiram.
Metade minha é vossa, a outra metade vossa, minha, diria eu
mas se minha, então vossa, assim...
toda vossa.
Deixai-me escolher...
pois assim como estou, vivo atormentado.
Atormentado, Bassânio?
Então, confessai a traição que acompanha vosso amor.
Nenhuma, fora a horrenda traição da desconfiança...
...que me faz temer a fruição do meu amor.
Mas temo que falas sob tortura...
quando homens assim compelidos sequer dizem algo.
Prometei-me a vida...
...e confessarei a verdade. - Então...
...confessai e vivei. - "Confessai e amai"...
é o resumo da minha confissão.
Mas levai-me ao meu destino...
e aos baús.
Vamos, então.
Estou presa num deles.
# Diz-me onde nasce o desejo
# No coração ou na cabeça?
# Como é gerado? # Como (é) nutrido?
# responda...
# responda...
# responda...
Possam...
as aparências...
serem menos essenciais.
O mundo ainda se ilude com ornamentos.
Na lei, apelos nauseabundos e corruptos...
quando temperados por uma voz graciosa...
ocultam a face do mal.
Na religião...
quantos erros danados, por alguma sóbria fronte, são abençoados...
e aprovados em textos que cobrem a podridão com um belo...
ornamento?
Olhai a beleza...
e vereis...
que ela é comprada...
a peso...
portanto...
reluzente ouro, não serás tu...
tampouco tu, pálida e vil moeda de escambo entre os homens.
Mas tu...
humilde chumbo...
que ameaças em vez de prometeres algo...
tua simplicidade me comove mais...
do que a eloqüência.
Aqui escolho eu.
- Alegria seja a conseqüência. - Amor, seja moderado...
adia teu êxtase! Sinto demais tua bênção...
...abranda ti, pois temo sucumbir!
O que encontro aqui?
Uma imitação da bela Pórcia?
Que semideusa chegou tão perto da Criação?
Movem-se, estes olhos...
ou tangidos pelos meus, parecem em movimento?
Mas seus olhos... como Ele os fez?
Vede como meu discurso injustiça esta sombra, elogiando-a pouco...
e a sombra cambaleia...
tão longe...
da substância.
Eis o pergaminho...
receptáculo e sumário da minha sorte.
"Vós que não escolheis com a vista...
Da verdade achais a pista...
Já que é vossa essa conquista...
Tal ardor não mais insista...
Se com isto estais contente...
E alegria voss'alma sente...
Tornai ora a nubente...
E reivindique-a com um beijo ardente"
Um pergaminho gentil!
Bela dama...
com vossa permissão, sigo a escrita...
dando...
e...
recebendo.
Como o mais fatigado concorrente...
aclamado, enfim, por toda gente...
ouvindo aplausos e o povo a gritar...
em êxtase, ainda custando a acreditar...
do que me cabe também...
ainda duvido...
até ser confirmado...
selado e cumprido, por vós.
Vós me vedes, senhor, onde estou, como sou.
Somente por mim, eu não teria a ambição...
de querer ser melhor.
Mas por vós...
desejaria ter vinte vezes meu valor...
ser mil vezes mais bela...
dez mil vezes mais rica...
Para vos ser mais considerada, pudesse eu em virtude...
beleza...
meios...
e amigos...
me superar.
Mas tudo o que sou ainda...
é algo que se resume...
a uma moça inculta...
sem estudos...
sem experiência...
Sua felicidade é ainda não ser velha e poder aprender.
Felicidade maior é não ter embrutecido e conseguir aprender.
E a maior felicidade...
é que seu gentil espírito se entrega a vós pra ser guiado...
como por seu governador...
seu senhor...
seu rei.
Esta casa...
estes servos...
e esta mesma eu...
são vossos...
meu senhor.
Eu os dou com este anel...
que, quando retirado...
perdido...
ou dado...
anunciará a ruína do vosso amor...
e me dará o direito de vos rejeitar.
Madame...
vós...
me deixastes sem palavras.
Só meu sangue vos fala em minhas veias...
em meio à confusão.
Mas, quando este anel...
deixar este dedo...
a vida me deixará.
Ousareis dizer...
que Bassânio morreu.
Meu senhor Bassânio...
e minha gentil dama...
desejo-vos toda a alegria que se possa desejar...
e, quando decidirdes celebrar vossos votos...
rogo-vos que, naquela ocasião...
eu também possa me casar.
De todo coração...
se arranjares uma esposa.
Eu vos agradeço, senhor.
Vós me arranjastes.
Meus olhos, senhor, são tão velozes quanto os vossos.
Vós...
vistes a senhora...
...e eu contemplei a criada.
É verdade, Nerissa?
Madame, é, sim.
Graciano, dizes isso em boa fé?
Sim, fé, senhor.
Nossa festa será muito honrada com vosso casamento!
Apostaremos: o primeiro filho homem por mil ducados!
- O que, com a bolada já na mesa? - Não...
Jamais venceremos nesse esporte com a aposta baixada.