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O Instituto Politécnico de Leiria, sobretudo ao longo desta década,
tem procurado desenvolver um conjunto de infraestruturas,
um conjunto de meios e materiais que permitam que os estudantes,
em particular os estudantes com necessidades educativas especiais,
encontrem na nossa instituição
todos os meios que lhes permitam fazer a sua formação com qualidade
e em condições equiparadas aos restantes estudantes.
Acho que houve dos dois lados.
Houve professores fantásticos que compreenderam e tentaram ajudar,
que desenvolveram técnicas diferentes e que sempre me deram grande apoio.
Houve duas ou três pessoas que disseram:
"Pondera bem se é isto." "Será que vai resultar?"
Mas até essas pessoas foram importantes.
Foi a partir desse "se calhar não vai resultar"
que eu reuni todos os esforços para que resultasse e fosse possível.
O "não vai conseguir" acabou por, com toda a ajuda dos amigos e do SAPE,
se tornar numa motivação extra para vencer as barreiras.
Acho que ser disléxico, ou ter dislexia, não é impeditivo de nada.
É uma arma extra que temos para lutar.
Foi um ambiente completamente novo, mesmo em termos do ritmo das aulas,
mas acho que isso acontece com todos, não só comigo,
embora pense que, no meu caso, se acentue um bocadinho mais
porque havia certas matérias que na aula não conseguia perceber.
Mas felizmente, eu quando aqui cheguei
tive logo toda a ajuda e apoio por parte dos professores,
a coisa facilitou bastante.
Mais eu não podia pedir.
Todos os materiais foram fornecidos em formatos acessíveis,
também tive alguns textos em braille,
e tive apontamentos mais específicos em braille,
e sim... e que ajudou bastante.
Não falta nada por parte do IPL.
Acho que me dão tudo o que preciso para ter sucesso, claro.
O primeiro problema que eu tive é que nem tinha tido formação
nem tinha lidado com esse tipo de problemas.
Portanto, tive que perceber
eu e os meus colegas tivemos que perceber
quais eram as dificuldades, como esse tipo de alunos funcionava,
perceber quais eram as dificuldades que eles tinham,
a forma como estavam habituados a aprender.
No processo de ensino e aprendizagem como é que eles funcionavam
e como eles estavam habituados a lidar com...
como é que estavam habituados a que lhes administrassem os conteúdos
e lhes ensinassem... No fundo tentar adaptar.
Foi perceber como eles funcionavam. E tentar ir adaptando.
Adaptando tudo isto para um ensino "inclusivo",
em eles estão na mesma sala de aula em que os outros estudantes estão.
Não foi criado nenhum conteúdo especial para os alunos cegos.
O que foi feito foi pegar nos conteúdos que já existiam
e torná-los acessíveis e utilizáveis tanto para cegos como para não-cegos.
O mesmo conteúdo dá para uns e dá para outros.
A ideia foi essa.
A conclusão a que chegámos é que este tipo de alunos
para além da aula normal,
precisam de um apoio tipo tutoria suplementar.
Não só a esta unidade curricular
mas de uma maneira geral em todas as outras unidades curriculares.
É verdade. O ano passado foi um ano bastante difícil
porque houve alguns problemas de comunicação.
Alguns professores ainda não tinham essa sensibilidade
de escrever os exercícios no quadro.
Tive que ultrapassar bastantes barreiras e dificuldades.
Tive apoio tutorial com os professores,
também conversava por e-mail com os professores,
ajudavam-me com os trabalhos da forma mais correta.
Quando os trabalhos ainda não estavam muito bem,
os professores enviavam novamente para corrigir
e entregava da forma correta.
Para me sentir melhor,
eu gostava de ter um intérprete a tempo inteiro,
para perceber melhor as matérias.
Quando o professor escreve a matéria no quadro
também me ajuda a compreender melhor o raciocínio que está a ser feito.
Ou seja, torna a aprendizagem mais coerente e mais leve.
Os professores precisam dar mais exemplos do que estão a explicar
para eu conseguir entender o que se passa.
Quando comecei a trabalhar com os surdos no Politécnico de Leiria,
em 2007,
para os professores era novidade ter uma aluna surda no seu grupo de alunos.
Tudo funcionou com a sensibilização dos professores,
com uma pequena reunião,
em que explicava... alguns métodos
que os professores podiam adotar dentro da sala de aula,
quando o intérprete estivesse presente
ou quando o intérprete não estivesse presente.
Apenas apelava à compreensão,
não só dos docentes mas também dos alunos dos vários cursos,
que possam ter alunos surdos como seus colegas.
Tenham compreensão.
E por estar mais uma pessoa dentro da sala de aulas
não significa que aquele aluno seja beneficiado.
Todos nós somos diferentes.
Um dia alguém disse que "ser diferente é ser especial."
E é isso. É acreditar que é possível, sempre.
E, muitas vezes,
as nossas limitações tornam-se ferramentas importantes para a vida.
Por isso, seja o que for, dislexia, qualquer outra coisa...
é sempre possível vencer as dificuldades,
basta nós acreditarmos nisso e lutarmos para que aconteça.
Para os alunos, eu digo: "sigam o vosso sonho, não desistam!"
Lá por vos dizerem que é difícil ou impossível, não acreditem.
É possível! Basta que trabalhem e se esforcem.
Para os professores: "não é um bicho-de-sete-cabeças."
Dá algum trabalho. Sem dúvida.
E eu reconheço que dá,
que lhes dei trabalho este semestre, e que vá dar para os próximos.
Mas é possível algumas alterações, e se forem a ver, não é muito diferente.
Tem que haver... não só um...
É a sensibilização, tem que haver o empenho.
As pessoas têm que mentalmente interiorizar
que vão ter de investir tempo, não é perder tempo, é investir tempo,
porque são horas e horas a adaptar conteúdos,
a repensar estratégias de dar aulas,
desde o receber o estudante, a elaborar o seu horário,
a ter que se preocupar com as deslocações minimizando-as,
aos conteúdos...
É uma logística complementar a toda a logística que já existe,
e tem que ser prevista.
Eu falo em concreto dos alunos cegos,
Os outros terão outro tipo de necessidades.
Acabou por, naqueles casos, as pessoas todas se empenharem,
perceberem, que também é preciso perceber,
e depois a coisa acabou por correr bem,
e felizmente também os estudantes estão a gostar,
e estão a ter sucesso, o que também é importante.