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Dizem que foi aqui que tudo começou.
Que nós todos somos filhos da África.
Mas então, porque nos parecemos tão diferentes?
E como um punhado de famílias africanas
veio a se tornar um mundo inteiro cheio de gente?
Eu sou Alice Roberts, médica e antropóloga.
Sou fascinada pelo que ossos, pedras,
e até nossos corpos podem revelar sobre o passado distante.
Estou indo à procura dos rastros deixados pelos nossos ancestrais africanos
em suas jornadas para popularem o mundo.
dessa vez o mais intrigante quebra-cabeças...
É lindo.
...como afinal as pessoas fizeram a longa
e perigosa viagem até a Austrália,
antes mesmo de alcançarem a Europa?
Estou realmente preocupada que sejamos varridos nessa arrebentação.
Venha comigo nas pegadas de nossos ancestrais...
na mais épica aventura já empreendida.
Ninguém sabe como os primeiros humanos chegaram na Austrália.
41 graus em Mildura hoje e 41 em Swan Hill.
Estou começando por onde a viajem deveria terminar:
em um remoto sertão a 800 km de Sydney.
Essa paisagem tem uma aparência tão ressequida e estéril.
Estamos no meio da manhã e já faz mais de 40 graus.
Um forno.
E assim que você sai do carro, é atacado por centenas de moscas.
Nada agradável.
É difícil imaginar
porque nossos ancestrais quiseram fazer daqui o seu lar.
Se foi realmente o que aconteceu.
Há tão pouca evidência.
Mas bem recentemente, algo foi encontrado aqui perto.
Uma das poucas pessoas que sabe onde fica é Warren Clark.
Vamos subir um pouco por ali. Por aqui?
É.
A descoberta foi feita por um jovem Aborígine Australiano.
Tão importante que logo que foi revelado,
o sítio foi novamente enterrado, para sua proteção.
Ainda é secreto?
Sim, vai continuar secreto para sempre, de acordo com os anciãos.
Porque esse sítio é muito precioso.
É o nosso passado e vamos preservá-lo e protegê-lo...
para as gerações futuras.
Mas eu vim aqui num dia especial,
porque, pela primeira vez desde que o sítio foi re-enterrado,
o povo aborígine local e os arqueólogos estão juntos novamente
para inspecionar sua descoberta.
Mais de 500 pegadas humanas.
Aqui é o calcanhar.
E se pode ver como o pé se eleva aqui,
que é onde o arco do pé deveria estar.
E o dedão está bem aqui. Então, esse é o pé direito.
É impressionante se ver algo tão efêmero
do tipo que está aqui hoje, e amanhã some.
Parece uma bela pegadona.
É, era bem alimentado. É.
É incrivelmente dura essa camada, não é? Parece pedra.
É um tipo de argila? É como a nossa cerâmica.
E deve parecer também bastante pessoal, porque, sabe, é...
quer dizer, são seus ancestrais, não é?
Uma das mais antigas culturas do mundo.
É bastante especial e única.
Mas a quem pertenciam essas pegadas?
Tanya Charles estava aqui quando elas foram encontradas.
Outras pessoas que estavam conosco diziam:
''Elas são de fazendeiros que passaram por aqui.''
E nós, ''Não, são nossas.''
Seus amigos usam sapatos. Nós não. E não voltamos atrás.
Nós sabíamos no íntimo, nós sabíamos que eram nossas.
Cientistas e rastreadores aborígines
interpretaram as pegadas de homens, mulheres e crianças,
andando e correndo em volta da margem do que uma vez foi um antigo lago.
A pista mais bizarra parece ter sido de um homem de uma perna só.
Como, nós sabemos, ele tinha um pé só,
mas não queríamos acreditar.
Sim!
Porque, sabe, um homem de um pé só naquela época, é como, "Oh, assustador."
E ele estava caçando um canguru, e em seu primeiro arremesso
ele errou o canguru.
Certo.
Sim. No segundo arremesso ele o pegou e o derrubou em um joelho.
Há quanto tempo atrás esse povo viveu?
Com uma nova técnica chamada datação por luminescência,
cientistas puderam medir um brilho ínfimo
quando grãos de areia das pegadas foram analisados.
E com isso, eles puderam calcular quanto tempo as pegadas ficaram enterradas.
Os resultados foram estonteantes.
As pegadas tinham cerca de 20.000 anos.
Existe algo realmente íntimo nisso,
porque é o exato momento na vida de alguém
enquanto caminhava nessa paisagem.
E tem a aparência de uma pegada que pode ter sido feita ontem.
E tem 20.000 anos.
Então, foi quando as pessoas primeiro alcançaram a Austrália,
bem depois da Europa e da Ásia terem sido colonizadas?
Isso realmente faria sentido, visto quão distante é a Austrália.
Mas me disseram que há outras evidências por aqui,
que podem virar essa ideia de cabeça para baixo.
Estou olhando para os vestígios de uma fera extinta:
O canguru gigante.
Já é por volta de meio dia e... muito calor.
Certo, o que é isso?
É um graveto.
Vi isso à distância e pensei:
''Oh, certo, será um canguru gigante?''
Não é. É um graveto.
Um monte de pequenos fragmentos.
Essa coisa que eu peguei é
um osso longo do pé de um canguru moderno.
Oh, veja.
Certo. Agora temos dois fragmentos.
E se os colocarmos juntos assim, esse é o osso do dedo do pé
de um antigo canguru gigante.
Se olharmos para a extremidade, podemos ver que
basicamente é o mesmo osso que esse aqui,
mas esse aqui pertence a um animal muito mais parrudo.
Eles têm basicamente o mesmo comprimento,
se você imaginar que ele também termina aqui.
mais você pode ver o quanto mais atarracado ele era.
E você pode imaginar o quanto mais pesado esse animal deveria ser.
Cangurus gigantes podiam crescer até 2,5 m de altura.
Mas parece que eles se extinguiram
pouco depois de 50.000 anos atrás.
Seria possível que isso ocorreu por causa da entrada em cena de um novo predador?
Se foi, poderia significar que os humanos
chegaram aqui muito antes de 20.000 anos.
E existe uma coisa - ou melhor, alguém -
que pode confirmar essa chegada precoce.
Mungo Man.
Esse é o crânio do Mungo Man.
E esses ossos
são os restos humanos mais antigos que já foram encontrados na Austrália.
E eles são incrivelmente velhos.
As estimativas mais conservadoras lhes dão 40.000 anos,
e algumas pessoas afirmam que eles podem ter mais de 60.000 anos
E isso é bastante extraordinário,
porque significaria que os humanos modernos já estavam na Austrália
antes de alcançarem a Europa.
O que parece altamente improvável.
Não só a Austrália é muito mais longe da África do que a Europa,
como também há um oceano para cruzar.
Essa jornada parece tão improvável,
que alguns cientistas duvidaram dela.
Ao invés, sugeriram que os Australianos de algum modo teriam evoluído localmente.
E é realmente um mistério.
O problema é que há muito pouca evidência física
mostrando que essa rota da África até a Austrália
alguma vez foi tomada.
É um dos grandes quebra-cabeças da jornada humana.
Só tem um jeito de resolver esse mistério,
e é voltando até o início da trilha.
Para a África.
Anteriormente, vi evidências que sugerem que a maioria de nós descende
de um pequeno grupo de pessoas que saíram do continente a cerca de 70.000 anos.
Uma teoria é que essas famílias cruzaram o Mar Vermelho
e foram para leste, seguindo o litoral.
E então, provavelmente viajaram pela costa da Índia.
Então esse é o primeiro lugar para procurar evidências
da nossa jornada em direção a Austrália.
Seria absolutamente fantástico se tivéssemos
uma trilha de ferramentas de pedra e fósseis humanos
pelo caminho, ao longo da costa da Índia.
Infelizmente, não temos.
Ao longo de milhares de quilômetros de costa, nada.
Mas talvez eu esteja olhando no lugar errado.
Eu soube que novas evidências foram desenterradas
numa parte bastante remota da Índia.
Uma que está se mostrando difícil de alcançar.
Talvez eu deva pegar carona num desses tuk-tuks.
Existe alguma evidência real surgindo bem agora
num sítio arqueológico muito longe da costa.
É chamado Jwalapuram, e está bem no coração do sul da Índia.
Daqui, é um vale bonito e fértil,
mas logo sob a superfície, há uma grossa camada de cinzas brancas.
Atualmente, ela é minerada por famílias pobres da aldeia de Jwalapuram,
que vendem as cinzas para companhias de química.
Mas as próprias cinzas têm uma incrível história para contar.
Ela começou há milhares de anos, com a erupção do Monte Toba em Sumatra.
Um supervulcão.
A erupção mais devastadora na experiência humana.
A nuvem de cinzas foi levada pelo vento a mais de 2.000 km a noroeste,
alcançando a Índia.
Imagine só, o que deve ter sido
uma paisagem luxuriante transformada de repente.
Nuvens de cinzas no ar, sufocando a vida vegetal e animal.
Deve ter sido um desastre ambiental.
Então, o que Toba nos diz?
Bem, temos uma data precisa. Toba entrou em erupção há 74.000 anos.
A questão para nós é: os humanos modernos já tinham alcançado a Índia
na época em que ocorreu?
Até recentemente, a resposta era não,
mas uma nova descoberta pode mudar isso.
Arqueólogos indianos uniram forças com Mike Petraglia
da Universidade de Cambridge.
Isso se parece com uma lâmina. Sim, sr.
mas o mais importante, é que há um retoque aqui.
É, um retoque, Sim.
E se parece com um raspador.
E Mike está tirando algumas conclusões surpreendentes
do que achou profundamente na cinza.
Essa é a super erupção do Toba,
o depósito que representa a queda das cinzas.
É uma enorme quantidade de cinzas.
É, são quase 2 metros de cinzas.
E a parte do fundo é o que chamamos de cinzas primárias.
Ainda tem cinzas aqui embaixo, nesse material cinzento.
Sim. Veja que há um contato bem nítido.
O início das cinzas começa aqui e sobe
toda essa altura, até dois metros.
E o que é extraordinário é que temos
muitos artefatos espetaculares surgindo.
É como uma pequena ponta de lança.
Sim, é exatamente o que é.
Nós achamos que é mesmo uma ponta de lança.
É. E o que é tão interessante
nessa peça em particular, é que a ponta está quebrada,
e portanto sabemos que a lança foi arremessada e quebrou em uso.
E o mais importante sobre essa peça em particular,
é que surgiu em depósitos sob as cinzas há 78.000 anos.
Então você sabe a data dele?
Sabemos a data com muita precisão.
É entre 78.000 e 74.000 anos.
É uma data muito, muito antiga, Mike.
Sim, e a importância dessa data
é que essas pontas de lança também são encontradas no norte de África
em algum ponto entre 90 e 60.000 anos.
E nossa ponta se encaixa exatamente nessa faixa.
Mike acredita que é uma boa evidência que nossos antepassados estiveram aqui.
Mas eles poderiam sobreviver a isso,
um super vulcão?
Bem, junto com essa única ponta de pedra
a equipe achou outros tipos de ferramentas.
Há uma continuidade de ferramentas, sob as cinzas e sobre as cinzas.
Então nós temos literalmente centenas de artefatos muito similares.
Certo. Isso significa que a população humana que havia aqui sob as cinzas,
sobreviveu à super erupção do Toba?
Sim, é o nosso argumento,
que quem quer que estivesse aqui, sobreviveu à super erupção do Toba.
Assim mesmo, foi um grande evento,
e teve um efeito nessas populações, mas essas populações sobreviveram
a esse evento vulcânico.
Mas essas ferramentas foram mesmo deixadas pela nossa espécie?
Há muitos cientistas que não serão persuadidos
até que a equipe ache mais evidências, como ossos humanos.
Mas devo dizer, que estou bem convencido com a evidência daqui.
Então, Jwalapuram há 78.000 anos é meu primeiro marco
na rota leste para fora da África.
E para onde eles foram a seguir?
Finalmente, uma dica que nossos antigos ancestrais podem ter vindo por aqui.
Talvez algumas dessas famílias que sobreviveram ao Toba
tenham começado lentamente a se espalhar pelo continente.
Não foi realmente uma jornada no sentido convencional,
porque apesar de certamente eu estar cobrindo muito terreno
tentando recapturar os movimentos que esses primeiros humanos
fizeram através da região, nós estamos na verdade falando
de expansão populacional.
Pressão dos números e competição por recursos.
E a coisa natural a fazer
são as pessoas se espalharem através da paisagem.
E você pode imaginar grupos familiares como que se dividindo
e se movendo em todas as direções,
e a árvore genética gradualmente crescendo e também se espalhando.
Mas por trás da onda de colonização em direção ao leste,
algumas famílias permaneceram onde estavam,
e assentaram raízes.
E talvez, essas pessoas que ficaram
são os que darão a próxima pista.
Os países em torno do Oceano Índico, têm tribos remotas
que se parecem diferentes de todos os demais.
Eles poderiam lançar alguma luz sobre os primeiros colonizadores?
Para investigar, eu estou indo para a Malásia.
Que cidade impressionante.
A capital cosmopolita, Kuala Lumpur.
Mas algumas horas além há um mundo completamente diferente
e um pequeno grupo de pessoas apegadas à vida tradicional.
Poderiam ser uma relíquia dessa primeira migração ao leste da África?
Acredita-se que as tribos Semang sejam as pessoas mais antigas da Malásia.
E ele se parecem diferentes dos outros malaios.
Essa é uma seleção de rostos malaios típicos.
E você pode ver que essas pessoas têm uma pele bem clara,
com aparência do leste da Ásia.
E esse é um homem Semang.
E o Semang tem uma aparência completamente diferente.
Eles vivem na Malásia,
mas não se parecem com o resto da população.
Eles têm a pele muito mais escura.
Algumas pessoas vão até mais longe
e dizem que eles têm uma aparência africana.
E eu imagino que a sua aparência esteja nos contando algo
sobre sua remota ancestralidade.
A floresta tropical está desaparecendo em volta deles
e muitos agora trabalham em plantações de borracha e madeireiras.
Mas eles ainda têm orgulho de suas tradições de caçadores-coletores.
Sou mesmo barulhenta.
Eles são tão furtivos.
E eu estou pisando em galhinhos e coisas.
Excelente. Vou dar uma também.
Ok!
E as moças também se ofereceram para me passar suas habilidades de caça.
Oh, é brilhante. Estão todas espremidas embaixo dessa pedra,
desesperadamente revolvendo embaixo dela, tentando pegar esses peixes.
É pequeno!
Estão agora debaixo d'água,
tateando em volta sob as pedras e agarrando os peixes.
E a coisa toda é uma grande farra.
Sabe, elas são como meninas de escola se divertindo,
e conseguindo um pouco de comida no caminho.
E é muito triste que esse é um modo de vida que
não vai ser possível por muito tempo. Eu não acho.
Mas a pista mais reveladora não é o modo de vida Samang
ou sua aparência.
É invisível a olho nu, escondido dentro deles.
Surpreendentemente, através de seu DNA pode ser possível
traçar essa primeira grande jornada através da Malásia.
O especialista em genética Stephen Oppenheimer veio de Oxford.
Seu trabalho está ajudando a revolucionar a história da jornada humana.
Acho que é um pouco como uma história de detetive
onde você tem uma pista bem específica, que você pode medir,
como os rastreadores tradicionais,
que seguem uma trilha que mais ninguém pode ver.
Combinando genes e geografia,
Stephen mapeou a rota desde a África, através do Mar Vermelho
e em torno do litoral do Oceano Índico.
Olhando o DNA dos Semang,
Stephen espera achar evidências dessas primitivas migrações para a Austrália.
A nova genética é extremamente poderosa
para procurar migrações antigas,
porque você não só pode traçar migrações muito específicas,
como também pode datá-las.
Stephen está procurando por marcadores genéticos únicos
que lhe dirão quando os primeiros ancestrais dos Semang chegaram aqui.
O que tem as datas? Porque eles pensam que sempre estiveram aqui.
Eles pensam que são muito antigos. E eu concordo com eles.
Você concorda? Sim.
Então, eles estão aqui há 60.000 anos? Seus ancestrais estiveram aqui...
Pelo menos 60.000. Eu suspeito que muito, muito mais.
Quer dizer, é incrível, porque se sua singularidade chega tão longe,
e, você sabe, se podemos dizer que eles
provavelmente estão aqui nessa área há 60.000 anos,
isso significa que eles estão muito próximos da onda de colonização, não é?
Eles eram parte dela. Eles estavam na vanguarda.
Sim. Eles foram uma colônia deixada
pelo caminho enquanto a vanguarda avançava em direção à Nova Guiné e Austrália.
É incrivelmente frustrante que esses primeiros grupos familiares
desbravando essas novas terras, tenham deixado tão pouco para acharmos.
Mas a genética veio em socorro.
As pesquisas de Stephen nos dizem que os ancestrais dos Semang provavelmente
estavam entre os primeiros humanos modernos que vieram para cá.
E não só isso, pois a genética sugere
que a vanguarda se moveu surpreendentemente rápido,
percorrendo o todo o caminho da África até a Malásia
no espaço de apenas poucos milhares de anos.
Há outras tribos que têm raízes antigas também.
Juntas, são como um eco distante dessa primeira migração,
uma jornada que se iniciou na África, continuou através da Índia
e pela costa até a Malásia.
Mas eles continuaram?
Depois da Península Malaia, a terra termina,
quebrando-se numa *** de ilhas.
Mas usando um programa de computador que modela o clima no passado,
é possível voltar no tempo
e ver como era o mapa há milhares de anos.
E se rodarmos o computador climático para trás no tempo -
e estamos correndo por dezenas de milhares de anos -
podemos ver que essas ilhas começam a se juntar.
E na verdade, muitas das ilhas
que fazem parte das modernas Malásia e Indonésia,
se juntam para fazer parte do continente.
Eles puderam fazer todo o caminho até Bornéu
sem terem que molhar os pés.
E muito pode estar perdido sob o mar.
Mas há uma coisa.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o major inglês Tom Harrison
saltou de pára-quedas em Bornéu numa missão das forças especiais.
Ele encorajou as tribos locais a usarem a antiga prática de caçar cabeças
contra os japoneses.
Depois da guerra, Harrison, um perspicaz arqueólogo, permaneceu aqui...
e iniciou a investigação da legendária Caverna Niah.
Oh, eu já vi fotos da grande Caverna Niah,
mas realmente nada prepara você para sua escala.
Harrison iniciou uma grande escavação.
Ele tinha um palpite que essas cavernas
poderiam ser um lar perfeito para humanos primitivos.
Essa parte da escavação era conhecida como "trincheira do Inferno".
E descendo nela, é fácil ver porque,
pois ela logo fica quente e úmida.
Mas o trabalho duro e o desconforto valeram a pena,
pois os arqueólogos acharam algo
que era fenomenal.
É um crânio humano.
Estava em muitos pedaços quando foi encontrado
que foram cuidadosamente encaixados juntos como um quebra-cabeças.
E esse é o topo do crânio.
É sem dúvida um humano moderno, tem uma testa alta e arredondada.
O crânio foi datado em cerca de 40.000 anos,
os restos mais antigos da nossa espécie confirmados no Sudeste Asiático.
Mas a Caverna Niah também nos oferece a pista de como essas pessoas sobreviviam
no desafiador meio ambiente da floresta tropical.
Conforme você penetra um pouco no interior da caverna,
fica significativamente mais fresco e agradável.
E fica um lugar ideal para esses caçadores-coletores
montarem seu acampamento.
E então eles poderiam sair e vagar pela floresta.
A evidência arqueológica mostra que eles estavam trazendo
uma enorme variedade de alimentos,
desde macacos, porcos e lagartos, até moluscos, inhame e sagu.
Comparados com outras espécies, somos incrivelmente adaptáveis.
Para sobreviver, nós humanos comemos quase qualquer coisa.
E para ilustrar exatamente esse ponto, em outro canto da caverna
algo fora do comum está acontecendo.
Eu cheguei na época da colheita de um ingrediente usado na iguaria chinesa
sopa de ninho de pássaro.
É feita de ninhos de andorinhas raras,
e hoje esses homens estão desafiando a morte na façanha de alcançá-las.
Bem, isso é a ingenuidade humana, não é?
Um doce e pequeno ninho de andorinha.
Foi construído bem nas paredes da caverna.
Feito de saliva.
Se parece um pouco com resina ou algo parecido. É muito estranho.
Não posso crer que alguém iria querer fazer sopa com isso.
A habilidade de sobreviver na floresta tropical deve ter ajudado as pessoas
a se espalharem por essas ilhas.
Mas descobertas feitas em Flores sugerem que houve outro desafio
para os primeiros homens modernos nessa parte do mundo.
As florestas da Indonésia estão cheias de vida.
Lá existem animais de todas as formas e tamanhos,
alguns deles mais amigáveis que outros.
Todos os anos mais espécies são descobertas,
e a floresta ainda tem segredos a revelar.
Parece que por mais que acreditemos saber
sobre as outras criaturas com quem dividimos o planeta,
sempre surgem novas surpresas.
Até hoje em Flores, o povo local conta histórias de estranhas criaturas humanóides,
os habitantes de cavernas Ebu Gogo.
Eu queria muito, muito mesmo, saber mais histórias dos Ebu Gogo.
Segundo nossos ancestrais,
havia Ebu Gogo em nossa terra, em nossa vila, há muito tempo atrás.
Por volta do século 15.
Eles eram humanos? Quero dizer, eram como nós?
Eles tinham duas características distintas:
eles eram como macacos, mas também como humanos.
Suas características físicas eram: baixos, pesadões,
com cabelos longos na cabeça e no peito,
e os seios das mulheres eram grandes e longos.
Se elas queriam andar,
elas costumavam jogar seus longos seios por cima dos ombros.
Mas ninguém vê um por uns 200 anos?
Eles realmente existiram, e foram destruídos por nossos ancestrais
cerca de sete gerações passadas.
Houve duas razões para sua eliminação.
Primeiro porque eles roubavam comida,
e segundo, porque raptavam nossas crianças.
Isso soa como histórias de assombrações que você ouve em qualquer lugar.
Mas acredite ou não, essa história pode ter um fundo de verdade.
Arqueólogos estavam escavando essa caverna na ilha,
procurando por sinais dos primeiros homens modernos,
quando fizeram uma descoberta chocante.
No início pensaram que fosse o esqueleto de uma criança.
Mas quando eles limparam os ossos,
verificaram que era na verdade um pequeno adulto.
Uma criatura com corpo pequeno, cérebro pequeno,
um tipo humano que ninguém tinha visto antes.
Logo ficou conhecido como ''O Hobbit''.
Esse é o esqueleto dessa mulher minúscula
que os arqueólogos encontraram
na caverna de Liang Bua na Ilha de Flores.
E ela é absolutamente mínima.
Quando ela estava de pé, sua altura total
podia alcançar cerca de 1 metro.
Ela parece uma estranha combinação.
Em parte se parece conosco, mas em miniatura,
e outras partes parecem de espécies humanas mais primitivas.
As pessoas ainda estão inseguras sobre quem exatamente ela era.
Muitas pessoas acreditam que ela é, de fato, uma espécie diferente.
Ela realmente nos faz repensar o que achamos de nós mesmos
e também o que pensamos sobre toda a família humana.
Poderia O Hobbit ter influído na jornada de nossos ancestrais?
A datação dos ossos mostram que eles estavam aqui
por volta da época da migração de nossos ancestrais através da Indonésia.
Então eles teriam encontrado essa raça,
essa população de pessoas muito pequenas?
E o que teria ocorrido se encontraram?
Não sei o que eles teriam pensado sobre o *** sapiens.
Se eles realmente eram os esquivos Ebu Gogo,
nossos ancestrais teriam feito melhor evitando Flores.
Mas para alcançarem a Austrália, esses primeiros pioneiros tiveram que enfrentar
o maior desafio de todos,
um que estava lá mesmo há 60.000 anos.
Os mares profundos em torno da Austrália.
Eu cheguei em Lombok,
uma da cadeia de ilhas da Indonésia, pontos de passagem para a Austrália.
Ninguém nunca encontrou evidências de um barco tão antigo,
mas o austríaco Robert Bednarik
vem tentando elaborar o tipo de embarcação marítima nossos ancestrais teriam.
Ele vem construindo jangadas pré-históricas por mais de uma década.
Sua filosofia é simples:
suas jangadas tem de ser construídas com ferramentas e materiais
que estariam disponíveis para os homens primitivos.
Mas nem todas tiveram sucesso.
Esse é o modelo mais primitivo que já construímos.
Esse aqui é o mais primitivo? Ótimo.
Mas é também o mais... eu espero, o mais eficaz.
Eu espero que sim, porque eu vou nele.
Robert usou algo que deveria estar disponível
para os primeiros indonésios, tal como está hoje -
bambú.
Sabemos que eles eram espertos... Tão espertos quanto nós.
Então, se olhamos em volta e, ''Bem, bambú parece ótimo'' -
quer dizer, é um material fantástico para usar -
então, sem dúvida, eles devem ter pensado isso também.
Nós vamos tentar atravessar um braço de mar aberto até a próxima ilha.
Não é nada como a distância até a Austrália,
mas é um excelente *** dos princípios.
A jangada é bem básica. Sem vela, sem cabine.
E nada para impedir a água de entrar.
Nós vamos mesmo para o mar nisso?
Eles pensam que somos malucos de sair nessa jangada?
Pergunte a ele, vamos, pergunte a ele.
Sim, sem problemas.
Sem problema? Sem problema.
Então estou em boas mãos? Ele disse que depende do tempo.
Será que vai ter tempestade amanhã?
Não podemos dizer ''não'' e não podemos dizer ''sim''.
Para mim, me preocupo com o sol.
Sol quente? Sim.
Ele se preocupa com o vento.
E ele se preocupa com a correnteza e que não consigamos chegar lá.
Ok. O que eles pensam da jangada comparada com seus barcos normais?
Não, eles acontecem como quando o barco...
Sim. Sim.
Perdendo tudo, máquina, tudo.
Eu acho... Você acha que vamos virar?
Como? Ele pode emborcar?
Sim.
A mensagem é clara.
Não importa o quanto estejamos preparados, os elementos vão decidir nosso destino.
E é por isso que os pescadores nem iriam considerar nessa viagem
sem a ajuda de um místico local.
Todos temos que ser abençoados por proteção contra o espírito do mar.
Lançar a jangada é bastante difícil. Ela é incrivelmente pesada.
É mesmo pesada,
e foi um grande esforço colocá-la na água,
mas nós conseguimos.
E agora estamos desenvolvendo uma boa velocidade.
Estamos indo na direção certa?
Espero que sim.
Sim. Eu espero.
Numa jangada movida a remos, estamos totalmente à mercê das correntes,
assim como nossos ancestrais estiveram.
Achamos que a corrente vai começar a nos empurrar para o norte
e quando estivermos no meio da travessia, vai se virar para o sul.
Então não seremos capazes de rumar direto em frente.
E se estivermos errados, vamos acabar no Oceano Índico.
Então o que o GPS de Robert, decididamente não da idade da pedra, nos diz?
Estamos indo para o norte, Robert? Excelente.
Então devemos fazer em cinco horas se nós...
Não, não, não, provavelmente agora estamos sendo empurrados pela corrente.
Certo. Então você acha que...
Estamos ao largo, e estamos pegando essa corrente norte.
Então você acha que essa boa velocidade é por causa da corrente?
Parte da velocidade é da corrente, sim.
Ok? Não acredito que estamos realmente fazendo isso.
Alguém conhece alguma boa canção para remar?
O que esta havendo com o assento?
Fico imaginando como essas primitivas travessias aconteceram.
Talvez famílias estivessem pescando, foram arrastadas por correntes traiçoeiras,
e chegaram na Austrália por acaso.
Está melhor.
Ou talvez o desespero tenha levado alguns a procurarem uma nova ilha para viver,
mas eu duvido que tenha sido planejado.
A Austrália estava bem além do horizonte.
Agora as correntes vão mudar de direção?
Não sabemos. Não sabemos.
Adiciona um elemento de excitação.
Fica difícil rumar para algum lugar em particular.
Até o meio do caminho, tudo parece bem fácil.
O plano está funcionando perfeitamente.
Mas na direção de Sumbawa, o perigo espreita.
De repente me senti muito pequena num mar muito grande.
Nosso destino é uma convidativa praia arenosa.
Mas a algumas poucas centenas de metros da segurança,
fomos pegos em uma corrente contrária, nos empurrando de volta ao mar.
A corrente ficou nos arrastando de um lado para outro,
e nós rumávamos para lá...
Tem uma praia bem em frente, com uma grande arrebentação.
Não falo indonésio, mas eles estão me dizendo que vamos conseguir.
E a praia que estávamos rumando está parecendo mais e mais distante.
A corrente nos arrastou para perto desse rochedo.
Estamos paralelos ao rochedo, e rumando para a praia.
E agora vamos ter que tentar
rodear o outro lado do rochedo. Eu não sei.
Lá tem uma enorme arrebentação.
Está começando a parecer um pouco desagradável.
Estamos remando desde o alvorecer, e está começando a escurecer.
Mas até onde a vista alcança,
há uma linha de arrebentação sobre o recife de coral
nos impedindo de aportar.
A tripulação está preocupada que haja uma linha contínua de recifes
e que podemos colidir ao atravessarmos a arrebentação.
Estou realmente preocupada que sejamos varridos nessa arrebentação.
Estamos chegando muito perto.
Vocês estão chegando muito perto das rochas?
Entendido. Estamos muito perto das rochas.
Estamos muito perto da arrebentação.
Vamos prosseguir bem para o sul e depois direto para onde estávamos indo.
Finalmente, uma brecha nos recifes.
Nós provamos que é possível atravessar mar aberto numa jangada de bambú,
sem vela ou motor.
Mas foi uma experiência assustadora.
Poderiam nossos ancestrais realmente tê-lo feito até a Austrália?
Hoje, essa travessia é de quase 500 km.
Bem, eu encontrei a chave que me faz pensar que eles o fizeram,
e até uma pista de quando.
Rodando a sequência de mudança climática para essa parte do mundo,
estou particularmente interessada no que houve
entre 60 e 80.000 anos atrás,
porque esse é o período de tempo que nos achamos que
os primeiros colonizadores australianos deviam estar a caminho.
E parece que há uma extraordinária janela de oportunidade.
A mais ou menos 65.000 anos,
o nível do mar desceu cerca de 100 metros abaixo dos níveis atuais.
E a distância entre Timor e a costa norte da Austrália
se reduziu a 153 km.
65.000 anos atrás,
poderia realmente ter sido a chance para atravessar o oceano até a Austrália?
Poderia ser um belo final
para essa tênue trilha de evidências que nós seguimos por todo o caminho
através da Índia e Malásia, mas é apenas uma sugestão.
Posso achar alguma evidência real de que foi isso o que ocorreu?
Estou indo para os pântanos dos Territórios do Norte,
porque é aqui no norte que eu espero encontrar pistas
para os primeiros Australianos.
Estou um pouco nervosa, Gabby,
porque tem crocodilos em volta, não é?
Tem um montão por aqui.
Quando fica úmido...
eles andam por toda a parte.
Você acha seguro esse barco? Sim, estamos bem seguros.
Bem seguros?
Essa é a hora que Gabby e a equipe de filmagem inteira da BBC
se colocam nas minhas mãos.
Bem devagar.
Andar por aí na estação úmida não é fácil.
Tem um peixe ali.
mas finalmente, isso é o que eu estava procurando.
Quando você está procurando evidências tão antigas, elas são poucas e esparsas.
Mas essa área da Austrália é rica num tipo diferente de evidência
dos humanos primitivos.
Evidência da arte.
E isso é como os arqueólogos sabem.
Bem, isso é ocre. E esse ocre está em estado natural.
Esses seixos se formam dessas rochas aqui.
Mas o que os arqueólogos encontraram em alguns abrigos rochosos
aqui nos Territórios do Norte,
é ocre que foi removido e usado como pigmento.
E eles dataram o pigmento e alguns remontam a quase 60.000 anos.
Isso não é muito depois de quando o nível do mar estava mais baixo.
As pessoas realmente devem ter alcançado a Austrália há 60.000 anos atrás.
Esses mesmos pigmentos ainda são usados hoje em dia
pelos artistas Aborígines Australianos quando registram histórias de seu povo.
Estou realmente interessada em encontrar alguns desses artistas,
para descobrir mais sobre o que a arte significa para eles.
Eu soube de remotos locais sagrados onde posso encontrar imagens
de suas histórias sobre a criação.
Os artistas Garry Djorlom e Wilfred Nawirridj
concordam em me levar numa viagem pelo interior.
Enquanto avançamos, eles estão constantemente à procura
de qualquer coisa que possam usar.
O que você está procurando, Wilfred?
Uma haste de grama. A que nós usamos como pincel...
para fazer linhas finas.
Oh, sim! Sim. Pincel instantâneo.
É muito estranho, porque eu meio que olho em volta
e só vejo plantas em todo o lugar e vocês estão vendo comida.
Maracujá silvestre, aparentemente.
É como um pequeno maracujazinho.
Delicioso.
As famílias de Garry e Wilfred se tornaram sedentárias,
mas eles ainda saem para procurar comida no mato como seus ancestrais faziam.
Oh, isso é lindo.
Ainda é um lugar especial para você?
Sim, um lugar muito especial.
Por muito tempo meu avô e minha avó viveram aqui, nesse lar aqui.
Oh, eles moraram aqui?
Eles viveram há muito tempo atrás.
Há muito tempo atrás? Avós de muitas gerações? Sim.
Daqui, tenho uma bela vista.
Mas para os ancestrais de Garry esse era um lugar para inspecionar a região,
distinguir caça à distância e planejar suas refeições.
Eventualmente, na entrada de um abrigo rochoso,
nós cruzamos com nossa primeira peça de arte antiga.
Oh, é lindo.
Tem tantas imagens, de todos os tipos umas por cima das outras,
e se acotovelando por espaço.
Sim, sim.
Certo. Então isso tudo representa os animais que vocês podem comer.
Costumávamos sair e pegar peixes, répteis...
Sim.
Mas o que realmente eles me trouxeram para ver está mais acima na colina,
profundamente entre essas rochas.
É um labirinto.
Ok.
Oh, uau!
Que imagem estranha. O que é?
Mãe criação.
Essa mulher, ela sempre carrega um bebezinho cada um num saco.
Certo. Então esse pequenos sacos pendurados nela,
todos têm um bebê dentro?
E de onde ela vem?
Do mar. Essa mulher veio de muito longe.
A cultura que nós temos, as cerimônias que temos...
são todas de nossa Mãe Criação.
É isso que passamos adiante para nossas crianças.
Isso é incrível.
Tradicionalmente, os Aborígines Australianos acreditam
que foram formados por seres criadores que também criaram suas terras.
Mas aqui, na costa norte
eles acreditam que sua mãe criadora veio pelo mar.
O estranho eco de uma história contada por fósseis, pedras e genes.
Entretanto, não importa como se pareçam, as descobertas me convenceram
que esses Aborígines Australianos, assim como eu,
são descendentes de um pequeno grupo que saiu da África.
E que eles realmente conseguiram chegar na Austrália a cerca de 60.000 anos atrás.
O que parecia ser uma jornada improvável, pode ter sido uma de nossas primeiras.
E nós chegamos ao fim dessa jornada particular.
E as pessoas que conhecemos no caminho me ajudaram a entender mais
sobre as características humanas essenciais
que todos nós compartilhamos -
ingenuidade, desembaraço e adaptabilidade.
E para mim, os Aborígines Australianos em particular
parecem ter mantido alguma coisa que creio que muitos de nós perdemos
no século 21,
uma conexão verdadeiramente intensa física e espiritual
com sua paisagem e meio ambiente.
Essa foi uma jornada em que retraçamos nossa migração
da África até a Austrália,
mas também foi sobre o que realmente significa ser humano.
Tradução: AW_AMARAL Revisão e Sincronia: igorc