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Em casa as estrelas parecem mais próximas Porque são puxadas para a terra pelos desejos
desesperados de soldados de 11 anos Profetas em abrigos de barracas lêem os seus sonhos
com velas acesas Vi uma rapariga nova que parece
o deus grego Atlas Equilibrando as frágeis vidas dos irmãos
sobre os ombros Aqueles que agarraram os seus sonhos são agora
perseguidos pelo tempo Mas para os poucos que alimentaram a sua fé
O tempo não passa de um fantasma invejoso vigiando de longe espantado como eles escaparam
Vejam, a ela eu ofereceria o sol Mas o pai diz que só tenho umas poucas luas
para aprender a língua em que ela sorri Há rumores de que ela abriga um segundo céu
por trás das suas pálpebras Ambos queremos voltar as costas a este lugar
E tonarmo-nos silhuetas a desaparecer ao longe no horizonte
Mas a cinza que é a nossa carne um dia unir-se-á ao pó
Dos reinos que construímos para zombar do tempo Enviei a minha nota de suicídio para que ela saiba
para o todo sempre que eu parei de morrer É o meu povo que está preso numa rotina
diária incessável Em que o fim se recusa a começar
O saber pinta promessas de poder a frágeis dedos
O álcool afoga a memória viva da minha irmã morta
As crianças que têm tudo para viver são as únicas que ouvem o que as sepulturas
murmuram A morte alimenta os filhos dos coveiros
O odor da putrefacção persiste no ar Mas falha
Falha em alcançar os ladrões Que mastigam os sonhos abandonados dos nossos pais
ao jantar E por isso mais algumas raparigas sem respostas
decidem Escapar à maternidade sangrando as orações
dentro dos seus ventres Vejam, nos capítulos da minha infância brincávamos
às escondidas nestas ruas Ninguém sabia que em breve nos procuraríamos
em fundas sepulturas Por isso dispersei os restos mortais dos meus inocentes
No dia em que encontrei os esqueletos de Deus nos armários dos seus templos sagrados
Mas o Deus que está dentro Estende a mão para a criança que sempre fui
Com a eternidade empoleirada nas pontas dos seus dedos E eu desperto para contemplar aqueles que outrora foram
Ascendo só para me unir às estrelas que sustentavam o peso dos nossos desejos
Vagueio pelo labirinto de barracas ancoradas na esperança de mudança
E percebo que este mundo sempre construiu as cruzes maiores
Para quebrar as costas de um povo nascido com o coração de Deus
E para estilhaçar os seus resplendores trançando coroas de espinhos
Mas debaixo dessas pontes dormitam oráculos sem tecto
E essas casas esfaimadas com os pilares a esboroar-se
Embalam e alimentam agora a cólera de uma segunda vinda.