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Depois de estar orbitando a Terra por mais de duas décadas, o Hubble se tornou responsável
por muitas descobertas científicas fascinantes.
Após a visita dos astronautas em 2009 para trabalhar no equipamento e instalar novos instrumentos,
o telescópio agora está no ápice de suas capacidades.
Como o observatório amadureceu,
agora a atenção se voltou para alguns projetos ambiciosos em uma escala
que não teria sido sequer cogitada há poucos anos.
Entre eles, esses projetos podem ajudar a responder algumas das maiores questões da astronomia contemporânea,
e continuarão contribuindo para a ciência durante muitos anos à frente.
Hubblecast - episódio 45: Construindo um banco de dados de observações
Apresentação de Dr. J, também conhecido como Dr. Joe Liske.
Olá, e bem-vindos ao Hubblecast.
O tempo de observação com o Hubble é um bem muito precioso, e sua agenda está sempre cheia.
Isso significa que quando os astrônomos querem usar o Hubble, precisam solicitar um horário livre.
E em sua solicitação,
têm de ser muito detalhados sobre o quê, exatamente, desejam estudar,
e sobre como pretendem fazer isso.
Esse processo funciona muito bem para a maioria dos projetos
que têm objetivos científicos muito particularizados.
Contudo, às vezes o Hubble é usado para coisas muito maiores,
com objetivos científicos muito mais amplos.
Nesses casos, a maneira usual de distribuir o tempo livre não é suficiente.
Três desses grandes projetos, chamados programas multicíclicos de bancos de dados, estão em andamento neste exato momento,
e são os mais ambiciosos projetos já desenvolvidos com o Hubble.
Os programas multicíclicos de bancos de dados do Hubble funcionam em uma escala muito diferente
do que o trabalho usual do telescópio,
contando com milhares de horas de observação divididas ao longo de muitos anos.
E antes do que ligados a projetos de cientistas individuais,
como são normalmente as observações do Hubble, os programas multicíclicos são projetados
para criar um banco de dados utilizável pelo maior número possível de pessoas.
Por exemplo, o programa Panchromatic Hubble Andromeda Treasury está trabalhando
em um mapeamento detalhado de parte da galáxia vizinha de Andrômeda,
indo desde o seu núcleo brilhante até as tênues bordas de um de seus braços espiralados.
De fato, Andrômeda é a galáxia espiralada mais próxima da Via Láctea
e ela nos dá uma visão sem paralelos da estrutura de uma galáxia
que é parecida com a nossa.
Ela aparece bem grande nos céus - diversas vezes o tamanho da Lua cheia,
mas é tão pálida que mal é visível a olho nu, mesmo em uma noite muito escura.
Porém, para o Hubble, ela fulgura de estrelas -
e estima-se que 100 mihões delas serão mapeadas até a pesquisa terminar.
A pesquisa não vai apenas indicar sua posição, mas vai obter detalhada informação em cores nos espectros visível,
próximo do infravermelho e no ultravioleta - algo que nenhum outro telescópio pode fazer.
A medida precisa das cores das estrelas é vital para o estudo de muitas de suas propriedades,
como, por exemplo, sua temperatura superficial.
Com esta abundância de dados, os cientistas farão descobertas
na galáxia de Andrômeda por muito tempo.
Outro dos programas de base de dados do Hubble pesquisa a evolução de nosso universo.
Chama-se Cosmic Assembly Near-infrared Deep Extragalactic Legacy Survey,
ou, abreviando, CANDELS.
Pesquisando grandes e escuras áreas do céu, que contam com poucas estrelas em primeiro plano,
esta pesquisa ultrapassa os limites de nossa vizinhança cósmica
e penetra nas profundezas do universo.
Estão sendo observadas galáxias tão distantes que sua luz levou bilhões de anos para chegar a nós.
Isso permite aos astrônomos estudar o passado distante de nosso cosmos
e como as galáxias evoluem ao longo do tempo.
Como a pesquisa da galáxia de Andrômeda,
CANDELS usa a habilidade do Hubble de fazer mapas detalhados do céu nos espectros visível,
próximo do infravermelho e no ultravioleta.
Desde a formação primitiva das galáxias,
passando pelo surgimento de clusters de galáxias, até a era dos quasares, na metade da história cósmica,
CANDELS vai nos dar uma pletora de informações para o estudo de algumas das maiores questões da cosmologia.
O terceiro desses projetos multicíclicos é o Cluster Lensing
and Supernova survey with Hubble, ou CLASH.
CLASH pesquisa imensos clusters de galáxias elípticas.
Eles têm tanta *** que sua gravidade distorce sensivelmente os raios de luz,
como se fossem lupas gigantescas.
Esse efeito ampliador pode em verdade ajudar os astrônomos a ver galáxias distantes
que de outra maneira seriam pálidas demais para serem vistas.
Além disso, estudar esses clusters é fundamental para explicar dois dos maiores mistérios da astronomia moderna:
a matéria escura e a energia escura.
Estudar a matéria normal do universo, como estrelas ou nuvens de gás,
é algo relativamente fácil, porque ela emite ou absorve luz.
Contudo, ocorre que a maior parte da matéria do universo não é, de fato, normal,
mas é o que chamamos de matéria escura, que não emite nenhum tipo de radiação.
Os astrônomos ainda não sabem o que realmente é a matéria escura.
Mas ver como esses clusters desviam a luz de galáxias distantes do plano de fundo
nos permite mapear como a matéria escura se distribui no interior desses clusters.
CLASH também vai estudar supernovas distantes.
Isso vai medir a taxa de expansão do universo
e nos ajudar a entender o mistério do porquê essa expansão está se acelerando.
De fato, já estão sendo feitas descobertas com os primeiros dados publicados dessa pesquisa.
Em abril deste ano,
um novo estudo identificou uma galáxias longínqua através do efeito de lente gravitacional em Abell 383 —
a primeira das 25 a serem estudadas.
Graças à amplificação pelo cluster da luz dessa galáxias remota,
os astrônomos foram capazes de fazer observações muito mais detalhadas do que seria possível de outra forma.
E eles descobriram que as estrelas desta galáxias são surpreendentemente velhas:
devem ter nascido poucas centenas de milhões de anos após o Big ***,
muito antes do esperado.
Assim, embora o Hubble já tenha mais de 20 anos,
ele está fazendo agora algumas de suas pesquisas mais ambiciosas,
construindo um banco de dados que continuará a servir aos astrônomos por muito tempo.
Isso significa que, a despeito de sua idade,
O Hubble não será eclipsado pelo próximo grande evento da astronomia espacial:
o lançamento do Telescópio Espacial James Webb, ou JWST.
O JWST, que será lançado ainda nesta década,
está sendo projetado para responder algumas das mais fascinantes questões levantadas pelo Hubble:
Como se formam as estrelas? Quando surgiram as galáxias? O que se esconde nas gigantescas nebulosas gasosas?
Para responder a essas questões momentosas, o JWST deverá observar principalmente em infravermelho.
Isso significa que a habilidade do Hubble de ver desde o ultravioleta até a luz visível,
estendendo-se até próximo do infravermelho, é uma capacidade única
que nenhum outro telescópio terá durante décadas à frente.
Esses programas de bancos de dados multicíclicos estão tirando o máximo partido dessa capacidade,
construindo um legado de dados que ajudará os cientistas a desvendar
os segredos do cosmos ainda por muitos anos.
Eu sou o Dr. J, despedindo-me do Hubblecast.
Mais uma vez a natureza nos surpreendeu além de nossa mais vívida imaginação.
Transcrito por ESA/Hubble.