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... um dos primeiros obstáculos para clareza mental é luxúria, cobiça.
Esse é o tipo de problema que surge por focarmos nos aspectos desejáveis das coisas,
você se obceca em desejar algo.
Focar em seus aspectos desejáveis, esperando, ansiando, prazeres, prazeres sensuais. Isso é chamado luxúria.
Uma mente cheia de luxúria é uma que não desenvolveu a faculdade da discriminação muito bem.
A pessoa está tão obcecado com as qualidades agradáveis de algo ou alguém
que ela só quer obter-lo, ela anseia, antecipa, planeja, trama ou simplesmente fantasia sobre aquilo.
Nós mantemos a mente ocupada, temos que criar tudo isso, se você parar de pensar o desejo não surge, irá desaparecer.
Enquanto você continuar a pensar naquilo, então é claro a luxúria vai continuar sendo um problema para você.
Um modo de lidar com luxúria é apenas estar ciente de como a mente funciona,
se você adicionar algum impulso, se surgir uma atração, e você então focar naquilo,
então é claro surge luxúria, luxúria é isso. Mas se você parar de focar a mente naquilo que você quer, que você deseja,
sustenha sua atenção, não deixe a mente se enroscar em fantasiar, ansiar, esperar... criar,
então o hábito da luxúria irá diminuir, desaparecer.
Se sua mente ainda está ocupada pensando nessas coisas, então ao invés de pensar nas qualidades desejáveis
de alguém pense mais nas qualidades não-desejáveis.
Por exemplo se você sente desejo *** por alguém, então você foca
no cabelo bonito deles, nos olhos, dentes brancos como pérolas,
olhos brilhantes e pele linda. Nós vemos a superfície exterior sendo desejável.
A mente com luxúria não foca, não vê nenhuma das qualidades não-desejáveis,
quando você sente luxúria você não nota as...
as verrugas, as cicatrizes, as sardas.
Quando nos ordenamos, um dos ensinamentos que nos é dado, o upajjhāya diz "kesā" que significa cabelo,
"lomā" pelos, "nakhā" unhas, "dantā" dentes, "taco" pele.
Cabelo, pelos, unhas, dentes e pele. Nós dizemos isso.
Qual o significado disso? Por que dizemos isso quando nos ordenamos?
Essa é uma reflexão para vida do brahmacariya.
Quando dizemos cabelo, pelos, unhas, dentes e pele, isso é no que tendemos a sentir atração nas outras pessoas,
quando apenas olhamos a beleza de alguém.
Mas se nós começarmos a olhar isso à parte, com mais discriminação, o impulso da luxúria diminui.
Se só vemos cabelo, quando só olhamos cabelo não sentimos luxúria
mas se estiverem todos conectados e arrumados de uma maneira agradável sobre a pele
e os dentes e as unhas e etc, então nós sentimos essa atração.
Se você encontrar o cabelo de alguém na sua sopa, não desperta luxúria.
Nem precisa mencionar se for um dente ou um pedaço de pele...
Tende a estimular aversão, não é?
Quando você vai além do cabelo, pelos, unhas, dentes e pele, fica ainda menos atraente.
Se você olhar, digamos,
sangue, linfo, veias, nervos, estômago, baço, bexiga, coração, pulmões,
intestino delgado, intestino grosso, estômago, esse tipo de coisa, gordura e pus, muco.
Isso é o que chamamos reflexão sobre aquilo que não é atraente.
Aquilo que não é atraente, que não desperta luxúria.
Nós todos temos essas coisas, nós todos temos esses órgãos, coração, fígado, baço, gordura, muco,
pus, sangue e todas essas coisas, mas nós não refletimos sobre isso.
Quando temos luxúria só vemos que belos olhos, que belos dentes, belo cabelo, bela pele,
nós não pensamos no fígado, baço, entranhas, esqueleto.
Então essa é uma outra maneira de usar o processo do pensamento, a capacidade discriminatória,
para quebrar a tendência de focar em quão desejável uma pessoa é, um outro ser humano é.
Não é para criar aversão por outros seres humanos, mas para remover a paixão, há uma diferença.
Não estamos fazendo isso para pensar em quão nojento uma pessoa é,
não estamos tentando estimular nojo ou aversão mas sim a não-paixão.
Significando um frescor mental, não uma mente pega em "eu tenho que ter, eu quero, eu preciso, eu devo..."
qualidades excessivas da luxúria, mas sim o frescor da não-paixão.
É uma forma hábil de utilizar nosso pensamento, ao invés de fantasiar sobre como maravilhoso, ou ansiando, esperando, planejando,
usar nossa capacidade de pensamento para reflexão sem paixão.
Existem essas duas maneiras de lidar com luxúria, eu penso, uma é essa maneira, sendo mais discriminativo,
trabalhando com a tendência de focar na beleza,
estar fascinado e obcecado com beleza ou apenas impedindo que a mente crie qualquer coisa que seja.
Apenas ser atento, notar a sensação da luxúria, o calor no corpo que surge,
mas não criar nada ao redor daquilo, não seguir com qualquer tipo de ação, fala,
ou pensamento, apenas atenção pura naquilo.
O segundo obstáculo é o obstáculo da aversão.
Nós podemos focar, nós podemos sentar em meditação nos sentindo incrivelmente negativos e aversivos,
bravos, raivosos.
Quando sua mente está cheia de ódio, raiva e aversão então é claro você não tem concentração, sua mente não consegue se concentrar.
Mas uma vez que nós tendemos a nos sentir culpados sobre a aversão,
no nosso histórico cristão, judaico, nós tendemos a sentir muita culpa sobre ódio.
Então a raiva, nós não sabemos o que fazer com ela, e nos sentimos culpados sobre isso.
Então nós desenvolvemos um sistema muito complexo chamado culpa onde sentimos que odiamos
a nós mesmos por sentirmos ódio, é chamado culpa.
Nós nos odiamos e temos aversão por nós mesmos por odiar alguém, ou por estar com raiva.
Isso é complexo, nós somos seres complexos, não é só o ódio,
esse tipo de aversão a algo, mas é também a aversão à aversão.
Por causa disso, investiguem, aquilo sobre o qual você sente aversão, você tende a querer aniquilar, se livrar.
A reação imediata é reprimir, tentar escapar,
"eu sou terrível" então tentamos fazer alguma outra coisa pensar em alguma outra coisa.
Dessa maneira, se você é um que está tentando aniquilar ou se livrar da raiva, ódio,
ou suprimindo para fora da consciência, então você tem que permitir que ele se torne plenamente consciente.
Raiva reprimida e ódio que você guardou na sua mente por toda a sua vida,
você deve permitir que ele se torne um ódio plenamente consciente.
O que significa que você deve trazê-lo à tona porque sua tendência pode ser de reprimir, empurrar, se livrar daquilo.
Ao invés disso, uma forma hábil é realmente odiar,
sentar e realmente odiar, plenamente, completamente, odiar conscientemente.
Mas não é direcionado, não é um ódio maléfico, não é com o propósito de criar sofrimento para ninguém
mas é o que chamamos de soltar o ódio, uma purificação da mente onde ódio só pode acabar quando
nós o compreendemos, quando permitimos que ele vá para cessação ao invés de apenas reprimir.
Nós temos que conscientemente permitir que o ódio se torne consciente
em nossas mentes, não apenas reagir com aversão ou repressão, aniquilação.
Às vezes nos sentamos e nos encontramos ficando muito aversivos, talvez muitas memórias vindo à tona,
sentimento de amargura, decepção com parentes, marido, esposa, sociedade, filhos, seja lá o que for,
esse tipo de coisa, e há a tendência de suprimir, tentar se livrar daquilo.
Nós devemos pacientemente trazer à tona para que se torne plenamente consciente.
Eu descobri isso no monastério, querer se livrar do ódio era o principal problema,
era a culpa e o medo do ódio.
E sendo um monge você pensa que deveria amar a todos, tentando ser um santo,
querendo ser santo e amar a todos e tendo então esse tremendo fardo de culpa
sobre sentir essa tremenda amargura e ódio.
Então eu descobri que um modo hábil de soltar isso era odiar conscientemente,
tentar trazer à tona, trazer à consciência, tentar pensar, realmente investigar, pensar em odiar a todos que conseguisse lembrar.
Estar disposto a simplesmente odiar, pensar com aversão e ouvir a tudo isso,
não acreditar naquilo, mas ouvir minha mente.
"Ele fez isso com ela, ele fez aquilo, ele fez isso comigo, ela disse aquilo, ele disse isso..."
Após um tempo soa ridículo se você realmente ouvir, se você levar o ódio ao absurdo é bastante divertido.
"Minha mãe nunca me amou de verdade, meu pai isso... eu não recebi minha devida parte, ninguém me entende."
Ouça, traga à tona, à forma consciente, ouvindo mas não acreditando.
Acreditar é "ninguém me ama e eu fui mal tratado pela vida"
e se você começar a acreditar então é o que realmente acontece.
Mas escutar as reclamações, o amargor, a decepção
para que você saiba o que eles são, são condicionamentos da mente
que agora você pode conscientemente aceitar na consciência e deixar que se vá.
É um deixar ir, um tipo de limpeza da mente ao invés de "eu não deveria ser dessa maneira
eu não deveria odiar pessoas, afinal de contas eu deveria amar a todos,
mas eu tenho esses rancores e não consigo perdoar as pessoas, eu sou terrível."
então começamos a odiar a nós mesmos.
Então nós ouvimos nosso ódio por si, ouça, se você tem muita aversão por si, traga à tona.
"Eu não valho nada, eu sou estúpido, não sirvo para nada, inútil."
Então você consegue ouvir o condicionamento da mente, o sentimento reprimido de aversão,
e pode deixá-los ir de forma plenamente consciente.
Você tem uma perspectiva deles, você os vê claramente e então pode deixá-los ir.
Você não está tentando simplesmente se livrar deles
"eu não deveria estar pensando assim, isso é nojento" e então reprimir,
mas reconhecer que muito da nossa vida tem sido raiva reprimida,
e aversão porque na sociedade ocidental, eu sei da América, os americanos são pessoas muito idealistas,
e portanto eles vêm de um idealismo muito elevado sobre o que um homem deveria ser,
é um ideal. E então, temos medo do modo como somos.
Nós sentimos uma tremenda falta ou uma tremenda inabilidade de fazer jus àquele ideal
então começamos a pensar sobre si mesmos de formas muito negativas.
Porque é muito raro conseguirmos viver no padrão em que achamos devemos estar o tempo todo, o nível ideal.
Tendemos a nos sentir incrivelmente culpados por nossas fraquezas,
por nossos fracassos, nossos medos, covardia, falta de energia, aversão,
tudo isso, nos sentimos terrivelmente culpados, aversivos a si mesmos por não fazer jus a esses altos padrões.
Um ideal, nós reconhecemos, um homem ideal, uma mulher ideal, é apenas um padrão.
Não é como alguém consegue viver de forma permanente.
Nossa humanidade, nossa condição humana faz com que
tenhamos que nos adaptar a todo tipo de situação que não podemos prever no nível do ideal,
às quais nós temos que aguentar e aprender com elas.
No ideal você pode pensar em como você deveria ser um homem ou mulher ideal,
isso é uma coisa, não é? Mas a vida em si é uma energia em constante mudança
em que nós não conseguimos prever o que vai acontecer então temos que aprender a aguentar
e aprender através de tentativa e erro.
Mas por causa dessa falta de entendimento de como as coisas são, tendemos a criar
um monte de culpa, remorso, aversão para conosco ou o mundo por causa da nossa falta de entendimento,
agora poderemos entender.
Esse é o obstáculo da aversão, é aversão porque é algo que tendemos a
não gostar e querer nos livrar.
Então nós temos que trazê-la para nós, torná-la uma aversão plenamente consciente, ouvir-la.
Se você encontra muita raiva para com seu esposo ou esposa,
tem a sensação de que eles não te entendem, sensação de insatisfação, ouça àquilo.
Ouça à aversão ao invés de tentar descobrir o que está errado em você ou seu esposo.
Isso é o suficiente, ouvir a aversão, para que se saiba exatamente o que é,
talvez haja fundamento para ela mas não é necessário transformar em nada.
É melhor deixar passar do que esperar que o mundo, seu esposo, seus pais,
seus amigos, filhos, se enquadrarem em todos os seus desejos.
Em Chitrust(*), eu era o monge chefe do monastério,
às vezes eu podia ver aversão surgindo com relação a algumas pessoas no monastério,
eles estavam causando problemas, sendo difíceis,
eu dizia "Por que eles têm que fazer aquilo? Por que eles não podem ser iguais a todo mundo?
Por que eles têm que criar problemas com tudo? Por que eles não podem ser mais atentos, ter mais consideração?
Por que eles não podem ser sensíveis? Por que eles não podem praticar como eu venho ensinando?
Eu estou ensinando, fazendo meu melhor para ensinar e eles não fazem nenhum esforço, ficam com preguiça,
e de repente fogem, nem me dizem que estão indo, eles simplesmente fogem(*).
Vivendo de esmolas! Ingratos, insensíveis." etc, e vai dessa forma.
E também qualquer um que lhe cause frustração, ou que seja difícil,
você pode pensar "Queria que ele fosse embora, queria que ele fugisse."
Ouvindo isso, ouvindo essa aversão em minha mente. Eu usei isso como meditação.
Alguém sendo muito difícil e eu reagindo de maneira negativa, eu ouvia.
E o que saiu disso, o que eu descobri é que
eu quero que todos vocês ajam de uma maneira que nunca me incomode,
que sempre me gratifique, me faça feliz, não façam nada que traga medo, dúvida ou preocupação,
e vocês devem viver suas vidas exclusivamente para o meu benefício
e conduzam a si da forma que eu quero para que eu não tenha que me incomodar.
É o que eu percebi eu estava dizendo, era como eu estava agindo.
Eu quero que todos os monges, todas as monjas nesse monastério, todos os leigos, ajam de forma que não me incomode.
É muito estúpido, não é?
Se é isso que eu quero, é inútil, não é?
Esperar que todos ao meu redor se comportem de forma que não me cause sofrimento,
nem fique nervoso, ou incomodado por nada.
Quando eu realmente descobri isso eu comecei a ficar muito mais tolerante e
mais disposto a permitir que mais pessoas fossem do jeito delas.
Não me sentia mais ameaçado por idiossincrasias ou excentricidades nas pessoas ou
a rebeldia deles ou a teimosia, eu não mais tomava pessoalmente como uma ameaça para mim.
Comecei a relaxar, a dar bastante espaço para as pessoas e ser capaz de refletir melhor àquelas pessoas
ao invés de apenas forçá-las a se comportar.
Os relacionamentos ficaram muito melhores quando comecei a
permitir que as pessoas trabalhassem com os problemas delas ao invés de forçá-las à conformidade
ou se livrar daqueles que não se conformavam.
"Você não é adequado para ser um monge, saia daqui."
Você pode permitir às pessoas serem como são porque você não exige que elas sejam de outra forma.
Você percebe que é assim que eles têm que ser neste momento.
Essa é uma boa reflexão para as pessoas também, não é?
então você pode realmente ajudá-las porque apenas forçar, castrar,
amedrontar as pessoas até elas conformarem, é apenas condicionamento por medo novamente, como animais.
Eles talvez se comportem porque estão com medo, ou porque querem me agradar,
mas não por real sabedoria ou por entender o problema.
Então ficou claro, e ficou muito mais fácil ser um professor, quando eu não estava tomando tudo,
quando eu não estava sentindo medo ou ameaçado pelo que estava acontecendo à minha volta.
Na verdade isso veio através de refletir sobre minha própria mente,
o que é que estava realmente me incomodando era medo.
Medo de que as coisas dessem errado, medo de fazer algo errado,
medo de alguém arruinando algo ou me causando muito sofrimento
ou perturbar a comunidade, havia um medo, um protecionismo paternal,
do tipo que eu posso ver pais e mães devem sentir, querer proteger a família de qualquer coisa danosa ou subversiva.
Então se você vê alguém causando muitos problemas ou desilusão dentro do monastério,
querer se livrar deles, "Saia daqui, nós não queremos você aqui porque você está perturbando tudo."
Um tipo de desejo de proteger.
Tipo "pai", pai tentando proteger sua família de influencias estranhas, incomuns ou subversivas.
Isso era se apegar e tornar-se um pai.
Refletindo nisso você consegue ver o tipo de armadilhas em que podemos entrar
porque isso soa bastante razoável, se incomodar, proteger os monges e monjas...
Muito admirável, "Ele é um ótimo abade, muito protetor, ama muito sua família, toma conta dela, isso é admirável."
Mas também é uma armadilha no sentido de que se identificando com um pai, sendo protetor, tem um resultado cármico muito forte.
O senso de dependência e também excluindo aqueles que você não sente se encaixam no grupo primário
ou no monastério. Então você não está criando uma família,
você não quer um grupo privado de amigos íntimos à exclusão dos demais
que você acha não fazem parte, que você pensa podem causar problemas ou perturbações.
Então você abre o Dhamma para qualquer um que vier e pedir, não importando quais são seus sentimentos sobre aquela pessoa.
A forma de medir isso é a quantidade de sofrimento que você tem não importa o que esteja fazendo.
Machuca, quanto sofrimento vocês têm em relação aos seus filhos?
Protecionismo, querendo que eles se comportem, medo de cometer erros, medo de que você faça algo errado,
culpando a si mesmo por não ter sido capaz de sempre ser o melhor e mais sábio.
Sofrimento dos pais, vocês podem refletir sobre isso, esse tipo de apego, posições às quais você se apega.
E todos esses apegos nos trazem a esse sofrimento, então a quantidade de sofrimento que você tem reflete isso.
Então o primeiro é luxúria ou ganância, o segundo é aversão, dois extremos, as grandes paixões.
Desejo por algo e desejo de se livrar de algo.
Então os três obstáculos seguintes se manifestam quando as grandes paixões diminuem em sua vida,
grandes quantidades de luxúria e ódio, quando está livre delas você encontra
os estados mentais mais entediantes, deludidos, se tornam mais conscientes.
Como torpor e abatimento.
Torpor e abatimento.
Antes a sua mente tinha uns pensamentos de luxúria bastante interessantes,
ódio verdadeiramente passional e inveja, de repente é esse abatimento, tédio, cansaço.
É aqui que muitos monges abandonam o manto, quando eles têm que enfrentar abatimento e torpor porque
daquela luxúria e ódio você tira muita energia, você ganha muita vitalidade,
uma fantasia *** lhe dá muita energia. Se você está se sentido abatido e você começa a fantasiar sobre sexo você...
Se você está abatido e deprimido e ódio surge você "Aquele fulano..."
Quando eu estou realmente bravo posso me sentir realmente vivo,
muito afiado, claro.
Indignação, eu tenho muita tendência à indignação, eu fico indignado.
"Como ele se atreve a dizer aquilo?! É revoltante!"
E parece tão correto, se alguém faz algo que você sabe é muito irritante ou estúpido
ou horrível, o que quer que seja, "Como ele se atreve?! Terrível!"
É tão correto, tão indigno, tão vivo, e além disso eu tenho tanta razão!
Tem muita energia conectada a isso.
Eu noto que alguns monges em Chitrust tendem tirar muita energia ficando indignados com coisas.
"Você sabe o que aquela pessoa disse? Sabe o que ele está fazendo? Ele está saindo para fumar cigarros na floresta!"
Se você está num estado abatido e você vê alguém fazendo algo errado você pode ficar indignado "Como eles se atrevem?!"
Você assiste aquilo, observe como você obtém energia, porque fantasias,
fantasias de luxúria, indignação, aversão, raiva passional, ódio e tudo isso, você obtém muita energia disso.
E então quando você pensa em abatimento e torpor, esses são estados muito desagradáveis, não gostamos deles.
Porque você acaba existindo nesse tipo de estado mental abatido, deprimido,
e a vida parece sem esperança como um deserto infinito,
nada no deserto a não ser areia e tédio, nada interessante para olhar, nada tentador.
Nem sequer algo para se indignar, só cansaço, abatimento.
Então nós podemos afundar nesse abatimento e não colocar nenhuma energia
porque se nossa energia está sempre vindo da cobiça, da luxúria ou do ódio,
quando essas coisas não estão operando nós não temos nenhuma energia.
Então nós temos que começar a trazer energia da nossa própria mente, não é?
É aqui que você começa a trazer energia para o momento, então você mantém sua postura,
você existe com o abatimento, você investiga o abatimento, a sonolência.
Alerta. Às vezes nós temos tanta aversão ao abatimento que só queremos nos livrar dele
e então por simples força de vontade nos colocamos eretos para conquistar o torpor,
então você vai dessa forma por um período, muita energia, e então...
vai de um extremo...
você cria um hábito, eu vi monges fazendo isso na Tailândia,
você os vê sentando assim, e de repente eles simplesmente caem desse jeito
e voltam imediatamente à postura ereta.
Então não é muito atento, não é reflexivo.
Você não está trabalhando com o abatimento, você só está tentando se livrar dele
"Eu odeio esse abatimento e eu não vou me submeter, eu vou aniquilá-lo."
Há aversão ali, não é? Você ganha a energia para fazer esse extremo
somente por aversão ao abatimento, então passa e você cai.
Você precisa usar algo mais sutil, uma reflexão mais sábia sobre o abatimento
e sonolência ao invés de apenas ter aversão e tentar aniquilá-lo através de um ato de força de vontade.
Então, quando você se sentir abatido, conscientemente note o abatimento e sonolência.
Você aguenta, você trabalha com aquilo, você mantém a energia, tente manter o corpo ereto
e vencer, continue trabalhando com isso, com gentileza e paciência.
Até você começar a largar o abatimento, permitir que o abatimento e o torpor se vá
ao invés de apenas reprimi-los, se não você está apenas reprimindo de novo, o que significa que ele vai continuar voltando.
E o quarto obstáculo é igualmente desagradável, inquietação.
É quando você está inquieto, você se sente inquieto, sua mente
não possui ódio passional, cobiça, você certamente não está abatido, você apenas
quer ir a algum lugar.
Uma terrível inquietação, ansiedade, agitação.
Nós também tendemos a tentar reprimir isso
mas quanto mais você tenta reprimir, mais agitado você fica.
Para se concentrar você não coloca mais energia na postura,
você apenas mantém a postura e com paciência aguenta, olhando a inquietação, observando,
com uma atitude bondosa. Bondade, paciência.
Estar disposto a aguentar o que há de desagradável naquilo
sem reagir, fugir, estar disposto a aguentar para sempre se necessário com uma paciência incrível.
E o último é dúvida.
Estado mental cheio de dúvidas, esse é um grande problema para as pessoas elas sempre se enroscam em dúvidas.
Dúvidas sobre si mesmo, dúvida sobre o que elas deveriam fazer, dúvida sobre a prática, dúvidas sobre budismo,
dúvida sobre o professor, dúvida sobre qualquer coisa e sobre tudo.
"Não sei se estou fazendo certo, não sei... talvez eu não seja capaz, talvez esse não seja o caminho certo para mim,
talvez isso esteja além de mim, talvez eu devesse investigar cristianismo mais cuidadosamente,
talvez eu devesse... talvez mahāyana seja mais...
não tenho certeza sobre o Ajahn Sumedho,
o que eu faço em seguida? Devo concentrar na minha respiração ou ....
Não foi o que ele disse? Quando você ganha um certo nível de concentração você chega a atenção pura, o que significa isso?"
Dúvidas. Dúvidas. Então, você não é isso.
Dúvida, esse estado de não saber algo.
Na nossa mente nós estamos acostumados a saber coisas.
Nós tendemos a evitar dúvidas ou assim que uma dúvida surge na mente nós tentamos encontrar a resposta.
Você quer tudo decifrado "eu faço isso, então faço aquilo, então eu sei exatamente o que fazer."
Mas se você deixar "eu não sei o que devo fazer em seguida..." você se sente muito incerto, inquieto, inseguro, e nós não gostamos disso.
Nós queremos respostas definitivas, tudo definido, claro, clarificado, enumerado em detalhes, esse estágio, o próximo, etc.
"Onde eu estou agora como praticante? O que já alcancei, já alcancei alguma coisa?
Será que alcancei algo? Eu vou perguntar ao Ven. Sumedho 'já alcancei alguma coisa?'"
Eu costumava tentar espremer informações de Ajahn Chah, era inútil.
Ou eu tentava ludibriá-lo a dizer algo sobre minhas realizações.
Porque nós gostamos de saber, nós esperamos saber o que alcançamos, ridículo não é?
Então esse tipo de dúvida, pensar que alguém sabe de algo que você deveria saber e assim por diante.
Você traz isso para a consciência. Esse é um método muito hábil, a mente em dúvida.
Você pode usar o koan "Quem sou eu?"
Quem sou eu?
A mente fica bem vazia, não é?
Eu sou o Ven. Sumedho, não é? Eu já sei isso.
Eu não estou fazendo essa pergunta para obter essa resposta, não é? Eu já sei essa resposta.
Quem sou eu?
Há a pergunta e naquele momento se você estiver realmente atento, no final da pergunta que você perguntou
há um vazio, a mente fica em branco por um instante, não é?
Quem sou eu?
Vazio.
Naquele instante não há nada na mente.
Então você começa "Bom eu sou... como assim 'quem sou eu', o que é que eu deveria ser?" Começa de novo.
Então você "Quem sou eu?" e você ouve aquele vazio, o ponto onde não há pensamentos.
Continue concentrando naquilo, e trazendo aquilo à tona, sendo plenamente atendo àquele ponto em que a mente está vazia.
Quando se fala sobre a mente vazia as pessoas "O que isso significa? Eu acho que nunca experienciei vazio,
talvez seja algo sobre suññata, o que eles querem dizer com isso?"
É claro que a mente não está vazia quando você pensa "O que eles querem dizer com suññata?"
Você está ocupado procurando uma resposta e então você não nota o vazio, não é?
Você pensa que há uma resposta, algum tipo de resposta para isso.
E você se sente muito desconfortável "O que ele quer dizer? Certamente não é isso,
eu tenho que desvendar, descobrir, talvez eu deva ler mais livros sobre Zen ou algo do tipo..."
Você lê todos os livros Zen e ainda sua mente não está completamente vazia e você ainda não entende.
"Eu não entendo o que esses budistas do Zen estão falando."
"Eu não entendo o que esses budistas do Zen estão falando, eu li todos esses livros falando sobre vazio
o som de uma mão batendo palmas e qual é seu rosto original e ainda continuo questionando, para que isso?"
É porque nós ainda estamos procurando por algo, aquele vazio é....
As pessoas têm esse desejo desesperado por coisas definitivas, tudo definido e clarificado
e têm muita fé em respostas e conceitos, acham o vazio ameaçador...