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Tradutor: Flávia P. Simões Pires Revisor: João Daniel Ferrari Nogueira
Eu tive uma grande ideia que vai mudar o mundo.
É fantástica, vai fazer vocês enlouquecerem.
É meu lindo bebê.
É o seguinte, todo mundo adora um lindo bebê.
Quer dizer, eu fui um lindo bebê.
Aqui sou eu e meu pai poucos dias depois que nasci.
No mundo do design de produtos,
um lindo bebê é como o carro-conceito.
É a grande atração.
Você o vê e pensa: "Oh meu Deus, eu o compraria sem pensar!"
Então por que os modelos de carro do ano
se parecem tanto como os "carros novos" do ano passado?
(Risos)
O que deu errado no trajeto entre o estúdio de design e fábrica?
Hoje eu não quero falar de lindos bebês,
Quero falar da embaraçosa adolescência do design --
estes estúpidos anos da adolescência
em que estamos tentando descobrir como o mundo funciona.
Vou começar com o exemplo de um trabalho que fizemos na saúde de recém-nascidos.
Aqui está o problema:
Quatro milhões de bebês no mundo todo,
a maioria em países em desenvolvimento,
morrem todos os anos antes de seu primeiro aniversário,
ou até antes do primeiro mês de vida.
Acontece que metade desses bebês, ou cerca de 1,8 milhões de recém-nascidos em todo o mundo,
sobreviveria se você pudesse apenas mantê-los aquecidos
nos primeiros três dias, talvez na primeira semana.
Esta é uma unidade de cuidados intensivos a recém-nascidos em Katmandu, Nepal.
Todas estas crianças nos cobertores pertencem às incubadoras --
ou algo assim. Esta é uma incubadora doada, da marca japonesa Atom,
que encontramos em uma UTI neonatal em katmandu.
É isto o que queremos?
Provavelmente o que aconteceu foi que um hospital no ***ão renovou seus equipamentos
e doou seu material velho para o Nepal.
O problema é que sem técnicos, sem peças de reposição,
doações como essa rapidamente tornam-se sucata.
Isso pareceu ser um problema sobre o qual poderíamos fazer algo a respeito.
Manter um bebê aquecido por uma semana -
isso não é ciência avançada.
Então começamos.
Fizemos parceria com uma instituição líder em pesquisas médicas aqui em Boston.
Realizamos meses de pesquisas com usuários do exterior
tentando pensar como designers, um design centrado no ser humano.
Vamos descobrir o que as pessoas querem.
Nós "matamos" milhares de adesivos "Post-it".
Fizemos dúzias de protótipos até chegar a isto.
Esta é a Incubadora infantil NeoNurture,
e ela tem muita inteligência incorporada. E nos sentimos muito bem.
A ideia aqui é, ao contrário do carro-conceito,
queremos casar algo que seja bonito
com algo que realmente funcione.
E nossa ideia era que esse design
inspirasse fabricantes e outras pessoas influentes
a pegarem esse modelo e o executarem.
A má notícia é que:
o único bebê que já esteve dentro da Incubadora NeoNurture
foi esta criança durante a sessão de fotos para a revista Time.
O reconhecimento é fantástico.
Queríamos que o design se sobresaísse para que as pessoas o vissem.
O projeto ganhou muitos prêmios.
Mas me senti ganhando um prêmio de consolação.
Queremos fazer lindas coisas que façam do mundo um lugar melhor
e não acho que essa criança tenha ao menos ficado o tempo suficiente para se aquecer.
Acontece que o design para inspiração
na verdade não --
Acho que o que quero dizer é que, para nós, para o que eu quero fazer,
ou é muito lento ou não funciona, não é eficiente.
Eu realmente quero projetar para ter resultados.
Não quero fazer lindos objetos.
Quero fazer do mundo um lugar melhor.
Quando estávamos desenhando o NeoNurture,
prestamos muita atenção às pessoas que usariam isso --
por exemplo: famílias pobres, médicos do interior,
enfermeiras sobrecarregadas, mesmo os técnicos que precisassem consertar.
Pensamos que tínhamos todas as nossas bases cobertas, que tínhamos feito tudo certo.
Bem, acontece que existe uma constelação inteira de pessoas
que precisa estar envolvida em um produto para ele ser um sucesso:
fabricação, financiamento, distribuição, regulamentação.
Michael Free do PATH costuma dizer que você tem que compreender quem irá "escolher, usar e pagar as contas"
para um produto como esse.
E tenho que fazer a pergunta --
O capital de risco sempre pergunta, "Senhor, qual seu negócio e quem é o seu cliente?"
Quem é o seu cliente? Bom, aqui está um exemplo.
Este é o diretor do hospital de Bangladesh, do lado de fora de sua instalação.
Acontece que ele não compra nenhum destes equipamentos.
Estas decisões são tomadas pelo Ministério da Saúde
ou por doadores estrangeiros
e os aparelhos apenas aparecem.
Da mesma forma, aqui está uma multinacional fabricante de dispositivos médicos.
Acontece que eles precisam pescar onde o peixe está.
Nos mercados emergentes, onde estão os peixes,
se encontra a classe média emergente desses países --
doenças em abundância: doenças do coração, infertilidade.
Em um aspecto, realizar um projeto pensando nos resultados
realmente significa pensar na fabricação e na distribuição.
OK, essa foi uma lição importante.
Segundo, pegamos essa lição e tentamos aplicá-la em nosso próximo projeto.
Começamos procurando por um fabricante,
uma organização chamada MTTS no Vietnã,
que fabrica as tecnologias de cuidados para recém-nascidos para o Sudeste Asiático.
Nosso outro parceiro é East Meets West
É uma fundação americana que distribui essa tecnologia
para hospitais pobres nos arredores daquela região.
Começamos com eles perguntando: "Bem, o que vocês querem?
Qual é o problema que vocês querem resolver?"
E eles responderam: "Bem, vamos trabalhar com icterícia neonatal".
Esse é mais um problema de preocupação global.
Icterícia afeta dois terços de recém-nascidos em todo o mundo.
Desses recém-nascidos, 1 em cada 10, aproximadamente,
se não tratado, a icterícia fica tão grave,
que leva a uma deficiência definitiva para toda vida
ou as crianças podem até morrer.
Há uma maneira de tratar a icterícia,
é chamada de transfusão de troca.
Como vocês podem imaginar, isso é caro e um pouco perigoso.
Há outra forma de cura.
É muito tecnológica, muito complexa, um pouco assustadora.
Temos que refletir uma luz azul na criança --
uma brilhante luz azul no máximo de pele que puder ser atingida.
Por que isso é um problema sério?
Eu fui ao MIT,
OK, nós vamos descobrir o porquê. (Risos)
Aqui está um exemplo. Este é um aparelho suspenso de fototerapia
desenhado para hospitais americanos.
E aqui como é suposto que seja usado.
Fica sobre o bebê, iluminando um único paciente.
Leve para fora de um hospital dos EUA,
mande além mar para uma instalação lotada na Ásia,
assim é como é realmente usado.
A eficácia da fototerapia é função da intensidade da luz.
Desta forma, estes quadrados azuis escuros mostram onde a fototerapia é eficaz.
Aqui é como se parece com o uso atual.
Portanto, estas crianças nas bordas
não estão, na verdade, recebendo uma fototerapia efetiva.
Mas sem treinamento, sem um tipo de medição de luz,
como saberíamos?
Nós vimos outros exemplos de problemas como esses.
Aqui está uma unidade neonatal de cuidados intensivos
onde mães vêm visitar seus bebês.
E tenha em mente que a mãe talvez passou por um parto com cesárea,
de modo que já fica meio abatida.
Mamãe está visitando seu filho.
Ela vê seu bebê nu, deitado sob uma luz azul,
parecendo vulnerável.
Não é incomum que a mãe ponha um cobertor sobre o bebê.
Do ponto de vista de fototerapia, este não é o melhor comportamento.
Na verdade, isso parece um pouco idiota.
Exceto, que nós aprendemos
que não há tal coisa como um usuário idiota - realmente foi o que nós aprendemos.
Existem apenas produtos idiotas.
Temos que pensar como existencialistas.
Não é o quadro que teríamos pintado,
na verdade é o quadro que pintamos.
É o uso - projetado para realmente ser usado.
Como as pessoas vão usar isso?
Da mesma forma, quando pensamos em nosso parceiro MTTS,
eles desenvolveram uma tecnologia surpreendente para o tratamento de doenças em recém-nascidos.
Então aqui está um aquecedor e um CPAP.
Eles são baratos, muito robustos.
Eles trataram 50.000 crianças no Vietnã com essa tecnologia.
Mas há um problema:
Cada médico no mundo, cada administrador de hospital,
tem visto na televisão - malditas reprises da série "E.R." (Plantão Médico).
Todos eles sabem com o que um aparelho médico deveria se parecer.
Eles querem Buck Rogers, eles não querem eficiência.
Soa louco, soa idiota,
mas na verdade existem hospitais que preferem não ter equipamento
do que ter algo que pareça barato e ruim.
De novo, se quisermos que as pessoas confiem em um dispositivo
ele tem que transmitir confiança.
Pensando sobre os resultados,
acontece que as aparências importam sim.
Juntamos todas essas informações,
tentamos, desta vez, fazer dar certo.
E aqui está o que desenvolvemos.
Este é o Serviço de Fototerapia "Firefly",
que desta vez nós não paramos no carro-conceito.
Então desde o começo começamos falando com fabricantes.
Nossa meta é fazer do produto de última geração
que nossos parceiros do MTTS pudessem fabricar.
Nossa meta é estudar como eles funcionam, os recursos a que têm acesso,
de modo que eles possam fabricar este produto.
Então este é o design em questão para fabricação.
Quando pensamos sobre o uso real,
podemos notar que o Firefly tem um berço único.
Cabe apenas um único bebê.
E a ideia aqui é obviamente de que maneira devemos usar este serviço.
Se tentarmos colocar mais de uma criança nele,
ela ficará empilhada em cima da outra.
(Risos)
A ideia aqui, é o que dizemos, você quer fazer a coisa difícil de ser usada de forma errada.
Em outras palavras, você quer fazer do jeito certo para que
seja usado no modo mais simples.
Outro exemplo: de novo, uma mãe boba.
Uma mãe boba pensa que seu bebê parece com frio, quer colocar um cobertor sobre o bebê.
É por isso que temos luzes acima e abaixo do bebê no Firefly.
Então se a mãe coloca um cobertor sobre o bebê,
ele ainda está recebendo uma fototerapia eficaz.
Última história:
Tenho um amigo na Índia que me disse
que você não testou de verdade uma tecnologia eletrônica
para ser distribuído na Ásia,
até que você tenha treinado uma barata para escalar
e fazer xixi em todas as peças dentro.
(Risos)
Vocês acham engraçado.
Eu tinha um laptop no Peace Corps,
e a tela tinha estas manchas pixels mortas.
E um dia eu olhei para dentro e havia formigas mortas
que haviam entrado no meu laptop e morrido --
aquelas pobres formigas!
Com o Firefly o que fizemos foi isto --
O problema é o aparelho eletrônico ficar quente
e você ter que colocar aberturas ou ventiladores para o manter arejado --
na maioria dos produtos.
Decidimos que não podíamos colocar um aviso de "não entre" na abertura.
Na verdade nos livramos de todas essas coisas.
Por isso o Firefly é totalmente vedado.
Essas são aquelas lições --
muito pior do que ter sido um adolescente pateta,
é ser um designer frustrado.
Então eu estava pensando a respeito, o que eu quero realmente é mudar o mundo.
Tenho que prestar atenção a fabricação e a distribuição.
Tenho que prestar atenção a como as pessoas irão usar o dispositivo.
Eu realmente tenho que prestar atenção. De verdade, não há desculpas para o fracasso.
Tenho que pensar como um existencialista.
Tenho que aceitar que não existem usuários idiotas,
apenas produtos idiotas.
Temos que nos perguntar as questões difíceis.
Estamos projetando para o mundo que queremos?
Estamos projetando para o mundo que temos?
Estamos projetando design para o mundo que está chegando,
estando prontos ou não para isso?
Eu entrei nesse negócio projetando produtos.
Tenho aprendido desde o começo que se você realmente quer fazer diferença no mundo,
tem que usar o design para atingir resultados.
E esse é o design que importa.
Obrigado.
(Aplausos)