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Pra quem olhava de fora, via uma menina de 18 anos, "normal".
Que tomava birtinhas...
...ía pra balada...
...tinha seus casinhos...
...seus paquerinhas...
...naquela época eu fumava,
o cigarro ainda era super bem tolerado.
E eu era educada, eu era popularzinha, ía bem na escola...
E eu comia bem,
então o povo achava o máximo...
...porque eu ía no Mac Donalds e comia 1, 2, 3 promoções, tomava sorvete...
...todo mundo achava: "ai que legal, você come, come e você não engorda!"
Mas eu comia bem, porque eu tinha compulsão alimentar.
Então eu começava a comer, principalmente doce, salgado, essas porcariadas e me aliviava...
...então eu não conseguia parar.
Compulsão por comida, compulsão por jogos, compulsão por drogas, bebida, cigarro...
A gente entende que isso faz parte de um sofrimento, quando a pessoa não tem controle dos impulsos.
Eu sentia uma ansiedade absurda.
Ficava completamente fechada, e eu ficava muito irritada, muito agressiva.
E eu não conseguia tá em mim.
E era esse turbilhão de emoção, e eu sozinha eu não conseguia lidar.
Mas eu me sentia culpada, porque eu tava sentindo aquilo e eu tentava sentir diferente, e eu não conseguia.
O indivíduo que tem depressão ele pode ter tristeza...
...mas ele pode apresentar outros tipos de sofrimento, psíquico e físico.
Era uma sensação de aperto no peito...
...uma angústia muito forte.
Uma sensação de que eu não tava aqui.
Era como se eu não... não merecesse existir.
Mal estar todo mundo tem.
Tristeza todo mundo tem, a tristeza inclusive é importante do ponto de vista adaptativo...
...porque a pessoa quando tá triste, ela se recolhe, ela pensa na vida, existem os lutos absolutamente normais.
Porém por quanto tempo essa pessoa está passando por esse sofrimento dito normal?
Eu não tinha energia, vivia muito cansada, chorava do nada...
A pessoa fica com o nível de energia muito baixo...
...falta no trabalho, aliás a depressão é uma das maiores causas de absenteísmo no trabalho.
Especialmente a depressão leve, que a pessoa falta uma vez...
depois continua indo, aí depois de um mês falta de novo, né!
E aí ela dificilmente se dá conta de que ela tem depressão, porque ela não tá triste.
E eu não conseguia colocar o pé, literalmente, colocar os pés no chão...
...eu usava muito salto, tanto que meu apelido na época da Faculdade era Tamanca.
Me doía, se eu ficasse com os dois pés no chão eu sentia dor!
Então eu vivia na meia ponta, que nem bailarina.
E eu bebia, porque de certa maneira, as bebidinhas, a cervejinha, o vinho...
...me aliviava dessas sensações ruins.
Mas eu bebia pra aliviar, dava aquela aliviada, só que logo em seguida eu piorava.
Ficava muito pior!
E aí que que eu fazia, eu pegava o carro nessa fase que a bebida dava essa baixada, essa deprê...
...pegava o carro e ía tirar "racha" bêbada.
E a molecada da cidade que eu morava achava o máximo porque eu tirava "racha" e era "legal".
Fora isso ela pode ter perda do prazer nas atividades em que normalmente ela tinha.
É perda de libido, em casos mais graves idéias de morte.
Eu só conseguia ver tudo de ruim que existia.
Pensava muito em morte, muito em desgraça.
Eu não conseguia me concentrar...
...nem escovar o dente direito.
Não funcionava nas mínimas coisas.
E eu sentia esse vazio imenso que parecia que não ía passar nunca!
E eu não falava nada pra ninguém, desse monte de emoção bagunçada...
...porque eu tinha vergonha, eu não queria que ninguem soubesse.
Eu me forçava a ir na Faculdade, eu me forçava a ir nas baladas,
...eu me forçava a fazer coisas que as pessoas "normais" fazem...
...mesmo me sentindo um peixe fora d´água estraçalhado e desmilinguido...
...eu me forçava a viver como as pessoas vivem.
E eu não queria encarar que tinha alguma coisa de errado comigo.
E eu sozinha eu não conseguia reagir!
Porque um transtorno mental é muito mais forte do que a vontade...
...de trocar os pensamentos negativos por positivos.
Seria como se um tetraplégico falasse: "Ah não, agora eu resolvi, eu vou levantar e correr!"