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Se você convencer o leitor, com seu romance, de que
uma só pessoa é um mundo que não existia
antes, e que nunca vai existir de novo, e que essa única vida tem um valor infinito...
Eu acho que isso é por si só, muito.
Na realidade eu não cresci numa atmosfera aonde
se contavam estórias. Às vezes você ouve falar sobre famílias
nas quais o avô conta estórias surpreendentes. Ou o pai,
mãe, contando o que for.
Eu não tive isso, admito. Mas haviam coisas
que eram muito mais sutis, e haviam experiências
que foram, de alguma forma, comunicadas de forma subliminar.
Um exemplo, só para você se situar:
Eu disse que todos os meus avós vieram de quatro lugares diferentes,
e quase nenhum deles voltou para esses lugares,
talvez com uma excessão ou outra.
Então todos eles vieram de um mundo, e escolheram
não mais voltar para lá, ou não poderiam,
porque esse mundo não existia mais.
Imagine o que é vir de um lugar que não existe mais!
Quando você viaja para outros lugares, como a Escandinávia,
aonde existem famílias que vivem
na mesma casa há centenas e centenas de anos.
E se você perguntar para eles " Aonde você vai estar daqui há cem anos?"
Eles dirão " Aqui."
Minha família não tem nada a ver com isso.
A ideia de um lar, que é uma espécie de lugar enraizado
de onde você vem, e aonde pode continuar,
não importa para o seu futuro. Não era parte do vocabulário.
Esse veio daqui, aquele foi para lá...
minha mãe, cujos pais foram levados, pelos ventos da história, até a Inglaterra,
também nasceu e cresceu ali.
Ela encontrou meu pai em Israel, ele cresceu lá, e vieram para
os E.U.A. De um certo modo, o lugar - a especificidade da
geografia, foi acidental... E portanto, não se pode
dar muita importância a isso.
Eu acho que estou interessada em coisas sérias porque
eu sempre busquei isso na literatura.
Para mim, é um alívio abrir um livro de um escritor que eu amo.
De repente, todo o barulho da vida, os papos-furados, e
a mesquinhez, e todas as coisas que não são essenciais,
desaparecem rapidamente.
Você abre o livro, por exemplo, de Knut Hamsun´s
" Fome." Ou abre um livro de W. J. Sibbhult. Ou qualquer um
que você ama. Thomas Bernhard. Tudo o que
não importa se vai, num instante.
E então você entra num mundo aonde tudo é importante, da maneira mais
crítica possível. Eu descobri que queria viver ali.
Eu queria construir uma vida ali, e acho que foi por isso
que tentei me tornar uma escritora.
Acho que muitas coisas estavam envolvidas, mas olhando
para trás, deve ter surgido uma impressão de que
não era apenas uma chance de se expressar - é muito fácil se expressar,
bem, nós podemos nos expressar durante uma conversa como essa.
Acho que era algo mais, eu acho que a reconheci
como uma chance de criar a mim mesma.
Para, de fato, decidir por mim mesma quem eu seria.
E essa é uma ideia muito emocionante.
É radical, de certa forma. Particularmente quando se tem quatorze anos,
e quase tudo na sua vida já está decidido para você.
Seus pais decidem, sua família, sua escola.
A pressão dos namorados, amigos. Há esse mundo todo.
O cosmos está te moldando.
E então você está diante de uma página em branco
e naquela página você decidir se tornar e dizer qualquer coisa.
E você mostra para alguém, ou não.
E anos depois você a publica, ou não.
Mas essa possibilidade, de liberdade absoluta enquanto
você decide continuar - cabe a você, certo?
Essa chance de se tornar algo, de inventar a si próprio,
Acho que esse foi o motivo mais sedutor,
e até hoje parecer ser o que mais me obrigou
a escrever.
Mas como escritora, eu poderia ser um homem velho em seus últimos dias.
Eu poderia ser alguém que vive em Londres.
Poderia ser um judeu refugiado da Alemanha.
Alguém do Chile, país aonde nunca estive.
Poderia ser qualquer coisa!
E há sempre uma sensação, quando estou criando
um personagem, ou muitos personagens, de que estou escapando de uma finalidade.
Estou escapando da finitude da vida.
Estou expandindo os meus horizontes.
Da minha experiência de vida. Então eu tenho apenas uma.
Me foi dada apenas uma vida, infelizmente.
Eu gostaria de ter mais. Eu gostaria de ter outras escolhas,
e essas escolhas... mas eu só posso trilhar o
caminho que escolhi para a minha vida.
Mas para um escritor, é uma vida e tanto!
Quando fecho a porta do meu escritório e começo a trabalhar
todos os dias, estou multiplicando essas possibilidades.
Estou tendo a chance de viver todas as coisas que
de outra forma não teria vivido.
E eu realmente sinto que as vivencio.
Assim que me torno, ou crio um personagem, eu só leio
Um velho, um pai
que sente arruinada a relacão que tinha com o filho.
De alguma forma, ele nunca conseguiu se expressar
para o filho, e está próximo da morte,
como ele poderá reavivar esse relacionamento?
Não é uma experiência que algum dia vou viver, nunca poderia
e nunca desejaria para mim mesma.
Mas eu quis - porque tenho curiosidade de saber como é estar ali.
Esses extremos despertam minha curiosidade.
E escrever permite isso,
de uma forma intensa, muitas vezes.
Quando você vê um personagem num momento de fraqueza,
seja ela por causa de uma falha, dúvida, perda,
ou sofrendo consigo mesmo, você encontra o que há de mais humano nele.
E isso me interessa.
É para lá que desejo ir.
E essas dificuldades não existem para serem jogadas na minha cara, ou na dos leitores,
mas sim, penso eu, para que tenhamos a oportunidade
de conviver com elas por um tempo.
Nós também encontramos formas de transcender às dificuldades.
Eu também não quero parecer esperançosa demais -
mas eu acho que existe algo a mais
ao encarar essas coisas, às quais,
constantemente fugimos.
Seja ela a morte, ou algo sobre nós mesmos,
que escondemos de nós mesmos durante toda nossa vida,
uma mentira sobre a qual toda nossa vida foi construída.
Isso me interessa num personagem, é uma tema que me atrai :
Uma mentira ou um lugar através da qual
toda a estrutura - sabe, isso está escondido sob
a estrutura do personagem - o que acontece
se você mexer com ela. O personagem sofrerá?
Ou encontrará uma nova forma para se manter?
Eu não sou escritora porque me interesso por solipsismos ou solidão, francamente
Eu estou interessada e me importo com aquele momento
aonde alguém transcende isso, e tem o maior
e mais profundo contato com outra pessoa.
Quão perto você pode chegar de uma pessoa?
Isso sempre me interessou, desde o meu primeiro livro.
" Um homem entra numa sala" é um experimento, onde uma memória é extraída de uma mente
e transplantada para outra mente; existe algum
atalho para a empatia? Afinal, o que é a empatia,
senão estar no lugar de outra pessoa?
Saber como é ser outra pessoa?
E o experimento falha completamente.
Acho que eu realmente me questionava - Eu tinha 25 anos
quando escrevi aquele livro, eu tinha
Foi a primeira estória de ficção que escrevi.
Mas eu estava me perguntando,
" existe algo que pode fazer o que a literatura faz?"
" O que a literatura faz, e que nenhuma outra coisa pode fazer?"
E isso nos dá a oportunidade de permancer
na vida interior de outra pessoa e senti-la,
da forma mais intensa possível.
Eu acho que não existe outra coisa que nos dê isso.
E isso me interessa, essa possibilidade de contato,
de entendimento, empatia, compaixão...
Meus livros estão sempre indo direção a esses sentimentos,
mas começam com personagens que são solitários.
porque eu acho - e posso estar errada,
pois sempre estive dentro de minha mente -
mas é um grande esforço fazer essa espécie de profundo,
e real contato com outra pessoa, realmente entendê-la.
Há tantas camadas para atravessar.
Mas eu acho que todos os meus personagens
desejam, ou estão dispostos a ter esse momento com outra pessoa.
Eu fico sensibilizada, não pela forma como o passado nos impacta
ou nos modela... nós sabemos que isso acontece, não tem jeito.
Nós todos somos modelados
pelos nossos pais, avós, pela história.
Certo, então pra começar, nós sabemos.
E o que você faz com isso?
O que me sensibliza não é a coisa em si,
mas como as pessoas reagem a isso, recriando a si mesmas.
Então se você reparar, os meus três livros
(e eu não sabia disso ao escrevê-los, mas agora que preciso olhar para trás,
e responder às perguntas de jornalistas, eu enxergo isso)
meus livros giram em torno dessa ideia, talvez seja uma
ideia excessivamente otimista dos norte- americanos
(Eu não sei, não havia pensado sobre isso até agora)
de que nós somos auto-suficientes, em certo grau.
Sim, o passado nos modela. E daí?
Pegue um personagem como Leo Gursky.
Que, através da pura imaginação e vontade,
reinventa a si mesmo, sua vida e seu passado, para suportá-los.
Eu acho que ele diz em algum momento em " História de amor " :
" A verdade foi algo que inventei para sobreviver. "
E Alma o faz com seu irmão mais novo para
tornar o seu pai um tipo de herói.
E Sampson Greene, em " Man Walks Into a Room "
sofre com sua enorme perda.
Vinte e quatro anos de sua vida se passaram,
mas ele precisa encontrar uma nova coerência, de forma a criar uma noção de si mesmo.
Ou em " Great House," aonde você encontra uma pequena estória,
que eu considero uma das mais belas da história judaica,
que acontece durante o século um D.C,
quando Jerusalém, e tudo que eles eram, cai -
O judaísmo era uma idea nacional. Estava baseada num local,
e baseada em rituais em torno do templo.
Isso tudo é perdido e destruído
O que será dessas pessoas? E a resposta para isso é tão bonita.
Certo, vamos substituir o sacrifício no templo por uma oração.
Que é interna, e que podemos levar conosco para qualquer lugar.
Perdemos a cidade, mas podemos traduzi-la
para o livro mais intrincado do mundo -
que se tornou, depois de séculos, o Talmud.
E nós podemos levá-lo debaixo do braço, e de repente,
o judaísmo se torna algo interno e portável.
Acho que esses momentos de reinvenções radicais
de um indivíduo, de um povo,
são os que mais me comovem, talvez porque eu sinta,
de alguma forma, que não é suficiente e nem aceitável
simplesmente herdar o passado. Ser moldado por ele.
Não é justo. Como podemos viver assim?
Que escolha nós temos?
Me parece que precisamos ter algo a dizer sobre quem somos.
E não acho que temos o suficiente.
" Obviamente, você está escrevendo o tempo todo sobre o fardo
das heranças!", vocês podem dizer.
As suas memórias,
ou as memórias que seus pais e avós te passam,
não são os fatos - o que você recorda não é o que realmente aconteceu.
Você pegou essa enorme porção do tempo, não importando sua idade,
e simplesmente apagou
grandes partes que eram inúteis,
ou que não funcionavam,
não se encaixavam com a narrativa, mas então você escolhe esses momentos,
os ilumina (poucos deles)
e os amarra para criar essa coerência.
E esse é você. Essa é a estória que você conta para você mesmo.
Você é um escritor de ficção. Todos somos, certo?
Mas essa ficção é a ficção do Eu.
Isso nos leva até a minha ideia da escrita como uma
criação do Eu. Tenho certeza de que os escritores não são os únicos a fazer isso.
Eu acho que é assim que criamos que somos.
E é algo um pouco assustador,
mas também, imagino eu, abre muitas possibilidades.
Porque aí então o passado não é algo que pousa na sua cabeça,
e com o qual você lida o resto da sua vida,
vivendo sob a sombra dele. Não, você tem essa imaginação
faça algo com ela.
Eu não escrevo poemas há muitos anos, e espero
voltar a escrever. Eu não me imagino
como alguém que escreve poemas e de repente
os deixa de lado para fazer outra coisa.
Mas eu preciso dizer que a forma do romance
se encaixa muito bem em mim nessa altura da minha vida.
Eu acho que isso tem a ver com o fato
de que como forma, ela é menos definida.
E por causa disso, porque podemos apenas dizer
" é um estória com começo e fim"
o que mais podemos dizer? Eu sinto que tenho uma oportunidade.
Eu sou chamada pelo romance, para reinventá-lo,
sempre que me sento para escrever um, e acho isso muito emocionante.
Eu acho que poemas
em geral são mais definidos.
Pelo menos eu não pude encontrar a mesma liberdade escrevendo-os,
e foi por isso mesmo, porque eu parecia dar murro em ponta de faca,
que parei e comecei a escrever meu primeiro romance.
Não pensando em me tornar escritora, apenas pensando que
eu poderia encontrar uma válvula de escape,
para ser livre mais uma vez no meu trabalho.
E eis que eu achei isso, mas eu achei muito mais
do que isso, eu descobri que num romance
ha uma espécie de senso de imperfeição,
porque a forma não é definida.
Nenhum de nós pode conceber um romance perfeito,
eu acho que todo romance tem falhas. Isso é um alívio.
Eu me sinto confortável com alguns tipos de falhas,
já sabendo que elas vão existir.
Nunca fiz nenhum plano ou projeto para escrever os meus romances
eles são todos improvisados,
na maior parte,
particularmente os dois últimos romances,
que são polifônicos, e portanto, feitos de partes diferentes
que começam a se interligar
para criar o todo...
no começo, talvez as vinte ou trinta primeiras páginas,
foram escritas um pouco fora de ordem,
Eu descobri os quatro personagens ao mesmo tempo.
E quando soube que eles seriam o romance,
eu escrevi o livro exatamente na ordem em que ele é lido,
então eu nunca sabia o que iria acontecer.
Eu escrevi a totalidade da experiência de um personagem,
e então o próximo, mas então o seguinte começou a refletir
o primeiro, e eu comecei a encontrar esses padrões
entre eles, e as vezes extendia o padrão,
e algumas vezes, quebrava perversamente o padrão,
se ele me parecesse inautêntico, muito forçado.
Mas para mim, parece um pouco com composição musical.
Como você pode saber com antecedência, antes de chegar no lugar,
e descobrir essas harmonias entre as partes mais distantes do romance?
E para mim vem sempre com
forma, esse todo.
Eu não poderia escrever de outra forma.
De outra forma, ficaria completamente entediada!
Porque eu escreveria o livro,
se já soubesse o que iria acontecer?
Eu nunca entendi isso.
Bem, existem há certos traços da vida,
de experiências pessoais que são usados,
mas são tecidas como algo que seria irreconhecível para os outros,
mesmo para os que me conhecem pessoalmente.
Quando escrevo um romance, eu acho que há um
desejo de criar uma casa, desse jeito que estou descrevendo:
Essa fugidia ideia de "lar", que eu nunca tive.
Há uma sensação de que de alguma forma, trazendo todas essas
vertentes; um pouco como um rouxinol - alguns pedaços de
brilhantes coisas pessoais, mas também invenções completas,
e coisas que me fascinam ou me comovem,
ou me entristecem; se eu posso encontrar alguma forma
de entrelaçá-las nesse tipo de arquitetura,
então isso seria um "lar".
Pelo menos enquanto estou escrevendo o livro.
Quando eu o termino, não posso mais viver nele.
A porta é fechada, ele é publicado,
eu tenho que me mexer, por assim dizer.
Eu penso espacialmente nos romances como
um tipo de casas com quartos que estou construíndo,
por dentro,
mas você está certo em dizer - sugerir que vem
de alguma forma dessa experiência diaspórica
de um vida espalhada pelo mundo.
Como você junta essas peças e forma novamente uma unidade?
Eu acho que é uma obsessão, de tal modo
que você pode encontrar em todos os livros.
Eu vejo tudo de um jeito contínuo.
Eu não acho que a música, pintura, estejam separadas dos livros.
Eles fazem coisas diferentes, de formas diferentes,
mas todas me levam para o mesmo lugar,
que é esse lugar distante.
Aquele lugar aonde as coisas tem a chance de se tornarem significativas.
Isso é um tipo de consolo, porque caso o contrário,
a vida acontece de modo aleatório.
E você não tem tempo de juntar as peças
para chegar em algum significado.
Então você escreve ou aprecia uma pintura,
que te comovem, tão profundamente, porque significam algo.
É você consigo mesmo.
Não sei, penso ans pinturas que eu continuo carregando comigo.
Como os auto-retratos de Rembrandt sobre os quais
eu acho que continuo a escrever - Acho que escrevi sobre eles
nos três romances, talvez até sobre o mesmo quadro.
Mas eu tive uma chance de ver um deles, que é o meu favorito;
ele veio para Nova Iorque, para o Museu Metropolitano de Arte,
e ficou por lá durante algumas semanas.
Eu fui várias vezes, em seguida, só para ver esse velho amigo.
Você fica na frente dele, e novamente:
vem aquele sentimento de ser subitamente
tocado pelas coisas mais essenciais.
Eu acho que há tantas coisas sendo perdidas, tão rapidamente,
que nem conseguimos ter uma noção sobre elas.
Quero dizer, o que vai acontecer daqui há 15 anos?
E o Google foi feito em 2002, não é tão velho.
Em dez anos nossos cérebros mudaram
de forma tão chocante, e uma das coisas que se foram,
como todos sabemos, foi a nossa concentração.
Ao invés de lermos profundamente, tendo chance
de fazer conexões complexas e alusões, encontrando sentidos,
somos todos treinados para pensar rápido, muito rápido.
E eu acho isso é assustador.
Obviamente, esse tipo de experiência foi feito
involuntariamente nessa nova geração -
não nas nossas crianças - talvez nossos filhos, quando ficarem
um pouco mais velhos, vão entender um pouco disso,
mas as crianças um pouco mais velhas do que elas, adolescentes -
foram, basicamente, cobaias para o que está sendo criado,
não num mundo de lentidão, aonde as coisas
tem acontecido no ritmo que elas aconteciam,
nos últimos cem, milhares de anos.
Elas não têm mudado tanto quanto agora!
E poderemos ver o que tem acontecido com elas.
E você não apenas vê as dificuldades dos seus relacionamentos,
mas sua absoluta incapacidade de
se concentrar para ler textos grandes.
Como uma romancista é muito triste, claro,
e há muitas coisas que podem dificultar
a leitura dos livros que eu amo,
com os quais cresci
e ainda valorizo.
Sabe, o declínio das livrarias
e o aumento dos e-books.
Há cada vez menos chances de uma pessoa
entrar numa livraria e descobrir
um escritor que vai mudar sua vida.
Ou ter a paciência para encontrar um espaço,
um tanto da sua vida, silencioso e lento
o suficiente para permitir a leitura.
Eu acho tudo isso muito triste.
Mas por isso mesmo tenho que imaginar
que algo vai lentamente começar a se corrigir.
Eu não acho que as pessoas vão parar de ler.
Talvez menos pessoas irão ler.
Eu acho que sempre haverá - pelo menos durante a minha, e nossa, existência -
Eu acho que sempre haverá leitores
para o tipo de romances tem importância para mim.
E isso é o bastante. Eu não acho que preciso de toneladas de pessoas.
Eu desejo que todos amem os tipos de novelas
que eu amo, mas enquanto algumas pessoas continuarem a amá-los,
e eles continuarem a ser impressos, me dou por satisfeita.
Bem, eu acho que o escritor faz o melhor que pode,
e eu acho que o trabalho é sempre,
de certa forma, político, porque é sempre
sobre as relações entre as pessoas.
E está sempre dando preferência ao indivíduo do que às massas.
Todo romance que faz com que o leitor se importe com uma pessoa
e seu mundo único, está fazendo algo
tremendamente politico, eu acho.
Não com essa intenção, esse não é necessariamente o objetivo principal.
Mas o romance é, invitavelmente, uma espécie de ato político.
Se você convencer um leitor com o seu romance de que
uma única pessoa é um mundo que nunca existiu antes,
e que não vai existir de novo,
e de que essa vida tem valor infinito,
você está ensinando algo político.
Sim, talvez seja uma coisa um pouco vaga,
mas eu acho que, por si só, é muito.
Isso a faz mais difícil, sim. Tudo a faz mais difícil -
ficar velho é difícil.
Escrever um livro e não querer escrever aquele
livro de novo.
Estar atento às coisas que podem dar errado,
as quais eu não conhecia quando escrevi meu primeiro livro.
Sim, é difícil, mas fica cada vez mais sério,
os riscos são maiores,
não por causa dos outros,
nem por causa de prêmios,
e nem pelos leitores, mas para mim mesma.
Eu tenho uma noção melhor de mim mesma como escritora.
Depois de três livros, posso dizer,
" Certo, agora tenho uma ideia do que eu quero "
E eu sempre vou dizer isso
porque eu aprendo um pouco com cada livro.
Ficam mais profundos... Quando envelhecemos,
as coisas ficam mais profundas.
Ai você tem filhos - e tudo muda.
Você envelhece, as pessoas em volta de você começam a morrer -
isso muda tudo. Seus pais ficam doentes -
o que quer que aconteça,
a vida não é tão leve como era durante a juventude.
Eu acho que se você é um tipo de escritor que quer escrever
sobre essas coisas, o trabalho continua revelando
novos caminhos para você...
novos abismos, aonde você precisa se perder.
Então sim, fica mais difícil.
Mas eu acho que estou pronta para isso.
Obrigado.