Tip:
Highlight text to annotate it
X
Coloquei minhas duas mãos no vazio
Peguei um fiapo do horizonte
Virei à nova página
Avistei um novo gênesis escorrendo em traços febris
O tapete vermelho estendido para a cólera
O pesadelo rasgado na noite
Uma fração de blues arrancado de um desejo mudo
Uma luz acesa no alto nevoento acalentando o tédio
Vulto de fantasma feminino indene no mundo fitando olhos trêmulos
Notícia ruim recortada em dez camadas de veneno
Tudo paira em palavras inacessíveis
Pálpebras piscam sinais de trânsito
Crianças dormem notas musicais
Punhos de ferro cicatrizam imóveis seus nervos dementes
Sucessivas luzes iluminam avaro coração de mar
Animais desintegram-se sob estrelas
É bandida a manhã desses dias na cidade
Túmulos de gritos ecoam Pasárgadas
Escavam-se notas atritantes no asfalto
Corações são levados na leveza das velas
O apocalipse ferve momentaneamente nas cores
Que retorçam-se os infernais amigos de Dante
Que desconjurem-se as cidades em que devaneios calam
Sou amante demoníaco das eras
Guardo o silêncio das emendas que esperam
Avanço em descontrole rápido pelos desgrenhados cabelos de Elisa
Atiro-me ao chão dos pensamentos sonâmbulos
Abandono portos que esperam-me
Pela raiva navego em descomeço
Colei a quilha dos passos para voar a trinta nós na enseada perdida
No vento delírio de minhas palavras coladas no pilar dos fatos deixo soar a loucura
Acelero na direção de dois tomos
Faço calar sintomas de medo quando a noite desintegra-se
Detono os horizontes das linhas do meu inventário sobre desilusões
Estou a dois milímetros que separam-me de mil tufões
Sou átomo dissolvido em canções de espectrais magias
Sou qualquer coisa, qualquer vernal de mil encantamentos
Agonizo no último bocado de ar, vejo o teu século de flores nos pincéis dos homens
Ó vida
A inércia dos teus cabelos falam de ruas cheias do que chamam podre
Sentirei seus lábios loucos por curvas doridas ou tentarei viver depois de um tapa
Vago em jangadas sem rumo nos ventos de maio, eis um modo de dizer sobre o nada que se entenda.