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Se você acabou de ler o capítulo anterior sobre dívida, pode estar se perguntando se nossas economias
ou nossos ativos são em quantidade suficiente para tornar estes níveis de dívida perfeitamente administráveis.
Neste capítulo vou lidar com ativos. Vou apresentar evidência
de que os Estados Unidos fracassaram em economizar em praticamente todos os níveis da sociedade
e vou afirmar que o governo dos Estados Unidos está insolvente. Uso este termo com precisão.
Considerando que falência é um processo legal que começa no momento em que seu fluxo de caixa não consegue cumprir
com as obrigações atuais, a insolvência acontece quando os seus passivos excedem seus ativos,
e é o primeiro passo na rota para a bancarrota.
O objetivo do Crash Course é lhe dar o contexto e os dados que precisa para avaliar
com exatidão a probabilidade e os riscos que nossa economia enfrentará nos próximos anos.
Minha posição é que os próximos vinte anos serão completamente diferentes dos últimos vinte anos.
Para apoiar esta afirmação vou apresentar-lhes informações em seis áreas chaves:
Dívida, Poupança, Ativos, Estatísticas Demográficas, Pico do Petróleo e Mudança Climática.
Qualquer uma delas pode ser desafiante ao nível econômico, mas a combinação de duas ou mais dessas áreas simultaneamente....
bem, deixarei que você avalie por si mesmo.
Este é um gráfico da taxa de poupança pessoal a partir de 1959.
A taxa de poupança pessoal é a diferença entre a renda e os gastos para todos os cidadãos americanos
expressa como porcentagem. Assim, um número como “10%” indica que para cada dólar ganho
10 centavos são economizados, não gastos.
Note que a média histórica de longo prazo para os cidadãos americanos entre 1959 e 1985 era de 9.2%.
Comparando, na Europa este número é cerca de 10% e na China, uma taxa surpreendente de 30% é economizada.
A poupança é importante para nós individualmente, porque forma a reserva de efetivo
que nos ajuda durante as dificuldades econômicas e, ao nível nacional,
porque é essencial para a formação do capital de investimento
(isto é, a propriedade, planos e equipamento que criam a verdadeira riqueza futura).
Você pode ter lido ou ouvido recentemente que a taxa de poupança pessoal desceu a níveis históricos bem baixos
associados com a Grande Depressão. Na realidade, essa taxa de poupança pessoal vem paulatinamente
decaindo desde 1985 até o presente, indicando que estas manchetes que acabamos de ver não são novidades no noticiário,
mas a culminação de uma erosão de 23 anos de poupança como um atributo cultural dos cidadãos norte-americanos.
Entretanto, não somos uma nação de médias, e este gráfico de certa forma esconde o fato
de que os extremamente ricos estão poupando quantidades incríveis de dinheiro, ao passo que nas camadas mais pobres
a taxa de poupança é extremamente negativa.
Por que isto é importante? Porque, como o filósofo grego Plutarco afirmou
“Um desequilíbrio entre o rico e o pobre é a mais antiga e a mais fatal enfermidade de todas as repúblicas”.”
Que mais podemos notar neste gráfico? Imediatamente, poupanças declinantes persistentes nos dizem
que a maioria dos cidadãos supõe implicitamente que o crédito estará disponível no futuro,
e que já substituímos em grande parte uma mentalidade de “economize e gaste” por uma mentalidade de “compre agora”.
Ao olharmos para este gráfico, talvez notemos que a taxa de poupança começou o seu declínio por volta de 1985.
Hummm…. Um minuto… não acabamos de ver este mesmo período na última seção sobre a dívida?
Vimos sim, com certeza vimos. Embora este gráfico mostre TODAS as dívidas em todos os setores,
e o gráfico anterior seja de poupança pessoal apenas, podemos notar que a nossa tolerância nacional
para com dívidas aumentou drasticamente ao princípio de 1985, assim que a nossa abordagem
em relação à poupança começava seu longo declínio em direção a zero. 00:03:52.600,00:03:58.500 Para acreditar que o futuro será melhor, mais brilhante e reluzente do que o presente,
você tem que acreditar que pouca poupança e dívidas altas são um caminho para a prosperidade.
Sou cético sobre isto, porque não faz sentido, pois violenta várias leis da natureza.
Outra categoria de poupança existe nos fundos de aposentadoria e nos de pensões.
Ao nível estadual e municipal, podemos observar que eles, também, não conseguiram economizar
e que os fundos de pensões têm um déficit de S$1 trilhão.
O que isto significa é que, à medida que o dinheiro era conseguido por meio de impostos, as municipalidades e os estados
escolheram gastar o dinheiro em outra parte, ao invés de o colocarem nos fundos de pensões.
Podemos adivinhar que a idéia então era gastar hoje e deixar que alguém mais tarde calculasse
como pagar no futuro. Para muitos estados o futuro chegou.
O que significa quando dizemos que os fundos de pensões estaduais e municipais têm uma insuficiência de recursos
da ordem de US$ 1 trilhão? Como se calcula isto? A insuficiência de um trilhão de dólares
é o que se chama um Valor Líquido Presente (VLP).
Um cálculo do Valor Líquido Presente soma todas as receitas (neste exemplo hipotético,
$1.000,00 por ano durante seis anos) e compensa, ou SUBTRAI, estas entradas de todas as futuras.
retiradas. Uma vez que um dólar hoje vale mais do que um dólar no futuro,
os fluxos de caixa futuros têm que ser descontados e trazidos de volta até o PRESENTE.
SUBTRAÍMOS todas as entradas e custos, as descontamos até o PRESENTE para determinar
se o que estamos medindo tem um VALOR positivo ou negativo. VALOR. LÍQUIDO. PRESENTE. VALOR.
Esta é a metodologia usada para calcular o status dos fundos de pensão estaduais e municipais.
O crescimento do valor dos ativos dos fundos de pensões, mais impostos futuros, são subtraídos dos pagamentos
aos pensionistas e trazidos de volta até o presente, para indicar que
para os fundos de pensão terem simplesmente um valor igual a zero, US$1 trilhão
teria de ser colocado nestes fundos hoje.
Uma compreensão importante sobre os cálculos do VLP é que o futuro já foi considerado amplamente,
de modo que esperar e desejar que um futuro diferente apareça quase nunca funciona.
Se tivermos que colocar US$1 trilhão nos fundos hoje, mas não o fazemos, no próximo ano o total será maior.
A única maneira dele ser menor é se menos pessoas estiverem recebendo os pagamentos ou se os ativos do fundo
crescerem além da taxa de crescimento suposta para o cálculo do VLP.
Continuando, as corporações nos últimos anos obtiveram os maiores níveis de lucratividade
em décadas, mas elas também optaram por não colocar suficiente dinheiro em seus fundos de pensão
no total de US$1.5 trilhão de dólares de Valor Líquido Presente, preferindo outros usos para aquele dinheiro.
Porque os fundos de pensão investem tipicamente 60% em títulos de dívidas e 40% em ações,
qualquer recessão ou declínio na Bolsa de Valores aumentará aquela insuficiência.
Em parte, a insuficiência dos fundos de pensão é uma função direta das taxas de juros extremamente baixas
atualmente disponíveis – obrigado, Greesnpan e Bernanke! – e também porque o principal índice de mercado de ações
se encontra quase ao mesmo nível de nove anos atrás. E isto é somente se NÃO ajustamos os resultados da inflação.
Se o fizéssemos, teríamos que recuar um pouco mais.
Uma vez que a maioria dos fundos de pensão supõe um retorno de oito a dez por cento por ano
e uma vez que o mercado de ações teve um ganho igual a zero em nove anos, as insuficiências são compreensíveis.
Mas ao chegarmos ao governo federal, é quando os números se tornam realmente alarmantes.
David Walker, o chefe da Controladoria da Moeda dos Estados Unidos recentemente aposentado e meu herói pessoal,
disse do governo americano:
1. Sua posição financeira é pior do que a anunciada.
2. Seu modelo de negócios está quebrado
3. Confronta “déficits no seu orçamento, na sua balança de pagamentos, na sua poupança – e na sua liderança”.
Na minha avaliação, ele está correto. E aqui estão alguns dados para confirmar isto.
Esta é uma tabela retirada do relatório anual do governo dos Estados Unidos que se encontra no site do Departamento do Tesouro.
Estaremos vendo de novo números do VLP. O primeiro indica
uma insuficiência de quase $9 trilhões, representando a posição líquida total do governo dos Estados Unidos,
sem incluir a Previdência Social e Medicare.
Mais uma vez, isto significa que TODAS as entradas de dinheiro do governo dos Estados Unidos MAIS o valor de
todos os ativos governamentais foram subtraídos de desembolsos conhecidos para determinar que, hoje,
o governo dos Estados Unidos, de algum modo, deveria obter $8.9 trilhões para equilibrar seus passivos e ativos.
Esta quantia, porém, não é nem mesmo um quinto de tudo. Uma vez que somemos a Previdência Social e Medicare, a insuficiência de fundos
incha para $53 trilhões pelos cálculos do próprio Departamento do Tesouro.
Um momento! Isto é mais do que quatro vezes o PIB! Isto significa que o governo dos Estados Unidos está insolvente.
Paremos! Por que isto não é o tópico número 1 na campanha presidencial?
Um país tão endividado tem alguns problemas reais futuros e está potencialmente a caminho da bancarrota.
Caso você esteja abrigando a noção de que há algum dinheiro escondido numa conta especial do governo dos Estados Unidos,
como um cofre, este quadro apresenta George Bush parado ao lado do fundo fiduciário total da Previdência Social.
Aí está ... todo o fundo fiduciário se encontra em uma pasta com tiras de papel dizendo que
o governo dos Estados Unidos gastou todo o dinheiro e o substituiu com títulos especiais do Tesouro.
Espere… os títulos do Tesouro não são obrigações do governo dos Estados Unidos?
Como pode o governo dever a si mesmo? Não pode.
Toda a receita governamental ou deriva dos contribuintes ou de pedidos de empréstimos,
de modo que, quando a época de pagar todos estes títulos especiais chegar, aquele dinheiro virá
ou dos contribuintes ou de mais empréstimos. Se fosse possível dever dinheiro a si mesmo e, além disso
pagar juros, então todos poderíamos nos tornar fabulosamente ricos passando cheques para nós mesmos.
Mas, naturalmente, esta é uma noção louca e facilmente descartável.
De qualquer modo, dependendo de que agência do governo e seus dados você utilizar,
a falta de recursos federais se encontra entre $53 trilhões e $85 trilhões.
Esta cifra é tão alta que espanta a todos.
E, para provar que você não pode sair desta falta de recursos do VLP,
esta cifra cresceu mais de $40 trilhões nos últimos 10 anos,
aumentando durante épocas econômicas boas e más.
E finalmente, a poupança se relaciona com os investimentos e, de acordo com a Sociedade Americana
de Engenheiros Civis, também falhamos nisso. Em 2005, ela avaliou a condição
de 12 categorias de infra-estrutura, inclusive pontes, rodovias, sistemas de água potável
e estações de tratamento de águas. A sociedade deu uma nota “D” (numa escala de A a F) aos Estados Unidos e calculou que
$1.6 trilhão seria necessário nos próximos cinco anos para nos trazer de volta aos padrões do primeiro mundo.
Como isto aconteceu em 2005, e a inflação para produtos feitos de metal e asfalto
aumentou enormemente desde então, vamos arredondar isto para $2 trilhões.
E, juntando tudo, vemos que uma incapacidade pessoal de economizar se reflete
na incapacidade estadual e local para poupar, o que se espelha numa incapacidade corporativa para economizar,
todas apequenadas pelo fracasso da poupança ao nível do governo federal.
E, acima de tudo, uma profunda incapacidade para investir. Todos estes déficits se encontram à nossa frente
e me levam a concluir que os próximos vinte anos serão completamente diferentes dos últimos vinte anos.
Este é o nosso legado – o mundo econômico e físico que estamos escolhendo para deixar para os nossos descendentes.
Como é que chegamos aqui? Como isto aconteceu?
Em seguida passamos aos ativos e veremos como se comparam com as nossas dívidas
e nossa incapacidade nacional para economizar.