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"Quando tivermos uma fotografia da Terra, tirada de fora... uma nova ideia tão poderosa quanto qualquer outra na história será desencadeada."
Em 1968, a Apollo 8 foi à lua.
Eles não pousaram, mas eles contornaram a lua.
Eu estava assistindo na televisão,
e em um certo momento, um dos astronautas disse:
"Vamos virar a câmera e mostrar a Terra para vocês."
E ele virou. Foi a primeira vez que eu vi o planeta suspenso
no espaço daquele jeito, e aquilo foi profundo.
Eu acho que para mim, assim como para muitas outras pessoas aquilo foi um choque.
Eu acho que nenhum de nós tinha nenhuma expectativa
de como isso nos daria uma perspectiva tão diferente.
Acho que o foco era: Nós estamos indo para as estrelas,
estamos indo para os outros planetas, e de repente, nós olhamos para nós mesmos
e parece que isso traz um outro tipo de autoconsciência.
Um dos astronautas disse: "Quando fomos para a lua pela primeira vez,
nossa atenção total era na lua,
não estávamos pensando em olhar para a Terra,
mas agora que fizemos isso,
esse pode ter sido o motivo mais importante pelo qual nós fomos".
Nossa, eu me lembro da decolagem,
que é uma experiência impactante.
Os motores se soltaram, eu me senti flutuar para fora do assento.
Eu flutuei até a janela, olhei para fora
e estávamos passando por cima da costa africana.
E foi quando eu me toquei:
"Eu estou no espaço".
Eu fiquei extremamente empolgado porque eu sonhava
com isso desde os seis anos de idade.
Eu acho que você começa com uma ideia de como acha que vai ser.
E quando você finalmente olha para a Terra pela primeira vez,
você fica impressionado pelo quão mais bonita ela realmente é
quando você a vê de verdade.
É um lugar vivo, dinâmico, que você vê brilhando o tempo todo.
Era realmente incrível estar lá em cima,
fazendo o que eu sempre quis fazer a vida toda.
E poder olhar para o nosso planeta e ter essa visão,
era simplesmente extraordinário.
Eu só consigo descrever o que eu vi.
Você olha para a Terra e você vê aquela linha que separa o dia da noite
se movendo devagar pelo planeta.
Relâmpagos no horizonte, formando sombras compridas quando o sol se põe.
E aí você vê a Terra ganhando vida
quando vê as luzes das cidades.
Os eventos que você vê do espaço, como sobrevoar tempestades
e relâmpagos, ver isso lá de cima é espetacular,
como se houvesse uma queima de fogos de artifício
e você está assistindo lá do topo.
Estrelas cadentes passando por debaixo da gente, ou uma cortina de auroras dançando ...
É muito difícil descrever todas as cores, a beleza, o movimento.
Meu trabalho como piloto do módulo lunar
era ser responsável pelo módulo,
e pelos trabalhos científicos feitos na lua.
Então quando começamos voltar,
eu tinha um pouco mais de tempo para ficar olhando pela janela que os outros.
Porque a maior parte das minhas responsabilidades estava concluída.
Estávamos em um modo particular chamado "modo churrasco",
então estávamos voando assim, e girando assim.
E o resultado era que a cada 2 minutos,
uma foto da Terra, da lua,
do sol e um panorama de 360° dos céus
apareciam na janela da espaçonave.
E eu tinha estudado astronomia, cosmologia.
E eu entendia profundamente que as moléculas do meu corpo,
as moléculas dos corpos dos meus parceiros e as moléculas da espaçonave
tinham sido formadas numa geração de estrelas muito antiga.
Em outras palavras, fica óbvio, que dentro dessas descrições,
somos poeira estelar.
Bem, aquilo foi muito incrível. E poderoso.
Especialmente porque eu tinha mais tempo nesse ponto
da viagem para refletir, e pensar sobre isso.
Eu acho que "reverência" é uma palavra que você tem um entendimento melhor
quando você vê também.
Eu sabia que usar a palavra "incrível" era totalmente adequado
quando se tratava de descrever como o planeta é.
Ter essa experiência de reverência é, pelo menos naquele momento,
se deixar levar, transcender a ideia de separação.
Não é que eles estavam só vivenciando algo de fora,
mas eles estavam, em um nível muito profundo, integrando,
percebendo sua interconectividade com essa linda bola azul esverdeada.
E é por isso que os astronautas, particularmente na Estação Espacial Internacional,
geralmente dizem que passam boa parte de seu tempo livre com o que eles chamam de "contemplação da Terra"
- apenas olhando para a Terra.
Eles podem ficar olhando por horas,
porque a paisagem que sempre muda, a interatividade da biosfera,
tudo isso tem um impacto estético incrível.
A beleza de ver a Terra como um planeta,
ao contrário de estar aqui, no meio de tudo, é uma experiência maravilhosa.
Você então começa entrar naquilo que chamamos de o "Efeito de ver o Todo",
ou o "Efeito Panorama".
Eu estava cruzando o continente da costa leste até a oeste,
nos anos 70, e eu estava olhando pela janela.
E estava olhando para o planeta, e me veio um pensamento:
alguém vivendo em uma instalação, ou vivendo na lua,
teria sempre uma visão panorâmica.
Eles veriam coisas que a gente conhece, mas que não vivenciamos.
Que a Terra é um sistema único, e nós todos somos parte deste sistema.
E tem uma certa unidade e coerência nisso tudo.
E eu imediatamente chamei isso de "O Efeito Panorama".
Você realmente vê a Terra como um planeta daquela perspectiva.
Você vê o sol como uma estrela.
Nós vemos o sol no céu azul, mas lá em cima você vê o sol no céu preto.
Então você está vendo de uma perspectiva cósmica.
Nós temos evoluído desde o começo da civilização
para uma perspectiva cada vez maior da vida na Terra.
Mas a próxima evolução natural é entender a vida no espaço.
Esse é o fato de que a Terra, como Buckminster Fuller costumava dizer,
é uma espaçonave: Espaçonave Terra.
Nós já estamos no espaço. Nós só ainda não trouxemos isso
para a nossa perspectiva por vivermos aqui na Terra.
O Efeito Panorama é simplesmente o reconhecimento repentino de que vivemos em um planeta,
e todas as implicações que isso traz para a vida na Terra.
Quando olhamos para a Terra do espaço, nós vemos este planeta maravilhoso
e indescritivelmente belo.
Ele parece um organismo vivo que respira.
Mas ao mesmo tempo, ele parece ser tão frágil.
Porque você sai em um dia claro, e lá está o céu azul e enorme ...
e parece que vai ser sempre assim.
Como é possível que a gente consiga encher o céu
com tanta coisa que de fato o alteram?
No entanto, quando você o vê do espaço ele
é uma linha fina que mal cobre a superfície do planeta.
Qualquer pessoa que já foi para o espaço diz a mesma coisa.
Porque é realmente surpreendente, e é muito alarmante ver essa camada da espessura de um papel,
e perceber que essa fina camada é tudo o que protege toda a vida na Terra da morte,
dos males do espaço.
Existe este conceito muito poético, que muitas pessoas manifestam,
que do espaço não existem fronteiras.
E eu já ouvi muitos dos meus colegas astronautas dizerem que
infelizmente isso não é verdade. Você vê fronteiras, sim.
E a maioria é resultado do impacto humano.
Você consegue ver erosão e desmatamento.
Uma série de impactos ambientais que nós causamos no nosso planeta.
E isso é uma coisa, que quando você vê da perspectiva cósmica,
te faz realmente apreciar o conceito de "espaçonave Terra",
e que nós estamos todos aqui juntos.
Depois que eu voltei e tentei entender o que foi toda essa experiência,
eu não consegui encontrar nada na literatura científica,
nem na literatura religiosa que eu consultei.
Então eu recorri à universidade local e pedi a eles para me ajudarem com o que eu vi.
E quando eles me contataram de novo algumas semanas depois, disseram:
"Bem, na literatura antiga, encontramos uma descrição chamada Savikalpa Samadhi".
Que significa que você vê as coisas, como vê com os seus olhos,
mas você as vivencia emocionalmente e visceralmente,
como se em êxtase, e um sentimento de total singularidade e unidade.
E eu disse: "Bem, foi exatamente isso que a experiência foi".
E então ficou bem claro para mim quando estudei isso, que não era nada novo,
mas era algo muito importante para o modo como nós humanos fomos criados.
Muitas das tradições de sabedoria da Terra já apontaram
para o que nós estamos chamando de "Efeito Panorama".
Quer dizer, elas já perceberam essa singularidade, essa unidade,
de toda a vida na Terra, de consciência e reconhecimento.
Dentro da tradição Ocidental, eu acho que isso é bastante novo, e bastante chocante,
porque há muito mais desse sentimento de separação.
Mas se você olhar para as culturas não-ocidentais, especialmente na Ásia,
a ênfase nessas culturas sempre foi na compreensão que o "eu"
e o mundo não se separam um do outro, que estão realmente interconectados,
que o indivíduo e a espécie como um todo
são uma manifestação de uma totalidade maior.
Quando você mergulha na sua mente em contemplação,
o senso da realidade viva do planeta se torna óbvio.
Você entra em maior sintonia com o mundo natural.
Isto é muito parecido com a percepção direta que os astronautas têm,
por isso não é estranho que muitas pessoas comparem o Efeito Panorama
a uma experiência espiritual ou meditativa, embora não seja exatamente isso.
É um salto cognitivo que pode muito frequentemente produzir um tipo de experiência meditativa.
Eu tenho certeza que todos nós interpretamos isso com algumas diferenças.
Eu sei que alguns dos rapazes vão direto para explicações religiosas.
Eu não. Eu fui para uma explicação mais científica.
E eu acho tudo isso maravilhoso - é disso que se precisa para construir uma civilização.
A Terra vista do espaço - toda a perspectiva da Terra
eu acho que é o verdadeiro símbolo dessa era.
E eu acho que o que vai acontecer é: vai haver um
interesse cada vez maior em comunicar essa ideia.
Porque, afinal de contas, é vital para a nossa sobrevivência - nós devemos começar a nos comportar
como uma única espécie, com um único destino.
Nós não sobreviveremos se não fizermos isso.
Nós estamos vendo muito claramente que se a Terra ficar doente, logo, nós ficamos doentes.
Se a Terra morrer, logo, nós morreremos.
As pessoas sentem que há algo errado, mas elas ainda estão se debatendo
para voltar atrás e descobrir quais são as raízes do problema.
O que nós precisamos, é de uma compreensão que não é só consertar
um sistema econômico ou político. Mas é uma visão de mundo básica,
uma compreensão básica de quem nós somos, é isso que está em jogo.
E parte disso é criar uma nova história, uma nova imagem, uma nova abordagem
e mudar nossos comportamentos de tal modo,
que eles levem a uma abordagem sustentável para a nossa civilização,
ao contrário de uma abordagem destrutiva.
É um planeta frágil, e se não cuidarmos dele, e não trabalharmos juntos,
então vamos ter problemas maiores do que os que temos agora pelo caminho.
Em uma larga escala, nós estamos todos vivendo nesse ecossistema chamado Terra.
E tudo que você faz de um lado do ecossistema, afeta o outro lado.
E esse é um novo jeito de viver para a maior parte da humanidade.
Nós humanos somos responsáveis por nós mesmos,
e estamos pondo em perigo nosso futuro, então temos que aprender como fazer diferente,
para irmos em direção a um período sustentável.
E nesse momento parece bem difícil - parece bem difícil saber como vai ser
mas nós temos que trabalhar nisso.
Quando eu estava acima da estação especial,
olhando para a estação especial, olhando para a Terra atrás dela,
e vendo esse feito incrível,
eu pensei: "Uau".
Quinze nações trabalharam juntas para construir
esse incrível complexo orbital no espaço.
Se essas quinze nações conseguem esse feito incrível,
imagine o que nós podemos fazer trabalhando juntos,
deixando de lado nossas diferenças, por um objetivo comum,
para superar alguns dos desafios que nosso planeta enfrenta.
Nós temos essa conexão com a Terra, quero dizer, é a nossa casa.
E eu não sei como alguém pode voltar, e não ser mudado de alguma maneira.
Pode ser sutil. Você vê as diferenças das pessoas
só pelas respostas em geral de quando voltam do espaço.
Mas eu penso que, coletivamente, todo mundo tem isso marcado em suas memórias:
a imagem do planeta.
Não tem como passar por isso levianamente.
Você percebe que foi abençoado, pela oportunidade de ver aquilo.
Parece mesmo um pequeno oasis lá no meio do nada.
E se você tiver a oportunidade de seus olhos se adaptarem,
você consegue ver as estrelas e a via láctea.
É um oasis, e por trás a cortina do infinito
esse universo enorme atrás dele.
É uma experiência muito comovente poder ver isso com seus olhos.
Você olha para ela, e ela se posiciona perfeitamente no sol, para cuidar de nós,
e você meio que quer inverter papéis,
"Ok, precisamos cuidar dela também,
para que ela possa continuar cuidando de nós".
Eu não sei como é possível, não ter uma gratidão muito maior
por ela depois de vê-la dessa maneira.