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MOSFILM
Segunda União Artística
ALICE FREINDLIKH
ALEXANDRE KAIDANOVSKI
ANATOLI SOLONITSIN
NIKOLAI GRINKO
STALKER
Roteiro: ARKADI STRUGATSKI BORIS STRUGATSKI
Inspirado na novela "Piquenique à Beira da Estrada"
Direção ANDREI TARKOVSKY
Fotografia ALEXANDRE KNIAJINSKI
Cenários ANDREI TARKOVSKY
Música EDUARD ARTEMIEV
Realização L. TARKOVSKAIA
Poemas:. F. TIUTCHEV e ARSENI TARKOVSKI
Som - V. CHARUN Maestro - E. KHATCHATURIAN
STALKER
"O que foi isto? A queda de um meteorito?"
"Uma visita de seres do abismo cósmico?"
"Fosse como fosse, no nosso pequeno país..."
"surgiu o milagre dos milagres: a Zona."
"Enviamos tropas para lá"
"Não voltaram"
"Cercamos a Zona com cordões policiais..."
"E fizemos bem... Aliás, não sei...
Da entrevista do Professor Walles - Prêmio Nobel.
Para que você quer o meu relógio?
Aonde você vai? Não está me ouvindo?
Você me deu a sua palavra... Acreditei em você!
Se não pensa em você, o problema é seu. E nós?
Pensou na sua filha?
Nem teve tempo de se habituar a si mesmo.
Você me fez envelhecer. Você acabou com minha vida!
Fale baixo, assim vai acordar a nossa garotinha.
Não posso passar a vida toda te esperando! Vou morrer!
Disse que ia trabalhar!
Prometeram-lhe um trabalho normal como o de todo mundo!
Eu volto logo.
Voltará outra vez para a prisão!
E não vai pegar cinco anos, mas dez!
Nesses dez anos, não terá nada. Nem a Zona!
E estarei morta durante esse tempo!
Não vê que tudo para mim é uma prisão?!
- Largue-me! - Não largo!
Eu disse, deixa-me!
Vá! Tomara que apodreça lá!
Maldito seja o dia em que te encontrei, desgraçado!
Deus te deu por castigo uma filha assim!
E a mim também, por sua causa, canalha!
Meu amor, o mundo é enfadonho até demais.
Não há nada, nem telepatia, nem fantasmas, nem discos voadores...
nada disso existe.
O mundo é regido pelas leis do ferro-fundido. É triste.
Infelizmente, estas leis são invioláveis.
Elas não sabem violar-se a si próprias...
Não conte com discos voadores seria muito empolgante.
E o Triângulo das Bermudas? Não quer me dizer que...
Quero. Não existe nenhum Triângulo das Bermudas.
Existe apenas o triângulo ABC semelhante ao triângulo A' B' C'.
Não sente a tristeza fatal dessa afirmação?
Por exemplo, interessante foi viver na Idade Média.
Cada casa tinha um duende cada igreja, Deus.
A humanidade era jovem! Agora, um em cada quatro é um velho.
Enfadonho demais, meu anjo!
Mas dizia que a Zona é obra...
de uma supercivilização...
Isso tudo também é enfadonho com suas leis e triângulos...
sem duendes e, certamente sem Deus.
Por que se Deus é o tal triângulo...
então, já não sei mais nada.
Isto é para mim! Formidável!
Adeus querida.
Esta senhora aceitou amavelmente acompanhar-nos até a Zona.
É uma mulher corajosa. Chama-se...
Desculpe, chama-se...
Você é realmente um Stalker?
Um momento... já explico tudo.
Vá...
Cretino.
Acabou se entregando a bebida!
Eu? Como disse?
Bebi, como o faz a metade da humanidade.
A outra metade, embebeda-se. Mulheres e crianças incluídos.
Eu apenas bebi.
Diabos! O que é isto?
Beba, ainda é cedo.
E se bebêssemos um copinho pelo caminho?
O que me diz?
Esconda isso!
Tudo claro. Lei seca. O alcoolismo é uma praga dos povos.
O que fazer? Vamos beber cerveja.
Este vem conosco?
Não faz mal, tem tempo para ficar sóbrio. Também precisa ir lá.
É professor mesmo?
Se assim prefere...
Nesse caso, permita que me apresente, chamo-me...
Chama-se Escritor.
Muito bem. E eu? Como me chamo?
Você é Professor.
Claro! Sou escritor de profissão...
por isso todos me chamam, naturalmente, Escritor.
- Você escreve sobre o quê? - Sobre meus leitores.
É óbvio que não vale a pena escrever sobre outros temas.
Quer saber de uma coisa? Não vale a pena escrever sobre nada.
Você é químico?
Antes, físico.
Também é enfadonho, não é verdade? A busca da verdade.
Ela se escondendo, e você a procurando.
Uma cavadinha aqui, ora, ora! O núcleo é composto de prótons!
Outra cavadinha, que beleza!
O triângulo ABC é semelhante ao triângulo A' B' C'.
Comigo é diferente.
Encontro a verdade mas enquanto cavo...
ela transforma-se inacreditavelmente...
num monte de... desculpe, prefiro não dizer.
Com você, é tudo simples!
Imagine-se, porém, um vaso antigo num museu.
Na antiguidade, era usado como balde de lixo...
e hoje é motivo da admiração geral...
pela beleza lacônica do seu desenho e a forma invulgar.
E fica todo mundo de boca aberta!
De repente, sabe-se que nada tem de antigo...
e que foi imposto aos arqueólogos por um brincalhão...
só para divertir.
Estranho, mas as bocas fecham-se. Grandes apreciadores...
Está sempre pensando nisso?
Deus me livre!
Na verdade, eu nunca penso muito. Me faz mal.
É impossível escrever e pensar sem parar no êxito ou fracasso.
Naturalmente! Mas se daqui a cem anos ninguém ler as minhas obras...
para que então escrevi tudo isso?
Diga, Professor, porque se meteu em toda esta história?
Para que quer a Zona?
Sou, em certo sentido cientista.
Mas para que você a quer?
É um escritor que está na moda.
As mulheres perseguem-no aos bandos.
Perdi a inspiração, Professor. Vou implorar para isso.
Porquê? Não consegue escrever?
Como? Sim, talvez, em certo sentido.
Estão ouvindo? É o nosso trem.
- Tirou a capota do carro? - Tirei.
Luger, se eu não voltar, fala com a minha mulher.
Droga! Esqueci de comprar cigarros.
Não volte.
- Porquê? - É mau sinal.
- Vocês são todos uns... - Uns o quê?
Acreditam em qualquer bobagem.
Vou guardar para quando não aguentar mais.
É mesmo cientista?
Deitem-se!
Não se mexam!
Veja se tem alguém lá!
Depressa!
Não tem ninguém!
Corra para a outra saída!
Então, Escritor?
- Trouxe a lata? - Trouxe, está cheia.
Eu estava dizendo que...
É tudo mentira. Estou cheio de inspiração.
Como posso saber o nome daquilo que quero?
Como posso saber que, no fundo, não quero o que quero?
Ou que, digamos, não quero de fato o que não quero?
São coisas efêmeras...
basta dar-lhes um nome, e perdem o sentido.
Este derrama-se como uma água viva ao Sol.
A minha consciência quer a vitória do vegetarianismo por todo o mundo,...
mas o meu subconsciente morre por um bife suculento.
E eu? O que eu quero?
Dominar o mundo, no mínimo.
O que fará uma locomotiva na Zona?
É do posto. Não vai além.
Eles não gostam de entrar lá.
Aos seus postos! Prontos?
Chegou o plantão. Desliguem o televisor.
Depressa!
Vá ver se a vagonete está no trilho.
Qual vagonete?
Volte! Eu vou.
A lata!
Dê-me isso!
Deixe a mochila! É um estorvo!
Para mim, não é um passeio, como para você.
Se alguém for atingido, que não grite nem corra!
Se veem, matam!
Deve esperar que tudo se acalme e depois arrastar-se para o posto.
Será recolhido de manhã.
Não nos perseguirão?
Eles tem medo disso como uma praga.
Medo de quem?
Pronto, estamos em casa.
Que tranquilidade!
É o lugar mais tranquilo do mundo. Ainda vão ver mais.
Que belo! Não há ninguém aqui.
Só a gente.
Três pessoas não conseguem tudo num só dia.
Não conseguem? Conseguem.
Estranho! As flores não cheiram.
Não sente?
Tem cheiro de pântano. Isso sim.
Não, é um rio. Aqui tem um rio.
Haviam muitas flores aqui perto, mas o Porco-Espinho amassou-as.
O aroma, porém, persistiu muito tempo. Muitos anos.
Porque ele as amassou?
Não sei.
Perguntei o porquê para ele também.
Ele disse: "Vai entender depois."
Parece-me que chegou a odiar a Zona.
Porco-Espinho é sobrenome?
Apelido, igual ao que você tem.
Vieram muitos para a Zona por anos, e ninguém conseguiu apanhá-lo.
Ele foi o meu professor. Abriu-me os olhos.
Chamava-se, então, simplesmente, Mestre.
Depois, lhe aconteceu alguma coisa, partiu-se por dentro...
Mas acho que foi apenas castigado.
Ajude-me, por favor. Tem que amarrar as porcas.
E eu... acho que vou dar um passeio.
Preciso fazer uma coisa...
Tenham cuidado!
Aonde ele vai?
Acho que quer estar só.
Por quê? Quando nem mesmo três se sentem bem aqui.
É o encontro com a Zona. Ele é o Stalker.
E depois?
Stalker é, em certo sentido uma vocação.
- Fazia outra ideia dele. - Qual?
Qualquer coisa de tipo, Flecha Longa, Grande Cobra...
A biografia do nosso amigo é mais triste.
Foi preso várias vezes, sofreu acidentes aqui.
Tem uma filha mutante, vitima da Zona, como ele chama.
Parece que não tem pernas.
O que houve, afinal, com esse tal Porco-Espinho?
O que significa "foi castigado"?
É uma maneira de dizer?
O Porco-Espinho regressou, um certo dia...
e enriqueceu subitamente.
De uma forma incrível.
Foi esse o castigo?
E, uma semana depois, enforcou-se.
Por quê?
Psiu!
O que é isto?
Caiu aqui um meteorito, há cerca de vinte anos.
A aldeia toda ficou em chamas.
Procuraram o meteorito, mas naturalmente, nada encontraram.
Naturalmente?
Depois, as pessoas começaram a desaparecer misteriosamente.
Vinham para cá, e não voltavam.
Por fim, concluíram...
que o tal meteorito, não tinha nada de meteorito.
Para começar...
cercaram tudo de arame-farpado, para os curiosos não caírem na tentação.
Começaram, então, a correr boatos que havia um lugar na Zona...
onde os nossos desejos se realizavam.
A Zona passou a ser protegida como a menina dos olhos.
As pessoas podem ter muitos desejos.
O que poderia ter sido, senão um meteorito?
Já disse, ninguém sabe.
E você, o que é que acha?
Sei lá... qualquer coisa.
Uma mensagem para a humanidade, como diz um colega meu.
Ou um presente.
Que rico presente!
Que necessidade teriam daquilo?
Queriam fazer-nos felizes.
As flores recomeçaram a florir. Mas sem aroma.
Desculpem tê-los deixado sós. Mas ainda era cedo.
Ouviram?
Alguém vive aqui?
Quem?
Você mesmo disse...
que tinha turistas aqui quando a Zona apareceu.
Não há ninguém na Zona, nem poderá haver.
Bem, está na hora.
Como voltaremos?
- Por aqui não se volta. - O que quer dizer com isso?
Seguimos como combinamos.
Eu indico a direção.
Qualquer desvio é perigoso.
A primeira referência é aquele último poste.
Vá na frente, Professor!
Agora, você.
Procure seguir as pegadas dele!
Meu Deus! Onde...
Ficaram mesmo aqui, as pessoas?
Ninguém sabe.
Lembro-me apenas de vê-las embarcar na estação para virem à Zona.
Ainda era criança.
Pensava-se que alguém queria conquistar-nos.
Vamos, Professor!
Agora você, Escritor.
O seu lugar é ali. O nosso destino.
Porque se fez valer então? Está ao alcance da mão.
Sim, só que a mão tem de ter um braço muito longo.
Não é o nosso caso.
Não! Não faça isso!
Não arranque! Não!
Já lhe disse, não toque nisso!
Está louco? Enlouqueceu?
Já disse que isto não é um passeio.
A Zona exige respeito, caso contrário, castiga.
Não faça isto! Não sabe falar?
Mas eu pedi!
É por ali que vamos?
Sim. Subimos, entramos e viramos à esquerda.
Só que não vamos por aqui. Vamos dar uma volta.
Mas por quê?
Por aqui, não!
Na Zona, quanto mais longe, menos risco.
Se formos em linha reta morremos?
Já disse que isto é muito arriscado.
- O regresso é menos perigoso? - É, mas temos de dar uma volta.
Ora bolas! Quero lá saber!
Escute, o que quer?
Não quero dar a volta! Está mesmo perto!
É arriscado por aqui, é arriscado por ali... Que droga!
A sua atitude é muito leviana.
Estou farto de porcas com pano!
Se não querem, fiquem. Mas eu vou por aqui.
- É um irresponsável! - Ora, quem fala...
Posso?
Está começando a ventar...
Não sentem? A erva...
Outra razão ainda.
Que quer dizer?
Pare!
Tire as mãos!
Bem, o Professor é testemunha não o mandei.
Você vai de livre vontade.
De livre vontade. Que mais?
Mais nada. Vá!
E que Deus o acompanhe!
Escute!
Se notar ou sentir...
qualquer coisa estranha,...
regresse imediatamente! Ou...
Só lhe peço que não me dê com um ferro na nuca!
Pare! Não se mexa!
- Por quê? - Por quê, o quê?
- Porque o mandou parar? - Não foi você?
O que aconteceu? Por que me mandou parar?
Eu não mandei nada...
Quem foi? Você?
Pro inferno...
É muito esperto, Sr. Shakespeare.
Com medo de avançar e vergonha de recuar...
deu uma ordem a si próprio. E até ficou sóbrio com o medo.
- O quê? - Pare com isso!
- Por que esvaziou a garrafa? - Eu disse pare com isso!
A Zona é um complexo sistema...
de armadilhas, se querem. Todas são mortais.
Não sei o que se passa aqui quando não tem ninguém.
Mas quando aparecem pessoas, tudo começa a mexer.
As antigas armadilhas somem, surgem novas.
Os lugares seguros tornam-se intransitáveis.
E o caminho ora é fácil, ora infinitamente emaranhado.
É a Zona.
Por vezes, parece até caprichosa.
Mas é, em cada momento, como a fizermos com o nosso espírito.
Algumas pessoas tiveram que voltar da metade.
Outras morreram mesmo na entrada do lugar.
Tudo que se passar aqui, dependerá apenas de nós, não da Zona!
Quer dizer, a Zona deixa entrar os bons e decapita os maus?
Não sei.
Parece-me que deixa entrar...
quem já não tem esperança.
Os infelizes, não os bons ou os maus.
Mas até o mais infeliz dos infelizes morrerá, se não se comportar.
Você teve sorte, ela avisou-o.
Acho que vou esperar aqui,...
até que regressem... já afortunados.
É impossível!
Tenho comida, uma garrafa térmica...
Não aguentará uma hora sem mim.
Além disso, ninguém volta pelo caminho por onde entrou.
Apesar de tudo, preferiria...
Nesse caso, voltamos todos e já!
Devolvo-lhes o dinheiro, exceto uma pequena soma...
pelo incomodo, se quiserem...
Recuperou seu juízo, Professor?
Está bem. Vá, lance sua porca.
SEGUNDA PARTE
STALKER
O que há com vocês? Venham cá!
Cansados?
Meu Deus!
Julgando pelo tom, vai nos pregar outro sermão.
Que se cumpra o idealizado.
Que acreditem.
Que riam das suas paixões.
Porque o que consideram paixão, na realidade, não é energia espiritual...
mas apenas fricção entre a alma e o mundo externo.
O mais importante é que acreditem neles próprios...
e se tornem indefesos como crianças...
porque a fraqueza é grande, enquanto a força é nada.
Quando o homem nasce é fraco e flexível...
quando morre, é impassível e duro.
Quando uma árvore cresce é tenra e flexível...
quando se torna seca e dura, ela morre.
A dureza e a força são atributos da morte.
Flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser.
Por isso, quem endurece, nunca vencerá.
Venham cá! Estamos avançando bem.
Chegamos quase ao túnel seco, depois será mais fácil.
Vire essa boca para lá!
- Vamos agora? - Claro, por quê?
Pensei que queria apenas nos mostrar alguma coisa.
- E a minha mochila? - O que tem a mochila?
Deixei lá. Não sabia que íamos partir já!?
- Não podemos fazer nada agora. - Não! Tenho que voltar.
- É impossível! - Não vou sem a mochila!
Não entende que nunca ninguém voltou aqui pelo mesmo caminho?!
Deixe lá a mochila! O que tem nela? Diamantes?
O Quarto lhe dará tudo, tudo o que desejar.
É mesmo? Vai nos enterrar sob as mochilas.
Falta muito até lá?
À direita, cerca de 200 m. Mas aqui não se anda assim.
Vamos!
Deixe de empirismo rasteiro, Professor. O milagre está fora do empírico.
Lembre-se de como São Pedro quase se afogou.
Vá, Escritor.
Por onde?
Pela escada.
Professor, onde está?
Aqui temos o túnel seco!
Você chama isso de seco?
Uma piada da Zona. Geralmente, é preciso nadar.
Espere, onde está o Professor?
- Como? - O Professor desapareceu!
Como é possível? Vinha atrás de você!
Pelo visto, se separou e se perdeu.
Não se perdeu nada! Foi em busca da mochila!
Já não sairá daqui!
Esperamos?
Não podemos. Aqui, tudo se altera num minuto. Vamos os dois.
Olhe, o que é isto? Como apareceu aqui?
- Já lhe expliquei! - Explicou o quê?
É a Zona! Compreende? Depressa, depressa!
Ai está ele!
Estou, evidentemente, muito grato à vocês, porque...
Como chegou até aqui?
Caminhando, a maior parte do caminho.
Incrível! Como conseguiu passar a nossa frente?
Qual frente? Voltei em busca da mochila.
E como a nossa porca veio parar aqui?
Meu Deus, é uma... é uma armadilha!
O Porco-Espinho a colocou aqui de propósito.
Como é que a Zona nos deixou passar?
Meu Deus! Agora, não dou um passo, até que...
Essa é boa!
Chega! Vamos descansar!
Mas fiquem longe desta porca, apenas neste caso.
Não esperava que o Professor saísse.
É que...
Nunca sei previamente quem conduzo.
Tudo se esclarece aqui, embora, por vezes, já seja tarde.
O que somos para o Professor, comparados às suas cuecas?
Não meta o nariz em cuecas alheias se não entende nada delas.
Perceber o quê? Que grande binômio de Newton!
Que profundeza psicológica!
Como o Instituto está sem dinheiro...
e não tem meios para a expedição...
encheu a mochila de manômetros termômetros e outras merdas...
e resolveu penetrar na Zona, ilegalmente...
para pôr todos os milagres à prova da álgebra.
Ninguém no mundo sabe ao certo o que é a Zona.
De repente a sensação!
Televisão, admiradoras extasiadas coroas de louros!
Então, aparece o nosso Professor, vestido de branco...
declarando:. "many, many, thank you",
Ficam todos de boca aberta...
gritando: Prêmio Nobel para ele!
Escritorzinho de porcaria, psicólogo de meia-tigela.
Boca-mole imbecil, só serve para pintar latrinas.
Assim não vai dar! Não sabe insultar!
Não sabe como se faz.
Está bem, estou tentando o Prêmio Nobel.
E você, corre atrás de quê? Quer oferecer à humanidade...
pérolas da sua inspiração comprada?
Não quero saber da humanidade. De toda humanidade...
só me interessa uma pessoa... Eu!
Quero saber se tenho algum valor ou se, como os outros, sou uma bosta.
E se for realmente uma bosta?
Sabe, Sr. Einstein, não me agrada discutir com você.
Da discussão nasce a maldita verdade.
Ouça, Trovão Vermelho...
Você já trouxe multidões para cá...
Não tantas quanto eu queria.
O problema é outro. Por que eles vinham? O que queriam?
A felicidade, antes de tudo.
Mas que tipo de felicidade?
As pessoas não gostam de revelar o seu íntimo.
Além disso, não diz respeito nem a você, nem a mim.
Tem sorte.
Quanto a mim, nunca vi uma única pessoa feliz.
Nem eu.
Voltam do Quarto, levo-as de volta...
e nunca mais nos encontramos.
Desejos não se materializam de um momento para o outro.
Nunca pensou em se aproveitar da salinha?
Sinto-me bem sem isso.
Escute, Professor!
Falando naquela inspiração comprada.
Por exemplo, voltarei do Quarto...
já como gênio... para a nossa cidade, esquecida por Deus.
Ora, o homem escreve porque sofre, porque dúvida de si.
Tem que provar a ele próprio e a quem o rodeia...
que tem algum valor.
E se souber, de antemão, que sou um gênio?
Para que então escrever?
Qual o sentido?
De um modo geral, queria dizer...
que existimos para...
Por gentileza, deixe-me em paz!
Deixe-me cochilar. Não dormi a noite toda.
Não me chateie com os seus complexos.
Seja como for, toda a sua tecnologia...
altos-fornos, rodas...
e outras idiotices...
são para trabalhar menos e comer mais.
Tudo isso são muletas próteses.
No entanto, a humanidade existe para criar...
obras de arte.
Ao contrário de todas outras atividades humanas, esta é altruísta.
Que ilusões! Imagens da verdade absoluta!
Está me ouvindo, Professor?
Sobre que altruísmo você está falando?
Pessoas estão morrendo de fome. Você caiu da lua?
Estes são nossos aristocratas do intelecto!
Não sabe pensar em termos abstratos!
Quer me ensinar o sentido da vida?
E a pensar?
Inútil. Embora Professor, é ignorante.
E sobreveio então um grande terremoto...
O sol escureceu como um tecido de crina...
a lua tornou-se vermelha como sangue...
e as estrelas do céu caíram na Terra...
como fruta verde que cai da figueira...
agitada por forte ventania,
O céu desapareceu como um pedaço de papiro que se enrola...
e todos os montes e ilhas foram tirados dos seus lugares,
Então, os reis os grandes...
os ricos, os poderosos...
os fortes e todos os homens livres...
esconderam-se nas cavernas e grutas das montanhas.
E diriam às montanhas e aos rochedos: "Caiam sobre nós'...
escondei-nos da face D'Aquele que está no trono...
e da ira do Cordeiro.
Porque chegou o grande dia da sua ira...
e quem vai sobreviver?
E no mesmo dia iam dois...
dois deles...
para uma aldeia, a 60 quilômetros...
cujo nome era...
E conversavam entre si sobre tudo que havia acontecido.
E aconteceu que, quando eles estavam conversando e fazendo perguntas...
O Mesmo... se aproximou e ia com eles.
Mas Seus olhos estavam fechados para que não o conhecessem,
E Ele lhes disse,: "Que palavras são essas que...
"caminhando, trocais entre vós e por que estais tristes?"
E um deles chamado...
Acordaram?
Vocês estavam falando sobre...
o significado de nossa... vida...
do altruísmo da arte...
Vejamos, por exemplo, a música,
Está ligada à realidade menos do que qualquer outra coisa,
Ou melhor, se está ligada a você, então não é por ideias...
mas mecanicamente sem associações.
Apesar de tudo é milagrosamente, a música penetra na alma!
Por que este barulho reduzido à harmonia produz tanto efeito?
O que é que o converte em fonte de deleite...
e comoção, unindo-nos?
Para quê tudo isto? Quem precisa disto?
Você responde: "Ninguém, Sem motivo".
Altruísmo.
Não.
Eu não penso assim.
No fundo, tudo tem um sentido,
O seu sentido e a sua causa,
Quer dizer que é por aqui?
Lamentavelmente, Não há outro caminho.
Um tanto sombrio, não é verdade Professor?
Não me agrada muito ser o primeiro aqui.
O Grande Cobra nunca se oferece como voluntário.
Teremos que tirar na sorte. Tem objeções?
Para isso, gostaria que alguém se oferecesse.
Tem fósforos?
Obrigado.
Vai quem tirar o maior.
Tire.
O maior. Desta vez teve azar.
Ao menos, poderia lançar à sua porca.
Claro, se você quer.
Outra?
Tá certo... eu vou.
Depressa, Professor!
Há uma porta aqui!
Agora, é por ali! Abra e passe!
Outra vez eu? Eu é que passo?
Tiramos à sorte! Ande, não podemos demorar aqui.
O que é isso? Armas aqui não!
Morre e nos leva com você!
Lembre-se dos tanques!
Largue isso, estou te pedindo!
Não compreende?
Se lhe acontecer qualquer coisa, poderei salvá-lo. Mas assim...
Eu imploro! Contra quem vai disparar?!
Vá! Não temos muito tempo!
Aqui tem água!
Agarre-se ao corrimão! E desça!
Espere em cima! Na saída! Não saia dali!
Espero que não carregue nada parecido!
- Como? - Tipo pistola.
Não! Como última opção trouxe uma ampola.
- Que ampola? - Implantarei ampola. Veneno!
Meu Deus! Veio aqui para morrer?
Trago-a por via das dúvidas.
Escritor, para trás!
Aonde vai, seu suicida?
Disse-lhe que esperasse na saída! Pare! Não se mexa!
Efeitos do seu túnel.
- Como? - Você devia ter sido o primeiro.
Com o medo, não fez o que devia.
Mais uma experiência.
Experiências, fatos, a verdade em última instância.
Grosso modo, não existem fatos muito menos aqui.
Tudo isto é uma invenção idiota de não sei quem.
Não está vendo?
Você, claro, quer saber quem foi o inventor.
E por que.
De que lhe valerão os conhecimentos?
Em quem doerá a consciência? Em mim?
Não tenho consciência só os nervos.
Se um canalha me censura, uma ferida.
Outro canalha me elogia, outra ferida.
Ofereço a alma e o coração, me devoram a alma e o coração.
Tiro uma vileza da minha alma devoram a vileza.
São todos muito letrados!
Todos com fome de sensações.
Todos se agitam à minha volta, jornalistas...
redatores, críticos, mulheres sem dinheiro...
Todos exigindo:. "mais, mais!"
Que droga de escritor sou eu, se odeio escrever?
Se, para mim, é um martírio, um suplício, uma vergonha,...
como se estivesse espremendo hemorroidas para fora?
Antes, pensava que os meus livros faziam alguém se sentir melhor.
Mas ninguém precisa de mim!
Quando eu morrer, após dois dias, começam a devorar outro.
Esperava refazê-los, mas refeito acabei por ser eu!
À imagem e semelhança deles!
Antes, o futuro era apenas a continuação do presente.
Transformações vislumbravam-se muito longe, no horizonte.
Agora, porém, o futuro e o presente fundiram-se.
Estarão eles prontos para isto?
Não querem saber de nada! Apenas devoram!
Tem muita sorte!
Meu Deus! Agora... Agora, vai viver cem anos!
E por que não eternamente?
Como o Judeu Errante?
Você deve ser boa pessoa!
Quase não duvidei.
Posso imaginar a tortura que isso foi para você!
Aquele túnel é o pior lugar! O mais horrível da Zona!
Chama-se máquina de triturar carne! Mas é pior que qualquer moinho!
Tanta gente que morreu aqui!
O Porco-Espinho mandou o irmão em vez dele.
Era tão sensível, tão talentoso.
Ouçam isso:
"Agora o verão se foi, E poderia não ter vindo.
No sol está quente, mas tem de haver mais.
Tudo aconteceu.
Tudo caiu em minhas mãos Como uma folha de cinco pontas,
Mas tem de haver mais.
Nada de mau se perdeu, Nada de bom foi em vão...
Uma luz clara ilumina tudo Mas tem de haver mais.
A vida me recolheu A segurança de suas asas.
Minha sorte nunca falhou Mas tem de haver mais.
Nem uma folha queimada, Nem um graveto partido.
Claro como um vidro é o dia... Mas tem de haver mais."
Belo, não é verdade? É um poema dele.
Por que não para com as adulações? Fica excitado toda hora?
- Só quis... - Dá nojo só de olhar para você!
Como estou feliz por termos todos chegado! Não é frequente.
Portaram-se bem! São bons generosos, honestos.
Orgulho-me por não ter me enganado.
Não querem ver? Agora, orgulha-se por tudo ter corrido bem!
Destino! Zona! Sou um bom homem, ele disse!
Acha que não vi que todos os fósforos eram grandes?
- Não, não compreende... - Claro! Quem sou eu para entender?
Desculpe, Professor, não quero dizer nada de mal...
mas este mosquito escolheu-o como seu benjamim.
Não fale assim!
E eu, me meteu no túnel como um ser de segunda!
Máquina de triturar carne! Ora!
Quem te deu o direito de decidir...
quem vai viver e quem vai para a trituradora?
Mas foi você quem tirou a sorte!
O quê? Um fósforo grande entre dois grandes?
Os fósforos não são nada.
Lá atrás, sob a porca, a Zona nos mostrou...
que você, sim, passaria são e salvo pela trituradora.
E nós atrás de você!
Essa é boa...
Não imagina como é terrível errar.
Alguém tem que ser o primeiro!
Sim! Não, isto não é uma clínica!
Alguém tem que ser o primeiro!
Não mexa nisso!
Laboratório No. 9, por favor!
Um momento, por favor,
- Alô, - Espero não te incomodar.
- O que você quer? - Duas palavrinhas.
Esconderam-na, mas encontrei-a.
Edifício velho, depósito no. 4. Está me ouvindo?
Vou informar imediatamente o corpo de segurança,
Pode informar, me denunciar...
incitar os colegas contra mim, mas já é tarde!
Estou a dois passos do nosso lugar!
Compreende que será o seu fim como cientista?
Então, fique alegre!
Compreende o que acontecerá, se você se atrever?
Outra vez me intimidando?
Toda a vida tive medo de tudo até de você.
Agora, acabou-se o medo, acredite.
Meu Deus, nem sequer é o Heróstrato.
Toda a vida você sonhou me prejudicar.
Apenas por que, há 20 anos, dormi com a sua mulher.
Finalmente, conseguiu o ajuste de contas, e não fica contente.
Está bem, faça a nojeira que quiser...
Não se atreva a desligar o fone!
A prisão não é o pior que te espera...
O pior é que nunca perdoará a você mesmo.
Já posso até te ver enforcado com seus suspensórios na cela!
Quais os seus planos, Professor?
Já pensou o que será quando todos acreditarem neste Quarto?
E quando correrem todos para cá?
É apenas uma questão de tempo.
Se não for hoje, será amanhã! Dezenas, milhares!
Os imperadores frustrados, os grandes inquisidores, führers...
os benfeitores do gênero humano!
Não à procura de dinheiro, nem de inspiração, mas da mudança do mundo!
Não trago tipos desses para cá! Você pensa que não entendo!?
O que na Terra você entende?
Não é o único Stalker do mundo.
E nenhum Stalker sabe...
com que ideias entram aqui e daqui partem as pessoas que conduz.
E o número de crimes sem motivo aumenta continuamente!
Não serão consequência do seu trabalho?
E os golpes de estado, e a máfia nos governos?
Não serão seus clientes?
E os lasers e as superbactérias...
toda essa imundície, escondida até um dia nos cofres-fortes?!
Pare com essa diarreia sociológica!
Será que acredita nesses contos de fadas?
Nos bons não acredito. Mas creio e como, nos maus.
Deixe disso!
Uma só pessoa não pode ter tanto ódio, ou tanto amor...
que abranja toda a humanidade!
Dinheiro, mulheres, vingança...
O chefe debaixo dum carro... Tudo bem...
Mas o domínio do mundo! A sociedade justa!
O reino de Deus na terra!
Isto já não são desejos, mas ideologia, ação, concepções.
A compaixão inconsciente não pode realizar-se...
como um vulgar desejo instintivo.
Poderá haver felicidade à custa da infelicidade alheia?
Agora, vejo claramente...
que decidiu abalar a humanidade com um bem difícil de imaginar.
Mas estou absolutamente tranquilo! Por você, por mim...
e, mais ainda, pela humanidade.
É que nada conseguirá!
No melhor dos casos, receberá o Prêmio Nobel.
Ou algo profundamente absurdo...
que nem sequer imagina. Um telefone...
Sonha-se com uma coisa recebe-se outra.
Por que diz tal coisa?
Telefone... eletricidade...
Vejam! Comprimidos para dormir! Muito bons!
Destes já não se produz. Como teriam vindo parar aqui?
Acho que devemos ir andando?
Já está escurecendo, teremos dificuldade para voltar.
Enfim, compreendo perfeitamente que o recitar de...
poesias e as voltas que demos, não passam de uma forma peculiar...
de pedir desculpas.
Compreendo-o, infância difícil, ambiente desagradável...
Mas não se iluda, não lhe perdoo.
Seu perdão é desnecessário!
Professor, venha cá.
Um momento. Não se apresse.
Não tenho pressa nenhuma.
Sei que vai ficar zangado...
mas devo lhe dizer...
Aqui estamos nós, no limiar...
Este é o momento mais importante da vida de vocês.
Quero que saibam, que...
aqui se cumprirá o seu desejo mais querido.
Mais sincero, mais sofrido!
Não é preciso dizer nada.
Procurem apenas concentrar-se...
e recordar toda a sua vida.
Tornamo-nos mais bondosos, quando pensamos no passado.
e o importante...
O importante...
é acreditar!
Agora, vão.
Quem quer ser o primeiro?
Talvez, você?
Eu? Não, não quero.
Sim, isto não é fácil. Mas não se preocupe, passa.
Desconfio...
que isto passe.
Se recordar a minha vida...
não vou me tornar mais bondoso.
Além disso, não vê como tudo isto é escabroso?
Humilhação, zangas, súplicas, orações...
Que mal fazem as orações?
É o orgulho falando.
Acalme-se. Simplesmente, não está pronto. Acontece com frequência.
Você quer ir primeiro?
Eu?
Aqui temos a nova invenção do Professor!
Um aparelho para estudar almas, um almômetro!
É uma simples bomba.
O quê?
Uma brincadeira.
Não. É uma simples bomba. Vinte quilotons.
Para quê?
Fabriquei-a com os meus amigos.
Antigos colegas.
Julgo que este lugar não dará felicidade a ninguém.
E, se cair em mãos ruins...
Aliás, já não sei.
Pareceu-nos, então...
que não se devia destruir a Zona.
Mesmo que ela fosse um milagre, faz parte da natureza...
quer dizer, é esperança, em certo sentido.
Meus colegas esconderam a bomba, mas a encontrei.
No edifício velho, depósito no.4.
Suponho que deve haver este princípio...
não realizar ações irreversíveis.
Compreendo tudo, não sou maníaco.
No entanto, enquanto esta úlcera estiver aberta à escória...
não teremos sono, nem sossego.
Ou será que me impede o que me vai na alma?
O pobrezinho arranjou um probleminha.
Me dê!
Me dê!
Você é um homem civilizado, não é?
- Por quê? Como se atreve? - Escuta, hipócrita...
Por quê? Por quê... me bate?
Ele quer destruir a sua esperança!
Nada mais nos resta na Terra!
Este e o único lugar onde podemos vir,...
quando nada mais nos dá esperança.
Vocês vieram!
Por que quer destruir a esperança?
Cale a boca!
A mim não engana!
Cospe nas pessoas!
Ganha dinheiro com a nossa angustia!
O problema não é só o dinheiro.
Aqui, você se delicia! Aqui você é rei e Deus!
Você, piolho hipócrita, é quem decide quem vive e quem morre.
É ele que escolhe!
Agora, compreendo por que é que os Stalkers nunca entram no Quarto.
Aqui, se inebria com o poder, com o mistério! Com a autoridade!
De que outros desejos se pode falar?
Não é verdade! Está... está enganado.
O Stalker não pode entrar no Quarto.
O Stalker não pode sequer pensar no interesse próprio, ao entrar na Zona.
Lembre-se do Porco-Espinho!
Sim, sou um piolho...
nada fiz neste mundo, nem nada posso fazer.
Nem à minha mulher dei nada.
Não tenho amigos. Mas não me tire o que é meu!
Privaram-me de tudo lá, além do arame farpado.
Tudo o que tenho, está aqui! Compreende? Aqui, na Zona!
A felicidade, a liberdade, a dignidade, tudo está aqui!
Trago aqui pessoas tão desafortunadas e deprimidas como eu.
Que perderam a esperança.
E eu posso ajudá-las!
Ninguém as pode ajudar, mas eu, um piolho, posso!
Chego a chorar de alegria por as poder ajudar.
É tudo! Nada mais me faz falta!
Não sei. Talvez.
Sabe... Desculpa, mas...
Não passa de um Deus louco!
Não faz a mínima ideia do que se passa aqui.
Por que você acha que o Porco Espinho se enforcou?
Porque entrou na Zona com fins interesseiros...
mandou o irmão para a trituradora por dinheiro.
Compreendo. Mas por que se enforcou?
Por que não veio outra vez, já não pelo dinheiro, mas para salvar o irmão?
Como se tivesse arrependido?
Queria, mas... não sei... se enforcou passada uma semana.
Sabe por quê? Entendeu que aqui não se realizam todos os desejos...
mas só os íntimos, os mais recônditos!
Pode gritar à vontade...
Aqui só se concretiza o que é da sua natureza, da sua essência...
da qual não fazemos qualquer ideia.
Mas ela está dentro de nós, e nos comanda toda a vida!
Não compreendeste nada.
Não foi a ambição que acabou com o Porco-Espinho.
Andou de joelhos por este charco, suplicando o irmão de volta.
E recebeu montanhas de dinheiro! A única coisa que pôde receber.
Ao Porco-Espinho o que é de Porco-Espinho!
Consciência e tormentos de alma tudo inventado.
Compreendeu tudo isso e enforcou-se.
Não quero entrar no seu Quarto!
Não quero despejar a sujeira da minha alma sobre a cabeça de ninguém...
nem sobre a sua...
para depois pendurar-me numa trave, como o Porco-Espinho.
Prefiro a bebedeira solitária e morrer em paz na minha mansão.
Não, Grande Serpente, é um fraco conhecedor de pessoas...
se traz tipos como eu para a Zona.
E, depois...
Como sabe ao certo se este milagre existe de fato?
Quem te disse que aqui se realizam os desejos?
Viu ao menos um, que tenha saído daqui feliz?
O Porco-Espinho?
E afinal, quem lhe falou na Zona...
no Porco-Espinho, no Quarto?
Ele.
Sendo assim, não faz sentido tudo isso pra mim.
Para quê vir aqui então?
Que silêncio...
Estão ouvindo?
E se abandonasse tudo...
pegasse minha mulher, filha e me mudasse para aqui?
Para sempre.
Aqui não há ninguém. Ninguém as trataria mal.
Voltou.
O que é isto?
Ele grudou em mim. Não podia deixá-lo sozinho.
Vamos? A sua filha te espera.
Vamos?
Ninguém quer um cão?
Tenho cinco em casa.
Gosta de cães?
Como?
Isto é bom.
Está bem, vamos.
Se soubessem como estou cansado!
Só Deus sabe!
E se dizem intelectuais, escritores cientistas!
Calma!
Não acreditam em nada!
Têm o órgão da fé atrofiado. Não precisam dele!
Esqueça. Vamos embora. Deite. Aqui não...
Está úmido... Aqui não.
Tire isto!
Deus, que pessoas!..
Calma! Eles não têm culpa.
Você tem que ter pena, e não se zangar.
Você não viu? Eles tem os olhos vazios!
Só pensam em não perder,...
em vender-se por mais dinheiro!
Querem que todo o trabalho do espírito lhes seja pago!
Pensam que não nasceram em vão, que são predestinados!
Acham que só se vivem uma vez!
Podem pessoas iguais a estas acreditar em algo?
Fique sossegado... calma.
Tente descansar. Durma.
Ninguém acredita. Não só esses dois. Ninguém!
Quem vou conduzir?
Jesus!
O pior é que...
ninguém precisa disto.
Ninguém precisa deste Quarto. Todos os meus esforços são inúteis!
Não diga isso. Não diga isso.
Não levarei mais ninguém.
Quer que vá com você?
Para onde?
Acha que não tenho nada para pedir?
Não...
Impossível.
Por quê?
Não, não.
E se falhar outra vez?
Sabe, a minha mãe não aprovou.
Viram logo que ele não era deste mundo.
Nossos vizinhos riam dele.
Era tão simplório que dava pena.
E a minha mãe dizia é Stalker...
está condenado à morte, é um eterno prisioneiro.
E os filhos, minha filha, lembra-se dos filhos dos Stalkers.
E eu... não lhe respondia.
Eu também sabia que estava condenada...
que era uma eterna prisioneira, e dos filhos...
Mas o que eu podia fazer?
Sabia que só junto dele me sentiria bem.
Sabia que muitas desgraças me esperavam.
Só que é melhor uma felicidade amarga, do que...
uma vida apagada, triste.
Também é possível que tenha inventado tudo isto mais tarde.
Só que, quando chegou e disse, anda comigo!..
fui, e nunca lamentei tê-lo feito.
Nunca.
Vivi muita desgraça.
Tive muito medo e vergonha.
Mas nunca me arrependi, nem nunca invejei ninguém.
Foi o meu destino, a minha vida... A gente é assim.
Mesmo sem as desgraças, a nossa vida não teria sido melhor.
Teria sido pior.
Porque, nesse caso, não haveria felicidade.
Nem esperança.
Como amo seus olhos minha amiga...
E a chama radiante que neles dança.
Quando por um instante fugaz eles se erguem...
E seu olhar voa célebre...
Como relâmpago no céu.
Mas há um encanto mais poderoso ainda...
Nos olhos voltados para o chão...
No momento de um beijo apaixonado...
Quando brilha por entre as pálpebras baixas...
A sombria, obscura chama do desejo.