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CRACÓVIA, SETEMBRO DE 1939
KAROL O HOMEM QUE SE TORNOU PAPA [Legenda por Dominus.sls]
Karol, troque de lugar com Krystyna.
Destruíram a força aérea. 500 aviões pulverizados antes de decolar.
Ouvi pela rádio antes do bombardeio.
Vou Ievar WisIawa para Wadowice e me aIistar no exército.
WisIawa, você é judia.
Os judeus devem sair da PoIônia.
Wadowice é uma cidade pequena. Aqui não há perigo para os judeus.
Tomasz, pode cuidar do meu pai? Também quero servir ao exército.
Claro. Ele pode ficar comigo na reitoria.
Você sempre disse que nunca seria um soIdado.
Nunca imaginei uma situação como esta.
O que você vai fazer, Wiktor?
Todos os estudantes de medicina foram expulsos do hospital.
O que acha que vai acontecer?
Se o mundo for dominado por homens cruéis...
não teremos mais vóz ou lágrimas para derramar.
Mas não podemos perder a esperança.
- KaroI! - jerzy!
Vou voItar para Wadowice assim que encontrar um trem.
Buscarei meu pai e nôs nos alistaremos no exército.
- Professor! Professor Wojcik! - Vou para a universidade.
- O chanceIer mandou trancá-Ia. - Temos Iivros vaIiosos.
Vou Ievá-Ios para o porão, caso sejamos bombardeados.
- Eu vou com você. - Vamos todos.
O que acontecerá à sua irmã, mãe e avô se você for embora?
Os nazistas não vão importunar as muIheres.
Vocês são judeus. Os judeus estão em perigo.
Somos poIoneses. ExpuIsaremos os nazistas do nosso país.
O que houve?
- O que houve? - Estou com medo.
Por favor, vá se esconder em Wadowice.
E tome cuidado.
Estou com muito medo.
Escute. Deve vir comigo para a reitoria.
FinaImente, KaroI. Está atrasado.
Tomasz, graças a Deus você chegou. Eu...
- O que é isso? - O que parece?
É a minha antiga farda. Vou me aIistar.
Não.
Não, pai. É minha vez de Iutar. Não a sua.
Você vai ficar a saIvo com Tomasz na reitoria.
Faça o que KaroI está dizendo, Sr. Wojtyta.
Quero que sua mãe se orguIhe de mim.
Minha mãe pediria para impedi-Io.
Por favor... Não pode convencê-Io?
- Você o conhece. - Por favor.
Sr. Wojtyta, escute. Você é veIho demais para isso.
Não. Mas seu corpo não é tão forte quando seu coração e espírito.
- Estou pronto. - O que devo fazer?
Proteja-o e tome cuidado.
Você está bem?
- Vou carregá-Io. QuaI é seu nome? - jozef.
- Levante, jozef! - jozef!
- Pensei que tinha se perdido. - Torci o tornozeIo.
- Não precisa carregá-Io. - Deixe. KaroI é forte.
Minha cunhada mora perto de MieIec. Vamos para Iá.
Vou recoIher o rebanho. Minha avô tem um piano, mas está desafinado.
jozef estava aprendendo piano com o padre em Saint BarthoIomew.
Estou honrado de carregar um Chopin nos meus ombros.
WADOWICE
Com Iicença?
Hania.
- E KaroI? - EIe foi se aIistar com o pai.
- jerzy! Vou embora. - Nôs também. Nôs vamos para...
- Fico feIiz que tenha vindo. - Eu também.
Vamos por MysIenice.
WisIawa me beijou.
KaroI, pode me dar um pouco d'água, por favor?
Você está com febre? Pai, você está queimando.
O que está dizendo? Nunca tive febre na vida.
jusek! AqueIe é jusek.
jusek!
Com Iicença... jusek, espere!
- KaroI! - jusek!
- Que surpresa! - jusek!
- Vamos nos aIistar em Reszow. - Nôs também.
- Há Iugar para meu pai? - Gostaria de poder ajudar.
Você viu a Hania?
CIaro. EIa chegou sã e saIva em Wadowice.
EIa faIa de você o tempo todo.
KaroI, essa tempestade também vai passar.
Aqui. Guarde isso.
- Para dar sorte. Eu o vejo no front. - Sim.
Deus os abençoe!
''Cego peIa fumaça, eu o vejo carregado...
como um caixão sobre as coIunas...
seu piano caindo, caindo.''
- O que eIe disse? - OIá, jozef.
- Como vai seu tornozeIo? - Bem.
Eu estava citando nosso grande poeta, Norwid.
Durante a revoIta, os soIdados russos matavam e destruíam tudo.
jogaram o piano de Chopin em uma fogueira, peIa janeIa.
Mas aIguns homens o saIvaram do fogo.
Eu teria dado minha vida para saIvar o piano de Chopin.
Eu sei. É por isso que o poeta diz que nosso país nunca será destruído.
Nunca.
Pai!
- Esse é o aItar da sua nação? - Sim.
Onde vocês ceIebram a vitôria...
do exército poIonês sobre os cavaIeiros teutônicos?
- E poIoneses oram por Iiberdade? - Sim.
Esta obra de arte foi criada por um aIemão.
Peter van der Rennen, de Danzig.
E estes anjos foram criados por mestres em Augsburg.
Estamos em soIo aIemão, padre.
Este é o governador do Reich, Hans Frank.
EIe deu ordens para que a catedraI fosse fechada. Sinto muito.
Você sente muito?
Vamos evacuar o IocaI.
Aonde você vai?
- A igreja pertence ao povo. - Há muita igrejas em Cracôvia.
Esta é a catedraI.
A catedraI faz parte do casteIo WaweI. Agora é minha residência.
Não pertence mais aos poIoneses.
Agora, esta é minha igreja.
Você se considera cristão.
Sabe que este Iugar é para a aIma, não para suas botas.
Macke!
Este padre poIonês está me aborrecendo.
Por favor, saia agora.
OIá.
Você tem remédio? Meu pai está com febre.
Não. Não tenho nada.
- Conheço aIguém que tem. - Sério?
Sim.
Aqui está.
jozef, muito obrigado. Obrigado.
Sou muito grato a você.
- Está frio hoje, não é mesmo? - Onde está seu casaco?
Eu o dei ao meu irmão. EIe estava moIhado.
- Aqui. - Obrigado.
- EIe parece com Edmund. - Quem é Edmund?
- Meu irmão mais veIho. - EIe está morto?
EIe era médico. Morreu de uma doença que pegou no hospitaI.
- Sente faIta deIe? - Sim.
- Muita faIta. Eu o amava muito. - Serei médico aIgum dia.
- Pensei que queria tocar piano. - Farei as duas coisas.
E a sua mãe? Também morreu?
Quando eu tinha a sua idade.
Mas ainda converso com eIa.
Quando fecho meus oIhos, sinto as mãos deIa no meu cabeIo.
jozef!
DevoIva o casaco ao cavaIheiro.
- Posso usar mais um pouco? - PeIo tempo que quiser.
- Até eu crescer? - Sim, até você crescer.
Também vou Ihe dar aIgo.
É sobre o quê?
Há uma histôria que gosto muito. Sobre a cobra e reIojoeiro.
- Pode Ier para mim? - Sim. É cIaro.
''Um dia, uma cobra faminta foi à Ioja do reIojoeiro.
Não encontrou nada para comer...''
jozef!
Karol, não sei onde voçê está.
Não sei se voçê se alistou ou está na parte livre da Polônia.
Ou mesmo se está vivo.
Wadowiçe, nossa querida Wadowiçe, não existe mais.
Está transfigurada.
Muitas pessoas foram presas.
Tomasz estava çerto. Os judeus estão em perigo.
Pareçe que vão trançá-los em guetos.
A Gestapo oçupou a çasa dos Kluger e expulsou as mulheres.
Eu ajudei a esçondê-las.
Hania! Sei aonde você vai.
Quero ver Tesia. Leve-me com você.
Vamos.
- Hania! - Tenho uma surpresa para você.
Tadek!
Não deveria ter vindo aqui. Sabe o que os poIoneses fariam...
Não posso viver sem você.
Tesia, veja!
É hauka!
Você é uma pessoa boa.
Vovô!
Cheire.
Tesia me deu um presente.
Vou mostrá-Io.
Sra. RozaIia, quero tirar Tesia daqui.
Posso escondê-Ia na casa dos meus pais.
Você precisa ir com eIe.
Eu te amo, mas não vou deixar minha mãe e avô.
- Tesia, por favor. - Não.
Sairemos daqui juntas quando tudo isso passar.
Se não fosse por nossos amigos desafortunados...
eu iria ençontrá-lo onde quer que estivesse.
- Aí está. Você conseguiu. - Sim.
Veja. Estamos quase Iá.
Nossas divisões estão do outro Iado do rio.
É de Iá que virá nossa Iiberdade.
Fiquem onde estão! VoItem! VoItem!
Os russos invadiram a fronteira.
HitIer e StaIin fizeram um pacto.
O exército vermeIho nos traiu.
EIes não fazem prisioneiros.
VoItem! VoItem!
Pai, venha.
- Venha, pai. - Deixe-me aqui.
Pai, precisamos partir.
Vamos para Cracôvia. Vamos Iogo.
já disse para me deixar aqui.
- Chega. - Pare, pai.
SaIve-se. Logo!
Saia daqui!
Pai! Pare!
Deixe que eIes me matem.
- Pai. - Isso é tudo...
- Pai, pare... - Isso é tudo...
Pare!
ControIe-se, pai.
Mamãe não gostaria de vê-Io assim.
Vamos.
Você voItou! O que houve?
Sra. AntoI, pode me ajudar?
Vou buscar o Dr. Zweig.
Sr. Wojtyla?
- Você viu Wiktor MiIosz? - Não.
- O que está havendo? - Wojcik quer uma reunião.
Krystyna!
- A universidade foi reaberta. - O que houve?
Estou procurando Wiktor. O Dr. Zweig não estava.
Os nazistas o Ievaram. Traidores poIoneses estão na casa deIe.
- Certo. - Wiktor está no hospitaI. Venha.
- Está bem. - KaroI.
Estão organizando um exército cIandestino. Vamos nos aIistar.
Tome cuidado. Há espiões entre nôs.
Espiões? Ninguém faria isso.
Este é o berço da nossa histôria, nossas raízes, nossa Iíngua.
- Ninguém trai a prôpria mãe. - Quem está traindo a mãe?
Professor... Eu faIava da Iíngua pátria.
Pagamos peIa Iiberdade com nosso ser.
É por isso que a Iiberdade...
exige que nos controIemos todo o tempo.
Você escreveu isso. Não foi, KaroI?
Sim. Estou envergonhado, mas honrado que tenha se Iembrado.
Wojtyta tem razão.
Pagaremos por nossa Iiberdade com Iágrimas e sangue.
O governador do Reich, Hans Frank, mudou-se para WaweI...
a antiga residência de Piast, o jagieIIon.
Este inteIectuaI nazista decIarou...
que a PoIônia tem um rei e os poIoneses são seus escravos.
Sem direitos, apenas o dever de obedecer.
Precisamos resistir de quaIquer forma.
Conversem entre si. ResoIvam de acordo com sua consciência.
Precisamos Iutar.
Vida Ionga à Iiberdade!
Vida Ionga à PoIônia!
Vida Ionga à PoIônia!
Vida Ionga à PoIônia!
Três outras injeções, Sr. Wojtyta, e poderá jogar futeboI de novo.
Eu nunca joguei futeboI.
Não acredito. Perdeu um dos grandes prazeres da vida.
Quando meIhorar, pode descobrir isso.
Isso mesmo, Sra. AntoI.
É quase impossíveI encontrar suIfato de quinino...
mas para Wiktor MiIosz nada é impossíveI.
EIe deve tomar três comprimidos ao dia até a febre diminuir.
VoItarei amanhã.
- Quanto Ihe devo? - Está tudo bem.
Cobrarei uma fortuna quando for famoso.
Cuide-se, Sr. Wojtyta.
Adeus.
Hania, estou ansioso por notíçias suas e de Wadowiçe.
Leio e esçrevo o dia todo.
Meu pai está melhor, mas temos pouço dinheiro.
Raramente vejo Tomasz. Ele ajuda os desafortunados.
Craçóvia çhora çom as lágrimas dos órfãos e viúvas.
É uma çidade silençiosa e sofredora.
Tenho muito medo.
Quando podemos, assistimos ãs aulas do professor Wojçik...
e proçuramos desçobrir o que está açonteçendo na Europa.
O governador alemão, Hans Frank...
çonvoçou todos os professores para disçutir o programa.
A universidade está feçhada, mas Wiktor e eu entramos.
Não. Espere.
Vamos por aqui.
Gostaria de ter mais tempo...
muito mais tempo...
toda a eternidade...
para conversar com vocês.
Vocês são a eIite inteIectuaI de Cracôvia.
Gostaria de discutir PIatão com vocês.
E de conversar sobre Roma.
Eu estudei em Roma.
Gostaria de Ier Nietzsche e Goethe.
Mas não tenho tempo.
Eu não tenho tempo.
Sabe quaI é meu sonho?
Tornar WaweI uma iIha de civiIização...
no coração da barbárie esIava.
Mas vocês, poIoneses...
especiaImente os inteIectuais...
são conspiradores natos.
Não.
A PoIônia continuará siIenciosa.
Como um cadáver.
Decidi fechar todas as escoIas e universidades...
jornais e associações artísticas.
E vou destruir as bibIiotecas poIonesas.
Para que precisam de escoIas, universidades e bibIiotecas?
Vocês não têm um país. Não têm cuItura.
As crianças com aparência nôrdica...
serão Ievadas e criadas como aIemãs.
Os restantes trabaIharão duro e comerão pouco.
E um dia, morrerão.
E a PoIônia morrerá com eIes.
A PoIônia nunca morrerá!
A PoIônia continuará!
Se tentarem escapar, estarão me fazendo um favor.
Serão mortos na hora.
- Vamos sair daqui. - Não.
Quantos vocês são?
1 87. Ótimo.
Vocês não serão aIgemados...
mas vão caminhar até os caminhões...
e entrarão neIes em siIêncio.
Está com as mãos cerradas, Sr. Frank.
TaIvez ache que tem nossas vidas em suas mãos.
OIhe bem. Suas mãos estão vazias.
Você vem aqui faIar conosco.
Ainda não percebeu que não tem mais vida.
Quando perceber, será tarde demais.
Então, você vai se Iembrar das paIavras de Wojcik...
professor de fiIoIogia poIonesa.
Matem-no.
Wojçik nos ensinou que a fraqueza é a reçusa de açeitar a derrota.
Os professores que sobreviveram estão morrendo em Saçhsenhausen.
Estamos çerçados por louçura e sofrimento.
Hania, voçê não imagina o inferno que é o gueto de Craçóvia.
Morrem de fome...
tubercuIose, disenteria...
Morrem de doença, cometem suicídio ou são assassinados.
Por aqui.
Sabe o que é a ''caça aos ratos''? É uma expressão nazista.
Há buracos no muro do gueto...
peIos quais crianças franzinas passam. Ratinhos.
EIas vêm procurar comida no Iixo...
e os nazistas atiram neIas por divertimento.
Você vai ver. Um ratinho vai sair agora.
Está bem. Agora.
- Como vai, Simon? - Estou com fome.
Eu sô tenho remédio. Trarei batatas amanhã.
AqueIe é EIi Singer, o carpinteiro. E o irmão deIe, Chaim.
EIes não vão precisar mais de roupas.
O que houve? Aonde você vai?
Está tudo bem. Não se preocupe.
Para onde eIe vai Ievá-Io?
Reze à Nossa Senhora por mim.
Por aqui.
- Você é... - Sou o padre Tomasz ZaIeski.
Vejo que mesmo beIos rapazes viram padres na PoIônia.
É o padre da catedraI. Sinto muito por estar atrasado.
Você ouviu a confissão de meus oficiais.
Também gostaria de me confessar.
Meus hôspedes querem comer o cervo que matamos em RadziwiIIow.
Com uma baIa entre os oIhos.
Por favor, poupe-nos dos detaIhes. Vai estragar meu apetite.
Pode ouvir minha confissão depois do aImoço.
- QuaI é o seu nome? - Tomasz ZaIeski.
ZaIeski.
ZaIeski virá aImoçar conosco.
Poderá ver o pecado da guIa com seus prôprios oIhos.
Não, obrigado.
Esperarei Iá fora.
Não posso deixar um padre esperando enquanto como.
Por favor.
Pode nos fazer a gentiIeza?
Diga-me, ZaIeski.
Ouve muito ôdio dos poIoneses durante as confissões?
- Ouço muito sofrimento poIonês. - Quer saber a verdade, padre?
Onde não há cuItura, não pode haver sofrimento.
Apenas instintos.
Os poIoneses nos amarão eventuaImente.
- Agora, estão adormecidos. - Eu te amo e você está adormecido.
Dizem que as poIonesas não tomam banho.
Não é cuIpa deIas. EIas não têm sabão.
Não terão essa descuIpa por muito mais tempo.
Descobrimos uma maneira de fazer sabão que não custa nada.
Sabão exceIente, de espuma macia.
já encomendei uma grande quantidade para as poIonesas.
É sabão de excremento.
Não está rindo?
- Não posso ficar aqui. - Sente-se!
Vamos. Sente-se.
Você vai aborrecê-Io.
Vamos.
Ordenei que as famíIias do gueto paguem peIos funerais dos parentes.
Aposto que a mortaIidade vai diminuir de um dia para outro.
Exatamente. já diminuiu.
Os judeus são doentes.
Doentes com tendência a viver na Iama.
A Iama é o ambiente naturaI deIes. É uma raça decadente.
Um bando de degenerados...
incapazes de criar os fiIhos como fazemos na AIemanha.
Porcos.
Crianças judias não são crianças.
O que você disse?
As crianças aIemãs são Iimpas.
As crianças judias são sujas.
As crianças aIemãs têm dentes.
As crianças judias não têm dentes.
As crianças aIemãs dormem em coIchões.
As crianças judias dormem junto a cadáveres.
As crianças aIemãs brincam.
As crianças judias nos guetos não sabem brincar.
São crianças degeneradas.
O único divertimento deIas...
é ver os pais, irmãos e irmãs serem mortos.
O único divertimento é ver as mães serem mortas.
As crianças aIemãs sorriem.
Crianças judias não sorriem.
Crianças aIemãs andam. Crianças judias não andam.
Não poderia forçá-Ias a sorrir ou a andar direito...
mesmo que desse uma surra neIas!
Nunca.
Não sabia que crianças judias não têm pernas?
Crianças judias têm asas!
Você pode atirar em mim.
Padre poIonês, como eIas fazem?
EIas têm asas?
- O que está escrevendo? - Uma peça.
- Sobre o quê? - Tristeza.
Estou partindo para proçurá-lo.
Se puder, ençontre-me na estrada de Czestoçhowa.
Preçiso lhe çontar algo terrível.
Não tenho mais lágrimas ou çoração.
Lembra da sinagoga em Wadowiçe?
Nós a víamos do esçonderijo dos Kluger.
Tesia!
O que foi isso?
Não foi nada, vovô.
Detonaram uma bomba.
Saia daqui antes que o encontrem, querido.
Saia daqui.
Estão começando a Ievar os idosos e doentes.
Para quê?
Para onde eIes são Ievados? Cuidam bem deIes?
Não sei.
Não estava preparada para isso.
Por que ninguém protesta no resto do mundo?
Quem fica caIado enquanto outras pessoas são assassinadas...
é tão cuIpado quanto os assassinos.
- jusek está morto? - Não.
EIe prometeu me escrever.
TaIvez tenha escrito, mas não recebi nada.
Pode me dar um beijo?
Os olhos fixos de Wislawa me amedrontaram.
Os lindos olhos dela pareçiam vazios.
Tinham virado çinzas.
Quando çomeçaram as deportações para Ausçhwitz e Belzeç...
a Gestapo ençontrou os Kluger.
Fui lá çom Tadek no mesmo dia.
Não toquem neIa!
Quando apenas imaginamos o mal, podemos suportá-lo...
mas quando o vemos na nossa frente, não há saída.
Toque aIguma coisa! Toque!
Por quê?
Por que esses horrores se repetem...
e parecem piorar cada vez mais?
E se isso deixar nossos oIhos, corações e mentes...
incapazes de sentir piedade e respeito?
Quem são os seres humanos...
que têm mães, irmãs e fiIhos?
Que têm maridos e esposas que se abraçam à noite?
Essas criaturas são a imagem de Deus, KaroI?
Onde está Deus?
Você, Mary, é a rainha da PoIônia...
e Deus fez de Czestochowa seu trono.
Defenda-nos, seja nosso escudo...
faça-nos forte para expuIsarmos o inimigo.
Venha nos saIvar.
Traga-nos a paz.
Por que não tenho respostas?
Por que um homem forçaria outro a viver em tanta dor?
Sem esperança?
Como podemos responder?
Quantos monstros existem na Terra, Tomasz?
Por que os inocentes devem sofrer?
Quantos inocentes nascerão apenas para serem exterminados?
Eu oIhei nos oIhos dos nazistas.
A crueIdade que vi neIes era tão radicaI...
tão incompreensíveI, obscena.
Eu queria matá-Ios.
E eu sou um padre.
Eu me sinto cuIpado por isso.
Não quero odiar como eIes odeiam.
Amor.
Amor.
Sô o amor pode evitar que os homens caiam no abismo.
Onde você esteve?
Fiquei na fiIa para conseguir pão.
Mas não havia mais nada.
Toda vez que você sai, tenho medo que não voIte.
Preciso sair, pai.
Precisamos comer. Precisamos viver.
- Quem é? - Tomasz.
O que está fazendo aqui depois do toque de recoIher?
Como está se sentindo, Sr. Wojtyta?
Estou quase bom novamente.
KaroI, consegui um emprego para você na pedreira.
Aqui. Sem isso, você seria deportado.
Obrigado.
São mais Iicenças de trabaIho?
Licenças de trabaIho e certificados de batismo para os judeus.
Traga um pouco da vodca do Wiktor.
Um estudante de medicina me trouxe quando acabou o quinino.
Disse que faria o mesmo efeito.
Obrigado, mas não posso. Preciso ir.
Não, não.
Você é forte.
- Em que pedreira você trabaIhava? - Sou estudante.
Estudante? Não gosto de estudantes.
Um bando de metidos que não entendem nada da vida.
Está bem. Então, sou operário.
- Está atrasado. - Sinto muito.
Estávamos pensando em nos juntar a um grupo armado. Todos nôs.
Eu não. Vocês Iutam com armas, eu Iuto com paIavras.
Nosso teatro precisa continuar.
Onde? Em que paIco? Para quaI audiência?
Faremos teatro cIandestino. Em casas e porões.
Precisamos manter a paIavra viva.
A PoIônia está cercada de terror e insanidade e você quer fazer teatro?
Você deveria ter vergonha.
- Temos de pegar nas armas. - Sim!
A paIavra é mais poderosa que a munição.
- Não com uma arma na sua cabeça. - E você, KaroI?
- Nôs vamos agora. - Resistência armada!
Esperem.
Entendo e respeito aqueIes que recorrem às armas.
Os nazistas exterminam pessoas e querem exterminar nossa cuItura.
Querem acabar com a Iíngua poIonesa.
Mas sô teremos um futuro se saIvarmos nosso passado.
Todos têm o direito de escoIher as armas.
Mas KotIarczyk também está certo.
Devemos manter nossa cuItura viva.
Vamos fazer teatro cIandestino.
Lembrem-se que...
o teatro é a consciência da vida.
Vocês terão um teatro e nôs teremos nossas armas.
Está certo.
Estamos na mesma Iuta...
e temos a mesma esperança contra o maI.
- Está bem. - Vamos.
Vamos.
Sinto muito.
Com Iicença. Sei que é tarde.
Sou KaroI Wojtyta. Quero faIar com a Srta. Tuszynska.
Minhas hôspedes não podem receber homens nos aposentos.
É urgente e muito importante. Não vou demorar.
Tuszynska!
Este senhor tem aIgo urgente e importante para Ihe dizer.
- Você o conhece? - Sim, Sra. BiaIek.
- Está bem. Deixe a porta aberta. - Obrigado.
Sei que você é corajosa...
e sei que está magoada e quer vingança...
Não.
O que eu desejo é justiça, não vingança.
Sim, tem razão. justiça.
Mas eu a conheço bem.
Não importa o quanto você seja corajosa...
ou o quanto pense ser forte...
você é a mesma garotinha...
que ficava confusa e deprimida com mentiras e vioIência.
Não sou mais aqueIa garotinha.
Seu coração não mudou.
Não será fáciI para você matar.
Não somos covardes. Você sabe disso. É o oposto.
A verdade é que preferimos morrer a matar.
Não quero que você morra.
já disse o que veio dizer?
Não.
Sim, eIe disse.
EIa diz que sim.
Por favor.
Devagar, devagar.
Ótimo. Pare.
Ei. Seu Iivro.
Livros!
É hora de sangue e rifIes.
Sempre é hora de Iivros.
Estamos esperando Hania. Eu sabia.
Sabia que eIa não viria. Magda ficará em seu Iugar.
- Vamos esperar mais 1 0 minutos. - Por quê? Não sou boa atriz?
Não foi o que quis dizer. É sô que...
Aqui está eIa.
A música ficou mais aIta e rápida.
De repente, uma nota faIsa foi ouvida.
Como o ruído de cobras ou de vidro partido...
que congeIou nossos corações com terror antecipado.
A música ficou mais aIta e podíamos ouvir...
Wojtyta é meu meIhor amigo.
O que você faz?
- Sou pianista. - Eu quebro pedras.
Logo eIes Ievantaram as mãos novamente...
e as trombetas do paraíso apressaram a marcha triunfaI.
A PoIônia não morreu.
É um noivado.
Os danados ficaram noivos.
Sou o padrinho. Nowak.
Eu fui apaixonado por eIa. Mas eIa o escoIheu.
Então, isso quer dizer... Gostaria de dar os parabéns.
E desejar boa sorte.
RESISTÊNCIA
RESISTÊNCIA
Em outra vida...
Krystyna.
Pegaram Wiktor e Krystyna.
Foram mortos imediatamente.
Quero que se Iivrem de quaIquer compaixão que ainda sintam.
Precisamos exterminar os judeus onde quer que estejam.
Matar os poIoneses que os ajudam. Começando com os padres.
Hóss extermina 1 0.000 por dia em Auschwitz. ExceIente resuItado.
- Por que me oIha assim? - Assim como?
Como se não estivesse ouvindo!
Estava ouvindo com muito cuidado, governador.
Ótimo.
Muito bem.
Aonde você pensa que vai?
Quer Ievar um tiro na rua?
- Quem é você? - jan Tyranowski.
E você?
Você vai queimar os dedos.
Um se apaga, outro se acende.
Se quiser conversar...
posso continuar com isso enquanto quiser.
Você...
Ainda não me disse seu nome.
KaroI.
Preciso ir. Estou procurando um amigo.
- EIe é padre. Quero uma missa. - Uma missa peIos mortos?
Venceremos com amor, não com armas.
Como pode dizer isso com nazistas do Iado de fora?
Os nazistas irão desaparecer porque o maI se consome.
Mas...
Mas se o amor não vencer...
os nazistas voItarão com outro nome.
- É isso que quis dizer? - Exatamente.
São joão da Cruz. Para você. Uma surpresa.
Será seu Iivro de cabeceira.
Obrigado.
Vai absoIver um nazista?
A histôria faz com que pessoas boas enfrentem escoIhas horríveis.
EIes são mortos-vivos porque precisaram matar suas aImas.
Estou aqui por eIes, mais do que por vocês.
EIes mataram Wiktor e Krystyna.
Eu sei.
Vocês não devem ir aos funerais.
Os nazistas estarão esperando para prendê-Ios.
Eu ceIebrarei uma missa secreta.
Tomasz...
Mas onde fica essa Iinha divisôria?
QuaI Iinha separa aqueIes que pagam pouco e os que pagam em excesso?
De que Iado devo ficar?
Não sei.
Você está do Iado daqueIes que têm esperança.
O teatro... O sonho da minha vida acabou.
O que quer dizer?
Não vejo mais nada por causa da dor.
Tudo está tão... sombrio. Tão sombrio.
O mundo está cego e surdo.
Defender nossa cuItura não basta.
Também há armas, mas não conseguiria matar aIguém.
Eu o avisei...
para nunca perder a esperança.
Nunca esquecer o significado da vida e do amor...
apesar de tudo o que a crueIdade dos homens possa fazer.
Para çhegar aonde voçê não está...
deve passar por onde não está.
Para possuir tudo o que quer, deseje não possuir nada.
Para alçançar o lugar onde será çompleto, deseje ser nada.
Que tenham descanso eterno, e que a Iuz eterna...
Quero partiIhar as razões que você tem para ter esperança.
Quero entrar para o mosteiro.
Em épocas como esta, as pessoas precisam de padres ao Iado deIas...
não trancados nos mosteiros.
Estive pensando no que terei de desistir.
Fico pensando na escoIha...
e no significado da escoIha que quero fazer.
Eu me pergunto se quero me esconder.
Ou se sinto cuIpa peIa dor ao meu redor.
Ou será aIgo mais profundo?
Será que Deus está me chamando?
joão escreveu no evangeIho que jesus disse...
''Você não me escoIheu, eu escoIhi você.''
A porta está aberta. Sô depende de você.
Perder aIguém que amamos é devastador.
Antigamente, as pessoas se consoIavam...
dizendo que os deuses queriam os mortos ao Iado deIes.
Mas a fé não é consoIo. A fé dá sentido à vida e à morte.
Honramos as generosas vidas de Krystyna e Wiktor.
Honramos suas mortes corajosas.
EIes dão sentido aos sonhos...
que não poderemos mais discutir.
A fé é çomo a noite esçura.
Ençontramos a fé na esçuridão...
nas profundezas do homem...
onde o mistério de Deus e do amor estão esçondidos.
KaroI!
A dinamite!
Meu Deus!
Você é estúpido. Vai morrer peIos seus Iivros.
- Você está bem? - Sim. VaIe a pena morrer por Iivros.
Você é um operário. Enfie isso na sua cabeça dura.
Aqui. CoIoque isso antes que fique cego.
- Não, pode ficar com eIes. - Faça o que mandei.
Precisaremos de homens com boa visão quando recomeçarmos.
Nowak...
Pai, a Sra. Gedrynska fez um ôtimo jantar.
Pai?
Lembro quando me sentava no seu coIo...
e você me contava histôrias sobre nossos herôis.
Gostava da histôria do pintor Adam ChmieIowski...
que perdeu a perna na RevoIta de janeiro.
Você me contou...
que eIe desistiu da arte...
porque percebeu que...
Deus o chamava para outras coisas.
Então, eIe foi viver entre os pobres...
como aIguém que nasceu para servir aos sofredores.
Você me deixou sozinho.
Você me deixou sozinho.
KaroI.
Estava me esperando na chuva esse tempo todo?
Não somos feitos de açúcar.
- Como? - Não somos feitos de açúcar.
Era o que KaroI dizia quando eu não queria jogar na chuva.
Eu sei. Eu os via jogar.
Lembra quando ensaiamos Romeu e juIieta na escoIa?
É cIaro que sim.
Você era juIieta e você era Romeu.
- Quem mais? O papeI principaI. - Queria que fosse Mercúcio.
- Lembra o que você respondeu? - ''Preferia ser um padre.''
E eu disse: ''Mas o padre é um papeI pequeno.''
E eu respondi: ''Não estou faIando da peça, mas da minha vida.''
Depois de ver todo este horror...
estou sendo Ievado na direção de aIgo bom.
Quero ser padre.
PeIa dignidade das pessoas...
e peIa chance de me conhecer através da sabedoria divina...
de viver com Deus dentro de mim.
Quero me tornar padre.
Das profundezas dessa crueIdade...
seremos testemunhas do fato...
de que o significado divino da vida é mais importante do que a vida.
É por isso que estou aqui.
Os nazistas fecharam o seminário. Você está arriscando sua vida.
Nem sua mãe pode saber que está estudando aqui.
Continuará a viver normaImente, mas virá estudar e meditar conosco...
quando tiver um minuto Iivre durante o dia.
Meu jovem, você está me ouvindo?
Há aIgum médico aqui? Este rapaz está morrendo.
Senhora.
- Cuidaremos deIe. - EIe não é aIemão.
- Nôs o Ievaremos ao hospitaI. - É meIhor não tocar neIe. É poIonês.
Não se preocupe.
Venham comigo.
Então, não estou morto.
Tomasz.
- jan. - Seja bem-vindo.
- O Iivro me ajudou a escoIher. - Que escoIha?
Entre a escuridão e a Iuz.
Precisa meIhorar. O espetácuIo não é o mesmo sem você.
- Conheço o oficiaI que o ajudou. - Você o conhece?
É casado e tem três fiIhos.
EIe está em perigo.
EIe recebeu uma ordem que resoIveu desobedecer.
jurei morrer peIo Terceiro Reich.
Tenho orguIho de morrer peIa verdadeira AIemanha.
Deveria ter vergonha.
Obrigado por me ajudar a morrer. Agora, estarei a saIvo.
Sei como era a AIemanha quando eu era garoto.
Casas brancas às margens do rio.
Saia da frente, padre. Querem que se afaste de mim.
Meu irmão.
Saia da frente, padre. Ou eIes vão matá-Io.
Um dia seus fiIhos verão as mesmas casas às margens do rio.
Que Deus o abençoe.
Quem o matou?
Eu ou você?
Você o matou, padre poIonês.
E agora eu vou matá-Io.
Que Deus o perdoe.
De acordo com Deus, o mundo é regido peIa honra.
O mundo é regido peIo amor.
Matem-no.
Ei, você.
Documentos.
- Aonde vai essa Iinda moça? - À igreja.
- QuaI igreja? - St. Andrew.
- O que vai fazer na igreja? - Rezar.
Vamos jantar na sua casa hoje à noite.
Se está tudo bem, posso ir?
- Lindos oIhos, quaI é a pressa? - Venha conosco.
Vá rezar, prostituta poIonesa.
Com Iicença, padre. Você por acaso viu KaroI...
KaroI?
Estava esperando por você.
Por que está usando batina?
Estão matando e deportando os seminaristas.
O arcebispo quer que usemos roupas de padre.
Por que não me contou?
- Não confiava em mim? - É cIaro que confio em você.
Confio tanto em você...
que às vezes sinto que você sabe tudo sobre mim.
Bem, eu não sabia sobre isso.
Não pode passar a vida ouvindo confissões de muIheres idosas.
- Você é um escritor, um poeta. - Tomei minha decisão.
É isso que devo fazer.
O que está fazendo?
O que está fazendo?
- Você me deixou sozinha. - Não.
Você não ficará sozinha.
- Eu o perdi. - Você não me perdeu, Hania.
Estarei sempre ao seu Iado.
Mas preciso tomar esta decisão. Estou faIando do futuro.
Um futuro meIhor do que o maI que nos rodeia. Quero participar deIe.
Não vejo futuro. Nunca serei escrava de ninguém�