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Gracías, obrigado!
Estou feliz em estar aqui e poder cumprimentá-los
neste local que é distante até mesmo para nós.
Vivemos nas águas vermelhas.
Somos um povo que se dedica
a preservar e cuidar de nossa floresta, não só para nós mesmos, mas para todos vocês.
E esta é a mensagem que eu gostaria de lhes trazer.
O povo Cofán é um pequeno grupo indígena
que vive na extremidade nordeste do Equador
e na extremidade sudeste da Colômbia.
Ao todo somos apenas 2.500.
Vivemos na floresta
e com a floresta há muitos, muitos séculos.
Quando os meus pais chegaram, na década de 50,
era um grupo muito pequeno, isolado na imensa Amazônia,
vivendo sua vida, orgulhosos, à margem dos rios,
mas muito, muito distante de tudo.
Os meus pais eram missionários
e eu nasci um pouco ao sul
da tribo dos Cofán onde eu cresci.
Os meus pais me levaram para lá quando eu tinha uns dois meses.
Eu era a grande atenção de toda a tribo
por que eu fui o primeiro bebê branco que eles viram,
mas a novidade passou logo,
e cresci como qualquer outro na tribo dos Cofáns.
Uma tribo pequena com provavelmente 120 pessoas, mais ou menos, quando eu era menino.
A nossa cultura era completamente baseada na floresta,
girava inteiramente em torno do que podíamos tirar da floresta.
Na época, não tínhamos nenhuma ideia de que isso poderia mudar.
As nossas casas eram feitas com os materiais disponíveis.
Podíamos nos transportar rio acima e abaixo,
e, de fato, alguns do velhos Cofáns estiveram em Manaus.
A geração anterior, na verdade, o meu sogro.
Eu passava muito tempo nessa casa em particular
e pessoalmente eu gostava de lá muito mesmo.
Havia uma outra razão, vou lhes mostrar num minuto.
Mas, se olharem ao redor da casa, nesta foto,
vejo que temos
quase tudo nesta foto vem da floresta tropical,
e não precisamos de nada do mundo exterior.
Há uma panela de alumínio no canto,
mas, todo o resto é produto da floresta.
A nossa arte, a nossa vida social, nossa habilidade de criar coisas
que são de fato muito confortáveis, como por exemplo, a rede.
E temos muito pouco contato com o mundo externo.
Somos todos partes importantes do que estávamos tentando viver na época.
O homem mais velho nesta foto era o maior amigo de meu pai na tribo,
eram grandes amigos,
ele era o chefe da tribo, o nome dele era Guillermo.
Pelo que me lembro, Guillermo não era
somente o chefe, mas também era,
por causa do xamanismo, ele nunca tomava banho,
e quanto ele tentava me pegar no colo,
era uma experiência sensorial tão forte
que me lembro até hoje.
Mas era uma cultura extremamente interessante e rica,
vivíamos em harmonia uns com os outros
e com o meio ambiente ao nosso redor.
Esta senhora idosa é o motivo pelo qual aquela casa em particular me interessava tanto.
ela se tornou minha bisavó em terceiro grau,
quando me casei com minha esposa, Amélia.
Ela era boa para assar a lagartixa
que pegávamos com zarabatanas ou algo parecido.
Este era o meu tio,
a quem eu muito estimava e com quem vivia na época.
Este era um mundo de recursos infindáveis,
um mundo que não podíamos entender
naquela época.
Tudo mudou drasticamente nos anos 60, de repente,
quanto as empresas petrolíferas começaram a chegar.
À medida que ocuparam a área, trouxeram seus tratores,
estradas, e nos deram o primeiro gosto de poluição,
os rios de onde bebíamos diretamente antes,
de repente ficaram sujos com óleo cru
e com químicos que nem sabíamos como chamar.
Lembro-me de pescar
e um dos meus, atualmente cunhados, disse:
"Ei, isso tá fedendo, o cheiro não tá bom!"
E de repente nos deparamos com um mundo
completamente diferente e que completamente nos ignorava.
Nossos chefes morreram, Guillermo, na foto anterior, Pacho Quintero, de San Miguel, morreu nesta época.
Fomos substituídos por caminhões com tubulações e pastos, grama...
Simplesmente um impacto incrível sobre nossa cultura.
Cidades cresceram onde antes caçávamos,
pescávamos e plantávamos para nossa subsistência.
De repente, os Cofáns foram considerados uma tribo extinta.
Os antropólogos começaram a falar que tínhamos desaparecido.
Começamos a resistir nos anos 70.
Foi um pequeno grupo de jovens
que começou a analisar profundamente quem éramos.
E quando começamos a analisar,
vimos que nós, além de nossa língua, de nossos atributos culturais,
da dança, das coisas espirituais,
além de tudo isso,
éramos um povo da floresta tropical
e sem a floresta, não podíamos mais existir.
Começamos um período de resistência e durante os anos seguintes
fomos capazes de nos organizar
e recuperar, até este ponto,
cerca de 430 mil ha de nosso território original.
O nosso território original era provavelmente 10 vezes maior,
talvez 15 vezes maior.
Mas, conseguimos reconquistar estas terras
durante esse período de tempo.
Ao fazê-lo, também desenvolvemos métodos
que nos permitiriam proteger esta área
contra a constante pressão do mundo externo
para explorar os recursos dessas áreas para necessidades de curto prazo.
Nesse caso, tínhamos nossa guarda de parque.
Atualmente, temos um grupo de cerca de 50 guardas de parque,
os guardas do parque Cofán patrulham as áreas.
As relações com o governo,
o presidente da federação,
da federação Cofán com o presidente do equador
e a infraestrutura que tivemos de desenvolver para isso.
Neste processo, lentamente começamos a perceber
que não estávamos preservando somente para nós mesmos,
e isto está diretamente relacionado com o que o Antônio estava falando.
A preservação para nós mesmos é uma parte mínima do que estamos fazendo.
O desafio que temos no momento é o resto do mundo.
Como vamos fazer
com que o resto do mundo participe?
Outros grupos indígenas ficaram muito, muito interessados pelo procedimento
que estamos conduzindo e em nosso lema.
Atualmente estamos trabalhando em cerca de 1,5 milhões ha de floresta tropical
com os grupos indígenas,
que são ativos e têm o nosso mesmo lema,
Estamos convencidos, os povos indígenas, sabemos que precisamos da floresta
para sobrevivermos como povos, como cultura, como mundo.
A questão aqui é
se o resto do mundo vai despertar para isso
e querer assumir sua parte da responsabilidade.
Isso não pode acontecer isoladamente,
os grupos indígenas não vão
conseguir fazer isso sozinhos.
Sofremos enormes pressões econômicas.
Exatamente agora, estamos falando de infra-estruturas,
bem neste momento, há o Projeto Mata Manaus.
dentro de um conceito chamado IIRSA.
Estamos falando de um sistema de transporte que começa aqui em Manaus,
e cruza os Andes até a costa do Pacífico,
para acessar os mercados da costa do Pacífico.
Isso é algo
diametralmente oposto ao que o povo Cofán,
os povos indígenas, estão visualizando,
ao que Antônio estava falando, da experiência Ianomâmi,
um indivíduo que diz
"precisamos desta floresta tropical para sobrevivermos como seres humanos",
é dela que vem a nossa água,
é nela que plantamos.
Isso só vai acontecer quando o mundo se envolver.
A mensagem principal que trago para vocês do povo Cofán
e dos outros grupos indígenas com quem estamos trabalhando
é que nos ajudem a despertar a comunidade mundial
para a realidade econômica. É preciso...
A floresta não é necessária somente para a sobrevivência
de pequenos grupos indígenas lá
que são bem interessantes, ou da biodiversidade lá,
e de coisas assim.
Estamos falando da sobrevivência do planeta.
Tansin'tsse hanni iou key.
Condase'cho. É isso o que eu queria lhes dizer.
Muito obrigado.