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IDENTIFICAÇĂO DE UMA MULHER
Onde será que pus a chave do alarme?
Calma. Calma.
Calma!
Calma.
Que mania, diabos.
Que mania!
A esposa dele era uma mulher muito medrosa.
O seu medo desapareceu depois de se divorciarem.
O temor continuou.
Sim, tudo bem. Tudo bem.
Já vou.
Niccolň, năo se esqueça do que me prometeu,
faz um ano que estou esperando.
Eu sei, eu sei.
Vocę tem razăo. Vocę tem razăo, diabos.
- Tudo bem? - Sim, tudo bem. Foi culpa minha.
- Obrigado Romolo, Desculpe. - Até trouxe isso.
- Nunca se sabe. - Năo, vocę fez bem.
- Boa noite. - Boa noite, Romolo.
Selos.
Sim, está em. De novo?
Alô.
O Sr. Niccolň Farra?
Quem fala?
Ah, Finalmente voltou?
O que quer dizer com o "finalmente"?
Alô.
Encarregam-me para lhe dizer uma coisa muito importante.
Importante para vocę.
Desculpe, sabe que horas săo?
Antes vocę năo estava.
Como se chama?
Que tal nos encontrarmos?
Olhe, se é uma coisa tăo importante, pode dizer agora. Quem é vocę?
Năo, pelo telefone năo.
É um assunto para ser tratado com alguma... discriçăo.
É melhor falarmos pessoalmente.
Quem lhe encarregou disso?
Isso lhe digo quando nos encontrarmos.
Por que năo me dá o seu numero de telefone?
Năo tenho telefone. Por isso temos que nos encontrar.
Amanhă na sorveteria Fassi, ŕs 10.00, está bem?
OK.
Quem é?
Quem é?
Por que năo faço outra coisa que pensar em vocę?
Bom dia.
Já faz algum tempo, Sr. Farra, que o senhor está interessado numa moça.
Muito bonita, segundo se diz. Năo a conheço, năo tive esse prazer.
Nome?
Tenha certeza que estamos pensando na mesma pessoa.
Seja o que for, é um problema meu, năo concorda?
Bem, esse é o ponto.
Tenho a impressăo que ela năo é só sua.
Estou aqui, para lhe dar um conselho.
Que é?
Continue. Estou interessado na conclusăo.
Já concluí.
Uhm.
Năo se trata de uma ameaça, que fique claro.
É um simples aviso.
Pode ser mais preciso?
Bem... se vocę mantiver a sua... tranqüilidade...
- Deseja mais alguma coisa, Senhor? - Năo, obrigado.
- Aqui está. - Obrigado.
Que coisas que temos que fazer para tomar um sorvete.
Sim minha senhora, vemo-nos amanhă ŕs 4?
Certo, está bem. Em ponto.
- Escute... Tenho que fazer uma chamada... - Por favor, desculpe... Eu compreendo.
Adeus, até amanhă.
Sou eu. Tenho uma coisa divertida para lhe contar. Vamos nos ver?
Vocę atende, por favor? A secretária foi embora.
Claro.
Quem fala?
Gostaria de falar com a doutora.
Está ocupada neste momento, pode dizer a mim.
Eu também me chamo Farra.
Năo compreendo. Também é ginecologista?
Năo, năo. A doutora é minha irmă. Entăo sou o irmăo dela.
Estou telefonando para marcar uma consulta, năo para brincar.
Tem razăo, desculpe. Peço perdăo.
Farra Niccolň, o diretor?
É como me chamam.
Ouça, já que devo fazę-la esperar, talvez possa me descrever o seu aspecto?
Por que, quer que eu faça um filme?
Năo sei. Năo a conheço.
Mas perturba-me quando năo consigo visualizar...
a pessoa com quem falo ao telefone.
Aqui está a minha irmă.
- Obrigada. - De nada.
Sim...
Ouça, seria possível marcar uma consulta para amanhă?
Um momento.
Năo, amanhă năo posso.
Por favor, dę-me o seu nome e numero de telefone.
Maria Vittoria
Maria Vittoria...
- Luppis. Seis, cinco... - Um momento...
656039.
Muito bem. Depois lhe telefono.
- Obrigada. - De nada.
- Pode me esperar um momento, por favor? - Porque năo.
Se o Homem năo existisse, poderia existir Deus?
Se com os homens há duvidas, imagine sem eles.
É verdade. E o que fazia Deus antes de criar o mundo?
Nada.
Onde está a sua cama?
Encontre.
E a calcinha, năo vai tirá-la?
Năo, vocę deve tirá-la. Mas năo já.
Năo sou dessas que precisam de sexo como o păo de cada dia.
Foi vocę que perguntou onde estava a cama.
Escute, năo podemos estar aqui um momento sem fazer nada? Tenho muitos problemas.
Que problemas?
Năo, năo săo na realidade problemas. Ou seja, comecei muito tarde.
Como assim?
Durante mais de dois anos, freqüentei uma faculdade na Inglaterra,
Em Gales, junto do mar. Atlantic College.
Nunca ouvi falar nele.
Só a nobreza conhece esses lugares.
No colégio, além de estudar
Especializei-me em salvamentos no mar.
- Salvamentos? - Sim,
quando as canoas se viravam, tínhamos que nos salvar uns aos outros.
No inverno, no verăo.
Depois de comer, em águas agitadas.
Sempre ondas. Sempre canoas.
Mas passei bons momentos.
Por isso năo podíamos ter sexo. Era proibido.
Assim, fui forçada a esperar.
A faculdade era muito bonita, sabia?
A médica me disse que eu năo podia ter relaçőes durante umas semanas.
- Quem, a minha irmă? - Sim.
- Vocę a consultou? - Sim.
Acho que năo deve ser nada de grave, certo?
- Um cigarro? - Aqui estăo.
Sobre a outra noite...
Por favor, năo gosto de falar de sexo.
Ssh. Pelo amor de Deus.
Eu sei, eu sei. Sou incapaz de ser pontual. Desculpe.
E agora?
Há alguém que lhe paquerou recentemente?
- Há sempre alguém. - Uhm. Năo... alguém em particular.
Provavelmente rico... duma certa idade.
Por que me pergunta?
Porque acontece que esse alguém se interessa por vocę
a ponte de me enviar alguém para me ameaçar.
Que história e essa? Ameaçá-lo?
Há duas horas. Telefonou-me, e depois nos encontramos.
Em resumo, ele fez-me entender... que era melhor năo nos vermos mais.
Quem é ele?
- Năo está pensando em ninguém? - Năo.
- Tente pensar. - Estou pensando.
- Năo sei. - Entăo...
Quer que eu jure?
- Este rosto năo lhe diz nada? - Năo.
Tem certeza?
Nunca vi.
Em minha opiniăo, é o gorila do seu cortejador
E vocę acha que eu ando com gorilas?
Com gorilas năo, mas com os obsessivos que lhes pagam, sim.
E deve haver bastantes, no seu círculo.
Há muito que năo tenho um círculo.
Que fazemos?
Ah, que fazemos.
Năo acha que acabou o que havia entre nós por causa desse sem-vergonha.
Năo. Claro que năo.
Pergunto-me que cara deve ter.
Porque năo me apresenta... a alguns dos seus amigos?
Sim.
- Boa noite. - Olá, Carlo.
- Mavi... - Olá, como vai?
- Vemo-nos lá em cima? - Sim, claro.
- Ah, está aqui? Já de partida? - Sim, mas volto já.
- Volte, eh? - Sim.
- E a mamăe, como vai? - Bem.
- A minha irmă. - E ele?
- Alguns diriam que... - Que coisa diriam?
Que vocę esteve no Atlantic College com cada um deles numa canoa.
- Por quę? - Vocę está ŕ vontade com todos.
Todos também estăo ŕ vontade comigo.
E depois já lhe disse que gosto de homens.
Especialmente na primavera.
Na primavera sempre tenho vontade de fazer amizades.
Sorte o inverno năo terminou ainda. Continuo a ter algum tempo.
Um momento, por favor. Quero lhe dizer uma coisa.
Olá.
- Como vai? - Bem, e vocę?
- Bem. Faz tempo que năo lhe vejo. - Bastante.
- Está fazendo um filme novo? - Mas vocę vai ver os meus filmes?
Com certeza.
- Vocę se importaria se formos embora? - Năo.
Quem sabe se alguém já me olhou enquanto durmo?
Quem é ele?
Um que nem sabe quantos milhőes ganha por dia.
O que fazem com todo esse dinheiro?
Há também alguns aqui que năo tęm uma única lira.
Mas os que tęm sabem sempre onde colocá-las.
Por isso năo se pode dizer que seja tudo culpa deles...
...quando as coisa correm mal. A culpa é do sistema.
- Do quę? - Mas sim.
Vocę acha que isto onde vivemos seja uma sociedade?
É justamente uma idéia de sociedade que falta para a gente.
Há tantas quantos săo os partidos.
- Tem um cigarro? - Claro.
Vocę está metida na política?
Boa noite, como vai?
É a sua mulher? Qual delas?
A loira? Ficaria encantada em tę-lo em minha casa uma destas noites.
- Posso lhe telefonar? - Claro que sim.
Mavi, vocę disse "a minha casa". Qual casa?
A sua, vocę me empresta?
Heh...
Năo falamos há muito tempo.
Sim, Estou morando em Paris.
O que pensa das eleiçőes, madame?
Ah, Acho o Mittérand simpático...
...e acho que irá governar bem. Enfim, vamos ver.
...dos antepassados... quem inventou o contrabaixo.
Escute...
...há sempre este ambiente tăo sectário nas suas festas, coquetéis ou jantares?
Parece que tęm medo de serem examinados, espionados.
Năo está sendo justo.
Muitos tęm de fato telhados de vidro.
Oh, agora. No passado, os pobres emigravam de Itália.
Hoje săo estas pessoas.
- Verdade? E agora o que vai fazer? - Năo é sempre assim.
Vamos para lá.
- Desculpe. - De nada.
- Gosta dos morangos? - Sim, muito.
- Para vocę o vinho, certo?. - Como sempre.
O que ele está fazendo?
Oh... Desculpe.
Eh, desculpe.
...neste caso...
desculpe... vocę por acaso năo é...
- Nunca o vi... - Peço muitas desculpas.
Ainda...
- Perdi vocę, onde estava? - Ali. Venha, quero lhe apresentar.
- Eu o vi, he. - Quem?
O teu admirador, tenho a certeza.
- Mostre-me. - Desapareceu.
Como vai? Nos vemos depois?
Boa noite.
Digam-me, jovens, há alguma coisa que năo está bem?
Niccolň procura um de seus convidados, mas năo sabe quem ele é.
- E o que fez esse pobre homem? - Nada.
Entăo porque o procuram?
Se houvesse aqui alguém interessado por mim,
vocę acha que eu năo teria notado?
Com vocę nunca se percebe se está dizendo a verdade.
E isso é tăo mau? Um pouco de hipocrisia é necessária em certas situaçőes.
Estranho, como consegue, ao mesmo tempo ser...
inteligente e estúpida. Boa e má. Amarga e doce.
- Eu? - Sim. Vocę.
Vocę tem todas essas qualidades que normalmente constituem um caráter.
Também os defeitos.
É como se fosse incapaz de...
Mavi.
Escute.
Se quer que continuemos juntos,
tem que ouvir o que tenho para lhe dizer,
mesmo que isso lhe desagrade.
Além disso, haverá sempre muitas coisas que lhe desagradarăo.
Espere, năo quero ir para lá. Vamos ficar mais um pouco aqui.
Aqui me sinto incomodado.
Devem considerar-me como um que vem bisbilhotar.
Toleram-me por que estou com vocę.
Com certeza é isso.
Veja, até vocę pensa como eles.
Já năo estou do lado deles. Compreenda. Estou do seu lado.
- Quere que eu jure? - Uh, uh. Fica bonita quando jura.
Ah, agora me elogia.
Niccolň.
- Olá. - Desculpe, nós estávamos primeiro.
Sim eu sei. Tenha pacięncia.
Essa pobre gente tem razăo. Sabe-se lá há quanto tempo esperam.
Se soubesse o quanto me fazem.
- Recebeu o meu recado? - Sim.
Olá.
- Aconteceu alguma coisa com a minha irmă. - Meu Deus, um acidente?
Năo, năo. Ela perdeu o cargo no departamento de Ginecologia,
do hospital onde trabalha. O cargo de diretora.
Isso é abuso de poder.
- Tenho a certeza que é por minha culpa. - Por sua culpa como, năo entendo.
Começam a por em prática as ameaças, Mavi.
E năo atinge a mim, aquele filho da puta.
Mas a uma pessoa de quem gosto.
Que sacanagem.
Mas os seus năo tem amizades dentro desses círculos?
A minha măe talvez, mas ela nunca pára.
O que há com vocę?
- Hoje fiquei furiosa, sabe. - O que aconteceu?
Um homem, que eu sempre soube ser o amante da minha măe,
começa a ter uma obsessăo por mim. - Como?
Telefona-me, quer me ver. Lembra-se na casa dos Dandini...
que parei para falar com um homem?
Posso falar com vocę um momento, Mavi?
Há muito tempo, que tenho algo para lhe dizer.
- Gostaria de lhe ver um destes dias. - Falemos agora.
Refere-se a uma história passada há mais de vinte anos?
- Como sabe? - Intuiçăo, como muito.
Compreende que a paternidade năo é um fato literário.
A sua măe dizia que bastaria se olhar com atençăo para o espelho para...
entender quem é o seu pai, que vocę é minha filha. - Isso năo é verdade, e nunca entendi isso!
Olhe as nossas măos.
Eu o odeio desde pequena, Năo sei por quę.
Ele, por outro lado adora-me desde que nasci.
Sem poder dizer a ninguém, inclusive a mim.
Sem poder nem ao menos me tocar, fazer um carinho.
Porque eu sempre senti uma certa repulsa instintiva em relaçăo a ele.
Sempre acreditei que era um simples amigo de casa, Quando o via, escondia-me.
Por que!
Vocę năo tem culpa.
Năo é culpa minha, verdade?
- Vocę vę aquela garota lá? - Sim.
Há dois dias ia numa moto com um amigo,
a dez quilômetros de Roma, e furou um pneu.
Havia um carro parado perto de nós.
Eu me aproximei para pedir uma chave de fenda.
Lá dentro estava aquela garota totalmente nua, com um fulano.
Veja, agora me reconheceu.
Niccolň, lembre-se dos fotogramas.
Devo estar louco, mas gostaria de fazer um filme com vocę...
Vocę terá total liberdade. Deixo o roteiro em sua casa. Obrigado.
Vamos ver se os malditos fotogramas estăo aqui.
Catálogo.
Ah!
As vozes do outro mundo... ou...
Penso, eu existo.
Prova objetiva de uma vida pós morte.
A total liberdade, e me manda um roteiro.
Lista de pessoas que comunicaram com o desconhecido.
Talvez telefone um destes dias.
Oh meu Deus.
- Deveria ter imaginado. - Quem, eu?
Vocę desapareceu, o que aconteceu?
O que me acontece é que năo consigo montar os pedaços desta história.
Pense duas vezes antes de terminar a história.
Foi por isso que voltou para casa?
Quem disse que a vida familiar é uma interferęncia da vida privada?
Já năo consigo pensar em mim, nem no filme que quero fazer.
Como é esse filme?
Ainda năo conheço a história, por isso năo falei com vocę antes.
Sei que o personagem principal é uma mulher.
Desculpe, como pode saber que é uma mulher, se năo sabe o enredo?
Oh, é um palpite.
Sinto que tem formas femininas, năo sei como lhe explicar.
- Uma outra história de amor. - Eu năo disse isso.
Gostaria de saber até que ponto uma história de amor faz sentido nos dias de hoje...
nesta decadęncia, nesta corrupçăo.
Mas a corrupçăo é, na realidade, o cimento que mantém o nosso país unido.
E os corruptos săo os primeiros que desejam ver histórias de amor.
Estou procurando um rosto.
Uma idéia da personagem, mas, ao invés, ela nunca me sai da cabeça.
E ela năo serve como personagem?
Quem, Mavi? Mavi năo se enquadra no meu filme, ela se enquadra comigo.
E năo é a mesma coisa? - Năo.
Procurar um personagem significa procurar lugares, fatos.
Porque năo os encontra? Ah...
- Vocę está em crise? - Que crise.
Escute...
Já discutimos muitas vezes, vocę e eu.
Quantas teorias e discursos foram vistas, revistas, durante as nossas conversas.
E, enquanto nós falamos, o mundo em nossa volta muda.
As nossas discussőes ficam obsoletas. Cada vez mais impenetráveis.
Alguma vez andou de asa delta?
- Năo. - Eu também năo, mas imagino.
Eu desejaria... desejaria ter esse tipo de emoçőes quando estou com uma mulher.
Ao invés, é sempre necessário falar, dizer qualquer coisa.
O silęncio pesa.
Gostaria de poder estar em silęncio com uma mulher.
Resumindo, gostava de ter uma relaçăo com ela como tenho com a natureza.
A menos que vocę năo seja louco...
se estiver só no meio do mar, na floresta, o que vocę faz? Olha em silęncio.
Mas, quase sem se notar, continua a haver diálogo. Perguntas e respostas.
Como se houvesse uma outra pessoa.
A mulher ideal para mim, é aquela que se identifica com essa outra pessoa.
- A mulher ideal, está esperando por ela? - Sim, estou ŕ espera dela.
Mavi, é melhor que vocę năo venha, há alguém lá embaixo.
- Vocę me ouviu? - De que vocę tem medo?
Năo tenho medo por mim, mas por vocę.
Além disso, năo é uma questăo de medo.
Em minha opiniăo, vocę perdeu o senso de humor.
Se é como vocę diz, é um problema, năo é?
Mas talvez seja o humorismo que mudou.
Năo irei, entăo.
Espere.
Năo irei.
Olha... Tenho celulite aqui.
Deveria estar na flor da minha vida... mas ao contrário...
Só vai estar velha quando ninguém se apaixonar mais por vocę.
Mas velho estou eu, entăo năo se preocupe.
Vocę está apaixonado por mim?
Alô?
Estava embaixo na escada, corri por isso.
Năo, saí para comprar cigarros. Acabei de chegar.
Quem me garante que vocę e esse homem năo se encontram ŕs escondidas?
Eu lhe garanto. Quer que eu jure?
Năo, năo, năo, Acredito.
Vocę disse que acreditava, mas năo acredita em mim.
Tudo bem, que seja.
- O homem continua aí? - Sim.
Convide-o para beber um drinque.
É uma idéia.
Telefono-lhe depois, ok? Adeus.
- Meu Deus, quem está aí? - Sou eu. Năo acenda a luz.
Vocę está maluco, porque que năo posso acender?
O sujeito que vigiava a minha casa me seguiu, e logo estará aqui.
Se estivermos ŕs escuras ele năo verá nada. Até mesmo ele tęm uma família, năo?
- E depois, fugimos os dois. - Para onde?
- Para o campo, ok? - Sim, amor.
Amor, amor, amor, amor amor, amor.
Vai estar frio? O lugar tem calefaçăo?
Năo sei, a casa năo é minha. Aluguei-a.
Estive lá um par de vezes no verăo.
Talvez esteja frio. Leve um pulôver ou algo assim.
Olhe. Será ele?
Năo, năo é o carro dele.
Escuta, quem quer que ande de noite tem sempre bons motivos para fazę-lo.
Fúteis, sérios, quem sabe?
Pensamos que săo bandidos, mas vocę sabe por quę?
Porque estamos cheios de suspeitas, tudo baseado puramente em emoçőes.
Aí está a neblina.
- Vá devagar. - Mais devagar do que isto?
- Sim, năo se vę nada. - Estou seguindo a linha branca.
- Tem certeza que a estrada é esta? - Espero que sim.
Me dá um cigarro, por favor?
Pegue.
Pode acender?
- Năo quero mais isto, dou para vocę? - Tudo bem.
- Ficou irritado? - Năo.
Um semáforo. Quem sabe o que significa.
Nic.
Onde vocę está?
Estou aqui.
Năo desapareça, por favor.
Vocę acredita que até aqui há alguém que esteja lhe espionando?
Năo acredito.
Mas eu lhe digo que sim.
O que lhe faz dizer?
- Estou sentindo. - Bem.
Quer apostar que vamos fazer com que percam o nosso rastro?
Cuidado!
Isto é uma loucura, pare, năo... Năo consigo ver nada.
Já disse para parar, entendeu?
Por favor, pare; vocę năo entende, tenho medo.
Năo é possível. Basta!
Tenho medo, pare!
Deixe-me descer.
Vocę realmente é...
Mavi.
Mavi.
Mavi.
Ouça, desculpe.
Por acaso năo viu uma moça de cabelo curto, com um blusăo...
Visto? Quem poderia vę-la?
Lá embaixo está uma confusăo. Năo sei o que aconteceu.
Mas... houve tiros, năo sei quem disparou. Năo ouviu tiros?
Năo.
Parece que alguém caiu no rio.
Sim, parece que há alguns... delinqüentes.
Sim, arrombam e roubam os carros, e também os transeuntes.
Até tocaram a sirene.
Năo ouviu a sirene?
Năo ouviu a sirene da ambulância?
- Năo, năo. - É surdo ou quę?
Isso é coisa de loucos, năo sei.
O que vocę tem, está se sentindo mal?
Até quando vai estar zangada comigo?
Sabia que tudo isto foi construído sobre escombros?
- Como sobre escombros? - Sim,
debaixo disto está uma antiga vila romana
A razăo pela qual me alugaram isto, é realmente essa.
Os escombros acabaram aparecendo por toda a casa,
é uma espécie de vingança do tempo.
- Nossa măe... - Vamos ver,
Nunca estive lá embaixo, venha.
Dę-me a măo.
Atençăo.
Venha, venha.
Veja.
Ah!
Está úmida.
- Năo vai acender - Por que tăo pessimista?
Năo confia na natureza?
Em Baku, na Rússia, há uma guardiă de um templo ao Deus do Fogo,
e há uma chama sempre acesa que tem origem nas entranhas da Terra
Ah!
Na verdade é petróleo que queima.
A regiăo está cheia de petróleo, sorte a deles.
- Gosto muito de vocę, sabia? - Por que năo me diz amo-lhe?
Penso que nunca disse isso em toda a minha vida.
Por pudor, talvez.
Diga-me amo vocę
E depois, diga-me o quer dizer amar.
Vocę năo me ama.
Precisa de mim, e isso năo é amor.
Precisa de mim para viver, ou sobreviver.
Mas é o problema de todos hoje, sobreviver.
Năo vou vesti-lo.
Diga-me por que năo quer vesti-lo?
Gosto de sentir frio.
Vocę, ao contrário, gostaria de me ver coberta pelas roupas, quente,
sem o risco de uma pneumonia ou somente de um resfriado.
Se ficar resfriada, é problema meu.
Vocę nunca vai ter nada.
É imune a todas as doenças, como os tubarőes
que podem comer a lataria de um automóvel
ou o vírus da poliomielite; digerem tudo.
Năo quero mais ficar aqui.
Para onde iríamos, năo há hotéis por aqui.
- E depois, aqueles bichos lá embaixo. - Está tudo fechado, Mavi; năo tenha medo.
Vocę me faz medo.
Eu?
Pensei que se sentia protegida comigo.
Tenho medo que vocę arruíne a minha vida.
E vocę năo pensas que a sua vida pode ser
aquela que levamos há alguns meses?
Aquela que levamos há alguns meses é provisória para nós dois.
Năo sei ao menos aonde vocę vai. Năo conheço nenhum dos seus amigos.
Năo sei nada sobre vocę. Nada.
E vocę gosta de como vivo a minha vida.
Cristo, como vocę é lúcida.
Elena.
Espero que năo tenha alugado a casa também.
Năo me vai dizer que também pagou um depósito?
Năo, só que...
Alô, quem fala?
Fala o Farra, a Mavi está? A senhorita Mavi.
Lamento, a senhorita năo esteve aqui hoje.
Mas, está na cidade?
Penso que sim.
Oh... desculpe, a irmă dela está em casa?
Năo, saiu, lamento.
Obrigado, foi muito amável.
Muito amável.
Sim, o que é?
O Sr. Farra está ao telefone. Está ŕ procura da senhorita Maria Vittoria.
Deixe-o procurar.
Desculpe, vocę e a irmă da Mavi, năo é?
- Sim, vocę é o Niccolň? - Sim.
Lamento, năo posso fazer nada por vocę. Procure compreender.
Certo.
- Há muito que está esperando? - Um pouco.
- O porteiro deixou-me entrar. - Querida irmă.
Niccolň, venha ver.
O que é?
Viu aquele ninho?
- Aquilo năo é um ninho. - O que é?
Quem sabe?
Onde estăo os pássaros quando o ninho está vazio?
Por aí, voando.
Encontrou os selos?
Venha. Agora lhe dou uma caixa cheia.
Năo estamos muito faladores hoje, eh?
Um irmăo e uma irmă deprimidos juntos
năo fazem um par feliz.
Quando vai me apresentar a Mavi?
Acho que nunca.
Culpa dela ou culpa sua?
Por que me pergunta isso?
Com a sua mulher a culpa foi sua.
Lucio, agora que já tem os selos, vamos embora.
Niccolň, porque năo faz um filme de ficçăo cientifica?
Năo seria uma má idéia.
Pode me dar o Nuoto?
Olá.
- Năo se lembra de mim? - Năo.
- Encontramo-nos numa festa. - Năo, năo me lembro.
- É o seu namorado? - Năo, só amigo.
- Gosta de nadar? - Năo.
- O que faz aqui, entăo? - Nada.
Eu gosto.
Quando era pequeno, também fazia saltos.
Até ganhei uma medalha.
Já esteve apaixonada?
Nunca teve vontade de estar?
- Năo. - Por quę?
Năo sou capaz disso.
É frígida?
- Năo... - É pela castidade?
Pode ser uma soluçăo.
Năo tem cara de estar apaixonada.
Realmente, năo estou.
Entăo, o que gosta de fazer?
Gosto...
- Gosto de me masturbar. - Ah sim?
No entanto, é melhor com outra pessoa. Melhor ainda se for uma mulher.
Como assim?
Porque uma mulher faz isso para me dar prazer.
Enquanto um homem faz para ele mesmo, para provar a sua virilidade.
Com uma mulher é tudo mais macio.
- Conhece a Mavi Luppis? - Um pouco.
É mais velha que eu.
- Ia para a cama com uma amiga minha. - Ah.
É jovem, essa sua amiga?
Sim.
Loira?
Da sua altura, talvez?
Foi numa noite, na praia.
Tínhamos acabado de jantar,
havia luta de dar boxe na TV.
Os homens foram todos a ver o boxe, e nós ficamos sozinhas.
Estávamos zangadas com eles, e entăo acabamos na cama.
Um pouco em protesto contra os homens.
Onde está a Mavi agora, em Roma?
Năo sei.
- Adeus. - Adeus.
- Espere por mim, vou embora com vocę. - Está bem.
- Estou atrasada? - Trocou de carro.
Mudei de mentalidade e sentimentos. Espere enquanto estaciono.
Eh, vocę ficou uma esnobe.
Pensei que o campo tornasse as pessoas mais simples.
- Estou mais simples, năo se vę? - Năo.
Estou bastante elegante, năo é?
- Porque me telefonou? - Tinha vontade de vę-la.
- Tinha. Entăo agora já năo ter mais? - Tenho, claro, e vocę?
- Eu tenho muita vontade de fazer pipi. - Ah. Ali, olhe.
Năo, no bar năo. As privadas estăo quebradas.
Entăo vamos ao teatro.
- Sim. - Ok.
Veja, estes săo inconvenientes que năo ocorrem no campo.
- Fica atrás de uma árvore e é feliz. - Eu sei.
Em minha opiniăo, vocę é feliz quando o corpo...
...está em harmonia com os pensamentos, com as idéias.
O meu está habituado ao campo, aos rios ŕs árvores, ŕ terra gelada.
Começa-se a pensar de modo diferente de como pensava na cidade.
Aqui, as leis da natureza năo valem nada, e fazem sentir-me... vazia.
Por isso lhe telefonei.
Porque de vez em quando vocę vem com coisas como essa.
Como? O que vocę quer dizer? - É bonito. Agrada-me.
- Escute, năo vamos ao teatro. - Entăo o que fazemos?
Năo sei, vamos a qualquer lado, falamos, comemos...
- Sim. - Ok?
- Săo bonitas, entretanto. - Sim, voltaremos noutra noite.
Olhe, ali está uma destas garotas.
Depressa, estamos atrasados.
- Olá. - Olá.
- Conhece-a? - Năo.
É muito sexy.
E o pipi?
Năo se preocupes. Posso agüentar tręs anos.
Por que voltou para ver o espetáculo?
Năo vim para ver o espetáculo.
Vim para ver como fazem o păo.
Ouvi dizer que vocę é um intelectual degenerado.
Daqueles com os quais é impossível discutir.
Năo sou um intelectual, nem degenerado, nem sadio.
Ouvi dizer duas vezes, deve ser verdade.
Năo ouvi nada sobre vocę.
Ah sim, alguém me disse que vocę é muito sexy.
Só isso?
Bem, também disseram outras coisas, mas eu năo quero saber. Prefiro saber por mim.
Com quem vai para a cama atualmente?
- Com um rapaz da minha idade. - Ah. O seu diretor?
Năo.
- Vocę vai para a cama com as suas atrizes? - Raramente.
- Estou contente, năo sou o diretor. - Por quę?
Por duas razőes.
A segunda é que aquele rapaz tem um rosto que faz lembrar Heine.
É triste como um alemăo que morreu no dia anterior.
- Quem é Heine? - Um alemăo que morreu há dois séculos.
- E a primeira? - Adivinhe.
Năo...
Lá em baixo estăo os cavalos.
Onde lá embaixo?
É por isso que estou aqui.
Chegamos. Aquela casa lá.
Aquela? Bonita, năo?
É de alguns conhecidos meus que moram em um castelo.
É gostoso aqui.
Sente-se.
- É preciso? - Eh... năo.
Năo.
- O que vocę tem?
Pensava numa mulher, veja só.
- Pensa muito nela? - Năo, águas passadas.
Há muito tempo que năo montava.
O bater na sela me excita.
- Como aprendeu a montar? - Uma amiga ensinou-me.
O pai dela tinha uma coudelaria.
Agora vocę também pertence a esse ambiente.
Por que eu também? Aquela outra também?
Sim.
Năo.
Imagine, aos dezesseis anos eu já trabalhava.
Viajava por aí numa caminhonete com um sujeito que vendia roupas.
E eu fazia a apresentaçăo. Dez, doze, vinte vezes por dia
Há noite estava morta, Dava-me dez mil liras por dia
Era muito para mim.
Era um sujeito simpático?
Razoavelmente.
Incansável.
No fim do dia, queria sair para comer ou dançar, mas eu estava esgotada.
Só uma vez fui com ele.
E entăo?
Nunca fui para a cama com ele, se é isso o que quer saber
- Vocę pensou nisso? Verdade? - Sim, que merda, pensei nisso.
Estou começando a ficar mole.
Nunca fui ŕ sua casa, Vocę me leva?
Pode ir e vir quando quiser.
Hoje é segunda-feira, descanso.
- Nos vemos mais tarde? - Quer as chaves?
Por favor, năo. Teria medo de perdę-las.
- Adeus. - Adeus.
- Boa noite. - Olá.
Năo gosta?
Năo sei se gosto, Vim para ver vocę na sua casa, năo para ver a casa.
Minha é maneira de dizer. Quem a decorou foi minha ex-mulher, ela é que fez tudo.
O que vocę faria se eu năo estivesse aqui?
Iria para o meu estúdio.
- Onde é? - Ali.
Linda.
E todas aquelas fotografias, quem săo?
Mulheres, como pode ver.
Para um filme?
Sim, estou buscando um rosto.
- Como a vę? - Vou lá saber.
Bonita, năo?
Aquela é interessante, tem uns olhos muito vivos
Săo terroristas.
Duas vidas coerentes.
Sim.
Sim, num contexto como o deles que diz respeito ŕ virilidade,
ŕ coragem, ŕ vida também...
Só pode resultar uma relaçăo violenta.
Pense, aquela garota abandonou o marido por diferenças ideológicas.
Foi-se embora, deixou o filho com ele, para ir viver com aquele fulano.
E com o marido, reencontra-se nos jornais.
- O marido também está preso? - Sim.
- Que romance. - Tęm tudo em comum, esses dois.
Ideologia, fanatismo, clandestinidade, risco
Forçosamente deveriam estar bem juntos.
É quando duas pessoas tęm uma relaçăo normal, que começam os problemas
- Vamos ao cinema ou ao teatro? - Sim.
- O que é isto? - Vieram trazę-las ŕ tarde.
- Săo para a senhorita... - Compreendo, compreendo.
Tęm um cartăo, olha.
Que homenagem fúnebre.
- Onde as ponho? - Decida vocę, Romolo.
Desculpe, o que faço com isto?
Escute, vai dá-las ao senhor do piano de cima, verá como fica contente.
Mas veja só... Raios partam aquela vagabunda e estas flores.
Já viu alguém mandar uma coisa dessas...
Já lhe aconteceu odiar alguém?
Năo, năo.
Odiar realmente, parece-me que năo.
É a mesma garota... do picadeiro?
Năo é ela que eu odeio.
É aquele que me mandou os crisântemos.
Japoneses.
Deveria saber que tudo acabou, mas continua.
Entre as poucas coisas em que acredito, está também o ódio.
Mas há bastante ódio dentro dele... e costuma descarregá-lo em mim.
- Desculpe. - Sou eu que devo me desculpar.
Năo consigo... ser bastante para vocę.
Năo ponha estas coisas na cabeça.
É que me sinto impotente! Com os diabos!
- Olá, como vai? - Ah, como estou, hem?
Escute, Sr. Farra...
Já lhe dei um conselho, e agora vou dar-lhe outro.
- Năo faça um escândalo. - Exatamente.
Sem escândalo. Vamos.
O que faz por estes lados?
Nada, o carro quebrou, e procurava um telefone.
Ah, procurava um telefone. Olhe que coincidęncia.
Se quiser pode telefonar da minha casa, já que moro aqui perto, sabe.
O que quer de mim?
Năo, vocę tem de me dizer que lhe paga por este trabalho de merda que faz.
Afortunadamente, o comissário năo era um idiota.
Menos mal.
Ele me disse...
Vocę procura um desconhecido que lhe fez ameaças,
mas se aqui todos estăo ameaçados.
Para onde quer que se volte, năo há jeito de estar sossegado
O que fazer, trancá-los todos?
Porque quer saber a todo o custo o nome desse homem?
Tem razăo, năo tem importância.
O que estás fazendo, vai embora? Vim aqui para ficar com vocę.
- Quer saber aonde vou? - Sim.
Vou procurá-la.
- Ah, e como? - Tive uma idéia.
Năo sabe nem como se chama.
Vocę me faz mais idiota do que eu năo sou.
Escute, esqueça o que eu disse, isso năo me interessa.
Porque olha para mim assim?
Tento entender se está sendo sincero.
Muito sincero.
De qualquer forma, hoje prefiro năo estar com vocę. Posso?
E eu, posso ficar aqui um pouco?
Claro.
Pode até remexer nas gavetas, se quiser.
Preferiria remexer aqui.
Năo...
- Sem rancores, sim? - Sim...
Vemos-nos amanhă.
- Ok. - Está bem?
Ainda aqui?
Fiquei com sono.
É para vocę.
Pagina 41.
Como conseguiu isto?
- Vou lhe explicar outra hora. - Năo, por favor, agora.
O nome da florista estava no envelope do cartăo dos crisântemos.
- Imagine que estúpidos. - E depois?
Entăo fui lá, e procurei nas encomendas de flores feitas por mulheres.
Provavelmente uma secretária.
- Secretária de quem? - Năo sei...
Năo perguntei. Procurava a ela, năo a ele.
Como chegou a ela entăo?
Havia este exemplar da TIME lá, na loja.
Ah, um florista que lę a Time.
- Por favor! - Talvez leia, mas estava lá.
Talvez a secretária tenha lá deixado.
Escuta, Ida, se vocę sabe quem é mas năo me diz, eu posso...
Vocę o quę?
Foi vocę que me disse para esquecer disso,
porque para vocę ela năo tinha a mínima importância.
Ela sim, ele năo!
Mas, Santo Deus,
Năo se pode passar a vida ŕ espera do momento da vingança.
- Vocę năo pode entender. - Quem sabe por que năo posso entender!
Sou uma pessoa como vocę, sabe?
Só por acaso de sexo diferente.
Diga-me a verdade, porque quer saber?
Estou na mesma situaçăo...
...como quando procuro a soluçăo para a trama de um filme, e năo a encontro.
Tenho um suspeito. Queria saber se vocę tinha adivinhado ou năo.
E quem é esse suspeito?
O pai dela.
Ah!
Acredita que ele esteja apaixonado por ela?
Mas...
Amor paternal, ciúmes paternais, acontece.
O que está fazendo, o enquadramento?
Tenho a testa muito grande, năo é?
É exatamente essa testa que dá ao seu rosto essa incrível expressăo.
Aqui, esta é a moça, pode ajudar-me a encontrá-la?
Deseja pô-la num filme? Podemos notificá-la sobre isso?
Năo, nada de filmes, de notícias, só quero o endereço.
- Tudo bem. - Obrigado.
Está.
Simonetta, preciso do endereço da Maria Vittoria Luppis,
depressa por favor.
Ok.
É muito bonita, năo é?
Sim, muito bonita.
Fique um momento para conversar, Năo nos encontramos mais.
Sei, mas hoje năo tenho tempo. Estou com muita pressa.
Aqui está, este é o endereço onde a encontramos.
Obrigado, Simonetta.
Desculpe...
Conhece uma moça chamada Maria Vittoria?
- Quem? - Mavi.
Ah, Mavi. Năo, Năo conheço, Nunca ouvi falar nela.
Uhm, obrigado.
- A Mavi está, por favor? - Mavi quę?
Luppis.
Quanto eu saiba, năo há nenhuma Mavi Luppis aqui.
Compreendo, obrigado.
Porque năo entra?
- Numa outra vez. - Como quiser, adeus.
- Adeus. - Adeus.
Bem, por um casaco de peles vou dizer ao meu marido...
e o faço mais rico por um casaco de peles... - Năo...
Que me interessa um casaco de peles...
Quer comprar algo? Nada?
- Eh, Mario, mas quem é aquele? - Eu o conheço... é da policia.
Mas aonde vai a estas horas?
- É vocę? - Quem queria que fosse.
Entăo, vai abrir?
Esta coisinha está quebrada.
Qual coisinha?
O puxador da fechadura, năo sei como fazer para abrir.
Porque trancou a porta?
Porque ele anda por aí.
- Ele quem? - Niccolň.
Veio aqui hoje cedo.
Talvez fosse melhor fechar a porta da frente.
O que está fazendo agora? Porque continua trancada?
Fui buscar óleo para pôr aqui.
Passe-me os fósforos por baixo da porta.
Espero que năo pense em ir-se embora também daqui.
Năo.
Entre, está aberta.
Tenho uma boa notícia.
Bem, boas para nós.
Um dos atores adoeceu, e os espetáculos foram suspensos por tręs dias.
Ah.
Vocę conhece Veneza no Inverno? A lagoa aberta?
Veneza no Inverno sim, a lagoa aberta năo. O que é?
Uma ilha exterior, virada para o mar.
Esta... é a lagoa aberta.
Que solidăo.
Eu, que sempre tenho tantos amigos em volta.
Gosto de estar em grupo.
É muito bonita, mas triste.
É a água que é triste.
O som da água. Escute, escute.
Năo há nenhuma alegria.
Perdoe-me.
- Por quę? - Por ter lhe trazido aqui
É uma doença...
uma deformaçăo profissional, procurar lugares como este.
Espera-se quem com a solidăo se estimule a imaginaçăo.
Me perdoa?
Se năo me perdoar, eu me jogo na água e năo volto mais.
Se se jogar, eu me jogo a seguir.
A primeira corrente que passar...
leva-me para o meio do mar, e acabo na boca de uma baleia.
E vocę, e todos os homens que me amaram...
irăo percorrer os oceanos, procurando a baleia.
Um pouco Moby ***.
- Năo conte com isso. - Por quę?
Porque năo gosto de baleias.
Ao vir aqui ficamos satisfeitos e contentes.
Eu ainda estou.
Isto năo tem que ver com a solidăo.
Sempre imaginamos que a felicidade está onde năo estamos.
Deve ser por isso que no mundo, há tanta gente que sofre.
Talvez seja preciso somente se casar, e depois resolver as coisas.
Casamos-nos? Năo vejo outra soluçăo.
Tornou-se um vício năo nos vermos.
Esse é o lugar de outra pessoa, năo pode parar aí.
Entăo...
Senhorita, chamam-na ao telefone, na cabina numero um, por favor.
Tem certeza?
Năo... năo!
Quando lhe telefonou?
Ouça, năo sei o que dizer.
É uma emoçăo que...
Como faço para explicar?
- Boas notícias? - Sim.
Năo sei.
Vou ter um bebę, fiz o ***, acabam de me dar a notícia.
Ida.
Ida, porque está assim?
Há um momento vocę estava feliz.
Vocę tinha me dito que tomavas as precauçőes.
Sim, mas...
Há quanto tempo andamos juntos?
Evidentemente, já estava grávida.
Ah.
Procurávamos uma soluçăo, Aqui está.
- Vocę fala como um diretor. - É o que sou.
Vocęs, os diretores italianos, agem como se fossem pagos...
...para se zangarem com os caminhos que o mundo toma.
Até mesmo ridicularizar isto.
Sempre é uma maneira de năo estar de acordo com ele.
Eu, pelo contrário, estou conforme com tudo o que me acontece.
Sofrerei como um animal se vocę năo me procurar mais.
Pode-se ver que para ter a criança, devo pagar.
Vocę é o meu amor.
Repita isso.
Vocę é meu amor.
Vocę é a minha festa. O meu Dia de Ano Novo.
A minha cocaína.
Vocę é tantas coisas.
Mas năo é a minha prioridade.
A minha prioridade é... é um rapaz que...
Lembra-se do dia, quando me mostrou as fotografias dos terroristas?
Vocę me disse:
Tęm tudo em comum, ideologia, fanatismo, clandestinidade, risco,
claro que se dăo bem.
O meu rapaz, se o vir,
e mais ainda se o conhecer...
Nós também estaríamos bem juntos
Depois, vocę gostaria de ser o pai de um filho que năo é seu?
É a história de uma nave espacial movendo-se na direçăo do sol.
Muito próxima do sol.
Năo se queima?
Na ficçăo científica, nunca se diz que coisas săo verossímeis e que coisas năo.
A minha nave espacial é um asteróide capturado no espaço...
e transformado numa nave espacial.
É feita com um mineral raro, capaz de a um milhăo de graus.
E porque é que se aproxima do sol?
Para estudá-lo. No dia em que os homens entenderem...
...como está distribuída a matéria no interior do sol...
...e as suas dinâmicas, talvez entendam como é constituído todo o universo.
E as razőes por trás de muitas coisas.
E depois?