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Vou pegar. Vou fazer mais fácil.
- Está perto. - É.
Pô, eu lembro!
Você se lembra quando ouviu
o som do outro pela primeira vez? O que achou?
Então, eu lembro perfeitamente, né?
Eu fui no Ó do Borogodó, ver vocês tocarem.
O Mauricio Takara que tinha falado:
"Ó, tem um cara que toca lá,
eu tenho certeza que você vai gostar muito."
Fui lá e depois comecei a virar frequentadora ***ídua.
E eu acho que foi um...
Ah, sei lá, foi uma das...
Tipo, você é uma grande influência mesmo.
Influência mesmo.
E daí, quando a gente começou a trocar ideia lá no Ó,
e conversar,
daí já fui atrás, comecei a ouvir as coisas.
Depois te chamei para vocês cantarem no meu disco.
Eu fiquei viciada no Pastiche Nagô durante muito tempo,
no Padê durante muito tempo.
Ficava tipo, não tinha perdido o meu IPod ainda.
Aí eu ficava vindo do ABC, escutando isso.
Sei todas as músicas de cor se precisar,
só não sei cantar as melodias direito.
Mas pra mim é isso.
Sou fã geral.
E continuo, do que está rolando atualmente também.
Idem. Também, idem.
Nossa! Uma, duas, três...
Vamos lá.
Pô, não tem uma: "Kiko, não sei o que lá"...
Ah, tem!
Qual a influência de ritmos africanos na sua música?
- Workshop agora, hein? Vai. - Quase nada, não sei.
- Não tem mais! - Não tem.
Não sei.
Porque esse negócio de África não foi uma coisa que eu escolhi, né?
Eu gostava de samba e fui xeretando o que veio antes, né?
E eu, numa determinada época, comecei a achar
o samba muito sem suingue.
Não estou falando dos mestres, né?
O samba hoje, feito por jovens.
Essa onda de retomada de samba feita por jovens.
Está um pouco "caretão" mesmo.
Os caras ficam copiando os discos
da década de 70, do Cartola.
E eu comecei a ficar meio: "Pô, mas esse samba tá muito duro".
Comecei a achar que estava muito sem suingue.
E comecei a pesquisar, não pesquisar, odeio essa palavra,
mas comecei a xeretar: o que veio antes aí?
Se o João da Baiana está cantando, isso aí é macumba?
Vou dar uma olhada.
E comecei a xeretar, mas não foi nada programado.
"Vou pesquisar música africana".
Mas eu acho que a influência africana
acaba entrando muito pela religião também.
"Podicrê".
Porque eu fui me envolver com candomblé
e uma coisa foi puxando a outra.
Muita música no candomblé, muita dança, muita cultura.
Aquilo vai se alastrando no imaginário.
No samba da sambauba Onde quiabo baba
Pau de imbaúba Enraba o sabal-de-cuba
Fruta podre que aduba A raiz da goiaba
Vai sem tumba ou mastaba, Encarna a carnaúba
Jurubeba derruba E quem bebe desaba
Se a bebida é da braba, Eu só peço não suba
Jurubeba derruba E quem bebe desaba
Se a bebida é da braba, Eu só peço não suba
Adoece em Aruba E se cura em Uberaba
Pira em Piracicaba Se procura Ubatuba
Pé que cabe em baú, Bate bota na aldraba
Nem Bacongo se gaba No lado do Luba
Eu passo o maço amassado Que "cê" me oferece
Sou ***, quero esse pedaço Que a *** merece
Eu passo o maço amassado Que "cê" me oferece
Sou ***, quero esse pedaço Que a *** merece
Tem quem chupa a manjuba E quem chupa a mangaba
Já jabuticaba Nunca acaba em jujuba
Bom chapéu tapa a juba E leão tapa na aba
Nem cata a catuaba Quem tem gato na tuba
Jurubeba derruba E quem bebe desaba
Se a bebida é da braba, Eu só peço não suba
Jurubeba derruba E quem bebe desaba
Se a bebida é da braba, Eu só peço não suba
A cachaça com cataia Cá na Cananeia
Ode para a epopeia E rema na piúba
Pouco cocho pro azeite Dessa azaleia
Muita coxa acochada Faz um chá cutuba
Eu passo o maço amassado Que "cê" me oferece
Sou ***, quero esse pedaço Que a *** merece
Eu passo o maço amassado Que "cê" me oferece
Sou ***, quero esse pedaço Que a *** merece
Que a *** merece
Quando falam em música brasileira hoje,
eu penso sempre em rap.
É o que mais me dá
um cheiro de coisa nova, né?
Tem a Lurdez e tem essa molecada que está vindo aí.
- Flora Mattos, Homicida. - Eu gosto também.
Eu gosto muito desse pessoal do rap.
Eu gosto muito de um menino chamado Ogi.
- Já ouviu esse moleque? - Já.
O Ogi é legal, cara. Contador de histórias também.
Tem alguns compositores que...
É estranho porque são parceiros,
são pessoas que estão próximas,
é difícil falar: "Ah, um negócio novo que eu ouvi".
Eu acabo falando isso porque está próximo
e conheço o trabalho mais de perto, né?
Que é o caso do Rodrigo Campos,
da Alessandra Leão.
São as pessoas que mais me empolgam ultimamente.
Eu concordo com ele nesses dois casos também.
Ouvi bastante discos tanto da Alessandra quanto do Rodrigo.
Ela nem lançou disco ainda,
mas o MySpace da Luisa Maita eu achei legal,
da Tulipa Ruiz, o show é incrível.
Bom, eu queria pegar uma que está lá no alto,
mas aí eu ia ter que subir, então...
Em que parte da cidade você mora?
São Paulo é uma influência para a sua música?
É inevitável, né?
Eu já morei em vários pedaços de São Paulo.
Agora eu moro na Avenida Pompéia mesmo.
São Paulo é o que mais me influenciou
a começar a escrever, na verdade.
Agora que eu estou tentando falar de outras coisas,
de outros tipos de sentimento,
mas no começo era só descrição
da cidade mesmo.
Bom, eu...
Eu sou paulistano de nascença, mas não me considero paulistano.
Minha família mudou para Guarulhos desde os meus seis meses.
Então não me considero muito paulistano.
Na questão musical,
a coisa de São Paulo na minha cidade.
De ter essa coisa da cidade na música,
eu estou cada vez mais tentando
jogar, fazer a cidade engolir o personagem, assim, sempre.
Que é uma coisa que o Adoniran já fazia, né?
O Adoniran pode contar qualquer história.
Mas tem alguma cena da cidade ali que engole a história.
Pode ser uma história de amor, uma desilusão amorosa,
mas tem um detalhe ali que ele fala da rua tal, ou...
- Sim, sim. - Né?
E em quase tudo na obra do Adoniran, ele fala isso.
Acho que por isso que ele é o compositor de São Paulo.