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"A HISTÓRIA DO ROCK AND ROLL"
"O SOM DO SOUL"
"Soul" significa "alma", a essência do espírito humano.
Na música pop dos anos 60, o soul significava algo mais tangível.
Era um grito de alegria, de dor...
e um emblema da auto-expressão desinibida.
Eu descreveria o soul como algo que me toca e me deixa arrepiada.
Pode ser uma pessoa branca cantando, ou uma negra, ou uma roxa.
Não me importa, desde que eleve meu espírito.
Tudo que fizemos ao vivo veio da música soul.
A intensidade espiritual, a idéia de tentar atingir...
seu espírito e suas entranhas.
Está falando com alguém que adora música...
especialmente a música negra.
"Say it Loud - I'm Black and I'm Proud", de James Brown...
Isley Brothers, "It "s Your Thing".
Eu podia citar vários.
O soul exige...
uma entrega total às canções.
A definição normal seria...
música negra, negros cantando, ou qualquer coisa assim...
mas eu não concordo. Acho que todos têm sua própria alma.
Ouvi dez pessoas cantarem a mesma canção, todas com a alma.
Se você sente a música intensamente e se expressa com sinceridade...
então é soul. Acho que está muito ligado...
ao gospel. Acho que é um gospel secularizado.
O gospel é realmente...
digamos, como o "amante" do rhythm and blues.
Lembro-me da Igreja Batista Mount Moriah e do apoio que nos deu...
quando viramos Gladys Knight and the Pips.
Eu devia ter uns 8 anos naquela época.
Mas tínhamos nosso grupo na igreja antes do Gladys Knight and the Pips.
Com meu irmão, minha irmã e meus primos...
freqüentávamos a mesma igreja.
Quando formamos o grupo, era o mesmo que ia...
se apresentar no Royal Peacock nas noites de domingos.
A congregação ia do Mount Moriah para o Royal Peacock.
É incrível... aquela parte...
E depois vinham aqueles gritos.
Eu adorava.
Eles estavam gritando, e eu dizia: "Meu Deus!"
Acho que...
sua música, o que está em seu corpo...
na sua alma, ou o jeito que você é, de um modo ou de outro, vai sair...
por seus dedos, por suas cordas vocais ou por onde quer que seja.
Todos que me influenciaram e todos que eu idolatrava...
cantavam gospel: Dionne Warwick, Aretha Franklin...
Tina Turner, Patti LaBelle...
todas começaram como grandes cantoras de gospel.
Essa canção pode ser cantada como soul e como gospel.
Talvez. Deixe-me ver como cantá-la.
Se você me pedir
Talvez eu mude de idéia
E o deixe em minha vida para sempre
Isso seria soul. Agora como gospel.
Se você me pedir
Talvez eu mude de idéia
E o deixe em minha vida para sempre
É isso.
Soul é sinônimo de grandes vozes e grandes artistas.
Todos inesquecíveis.
O soul é...
- O soul é... - Vem da alma.
- Gratificante. - Como dizer?
É algo que tem de sentir.
Não é certinho.
Tem ritmo.
- James Brown. - James Brown.
- James Brown. - James Brown.
"Tenho formigas na minha calça e preciso dançar.
Alguma mulher boa venha me dar uma chance."
James Brown:
O cara com mais ritmo no mundo todo.
Ele criou alguns dos...
ritmos mais revolucionários para sua época...
e para o funk. Ele é inovador e original.
Lembro que na primeira vez que fui ver James Brown...
a fila era muito longa, mas não me importei.
Só queria entrar pra vê-lo.
Fiquei pra assistir a três shows, pois ele tinha algumas bandas que...
deixavam as pessoas alucinadas.
A influência de James Brown foi uma das mais fortes.
Fica evidente nos grupos que dançam durante as canções.
É atitude.
Ele vai gritar, gemer, pular, dançar.
E quando ele diz: "Um, dois, três, quatro. Mandem ver"...
está dando aos MCs algo com que pirar.
James Brown é um mestre. Só há um James Brown.
Suas conquistas abriram portas para muitos artistas negros.
Nunca haverá outro James Brown.
A arte de James Brown criou novos padrões...
mas do fim dos anos 50 até os 7O ele teria muita concorrência.
Dos cantores de blues ousados e das baladas sublimes do gospel.
Sam Cooke foi muito importante para o desenvolvimento do rock.
Primeiro, o ouvi cantando gospel com os Soul Stirrers...
quando eu era criança. Foi uma de minhas maiores influências.
Desde criança, ele sempre foi talentoso.
Era um verdadeiro dom divino.
A voz dele era cativante.
Foi um dos primeiros artistas negros a se apresentar no Copacabana...
e fez muito sucesso.
Havia um outdoor enorme na Broadway.
Era tudo... de primeira. Muito bem, Sam.
Ele sempre dizia que música é simplicidade.
Que as pessoas comprariam jornais, se você cantasse com uma melodia.
Sam Cooke e Jackie Wilson...
eram rivais na indústria...
mas eram bons amigos.
Fora do palco, Sam and Jackie andavam juntos.
Eram muito bons amigos.
Jackie Wilson foi uma das pessoas mais interessantes que já conheci.
Ele tinha um estilo natural e operístico...
mas era ginasta e ex-boxeador.
Essa mistura criou um grande artista. Chamavam-no Sr. Empolgação.
Era um grande artista.
Você acha que Michael Jackson gira? Devia ver Jackie Wilson girar.
Ele brigava por qualquer coisa.
Tocamos em Nova Orleans...
para uma platéia segregada.
Os negros ficavam de um lado do palco e os brancos do outro.
Os artistas se esforçavam para não ofender ninguém durante o show.
Um policial grande e arrogante...
disse algo para o Jackie, e ele partiu pra cima.
Eles quase se mataram.
O Jackie era esse tipo de pessoa.
Tinha um gênio ruim do tamanho do seu talento.
No final dos anos 6O, o rhythm and blues...
era provavelmente nosso melhor tipo de música, como indústria.
Cada som, cada cidade tinha sua própria identidade.
Não dava pra duplicar o som da Filadélfia...
ou de Detroit.
Não dava para duplicar o som de Memphis.
Não dava para duplicar o som da Atlantic Records.
Sempre buscamos um fundo forte, um baixo bem pronunciado...
um som de baixo bem redondo, e uma batida bem forte.
Em outras palavras, um funk limpo.
Jerry Wexler sempre apoiou muito a música negra.
A Atlantic começou sua carreira na música negra.
Ray Charles era o Michael Jordan da música.
Ray podia fazer qualquer coisa com credibilidade.
Ele estava subindo a escada em direção à saída. Eu estava lá.
Toquei o ombro dele, e foi como se eu tivesse tocado em Deus.
Tenho um motivo muito pessoal para adorar o Ray.
Não só por seu talento.
É uma das pessoas mais talentosas que já existiram.
Mas a primeira apresentação profissional da minha carreira...
foi no show de Ray Charles no Teatro Apollo em Nova York.
Nunca tinha tocado num lugar assim. Não sabia que precisava de arranjos.
Não tínhamos arranjos, só partituras comuns.
Ele fez um arranjo das duas canções que cantaríamos no show.
Simplesmente sentou e fez. Eu adoro o Ray Charles.
Ele é como aquela garrafa de vinho de ótima safra.
É uma antiguidade. É bom demais para ser verdade.
LONDRES, 1966
O soul para mim é algo que...
retrata o que você é.
Ele vai fundo, até onde você permitir.
Então ele o libera...
e você se sente ótimo.
O soul faz bem à alma.
Havia tanto soul. Soul de qualidade.
Wilson Pickett era incrível.
Bem, a reputação de Wilson o precede.
Por isso o chamam de "Perverso Sr. Pickett."
Eu havia escutado algumas coisas que ele havia tocado...
e quase sempre, nessas canções gospel...
ele dizia: "Vou esperar a meia-noite para ver meu Jesus."
Começava esse cântico que, pra mim, era a identidade dele.
O Wilson era louco.
Adoro, adoro, adoro ele.
O Wilson foi o rei do funk.
O Wilson era fantástico, como cantor, como showman também.
A maioria desses artistas que citou era única.
Eram o som de Memphis.
Eles representavam a região do país...
que produzia essa música.
A velha era da Stax, com o soul que vinha de Memphis.
Estávamos numa sala bem grande. Era um cinema.
Não era um cinema enorme, mas era de bom tamanho.
Já ouvi muitos musicólogo e muitos músicos...
dizerem que os discos da Stax tinham uma batida atrasada incrível.
Muitas vezes, isso aconteceu por acidente.
A 1ª vez que eu ouvi Otis Redding, estava dirigindo por...
alguma cidade do Sul...
escutando a WLAC, uma ótima estação de rádio, 5O. OOO watts...
de Nashville, Tennessee.
E ouvi esse homem gemendo e cantando...
Esses meus braços
Do jeito que só ele podia fazer.
Eu disse: "O que esse cara está fazendo? Que som é esse?"
Quando o vi, soube que seria um astro.
Nunca vi um homem dominar o palco tão rápido em toda a minha vida.
Ele me ensinou a dominar o palco depois de assistir a ele.
Acho que o soul é quase um estado de espírito.
E você expressa esse estado de espírito com muita emoção.
Para mim, o soul é...
uma música que vem do coração.
Pode ser só uma palavra que você queira transmitir...
de um certo modo, para se fazer entender.
Acho que o soul é isso.
É diferente de outros estilos bem estruturados.
Alguns cantores que cantam soul tiram toda a sua estrutura.
Se baseiam na estrutura, mas depois fazem o que sentem, impulsivamente.
Aretha Franklin...
como muitas pessoas se referem a ela hoje em dia...
é a enciclopédia viva...
da música soul.
Veja quantas pessoas absorvem, copiam...
e idolatram a contribuição dela.
A voz saía sem que precisasse se esforçar.
Ela nem precisava tentar. Simplesmente saía. Foi abençoada.
Sem dúvida. Lembro-me de ouvir muito as canções na minha casa.
Para gravá-la, fazíamos o que já vínhamos fazendo...
com nosso R&B, para que o som emergisse e fosse ouvido.
Não tentamos torná-lo palatável para o público branco.
A idéia era gravar com grandes músicos...
colocá-la ao piano e deixá-la tocar e cantar.
Uma das razões para alguns sucessos...
na Atlantic foi o meu passado gospel...
misturado aos estilos pop e rhythm and blues.
Aretha, gospel e soul: Totalmente sinônimos.
Acho que quando você relembra...
todos os artistas que vieram antes de você...
vê que criaram seus próprios mapas...
e os deixaram pra você, caso queira lê-los.
É uma arte, e esses caras eram mestres.
Todos os grandes do soul foram mestres.
Há alguns outros, mas...
essas lendas ensinam a você como fazer.
Com raízes no gospel e no blues...
o soul cresceu num mundo de gravadoras Independentes...
que faziam música para um público segregado.
Eram chamados na época de "discos de raça".
A palavra"raça" estava no disco.
Os mais fortes eram artistas negros das gravadoras independentes.
Naquela época, a música era controlada pelas...
gravadoras Chess, Checker e Argo. E pela Atlantic.
Gravadoras como essas, que eram espertas o bastante...
para contratar artistas negros...
lançá-los no mercado e promovê-los.
Esses empresários entravam em seus carros...
iam para o Sul...
e vendiam seus próprios discos, pois nenhuma loja queria vendê-los.
Aquilo se tornou o soul...
e só devia ser cantado por negros.
Mas ficou tão bom...
que todos queriam adotar o soul.
Quando gravamos "Little Latin Lupe Lu"...
as rádios brancas não queriam tocar, porque, segundo elas...
era um rock muito pesado.
Na verdade, soava negra demais para as estações brancas.
Não sabíamos disso na época...
mas uma das coisas de que mais nos orgulhamos...
é que o público *** nos aceitou...
sem rodeios. E não precisavam nos aceitar.
Eles não precisavam.
Mas a melhor coisa do público ***...
é que se você transmite...
emoção...
nada mais importa.
Havia, naquele tempo, quatro teatros nos quais você devia se apresentar...
para provar que era um sucesso.
Eram chamados de cadeia Litchman. Eram:
...o Regal, em Chicago...
...o Howard, em Washington...
...havia o Uptown, na Filadélfia...
...e o Apollo, em Nova York.
Você tinha de se apresentar nesses quatro teatros.
No palco do teatro Apollo...
três gerações de cantores de soul relembram o passado.
Era o único teatro *** que...
Era como a Broadway. Era um paraíso.
Para os artistas jovens, era solo sagrado.
Todo grande artista se apresentou aqui.
Os Otis Reddings e James Brown.
Era sua chance de fazer amizade com eles...
de falar com eles, e eles nos davam pequenas dicas.
Você não aprendia apenas sobre o mundo do espetáculo...
aprendia sobre o mundo e como as pessoas são.
O teatro Apollo, o circuito de teatros...
os diferentes clubes onde costumávamos tocar...
que eram considerados parte do Circuito Chitlin...
eram o nosso playground. Onde aprendemos nossa arte.
A importância do Apollo. Ele é importante pra tanta gente.
Podia ser um lugar, em Peoria mas não é.
Fica em Nova York, onde muitas coisas acontecem.
Tantos grandes artistas saíram daquele bairro, daquele palco.
Lembro que tinha de esquentar meu cachorro-quente numa lâmpada.
Fazíamos cinco shows por dia, era meu café da manhã, almoço e jantar.
Pois jogávamos carta com Tommy Hunt...
talvez The Dells e The Spinners... Não sei quem mais.
Dionne Warwick, sei lá.
Mas sempre levavam meu dinheiro. Sempre ganhavam.
Uma das coisas de que mais me lembro...
é que a primeira vez que entrei lá havia um mural na parede do foyer.
Harry Belafonte, Sammy Davis...
Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Billy Eckstine...
Todos eles estavam nesse mural.
Para mim, foram dias de glória.
Vi uma das noites mágicas do Apollo...
com James Brown e Otis Redding no mesmo programa.
Esse é o meu Oscar.
Esses são os meus Oscars. Minhas lembranças.
São mais preciosas para mim do que...
qualquer contrato, ou...
algum prêmio que eu possa receber...
porque são minhas, guardo-as dentro de mim.
NOVA YORK
FILADÉLFIA
O alcance do Circuito Chitlin espelhava a qualidade da música que...
jorrava dos estúdios da Costa Leste e do Centro-Oeste.
Em Detroit, a Motown reinava suprema.
Eram canções de verdade, que agradavam o mundo todo.
E tocavam as pessoas provavelmente numa época...
em que a Motown tinha acabado de abrir as portas para todos.
Eu cresci ouvindo a Motown.
Fui muito influenciado pela Motown quando criança. Pra mim, era...
O que os Beatles significavam para aquelas adolescentes gritando...
a Motown significava para mim.
Não sei se eles ouviam nossa música, mas nós ouvíamos a música deles.
Não acho que estávamos tentando copiá-los...
mas era impossível ligar o rádio sem ouvir uma gravação da Motown.
O gênio por trás da Motown era Berry Gordy.
Uma das pessoas mais singulares, estou certo, a pisar nesse planeta.
E tê-lo no comando do que estava ocorrendo...
foi a coisa mais maravilhosa...
para um jovem músico...
que tinha acesso a Detroit naquela época.
FUNDADOR, MOTOWN RECORDS
Nós o conhecemos como compositor. Na verdade, quando abriu a Motown...
antes de fundar a gravadora, nós não sabíamos como se chamaria.
Então ele perguntou se iríamos para a gravadora dele.
Dissemos que não, pois achamos que não teria chance. "De jeito nenhum."
Um *** com um gravador lançando uma gravadora.
Até parece.
O primeiro disco...
é mágico.
Seus sonhos se tornaram realidade. "Legal! Conseguimos!"
Berry tinha visão. E tinha um ótimo senso...
visão, imaginação e organização.
Sabia como juntar essas coisas para conseguir um bom resultado.
E acabou conseguindo o que chamam de "som da juventude dos EUA".
E era muito diferente.
Começamos a Motown porque ninguém nos pagava.
No começo, Berry produzia os discos...
outras gravadoras distribuíam e ninguém nos pagava.
Um dia, fui ao escritório do Berry, e ele estava dizendo:
"Cara, esse disco é bom demais. Eu não sei o que fazer com ele.
Não sei a quem dá-lo, porque ninguém está nos pagando."
Então eu disse: "Por que não lança no país inteiro?"
Ele disse: "O quê?" "Por que não lança no país inteiro?"
"Não estou pronto pra isso."
"Pode ficar. Ninguém está pagando mesmo. Se perdermos dinheiro...
perderemos sozinhos". "Por que não faz isso?" E ele fez.
Lançamos "Please, Mr. Postman". Foi um sucesso!
Logo depois, lançamos "Shop Around". Foi um...
Foi assim que começou.
O Smokey que eu adoro é compositor...
aquele que escreve letras como...
"Tracks of My Tears"...
e "Oh, querida, estou por um fio...
mas não posso desistir, não posso perder a esperança."
Isso diz tudo.
"Ooo, Baby, Baby" foi uma canção...
que surgiu ao vivo no palco.
Nós... quando digo "nós", me refiro aos Miracles e eu...
começamos a cantar uma noite...
Comecei a cantar, eles entraram na harmonia.
Começamos a cantar "Ooo, Baby, Baby" e o público adorou.
Então dissemos: "Eles gostaram tanto, devíamos gravar essa música."
Fomos pra casa, terminamos a canção...
fomos pro estúdio, e gravamos "Ooo, Baby, Baby".
Foi assim que ela surgiu.
Podíamos fazer turnês de 51 noites.
Assim que a gente chegava em casa, tomava banho...
fazia alguma outra coisa, se arrumava...
e ia para Hitsville.
Por quê? Porque todos estariam lá.
Paramos em frente no primeiro dia. Foi em 62, eu acho...
e vimos as Supremes, ou os Temps.
Little Stevie estaria lá. Dava pra ouvi-lo no andar de cima...
tocando bateria ou harpa. Marvin Gaye poderia aparecer...
para falar com a mulher dele, Anna, que é irmã do Berry.
Temptations estariam provavelmente no estúdio gravando a essa hora.
Holland-Dozier-Holland compondo numa sala.
Você chegava lá e descobria algo para fazer.
Ou ia ver o que os outros estavam fazendo.
Era um ponto de encontro naquela época, porque...
explodiu. As coisas estavam acontecendo.
The Supremes era o grupo nº 1 do país.
Temptations fazia sucesso...
os Four Tops tinham lançado "Baby, I Need Your Loving".
A empolgação estava no ar.
Quase todos os dias, você via o sonho de alguém se realizar.
A coisa mais importante do mundo que ocorreu na minha adolescência...
foi quando as Supremes estouraram.
A notícia se espalhou pelo bairro.
Todas as canções eram ótimas.
Quando escutei as canções das Supremes...
era cada uma melhor que a outra.
Eu perguntei: "Quantas canções vocês têm?"
Não "possuem", "têm". Tinham mais canções do que deveriam.
Deviam ter me dado duas.
Nosso trabalho era aprimorado desde a assinatura do contrato.
Os artistas inspiravam uns aos outros...
porque todos queriam ser bons. A Motown os treinava pra serem bons.
A maioria das pessoas de quem estão falando eram imaculadas.
Essas pessoas eram perfeitas. Eram imaculadas.
Alegres e bem arrumadas.
The Temptations foram os melhores daquela era.
Eu costumava chamá-los... eu os apelidei de Os Cinco Diáconos...
porque tinham uma harmonia de igreja e eram fantásticos.
Com o Melvin bem, bem lá embaixo...
e o Eddie bem, bem lá em cima.
Todos os sons harmônicos entre eles...
Esses caras sabiam cantar.
Compus "My Girl" provavelmente em 1O ou 2O minutos.
Nos intervalos dos shows no Apollo, enquanto passavam filmes...
eu levava os Temptations pra baixo do palco para ensaiar "My Girl".
Eu sempre deixava eles fazerem suas próprias vozes de fundo...
porque eram mestres nisso.
Faziam coisas que jamais me ocorreriam.
Esse tipo de coisa. Sempre deixei isso com eles.
Quando chegávamos em casa, eu gravava com eles.
É uma dessas canções que nunca desaparece.
Tenho muito orgulho dela.
Eu idolatrava os Temptations, eu cantava na rua...
e eles eram um grupo vocal perfeito.
Acho que passei um dos dias mais incríveis da minha vida aqui.
Foi em junho de 1985.
Fui convidado para participar da cerimônia de reabertura...
e senti-me muito honrado com o convite.
Queria trazer algo do meu começo de carreira...
então pedia pra Eddie Kendricks e David Ruffin cantarem conosco.
Foi um daqueles momentos em que passado, presente e futuro fundem-se.
O som da Motown era desenvolvido 24 horas por dia...
e era feito de amor, para ajudar todos a vencerem.
Gravavam cinco faixas diferentes com cinco produtores diferentes.
Traziam cinco grupos de compositores diferentes...
seis letristas diferentes...
ou o que quer que fosse...
e gravavam com três, quatro ou cinco artistas diferentes.
Berry foi esperto o bastante para perceber...
que aquela música tinha apelo além da comunidade negra.
Seria melhor se todos gostassem.
Ele não a alterou, era música negra de verdade...
mas ele tinha apelo mundial.
Marvin tinha um talento único. Passávamos no estúdio...
e o Marvin estava sempre lá ou em outro lugar criando alguma coisa.
Como ele era muito generoso, as pessoas ao redor dele...
queriam ser assim também.
No começo, havia cinco funcionários. Ele disse: "Faremos música...
com muito ritmo e com histórias ótimas."
E foi isso que fizemos.
Fizemos música com muito ritmo e histórias ótimas.
"Nossas histórias serão tão boas que todos poderão escutá-las.
Não serão ofensivas.
Nós só faremos música."
Acabou o slogan: "o som da juventude dos EUA". Éramos isso.
Os Jackson Five foram os primeiros com quem pude me identificar.
Eram garotos negros fazendo algo que eu gostaria de fazer.
Eu beijava a tevê quando Michael aparecia.
Eu adorava Michael Jackson.
No Jackson Five, eu gostava do Randy na época.
Eu adorava o Michael, mas preferia o Randy.
Cada um tinha seu favorito.
As mais velhas gostavam do Jermaine. O Michael...
Randy tinha a nossa idade. Michael era um pouco mais velho.
Mas cada um tinha seu favorito. O meu era o Michael.
Meu Deus! Eu beijava a tevê.
Até hoje... Para sempre...
a Motown terá as canções que as pessoas vão continuar gravando.
Várias vezes.
Quando criança, eu só ouvia música de rua, R&B.
Nem tanto blues. Música de igreja. Eu cantava na igreja.
Ouvia o som da Filadélfia.
É como o som Motown, eu acho.
A Filadélfia era especial, tinha seu próprio som.
Eu estava procurando talentos especiais...
vindos da comunidade urbana.
Meu primeiro passo foi fazer um acordo com Gamble e Huff...
os grandes produtores daquela era.
Acho que o som da Filadélfia...
era uma extensão de nossas experiências na Filadélfia.
Misturava um pouco de jazz...
um pouco de gospel, um pouco de música clássica.
Quando me juntei ao Huff, rolou.
Era...
o destino.
Quando compusemos para os O"Jays...
eu ficava pensando como Eddie Levert e Walter eram dinâmicos.
O William também.
Ficávamos ansiosos que chegassem à cidade para que pudéssemos ensaiar.
Era um tipo de ansiedade indescritível.
Kenny e Leon tinham uma habilidade inata...
para compor sobre o que estava acontecendo.
Acho que Gamble e Huff...
eram mestres da composição com conteúdo.
O Sr. Gamble é um gênio, realmente é um gênio...
para trazer a tona...
situações e discutir situações existentes.
De propósito, tentávamos colocar mensagens diferentes na música...
relacionadas àquela época, mas não fomos os primeiros a fazer isso.
Na verdade, gosto de dizer às pessoas...
que as canções de Curtis Mayfield...
aceleraram o Movimento de Direitos Civis.
PODER ***
IRMÃO DE RAÇA
NÃO À INTEGRAÇÃO
SÍMBOLO DO PODER BRANCO
BRANCOS
SÓ PARA NEGROS
SEJA HOMEM - OPONHA-SE À ***
Estávamos saturados. Não íamos suportar mais.
Como o Prince diz: "É o sinal dos tempos".
A música reflete seu tempo.
SÓ PARA BRANCOS
Acho que, em parte, a música afetou o movimento...
e o movimento afetou a música. No entanto, a meu ver...
o meu ponto de vista me obriga a dizer...
que a música afetou mais o movimento que o contrário.
SUPERAREMOS ISSO
ALÁ É O MAIOR DE TODOS
CHEGA DE BRUTALIDADE POLICIAL
Finalmente livres, finalmente livres. Graças a Deus...
estamos finalmente livres.
MARCHAMOS COMO CIDADÃOS DE PRIMEIRA CLASSE AGORA!
Nos anos 6O, quando James Brown lançou sua versão de...
"I'm Black and I'm Proud", acho que era algo necessário...
porque o país estava adotando novos padrões naquela época.
E é claro que...
estávamos buscando igualdade para nosso povo.
James Brown deu uma grande contribuição a tudo isso com o soul.
Havia uma mensagem e ainda há uma mensagem.
Ela é provavelmente um pouco óbvia demais.
Isso me lembra o Run-DMC...
Tenho orgulho de ser *** Isso é verdade
É o mesmo tipo de coisa.
Mais uma vez, do mesmo modo que você sampleia essas canções...
também pode escutar o que elas estão dizendo...
e isso pode influenciar você. A música...
pode influenciar você.
Acho que a natureza da música negra a torna...
quase como a divisão de uma célula.
Ela cresce constantemente a partir dela mesma.
Os anos 60 foram a era de ouro do soul.
Mas seu som continua ecoando na música e na cultura popular...
dos EUA de hoje.
A emoção, o talento, as carreiras.
Acho que isso criou o soul.
Quando me perguntam por que a música...
ainda está por aí...
Venho me apresentando profissionalmente há 35 anos.
Ela já estava aqui quando surgi.
Continuará aqui depois que eu partir...
porque...
as mensagens e as melodias...
são...
infinitas.
Em todo filme que vai ver...
em seriados de tevê, como "China Beach"...
em que Diana Ross e as Supremes cantam "Reflections"...
você escuta canções...
de artistas de outros gêneros musicais...
cantores de rock, ou outros artistas que fazem sucesso...
fazendo homenagens ao rhythm and blues e ao soul...
dos anos 6O, 5O e 7O.
Acho que o soul está aí e não vai desaparecer...
porque é a essência...
é a vida da indústria musical. A música soul.
O soul nunca fica datado.
É sempre atemporal.
Ele... não pode ficar superado.
Nunca será algo ultrapassado.
A música soul é algo que nos assombra...
e estará conosco pelo resto da vida.
Portuguese - BR