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A PERSUAÇÃO E O ASSASSINATO DE JEAN-PAUL MARAT...
COMO FOI REPRESENTADA PELOS INTERNOS...
DO MANICÔMIO DE CHARENTON...
COM A DIREÇÃO...
DO MARQUES DE SADE.
Como diretor da clínica de Charenton...
...gostaria de dar as boas-vindas a esta reunião.
A um dos residentes devemos dar as graças.
Monsieur de Sade...
...que escreveu e produziu esta obra para o seu desfrute...
...e para a reabilitação dos nossos pacientes.
Pedimos que sejam pacientes...
...com um elenco que jamais atuou antes de vir a Charenton...
...mas cada interno, asseguro a vocês, tentará dar o melhor de si.
Somos modernos, iluminados...
...e não aceitamos trancar os pacientes.
preferimos a terapia através da educação e especialmente da arte...
...Para que o hospital cumpra o seu papel...
...seguimos fielmente, na nossa opinião...
...a declaração dos direitos humanos.
Creio, como o autor, o Marques de Sade, que sua obra...
...encenada no nosso moderno banheiro, não será prejudicada...
...por todos esses instrumentos para a higiene física e mental.
Muito pelo contrário, eles fazem parte da cena, porque...
em sua obra, Marques de Sade tentou...
mostrar como Jean-Paul Marat esperava em seu banheiro...
...antes que Charlotte Corday foi chamar em sua porta.
Distintíssimos visitantes, voltemos à França de 15 anos atrás.
Recordem do maior estrondo dos tempos modernos...
...essas vitórias douradas, esses crimes escarlates.
A força que aniquilou todas as instituições...
...nesse terremoto mundial: A Revolução Francesa!
Ninguém de nós conheceu um revolucionário mais apaixonado...
...que Marat. Mas era ele amigo do povo ou o inimigo da liberdade?
Escritor de livros com esperança a cada obra...
...ou o maior carniceiro da sua época?
Marat, o bom ou o mal? A decisão é difícil.
Escutemos Marat debater com Sade.
Dois campões lutando com seus pontos de vista.
Quem elegeremos o vencedor? Vocês devem escolher.
Aqui está Marat, de volta dos mortos.
Tem uma venda ao redor da cabeça.
Sua pele arde, esta amarela como um queijo...
...porque está desfigurada por uma enfermidade de pele.
Só a água, esfriando cada membro...
...evita que a febre o consuma.
Para este papel tão importante, escolhemos um paranóico sortudo.
Um que demonstrou avanços sem precedentes desde que...
...começamos a hidroterapia.
Ela estava com ele no final de seus dias.
Simonne Evrard, sua fiel companheira.
Aqui está Charlotte Corday, esperando sua entrada em cena.
Uma garota do campo. Sua família, da alta sociedade.
Por desgraça, a moça que a interpreta...
...sofre da doença do sono, também de melancolia.
Nossa esperança para essa alma atormentada...
...e que não se esqueça do seu papel.
Seu amigo é Monsieur Duperret. Olhem seu tipo de classe alta.
O ator é bom, único sujeito a aquentar ataques.
Um dos nossos mais brilhantes maníacos sexuais.
Encarcerado por ter sempre radicais pontos de vista sobre qualquer tema...
...um antigo sacerdote, Jacques Roux...
...partidário da revolução de Marat.
Mas por desgraça, os censores cortaram a maioria dos seus discursos ferventes.
Para os guardiões da moral eram muito extremistas.
Eu incrimino...
e agora, nossos cantores: Cucurucu.
Polpoch.
Kokol.
E quem não vive nas ruas: Rossignol.
Agora, conheçam este cavaleiro da alta sociedade...
que se rebaixou da estrela da notoriedade vindo viver conosco há 5 anos.
Devemos este espetáculo à sua grande habilidade.
o antigo Marques, Monsieur de Sade...
...cujos livros foram proibidos, seus ensaios retirados...
...que ainda foi julgado e condenado...
...e encarcerado e por alguns anos, exilado.
A introdução terminou. Agora podem apreciar a obra de Jean-Paul Marat.
Esta noite, A data é 13 de julho de 1808.
E esta noite, nosso elenco promete...
...mostrar como há 15 anos...
...uma noite sem fim caiu sobre este homem...
...este inválido...
...e vocês o verão sangrar.
E verão esta mulher, machucá-lo com cuidado...
...usando uma adaga e acabar com sua vida precocemente.
Uma homenagem a Marat!
"Quatro anos depois da revolução e a execução do rei
"Quatro anos depois, me lembro como esses aristocratas acharam seu dim
"Todos os aristocratas à forca
"Expulsem os sacerdotes, que sobrevivam comendo a sua própria graça
"Quatro anos depois que começamos a lutar, Marat segue escrevendo
"Quando anos depois da tomada da Bastilha ainda recorda o grito de guerra
"Abaixo toda a classe governante
"Expulsem todos os generais com uma patada no cú"
Longa vida à Revolução!
Não cavaremos nossas próprias fossas!
Marat, precisa de comida e roupa.
Estamos cansados de trabalhar como escravos.
Precisamos de pão mais barato..
Com essas folhas te coroamos...
...pois não encontramos o loiro...
Todos os loiros foram usados para ornar os acadêmicos, generais e chefes de estado.
E suas cabeças são enormes!
"Querido Marat, do seu lado podemos perder ou ganhar
"Mas é o único em que podemos confiar"
Não toque nas feridas ou nunca melhoraram.
"Quatro anos batalhando e não está atemorizado
"E descobriu outros traidores além de outros traidores tradicionais
"Marat no tribunal, Marat debaixo da terra
"Algumas vezes a preza, outras vezes o caçador
"Lutamos contra a igreja e a alta sociedade
"Os empresários, os burgueses e a besta militar
"Marat sempre estava disposto para deter qualquer plano
"Dos filhos de lambe-saco e do regime moribundo
"Temos novos generais, nossos lideres são novos
"Se sentam e discutem e a única coisa que fazem
"é vender seus próprios colegas e alçar às suas costas
"ou encarcerá-los ou arruiná-los ou executá-los todos
"Gritando em um idioma que não compreendem
"Sobre os direitos que conseguimos com nossas próprias mãos sangrando
"Quando acabamos com os chefes e derrubamos os muros
"Da prisão que nos disse que nos seguiria depois da nossa morte
"Marat, somos pobres
"E os pobres, pobres seguirão
"Marat, nós não podemos
"Esperar mais
"Queremos nossos direitos
"E não nos importa como
"Queremos nossa revolução
"agora"
A revolução...
...veio e se foi...
...e a instabilidade foi substituída pelo mal-estar.
Quem controla os mercados? Quem fecha os celeiros?
Quem tem os bens dos palácios?
Quem ficou com as terras que se iam repartir entre os pobres?
Quem nos mantêm prisioneiros?
Quem nos encarcerou?
Todos somos normais e queremos nossa liberdade.
Liberdade.
Monsieur de Sade...
...conforme parece devo agir como a voz da razão.
O que acontecerá se já no começo de sua obra...
...os pacientes estão alterados?
Você deve manter sua obra sobre controle.
Os tempos mudaram, são diferentes.
E hoje deveríamos julgar de forma objetiva antigos enganos.
São parte da história.
E a história, devo adiantar...
...não é simplesmente o relato das pessoas comuns indisciplinadas.
Consideremos em vez disso a verdadeira história...
As vidas exemplares dos homens que fizeram grande a França.
Aqui está Marat, escolhido pela gente...
...sonhando e escutando as vozes das suas febres.
Veja sua mão enrolada ao redor de sua pena...
...e os gritos das ruas permanecem esquecidos.
olha um mapa da França, seus olhos marcham de lado a lado...
...enquanto vocês esperam...
Corday.
Enquanto vocês esperam que esta mulher o mate.
E ninguém pode...
...alterar isto, não importa o que fizermos...
...ela está de pé na porta de Marat...
...disposta e pronta para matar.
Pobre...
...Marat.
Está em sua banheira, seu corpo encharcado e saturado de veneno.
Os venenos são os choros de um lugar escondido...
...envenenando a gente, incitando a roubar e a matar.
Marat...
...eu, Charlotte Corday, vim de Caen...
...onde um grande exército de libertação está se formando...
...e venho como a primeira deles...
...Marat.
"Uma vez ambos
"vimos que o mundo deveria
"Mudar, como lemos
"o grande Rousseau
"Mas mudar significa uma coisa pra você
"e algo um pouco particular para mim
"As mesmas palavras
"Que ambos dizemos
"Para brotas e explodir nossos ideais
"Mas meu modo era voraz
"Enquanto o seu levava
"À montanha de mortos
"Uma vez ambos
"Falamos uma mesma língua
"De amor fraternal
"Docemente cantamos
"Mas o amor significa uma coisa a você
"E algo um pouco diferente para mim
"Mas agora me dou conta que estava cega
"E agora posso ver sua mente
"E então digo que não
"E vou te matar, Marat
"E libertar toda a humanidade"
Simonne!
Mais água fria. A facada é insuportável.
Jean-Paul, não se coce. Arrancará a pele em retalhos.
Deixa de escrever. Não servirá de nada.
Meu discurso de 14 de julho ao povo da França.
Por favor tenha mais cuidado. Olhe o quão vermelho a água está ficando.
O que é uma banheira com sangue comparada com a matança por vir?
Achamos que centenas de cadáveres bastariam...
...logo vimos que milhares eram muito pouco...
...Hoje não conseguimos contar todos os mortos.
Onde está algum de nossos inimigos em nosso lugar?
Procure por todas as partes.
Aqui estão: nos telhados, nos sótãos, detrás dos muros. Hipócritas!
Dizem estar com o povo, mas por dentro apóiam a Monarquia.
Se uma casa é assaltada, gritam: "Mendigos, vilões, ratos do esgoto!"
Simonne, minha cabeça está queimando. Não posso respirar.
Há uma multidão enfurecida dentro de mim.
Eu sou a revolução.
A primeira visita de Corday.
Vim falar com o cidadão Marat.
Tenho uma importante mensagem para dar-lhe sobre a situação em Caen, minha casa...
...onde se está reunindo seus inimigos.
Não queremos visitas.
Queremos um pouco de tranqüilidade.
Se tem algo a dizer à Marat...
...faça por escrito.
O que tenho a dizer não pode ser por escrito.
Eu...
...quero...
...estar...
...diante dele e...
...olhá-lo. Quero...
...ver seu corpo tremer e sua cara...
...cobrir-se de suor.
Quero atravessá-lo bem entre as costeletas...
...com um punhal que levo entre meus seios.
Tomar...
...o punhal...
...com ambas as mãos e...
...atravessar-lhe...
...sua pele e logo escutar o que...
... ele tem a...
...dizer!
Ainda não, Corday.
Tem que ir à sua porta três vezes.
Canção e pantomima da chegada de Corday à Paris!
"Charlotte Corday veio à nossa cidade
"Escuta o povo falando, viu as bandeiras balançar
"O cansaço quase a havia vencido
"O cansaço quase a havia vencido
"Charlotte Corday tinha que ser valente
"Ela não podia ficar em hotéis comuns
"Tinha que encontrar um homem que venderia facas
"Tinha que encontrar um homem com facas
"Charlotte Corday passou pelas belas lojas
"Perfume e maquiagem, talcos e perucas
"Bálsamo para curar úlceras sifilíticas
"Bálsamo para curar úlceras
"Ela viu seu punhal
"Seu cabo era branco
"Entrou na loja do vendedor de facas
"Quando viu o punhal, o punhal brilhava
"Charlotte viu que era um punhal brilhante
"Quando o homem perguntou: 'É para quem?'
"Todo o mundo sabia a resposta
"Charlotte sorriu e lhe pagou 40 moedas de bronze
"Charlotte Corday caminhou sozinha
"Os pássaros de Paris cantavam docemente
"Charlotte caminhou por ruas de pedra
"Através dos cheiros das perfumarias
"Charlotte olhou a gangrena dos mortos
"E ouviu o som da guilhotina
"Não destrua seus sapatinhos bonitos
"O esgoto está cheio de sangue
"'Suba, suba
"'e venha dar uma volta comigo'
"Disse o condutor da carroça dos condenados
"Mas ela não disse nada
"Nunca virou a cabeça
"'Não sujes suas bonitas calças
"'Só vou em uma direção
"'Suba, suba e venha dar uma volta comigo
"'Eu não tenho uma carruagem de luxo'
"Mas ela não disse nada
"Não virou a cabeça"
Que tipo de povo é esse?
O sol apenas atravessa a bruma...
...uma bruma que não é formada por chuva e neblina...
...sim uma que é densa e quente como um matadouro.
Por que estão uivando?
O que estão arrastando nas ruas?
Levam estacas, Mas o que tem cravado nelas?
Por que saltam? Por que dançam?
Por que riem tanto? Por que gritam as crianças?
Quais são esses valores para os que lutam?
Esses valores com olhos e bocas.
Que tipo de povo é esse?
Nádegas mutiladas atiradas nas ruas.
Quem são todos esses rostos?
Rapidamente estes rostos me rodearão.
Esses olhos e bocas me pedirão...
...que me junte a eles!
Agora está acontecendo e não podem evitá-lo.
O povo não podia aquentar tudo, agora têm sua vingança.
Vem sua vingança mas não podem se lembrar que vocês nos levaram a ela.
Agora protestam, mas é tarde para chorar o sangue derramado.
O que é o sangue dos aristocratas comparado com o do povo?
Muitos, degolados por seus grupos.
Muitos, mortos mais lentamente nos seus talhes.
Que sacrifício é esse comparado ao que o povo fez para manter-los ricos?
O que são algumas mansões saqueadas comparado ao sangue de suas vidas?
A vocês não importa.
Sim exércitos estrangeiros, com os que compactuaram em silêncio...
...entram e massacram o povo, precisavam da morte do povo para poder prosperar.
Quando eles estiverem eliminados, não moveriam um músculo de suas caras burguesas...
...que agora estão marcadas pela raiva e pelo mal-estar.
Monsieur de Sade, não podemos permitir isto.
Sinceramente não pode chamar isto de educação.
Não está melhorando os meus pacientes. Todos estão muito agitados.
Antes de tudo, convidamos o público para mostrarmos...
...que nossos pacientes não são parias da sociedade.
Somente mostramos as pessoas massacra- das porque indiscutivelmente aconteceu.
Por favor, venham com calma com estas demonstrações bárbaras...
...que eu não posso tolerar.
Os homens desta época, a maioria mortos...
...eram primitivos, nós somos mais civilizados.
A execução dos aristocratas.
Olhe-os, Marat...
...a estes homens que antes tinham tudo.
Agora que seus prazeres foram tomados...
...a guilhotina os salvará de um aborrecimento eterno.
Agora felizes oferecem suas cabeças como fizeram para a coroação.
Não é isso o auge da perversão?
A execução do Rei!
Conversa sobre a vida e a morte!
Em um dos livros, de Sade, em uma das suas obras imortais diz...
que a razão da vida é a destruição
e que o único jeito de medir a vida é a morte.
Correto.
Mas o homem tem dado uma uma falsa importância à morte.
Cada animal, planta ou homem que morre se junta a uma pilha de matéria decadente...
e se converte em esterco, sem ele nada cresceria.
Nada poderia ser criado.
A morte é simplesmente parte do processo.
Cada morte, até a mais cruel...
se junta à total indiferença da natureza.
A natureza seria indiferente...
...se destruíssemos toda a raça humana.
Odeio a natureza!
Este espectador desapaixonado, este roto duro como um relógio...
...que tudo pode suportar.
Isto nos leva a cometer atos cada vez mais graves.
Mas ainda que odeie esta deusa
vejo que os grandes atos da história seguem suas leis.
A natureza ensina o homem a lutar pela sua felicidade.
E se ele deve matar para atingir a felicidade
...então o assassinato é natural.
Não temos sempre esmagado ao mais fraco?
Não temos degolado sempre os poderosos com luxuria continua?
Não temos experimentado nos nossos laboratórios...
...antes de aplicar a solução final?
O homem é um destruidor.
Mas se mata e não se tem prazer nisso...
...é uma máquina.
Deveriam destruir com paixão, como um homem.
Permitam recordar a execução de Damiens
depois de sua tentativa de assassinar Luis XV.
Lembram como morreu Damiens?
Quão delicada é a guilhotina comparada com sua tortura.
Durou quatro horas enquanto a multidão observava
e Casanova, em uma varanda no alto, apalpava as damas ali presentes.
Seus pés, braços, coxa e panturrilhas foram rasgados.
Enfiaram chumbo derretido em cada ferida...
Jogaram azeite fervendo sobre ele, cera ardente e enxofre.
Queimaram suas mãos.
Amarraram cordas em seus braços e pernas
e logo as ataram a quatro cavalos e os fizeram puxar.
Puxaram por uma hora, mas nunca antes o haviam feito...
...e não ligaram...
...de despedaçá-lo...
...mesmo serrando os ombros e os quadris.
Assim que perdeu um braço e logo o outro.
E então viu o que estavam fazendo.
Então se virou aos outros e gritou para que todos pudessem entender.
E quando perdeu a primeira perna e logo a outra...
...ainda vivia.
Ao final quando estava suspenso...
...um torso sangrento com uma cabeça que se movia...
...só gemia...
...e olhava o crucifixo...
...foi que o padre confessor se aproximou.
Este foi um festival com o qual...
os festivais de hoje em dia não podem competir.
mesmo nossa inquisição não tem sentido na atualidade.
Agora tudo é oficial.
Condenamos à morte sem emoção.
E não há mortes personalizadas e singulares
só uma morte anônima e desvalorizada
que poderíamos dar a nações inteiras
de forma matemática
até que chegue a hora em que se extinguem todas as formas de vida.
Cidadão Marques...
pode ser o juiz de nossos tribunais.
Tem lutado do nosso lado...
quando tiramos dos cárceres os aristocratas que tramavam
contra os outros, mas ainda fala como eles.
O que chama da indiferença da natureza é sua própria falta de compaixão.
A compaixão é propriedade das classes privilegiadas.
Quando vêem um mendigo, olham com desdém.
Para proteger suas riquezas fingem estar emocionados.
E seu presente ao mendigo não é mais do que uma patada.
Não, Marat. Nada de emoções falsas, por favor.
Seus sentimentos não são insignificantes.
Para você, como para mim...
...só as ações mais extremas contam.
Se sou extremo, Não sou do mesmo modo que você.
Contra o silêncio da natureza, eu atuo.
Na vasta indiferença, eu invento uma razão.
Não olho passivamente. Intervenho.
E digo que tem coisas que estão erradas.
E trabalho para mudá-las e melhorá-las!
Porque...
O importante é sobrepor-se às circunstancias
...transformar-se...
...e ver o mundo numa nova perspectiva.
A liturgia de Marat.
Lembram como era?
Os reis eram nossos queridos pais e debaixo de seus cuidados vivíamos em paz.
E seus gestos eram glorificados pelos poetas oficiais.
Devotadamente, os simples trabalhadores...
...transmitiam a lição a seus filhos.
"Os reis são nossos queridos pais
"Debaixo de seus cuidados vivemos em paz"
E os filhos repetiam a lição.
Sofram!
Sofram como Ele sofreu na cruz, pois é a vontade de Deus.
E todos crêem no que escutam repetidamente
Assim os pobres, em vez de pão...
...sobrevivam com a imagem de um Cristo sangrante, chicoteado e pregado.
E rezem a esta imagem por seu desespero.
E o padre diziam...
"Levantem as mãos aos céus, ponham-se de joelhos...
"...suportem o sofrimento sem se queixar, rezem por aqueles que os torturem...
"...pois a oração e a benção é o único modo...
"...de alcançar o paraíso!"
E assim condenaram os pobres à sua ignorância...
...para que não pudessem alcançar e lutar contra seus chefes...
...que governam em nome da mentira do direito divino.
Monsieur de Sade!
Devo interromper esta discussão.
Admita fazer uns cortes nesta passagem.
Depois de tudo, nada questiona a igreja agora
desde que nosso imperador se rodeia do clero de alta classe
e desde que se tem mostrado uma e outra vez
que os pobres precisam do consolo dos padres.
Não há duvida que já não se oprime a nada.
Ao contrário, tudo se faz para aliviar o sofrimento
com recolhimento de roupa, ajuda médica e restaurantes comunitários.
Nesta clínica, não só dependemos da boa vontade do governo
como mais ainda da ajuda da igreja
e em particular do nosso amigo, Monsieur Laday.
Se nossa atuação causa alguma reação
esperamos que traga a sua indignação
e lembrem que mostramos
só as coisas que se passaram há muito tempo.
Lembrem-se que as coisas eram diferentes então.
Além disso, hoje todos somos homens de fé.
Rezem!
Rezem ao nosso senhor.
"Satan nosso, que estás no inferno...
"...santificado seja seu nome.
"faça a sua vontade como na terra e como no inferno.
"Perdoe nossas boas ações e nos protegei da santidade.
"Leve-nos...
"Leve-nos à tentação...
"...uma e outra vez.
"Amém."
O desafortunado incidente que acabam de ver era inevitável.
Foi previsto pelo nosso dramaturgo...
...que teve que compor essas linhas adicionais pois foram necessárias.
Por favor compreendam...
...este homem foi uma vez...
um muito respeitado pároco de um monastério.
Deveriam lembrar que, como foi dito...
Deus atua como o homem, de uma forma misteriosa.
Antes de decidir o que está certo e o que está errado
primeiro devemos ver o que somos.
Eu não me conheço.
E quando descubro algo começo a duvidar disto
e tenho que destruí-lo de novo.
Aquilo que fazemos é apenas a sombra do que queremos fazer.
As únicas verdades sustentáveis
são as verdades sempre cambiantes de nossa própria experiência.
Não sei se sou a vitima ou o carrasco...
pois imagino que as mais horríveis torturas...
e mentiras que escrevo, eu mesmo as sofro.
Não há nada que eu não pudesse fazer.
E tudo me enche de horror.
E vejo que outras pessoas também se tornam desconhecidas,
e são capazes de atos imprevisíveis.
Há pouco, vi meu alfaiate...
Um homem gentil e educado, que gostava de falar de filosofia.
Eu vi, soltando espuma pela boca e gritando com raiva...
...atacar um homem da Suíça...
Um homem grande, fortemente armado...
E o destruiu por completo.
Eu logo eu o vi abrir o peito do homem derrotado
tirar seu coração que ainda batia
e o engolir.
Animal enlouquecido.
O homem é um animal enlouquecido.
Há mil anos atrás e em nosso tempo
ainda comete milhões de assassinatos.
A terra está coberta...
com as entranhas de homens esquartejados.
Os poucos sobreviventes...
... pouco sobreviventes que temos
caminham em cima de uma lama de cadáveres
sempre debaixo de nossos pés a cada passo que damos.
Restos, cinzas, debaixo de nossos pés
dentes quebrados, caveiras partidas pela metade.
Um animal enlouquecido.
Sou um animal enlouquecido.
As prisões não me ajudam. As cadeias não me ajudam.
Escapo...
...através dos muros
através de todo lodo e dos ossos despedaçados.
Uma noite me verão inteiro! Ainda não me acabei!
Tenho planos!
-Inventamos... -Inventamos...
Inventamos a revolução
mas não soubemos como dirigi-la.
Vejam...
todos querem conservar algo do passado
alguma recordação do velho regime.
Assim como um homem que decide conservar um quadro, outro conserva sua amante
outro seu cavalo e outro seu jardim.
Este homem conserva suas terras, e sua casa no campo.
Esse, suas fábricas
esse não podia suportar deixar seus estaleiros
esse conserva seu exército
e esse conserva o seu bastão.
E assim estamos aqui sentados
e nos viciamos na declaração dos direitos humanos
a santidade da propriedade privada.
E agora vemos onde nos leva isso.
Todo homem tem direito de lutar
fraternalmente e em igualdade de armas, claro.
Todo homem é seu próprio milionário.
Homem contra homem, grupo contra grupo
num alegre e mútuo assalto.
E os outros...
estamos aqui sentados, mais oprimidos do que quando começamos.
E eles crêem que ganharam a revolução?
A reação do povo.
"Por que têm eles o ouro?
"Por que têm eles o poder?
"Por que, por que, por que, por que
"têm eles amigos nas altas esferas?
"Por que têm os melhores trabalhos?
"Nós não temos nada, nunca tivemos nada
"Nada além de buracos, milhões deles
"Vivendo em buracos, morrendo em buracos
"Buracos em nossos estômagos e buracos em nossas roupas
"Marat, somos pobres
"E os pobres, pobres seguirão
"Marat, nós não podemos
"Esperar mais
"Queremos nossos direitos
"E não nos importa como
"Queremos nossa revolução já"
Observem que facilmente uma multidão se converte em tumulto
por sua ignorância a respeito do sábio trabalho de seus governantes.
Em vez de protestar por algo sem sentido...
...deveriam se calar, cidadãos.
Trabalhem para os poucos poderosos e confiem neles.
O que é melhor para eles é melhor para vocês.
Damas e cavalheiros, nós gostaríamos de ver o povo e o governo em harmonia
uma harmonia que, devo dizer, hoje aqui alcançamos.
E agora, nobreza e graça se encontram.
Nosso autos os coloca cara a cara.
A bela e valente Charlotte Corday
e nosso arrogante Monsieur Duperret.
Em Caen, onde ela passou seus mais belos anos
em um convento dedicado ao saber religioso
onde recomenda o nome de Duperret
como o amigo mais carinhoso e serviçal.
confira sua paixão à inteligência da Dama.
Seu amor é platônico, não do outro tipo.
Querido Duperret, que podemos fazer?
Como podemos deter esta terrível calamidade?
Nas ruas, todos dizem que Marat será protetor e ditador.
E ainda finge que seu poder de ferro
se relaxará quando o pior acabar...
mas nós sabemos o que Marat realmente quer
Anarquia e confusão.
Querida Charlotte, deves regressar
Volte com suas amigas, as beatas religiosas
a viver em oração e contemplação.
Não se pode lutar com o malvado inimigo que nos rodeia.
Fala de Marat, mas quem é este Marat?
Um vendedor ambulante, um feirante...
um vadio da Córsega...
Perdão, quero dizer Sardenha.
Marat?
O nome me soa judeu.
Talvez venha das águas de Marah na Bíblia.
Mas quem escuta a ele de qualquer forma? Apenas o povo nas ruas.
Aqui em cima, Marat não representa nenhum perigo.
Querido...
Duperret...
Tenta me por à prova, mas...
sei o que tenho que fazer.
Duperret...
Vá a Caen.
Barbaroux e Buzot te esperam lá.
Vá agora e viaje depressa.
Não espere até esta noite, pois esta noite será muito tarde.
Querida Charlotte, meu lugar é aqui. Como poderia deixar a cidade que tenho...?
E por que deveria correr...?
E por que deveria correr...
agora, isto não pode durar muito mais.
Os ingleses se esconderam em Dunkirk e Toulon.
-Os prussianos tem... -Espanhóis.
Os espanhóis tomaram Roussillon.
-Paris está... -Mayence.
Mayence está rodeada pelos prussianos.
Condé e Valenciennes foi tomada pelos russos.
-Os austríacos! -Austríacos!
A venda está em pé de guerra. Não poderiam aquentar muito mais.
Esses fanáticos sem visão e sem cultura
não podem aquentar muito mais.
Não, querida Charlotte, aqui fico...
esperando esse dia prometido quando, com a gente de Marat enterrada...
a França uma vez mais pronuncie a palavra proibida
Liberdade!
Acorrentem-no!
Liberdade!
Liberdade. Ouviu isso, Marat?
Todos dizem que querem o melhor para França.
"Meu patriotismo é maior do que o seu."
Todos estão prontos para morrer pela honra da França.
Moderados ou radicais, todos vão em busca do sabor do sangue.
Os liberais pouco apaixonados e as feras radicais
todos crêm na grandeza da França.
Não pode ver que este patriotismo é uma loucura?
Faz anos, deixei os heroísmos para os heróis.
E este país não me preocupa mais do que qualquer outro.
Cuidado com o que diz.
Longa vida à Napoleão e sua nação!
Longa vida à todos os imperadores, reis, bispos e papas.
Longa vida ao caldo aguado e à camisa de força.
Longa vida a Marat.
Longa vida à revolução.
É fácil conseguir que as massas se mobilizem
em movimentos que seguem um circulo vicioso.
Não creio em idealistas que vão depressa por ruas sem saídas.
Não creio em nenhum sacrifício que se faça por alguma causa.
-Creio somente em mim mesmo. -Eu creio na revolução.
Derrotamos os velhos tiranos
e agora temos novos tiranos.
Mas ainda assim, creio na revolução.
Os bens foram tomados pelos empresários
intermediários, financeiras, vendedores, operadores, manipuladores.
Mas a revolução deve continuar.
"Esses macacos gordos cobertos de dinheiro
"Têm champanhe e brandy em abundância
"Estão até nas sobrancelhas com francos
"Os outros, enchem os narizes de porcaria
"Esses falsos com boca de gorila
"Esperam nos ver podres
"A aristocracia pode ter perdido uns poucos acres
"Mas outros perderam o pouco que tinham
"Revolução
"É má como uma ruína
"Todos eles estão ilesos
"De comida gloriosa
"Não pensam em nada além de foder
"E somos nós
"Que acabamos sempre fodidos"
Levantem suas armas! Lutem por seus direitos!
Agarrem ao que necessitem e agarrem agora!
Ou esperem cem anos e vejam o que fazem as autoridades.
Nos desprezam por não termos tido dinheiro para aprender a ler e a escrever.
Servem para o trabalho sujo da revolução
mas os vêm com asco porque seu suor fede.
Vocês têm que sentar muito ao fundo Para que não os tenha que ver.
É aqui embaixo, na ignorância e no fedor...
que lhes permitem fazer seu pequeno papel para alcançar a idade de ouro
na qual todos vocês farão o mesmo trabalho sujo.
Aí em cima, na luz do sol
seus escritores cantam o dom da vida.
E as caras casas nas quais tramam
estão enfeitadas com quadros magníficos.
Assim, levantem, defendam-se de seus chicotes.
Levantem-se! Levantem-se diante deles.
Deixem que vejam quantos são vocês.
É necessário que escutemos este tipo de coisa?
Somos cidadãos de uma nova e iluminada era.
Hoje, todos somos revolucionários, mas isto não é mais que simples traição.
Não podemos permitir isto.
O religioso a quem vêm escutando
é esse célebre padre, Jacques Roux...
quem, de acordo com a nova moda religiosa...
renunciou ao púlpito e com paixão terrena...
protesta nas ruas.
Um sacerdote bem treinado, hábil com a retórica, pelo menos.
Se querem alcançar o paraíso, sua única chance
não é construir sobre as nuvens, mas sobre algo sólido.
A multidão com de suas mãos, enquanto Roux sabe o que quer
mas não o que deve fazer.
Falar é fácil, o preço da ação é enorme.
Assim Roux decide ser o principal apóstolo de Jean-Paul Marat.
Parece um bom plano...
já que Marat está com o pé no calvário.
E a crucificação, como sabe todo bom cristão
é o modo mais admirável de morrer.
Exigimos que se abram os celeiros para dar de comer aos pobres.
Exigimos a propriedade pública de oficinas e fábricas.
Exigimos a conversão das igrejas em escolas
para que agora, pelo menos...
algo útil seja ensinado.
Exigimos que todos façam o possível
para pôr um fim à guerra
Esta maldita guerra que serve para dar mais benefícios a especuladores
e para levar apenas a outras guerras.
Exigimos que as pessoas que começaram a guerra
paguem o preço por ela de uma vez por todas!
A idéia de uma vitória gloriosa...
obtida por um glorioso exército
deve ser eliminada.
Nenhum lado é glorioso.
Em ambos os lados só há homens mortos de medo.
E todos querem a mesma coisa
Não estar debaixo da terra
mas sim poder caminhar sobre ela
e sem muletas!
Isto é pacifismo puro e simples.
Neste momento nossos soldados sacrificam suas vidas
pela liberdade do mundo e por nossa liberdade.
Esta cena foi cortada.
Bravo, Jacques Roux!
Gosto muito de sua roupa de monge.
Hoje em dia, é melhor que se pregue a revolução vestindo uma batina.
Vá, Marat, leve seu povo à forca!
Eles estão te esperando. Agora!
Pois a revolução, que a tudo queima com uma cegadora luminosidade...
...não durará mais que um relâmpago...
Monsieur de Sade está derrotado.
Hoje eles necessitam de você porque vai sofrer por eles.
Necessitam de você e venerarão a urna com as suas cinzas.
Amanhã eles voltarão e destruirão esta urna
e dirão: "Marat? Quem era Marat?"
Agora te falarei desta revolução
que ajudei a fazer.
Quando estive na Bastilha já tinha minhas idéias formadas.
Quando estava na prisão, criava, em minha mente,...
monstruosos representantes de uma classe falida, moribunda.
Meus gigantes imaginários profanavam e torturavam.
E eu também.
E, como eles
deixei que me atassem...
e me chicoteassem.
Até hoje
gostaria de tomar esta belezura, que está aí, de pé, esperando...
e permitir que me batesse
enquanto vos falo da revolução.
A principio, vi na revolução
uma oportunidade para cometer uma tremenda vingança
uma orgia, ainda maior que nos meus sonhos.
Então vi-me a mim mesmo sentado no tribunal
não como antes, um prisioneiro, mas como um juiz
vi que não era capaz de entregar a vítima ao carrasco.
Fiz tudo possível para libertá-lo ou deixá-lo escapar.
Vi que não era capaz de matar
apesar de que o assassinato foi a única prova de minha existência.
E agora...
Só em pensar fico aterrorizado.
Em setembro, enquanto via o saque do convento das Carmelitas
tive de me abaixar no pátio para vomitar
ao ver tornarem-se reais minhas profecias
e as mulheres que corriam segurando em suas mãos
genitais masculinos cortados
Os meses se passavam
e as charretes não paravam de chegar à forca
e a lâmina caía, subia e voltava a cair
a vingança não fazia mais sentido
Era desumana.
Era enfadonha e curiosamente tecnocrata.
E agora
Agora vejo aonde vai sua revolução.
Ao desaparecimento do indivíduo,
à morte do livre-arbítrio, à uniformidade
à mortal debilidade de um estado
que não tem contato com o individuo, mas que é invencível.
E assim dou meia volta.
Sou um dos que devem ser vencidos
em minha derrota, quero obter tudo que puder
mas com minhas próprias forças.
Deixo meu lugar
e observo o que se passa sem agir
observando e anotando minhas observações.
Ao meu redor tudo é calmo.
E quando eu desaparecer,
quero que todo vestígio de minha existência seja eliminado.
Simonne.
Porque está escurecendo tanto?
Dê-me um pano fresco para cobrir minha fronte, e uma toalha para meus ombros.
Não sei se estou congelando ou queimando.
Chame Bas para que possa ditar-lhe minha mensagem
Minha mensagem ao povo da França.
Onde estão os meus papéis? Eu os vi há pouco.
- Porquê está escurecendo tanto? -Aqui estão. Não pode ver?
Onde está a tinta? Onde está a pena?
Aqui está sua pena.
Aqui está a tinta, em seu lugar de sempre.
Era apenas uma nuvem escondendo o sol, talvez fumaça.
Estão queimando os cadáveres.
"Pobre Marat, te perseguem
"Os cães te buscam pelo povoado"
"Ontem sua prensa foi destruída"
"Agora perguntam pelo seu paradeiro"
"Pobre velho Marat
"Te perseguem..."
"Os sabujos estão te farejando
Por toda a cidade"
"Pobre Marat, confiamos em você"
"Trabalha até que seus olhos fiquem vermelhos"
"E enquanto escreve, estão à sua procura."
"As botas sobem os degraus, a porta se abre violentamente"
"Pobre velho Marat
"Confiamos em você
"Trabalha até que seus olhos
fiquem vermelhos
"Pobre Marat, cremos
"Em você"
"Reivindicamos nossos direitos
"Pouco importa como
"Queremos nossa revolução
"Já"
Agora que esclarecemos estas difíceis questões
vejamos o lado positivo.
Vocês se recordam deste casal e de seu amor tão puro?
Ela e seu belo penteado
e seu rosto misteriosamente pálido e luminoso
a marca de uma lágrima fazendo brilhar seus olhos...
Seus lábios...
sensuais e maduros...
que parecem pedir proteção em silêncio.
E seus abraços para mostrar sua afeição.
Vejam como se move com uma graça natural.
E como seu coração bate ao ritmo da paixão.
Observemos a doce união do sexo frágil e do forte
antes que suas cabeças sejam decepadas.
"Haverá um dia
"em que o homem viverá
"em harmonia consigo mesmo
"e com seu próximo"
"Haverá um dia
"em que a sociedade despenderá toda a sua energia para proteger a todos
"na qual cada indivíduo unido aos outros
"obedecerá somente a si mesmo e permanecerá em liberdade"
"Uma sociedade na qual
"Todo homem terá
"o direito
"de governar
"a si mesmo"
"Haverá um dia
"Uma constituição na qual as desigualdades naturais do homem
"Estarão sujeitas a uma ordem superior, para que todos
"independentemente de suas faculdades físicas e mentais
"recebam sua parte justa legalmente"
Não pensem que podem vencê-los sem uso de força.
Não se enganem...
quando nossa revolução chegar ao fim...
e que lhes disserem que tudo está melhor
Mesmo se não puderem ver a pobreza, porque foi escondida
ainda que tenham mais dinheiro e possam comprar
mais coisas novas e inúteis
ainda que lhes pareça que nunca haviam tido tanto
este é apenas o lema daqueles que têm muito mais que vocês.
Não se deixem enganar.
Eles lhes dão tapinhas nas costas
e lhes dizem que não há mais desigualdade
e nem razões para lutar.
Se acreditarem neles, eles terão todo o poder
em suas casas luxuosas com bancos de granito
de onde roubam o mundo
com o pretexto de trazer-lhes a liberdade.
Cuidado, pois assim que o desejarem
mandarão proteger suas riquezas em uma guerra.
Liberdade!
As armas desenvolvidas rapidamente por servis cientistas
serão cada vez mais perigosas
até que possam, com um simples gesto
despedaçar milhões de vocês.
Liberdade!
Aí caído, ferido e inchado
sua fronte ardendo, em seu mundo, seu banheiro.
Ainda crê que a justiça é possível?
Ainda crê que todos os homens são iguais?
Ainda crê que todas as profissões são igualmente satisfatórias e gratificantes?
e que nenhum homem quer ser melhor que outro?
Como era aquela velha canção
"Um faz melhor que ninguém pasteizinhos de Belém
"Dois é um massagista que não tem pra acupunturista
"Três faz um penteado com soberbo cuidado
"Quatro é o criador do conhaque do imperador
"Cinco engana a qualquer um com sua retórica de bebum
"As flores do jardineiro Seis Nascem a cada mês
"Sete sabe cozinhar receitas de babar
"Oito te faz belas roupas feitas até de estopa
Ainda acredita que esse oito seriam felizes?
se cada um chegasse até um ponto alto, tão alto
Até baterem suas cabeças contra a igualdade?
E se todos fossem meros elos de uma cadeia?
Ainda crê que é possível unir a humanidade
quando vê os poucos idealistas
que se juntaram em nome da harmonia
e agora estão em desacordo
e querem matar-se uns aos outros por pequenas coisas?
Mas não são pequenas coisas, são questões de princípios.
E, freqüentemente, em uma revolução, os comedidos
e os que crêem na causa são descartados.
Não podemos começar a construir até que tenhamos queimado os velhos edifícios
e não importa como isto pode soar aos que placidamente repousam
jogando com seus escrúpulos.
Escutem.
Podem ouvir através dos muros como tramam e sussurram?
Podem ver como espreitam por todas as partes?
Esperando uma oportunidade para atacar.
O que houve de errado com os que estão governando?
Gostaria de saber a quem pensam que estão enganando.
Nos disseram que a tortura havia terminado.
Mas todos sabem que a mesma tortura continua.
-O rei se foi. -O padre está emigrando.
-Os nobres estão enterrados. -Por quê estamos esperando?
A segunda visita de Corday.
Agora, Charlotte Corday está diante da porta de Marat...
É a segunda tentativa.
Veio entregar esta carta, na qual, de novo, pede para ser recebida por Marat.
Estou insatisfeita e, portanto, tenho direito de ser atendida.
-Tenho direito de ser atendida. -Quem está na porta, Simonne?
Uma filha de Caen com uma carta.
Para uma petição.
Não permitirei que ninguém entre.
Só nos trazem problemas.
Toda esta gente com suas queixas e reclamações!
Como se você não tivesse nada melhor para fazer
que ser seu advogado e médico
e confessor.
Assim são as coisas.
Assim é como ela vê a sua revolução.
Se estão com dor de dente, Seus dentes devem ser arrancados.
Se a sopa queimou,querem uma melhor.
Uma mulher acha que seu marido é muito baixo, quer um mais alto.
Um homem pensa que sua esposa é muito magra, quer uma mais gordinha.
Os sapatos de um homem estão apertados, mas os de seu vizinho são confortáveis.
Um poeta perdeu a inspiração, desesperadamente busca novas imagens.
Por horas, o pescador tentou pescar.
Porque Os peixes não vêm?
E assim se forma a revolução...
pensando que a revolução lhes trará tudo
Um peixe, um poema, um novo par de sapatos
uma nova esposa, um novo marido, a melhor sopa do mundo.
Assim que atacam todos os vilarejos
E aí estão, e tudo continua igual
Os peixes não vêm, os versos não saem, os sapatos apertam...
um companheiro cansado e fedido na cama
e a sopa queimada.
E todo esse heroísmo que nos levou aos esgotos
Podemos contar isto aos nossos netos
se é que teremos netos
Marat, Marat, tudo é em vão
Estudou o corpo e examinou o cérebro
Em vão gastou suas energias.
Pois como pode um homem curar sua própria enfermidade?
Marat, Marat, onde está nosso caminho?
Acaso não é visível de seu banheiro?
Seus inimigos se aproximam...
Sem você, o povo nunca poderá ganhar.
Marat, Marat, pode explicar...
como uma vez, à luz do dia, suas idéias pareciam claras?
Sua doença te emudeceu?
Suas idéias permanecem nas sombras
Agora, chega a noite.
O pesadelo de Marat.
Ele estão vindo.
Escutem eles.
E vejam com cuidado as figuras que se juntam.
Sim, ouço... a todas as vozes que já ouvi.
Sim, vejo...
todos os velhos rostos.
Pobre o homem que for diferente
...que tente romper todas as barreiras.
Pobre do homem que tente incitar a imaginação da humanidade.
Debocharão dele, será oprimido....
por todos os cegos guardiões da moralidade.
Você buscou ser iluminado e amado,
então estudou a luz e o calor.
Você se perguntou como controlar as forças
assim estudou a eletricidade.
Queria saber a razão de ser do homem...
então se perguntou: O que é a alma?
Uma lixeira para ideais vazios e moral danificada?
e decidiu que a alma estava no cérebro...
e que pode aprender a pensar.
Para você, a alma é algo prático
uma ferramenta para reger e dominar a vida.
Um dia, veio à revolução
porque você teve uma grande visão
Uma mudança radical nas nossas condições.
E sem estas mudanças
tudo o que tentaríamos fazer fracassaria.
"Marat, somos pobres
"E os pobres continuarão sendo pobres
"Marat, não nos faça
"Esperar mais
"Queremos nossos direitos
"E não nos importa como
"Queremos nossa revolução
"Já"
Agora Marat ainda continua confinado em sua banheira...
mas os políticos invadem seus pensamentos.
Marat fala com eles.
Sua última polêmica para decidir como um governante.
É quase noite.
-Abaixo Marat. -Não deixem que fale.
Escutem. Tem o direito de falar.
-Viva Marat. -E Robespierre.
Longa vida a Danton.
Amigos cidadãos, membros da assembléia nacional
nossa pátria está em perigo.
De cada canto da Europa, nos invadem
liderados por especuladores
que querem nos sufocar, e brigam por nossos despojos.
E que faremos?
Nosso ministro de guerra, de cuja integridade não se duvida
exportou, por conta própria, o milho destinado a nossas forças armadas.
Esse milho agora alimenta as tropas que nos invadem.
-Mentira! -Fora!
O chefe militar, Dumouriez
-Bravo! -Viva Dumouriez!
sobre quem lhes adverti...
e a quem tomam como herói se juntou ao inimigo.
-Vergonha! -Mentiroso!
Muitos de nossos generais simpatizam com os exilados.
Quando estes regressarem, os generais os receberão.
-Executem-nos!
-Abaixo Marat! -Longa vida a Marat!
Nosso leal Ministro de Econômica, Monsieur Cambon
emite notas falsas, aumentando a inflação
e desvia uma fortuna para os próprios bolsos.
Vida longa à empresa livre!
E me disseram que o astuto Perregaux
agora chefe do Banco da França
compactuou com os ingleses e os cofres de seu banco
estão cheios de renegados e espiões.
-Já chega! -O povo...
Concordamos em não mencionar as calúnias
já sofridas por esses homens.
Além de tudo, vivemos em 1808.
E hoje, ostentam postos de honra
e cada um foi escolhido pessoalmente pelo imperador.
-Prossiga! -Cale-se Marat!
-Calem a boca dele! -Vida longa a Marat!
Nossa pátria está em perigo!
Falamos de França, mas o que é a França?
Falamos de liberdade, mas para quem é a liberdade?
Membros da assembléia nacional!
Nunca se libertarão do passado!
Nunca compreenderão a agitação social na qual se encontram.
Porque não há milhares de assentos públicos para que cada um possa ouvir a discussão?
O que está tentando fazer?
Olhem o público... As mulheres que tricotam, porteiros
lavadeiras a quem ninguém mais contrata
Eles tem a quem ao seu lado?
Ladrões, malandros e parasitas
que perambulam pelas ruas e passam o tempo em cafés
Ai se pudéssemos...
Prisioneiros à solta, os loucos fugiram!
É com eles que governará nossa pátria?
Vocês são mentirosos. Odeiam o povo.
-É isto aí! -Está certo!
Sempre falam do povo como uma *** disforme.
Porque? Porque não vivem com eles.
Vocês foram arrastados para a revolução sem conhecer seus princípios.
Não disse nosso respeitado Danton
que ao invés de proibir as riquezas não tornamos a pobreza respeitável?
E Robespierre, que empalidece quando se usa a palavra "força"
não se senta em mesas de pessoas de alta classe e mantém cultas conversas?
-Abaixo Robespierre! -Abaixo Danton!
Viva Marat!
E ainda assim vocês tentam imitá-los
A esses traidores da revolução, esses chimpanzés empoeirados.
Eu os denuncio.
Denuncio Necker...
Lafayette, Talleyrand...
Basta!
Eles são meus amigos e amigos da França!
Se voltar a citar outra caluniosa passagem que havíamos concordado em não mencionar
dou fim à sua peça!
E a todo o resto!
Necessitamos de um verdadeiro representante do povo!
Alguém que seja incorruptível, alguém confiável.
As coisas estão desmoronando. Está um caos!
Mas tudo bem. É o primeiro passo.
Agora devemos dar o próximo passo e escolher um homem que nos governe!
-Marat para ditador! -Marat em sua banheira!
Mandem-no para o esgoto!
Ditador de ratazanas!
A palavra ditador deve ser abolida!
Odeio tudo o que implique um amo e um escravo!
Falo de um líder que neste...
Tenta incitá-los de novo a cometer novos assassinatos!
Nós não assassinamos!
Matamos em defesa própria! Lutamos por nossas vidas!
Se pudéssemos ter pensamentos construtivos em vez de agitação...
Se a beleza e a concórdia
pudessem substituir a histeria e o fanatismo.
Olhem o que está acontecendo! Unam-se! Derrotem seus inimigos!
Desarmem-nos!
Pois se eles ganharem não perdoarão a nenhum de vocês
e tudo que foi conseguido até agora se perderá!
Marat!
Uma coroa de louros para Marat!
Um desfile de vitória para Marat!
Vida longa às ruas!
Vida longa à iluminação pública!
Vida longa às padarias!
Vida longa à liberdade!
"Ataquem aos ricos até vencerem
"Derrubem seus deuses e repartam seu dinheiro!
"Não nos importaríamos em comer patê de fígado e filé de enguia!
"Pobre Marat sentado em sua banheira
"Sua vida neste planeta está quase acabada!
A morte se aproxima cada vez mais de você
"Ainda que aí, em seu banco, durma Charlotte Corday
"Pobre Marat, adormeceu
"Sonhando com chefes de estado de contos de fadas.
"Quem sabe sua enfermidade desapareça
"Charlotte Corday não te acharia aqui
"Pobre Marat
"Mantenha-se acordado
"E esteja alerta
"Pelo bem do povo
"Olha a luz da tarde minguante
"pois é a tarde antes da noite de sua morte"
Quem chama, Simonne?
Vá chamar Bas para que possa ditar minha mensagem.
Minha mensagem ao povo da França.
Para que tantas mensagens à pátria?
Já é tarde. Esqueça suas mensagens...
Só contêm mentiras.
O que espera ainda da revolução?
Aonde ela vai?
Olhe para estes revolucionários perdidos.
Aonde os levará O quê lhes mandarão fazer?
Uma vez você falou das autoridades
que convertiam as leis em instrumentos de opressão
mas como funcionará na nova França que tanto deseja?
Quer que alguém lhe diga o quê escrever?
Que lhe diga que trabalho deve fazer?
E repita as novas leis mais uma e outra vez
até que possa recitá-las dormindo?
Porquê tudo está tão confuso?
Tudo que escrevi ou disse
foi considerado e verdadeiro.
Cada argumento fazia sentido.
E agora há dúvidas?
Por que tudo soa falso?
"Pobre Marat, aí jaz
"Enquanto os outros jogam a sorte da França.
"Suas palavras se tornaram uma corrente
"que cobre a velha França com o sangue de seu povo.
"Pobre Marat
"Aí jaz
"Enquanto outros jogam
"a sorte da França
"Pobre Marat
"Marat, jaz prostrado"
Corday.
Acorde.
Tem uma tarefa a cumprir e já não é hora de dormir.
Desperte e levante-se, Charlotte Corday.
Tome o punhal em suas mãos.
Vamos, Charlotte, cumpra sua tarefa.
Logo poderá dormir o quanto quiser.
Agora sei o que se sente...
quando cortam sua cabeça.
Neste momento...
mãos atadas às costas, pés atados juntos...
pescoço nu, cabelo cortado, joelhos sobre as tábuas
a cabeça na ranhura metálica
olhando para baixo, a cesta encharcada
o som da lâmina ao levantar-se
e o sangue que ainda escorre
E logo cai de novo e nos parte
em dois!
Dizem que a cabeça brandida pelo carrasco
ainda vive
que os olhos ainda vêem...
que a língua ainda se move...
e que, debaixo...
os braços e as pernas...
ainda...
tremem.
Desperte de seu pesadelo.
Desperte e olhe as árvores.
Olhe para o céu cor-de-rosa no qual seu peito de ergue.
esqueça seus problemas, não se preocupe
...e inspire o calor do ar de verão.
O que esconde? Um punhal. Jogue-o.
Todos deveríamos portar armas para a própria defesa.
Ninguém te atacará.
Jogue-o. Vá. Volte a Caen.
Em minha casa de Caen...
na mesa, debaixo da janela aberta...
encontra-se o livro de Judith.
Vestida com sua beleza lendária,
entrou na barraca do inimigo...
e em um só golpe o matou!
O que planeja?
Olhe esta...
cidade.
suas prisões estão cheias de amigos nossos.
Estava com eles agora em meus sonhos.
Estão de pé, juntos, e escutam pelas janelas
os guardas falando de execuções.
Falam de gente...
como os jardineiros falam de folhas para queimar.
Seus nomes...
são colocados em uma lista.
E à medida que a lista vai ficando mais curta, mais nomes vão sendo acrescentados a ela.
Estive com eles...
e esperamos que dissessem nossos nomes.
Vamos partir juntos esta tarde.
Que...
tipo de cidade é esta?
Que tipo de ruas são essas?
Quem inventou isto?
Quem tira proveito disso?
Vi vendedores em cada esquina
Estão vendendo pequenas guilhotinas com lâminas afiadas.
e bonecos preenchidos com um líquido vermelho......
que sai do pescoço ao se executar o boneco.
Que tipo...
de crianças...
são estas...
que podem brincar com este brinquedo
tão...
eficazmente?
E quem está julgando?
Quem está julgando?
O que você quer aí na porta? Sabe quem vive aqui?
O homem que procuro.
Mas o que quer dele? Dê meia volta!
Tenho uma missão
que devo cumprir.
Vai!
Deixe-me em paz!
Agora vem pela terceira vez
a menina que faz o papel de Charlotte Corday
de pé diante da porta de Marat mais uma vez .
Duperret está lânguido diante dela...
prostrado pela angústia de sua separação.
Até sua dor, suas reclamações puras mas calorosas
não podem evitar sua ação.
Pois o que já passou não pode ser mudado
ainda que fosse o desejo de todos.
Ele tentou detê-la com um sono tranqüilo,
oferecendo uma paixão ainda mais profunda.
Simonne também tentou o melhor que pôde
mas esta menina Não mudou de idéia.
Este homem fica esquecido e nada mais podemos fazer.
Corday está centrada neste homem.
Não.
Estou certo...
e direi de novo.
Simonne, chame Bas.
É urgente.
Minha mensagem.
Marat.
Que são todos os seus panfletos e discursos comparados a ela?
Ela está aqui e vai se aproximar para lhe beijar e abraçar.
Uma virgem imaculada que está diante de você.
e se oferece a você.
Veja como sorri, como brilham seus dentes
como se move seu cabelo escuro a um lado.
Esqueça o resto.
Não há nada mais importante que o corpo.
Ela está aqui...
seus seios desnudos debaixo do fino vestido
e talvez leve uma faca para intensificar os jogos amorosos.
Quem está na porta?
Uma donzela da área rural, de um convento.
Imagina...
Essas meninas puras em roupas do interior deitadas sobre o duro solo
o ar cálido do campo...
forçando o caminho até elas por janelas fechadas.
Imagine-a deitada aqui...
com suas coxas úmidas e seios...
sonhando com aqueles que controlam a vida...
no mundo exterior.
Logo se cansou de seu isolamento, foi cativada por uma nova era
e foi arrastada pela grande maré
e quis ser parte da revolução.
Mas que sentido tem a revolução
sem a cópula básica?
"E que sentido tem uma revolução
"sem a básica
"Básica cópula, cópula, cópula?"
Quando estive 13 longos anos na Bastilha
aprendi que este é um mundo de corpos
cada corpo latejando com seu próprio terrível poder.
Cada corpo só e destroçado por sua própria inquietude.
Nesta solidão, abandonado em um mar de pedras
escutei lábios continuamente sussurrando
e sentia todo o tempo
nas palmas das mãos e em minha pele
a necessidade de contato.
Encarcerado atrás de 13 portas, meus pés amarrados
sonhava só com os orifícios do corpo
postos ali para que um pudesse enganchar neles.
Continuamente sonhei com esta confrontação.
E era o sonho mais selvagem, ciumento e cruel imaginável.
Estas células do nosso interior
são piores que o calabouço mais profundo.
E enquanto permanecerem aprisionadas
toda a sua revolução não é mais que um motim carcerário
que será suprimido por outros prisioneiros corruptos.
"E que sentido tem uma revolução
"Sem a básica
"Básica cópula, cópula, cópula?"
Terceira e última visita de Corday!
Deu minhas carta a Marat? Me deixe entrar. É vital.
Devo lhe contar sobre a situação em Caen
aonde estão reunindo para destruí-lo.
Quem chama à porta?
A jovem de Caen.
Deixe-a entrar.
Marat?
Te direi o nome de meus heróis
mas não os estou traindo
pois estou falando com um morto.
Fale mais claramente. Não te entendo.
Chegue mais perto.
Os nomes
Nomes!
Os nomes daqueles que estão se reunindo em Caen.
Entre eles estão
Barbaroux e
Buzot e
Pétion e Louvet e
Brissot e Vergniaud e
Gaudet e
Gensonné!
Quem é você?
Chegue mais perto.
Eu estou indo.
Não pode me ver porque você está
morto.
Bas, anote isto: Sábado 13 de julho de 1793.
Uma mensagem ao povo da França.
Agora é parte da obra de Sabe
que a ação é cortada, assim o homem
pode ouvir e arfar seu último suspiro
ao ver como o mundo seguirá depois de sua morte.
Com uma história musical, nós atualizaremos
de 1793 até 1808!
"Agora seus inimigos caem, degolamos a todos
"Duperret e Corday foram executados do mesmo modo
"Robespierre deve seguir, o fim de Danton
"Este se foi na primavera, chega julho e vejo que Robespierre deve morrer
"Três rebeliões em um ano, mas ainda estamos de bom humor
"Os infelizes aprenderam a sua lição na guilhotina
"Há escassez de trigo, mas estamos muito felizes para comer
"Áustria se quebra e logo se renderá diante de nossos homens
"Quinze gloriosos anos, quinze gloriosos anos
"Anos de paz, anos de guerra, cada ano melhor que o anterior
"Quinze gloriosos, gloriosos, gloriosos anos
"Marat, sigamos em marcha
"Quais soldados mais valente teríamos, agora os traidores foram fuzilados
"Os generais tomam o poder com valentia em Paris pelo bem do povo
"O Egito foi arrasado, Bonaparte disse isso
"Os elogios mesmo se retiram mesmo perdendo a nossa frota
"Bonaparte volta, a nossos governantes expulsa
"É o homem valente e sincero, Bonaparte morreria por você
"Europa soltou os cachorros, só falta a Inglaterra
"Mas queremos que cesse a guerra assim que tiver 14 meses de paz
"Quinze gloriosos anos, quinze gloriosos anos
"Anos de paz, anos de guerra, cada ano melhor que o anterior
"Quinze gloriosos, gloriosos, gloriosos anos
"Marat, sigamos em marcha
"Inglaterra deve estar louca, quer lutar de novo
"Então marchamos para a guerra, Bonaparte é nosso imperador
"Nelson aborrece a nossa frota mas planejamos acabar com ele
"Estamos lá em cima, é verdade, e esculpimos sobre Trafalgar
"Agora os prussianos se retiram, Rússia enfrenta uma derrota
"Todo o mundo dobra os seus joelhos diante de Napoleão e sua família
"Luta na terra e no mar, todos os homem querem liberdade
"E se não querem, não importa, aboliremos a humanidade!
"Quinze gloriosos anos, quinze gloriosos anos
"Anos de paz, anos de guerra, cada ano melhor que o anterior
"Quinze gloriosos, gloriosos, gloriosos anos
"Marat, sigamos em marcha
"atrás de Napoleão
"Quinze gloriosos anos, quinze gloriosos anos
"Anos de paz, anos de guerra, cada ano melhor que o anterior
"Quinze gloriosos, gloriosos, gloriosos anos
Díga-nos, Monsieur de Sade, para nossa informação...
o que é que conseguiu com sua produção.
Qual ganhou? Quem perdeu?
Nós gostaríamos de saber o significado do espetáculo do banheiro.
O objetivo principal de nossa obra foi dissecar
as grandes proposições e suas contradições
ver como funcionam
e deixá-las debater.
O propósito?
Iluminar um pouco nossa eterna dúvida.
Manipulei o argumento de todas as formas
e não pude achar um final para nossa obra.
Marat e eu estamos a favor da força
mas em um debate, tomamos rumos diferentes.
Ambos queríamos mudanças
mas as suas idéias e as minhas sobre o uso do poder...
nunca puderam coincidir.
Por um lado...
está o que crê que podemos melhorar nossas vidas com facas e cutelos.
Ou o que se submerge à imaginação
buscando a aniquilação pessoal.
Assim que para mim, a última palavra nunca está dita.
Resta uma pergunta sempre sem resposta.
"E se muitos tem pouco
"Poucos tem muito
"Podem ver que muito longe
"Estamos de nossa meta
"Podemos decidir o que queremos sem medo nem favor
"E o que não podemos decidir podemos sussurrar
"E ainda que estejamos encarcerados, não somos escravos
"E a honra da França
"Está eternamente a salvo
"O debate inútil, a luta política
"terminou, há um homem que fala por todos os outros
"pois ele nos ajuda..."
Não! Por que temos que dizer a eles?
Me escutem.
Escutem!
Marat morreu por vocês!
Eles o martirizaram!
Pronto, martirizaram a ele!
Quando aprenderão a tomar partido?
Quando aprenderão a se rebelar?
De Sade, me escute!
Quando aprenderão a se rebelar?
"Uma vitória aqui, uma vitória lá
"Invencíveis, gloriosos
"Sempre vitoriosos
"Pelo bem de toda a gente
"Em toda a parte"
Charenton!
Napoleão!
Pátria!
Soltem-me