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Quando olhamos para esta gravura, imediatamente percebemos tratar-se de Adão e Eva.
Eles estão em uma espécie de Éden, embora ao invés de um jardim, Albrecht Dürer
tenha representado uma densa floresta rodeada por rochedos. Uma paisagem alpina.
Dürer foi um artista muito detalhista e um dos primeiros
a realmente estudar a natureza: os detalhes do corpo humano,
das árvores,
dos animais.
Eva estende sua mão à Árvore do Conhecimento
que é de fato uma figueira na qual a cobra se enrosca.
Você fica envolvido nos detalhes:
a cabra que oscila no topo do despenhadeiro,
o papagaio,
o boi,
o gato e o rato
e o coelho.
Ao acompanhar o braço de Adão que segura um freixo,
vê-se uma grande placa em latim que diz:
"Feito por Albrecht Dürer, de Nuremberg, em 1504". E você começa a entender
que Dürer não estava realmente nos contando a história de Adão e Eva.
Esta obra é um anúncio que ele criou para exibir sua própria habilidade artística.
Quando vemos a obra no Museu, ela está em um lindo passe-partout,
mas ao vê-la fora da moldura,
começamos a entender do que se tratava originalmente: uma mercadoria.
Dürer contratava mercadores
para vender suas gravuras por toda a Europa e algumas chegaram até mesmo à Índia.
Diferentemente das pinturas, estas não eram coisas estáticas,
elas moviam-se na sociedade.
E Dürer realmente queria anunciar a pessoas de diversas culturas e origens
que ele era um artista renascentista alemão e que isto era o que ele podia fazer.
Uma vez eu tentei fazer um entalhe e não consegui fazer sequer uma linha.
É preciso uma quantidade enorme de força e talento.
Há milhares e milhares de linhas que têm de ser feitas para preencher essas áreas escuras.
Ele empenhou quatro anos de trabalho nesta gravura,
quatro anos tentando aperfeiçoar
as proporções de cada segmento do corpo
com extrema precisão.
Ele fez Adão,
esta figura robusta, baseando-se no Apollo Belvedere,
que era parte do vocabulário renascentista.
A Eva está mais próxima do ideal feminino da Idade Média,
com quadris largos e seios pequenos.
E esta era a tradição de seu tempo, na qual ainda estava imerso.
As gravuras me interessam porque elas circulam na sociedade.
Esta foi a primeira gravura que vi a olho nu e, para mim,
este foi um momento de revelação de que a arte atravessa os tempos.
Quando olho para sua gravura, Albrecht Dürer conversa comigo através dos séculos
e me ensina a ler sua própria imagem.