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A vida de uma ave no País de Gales pode parecer a existência mais agradável
que poderia desejar.
O que poderia ser melhor do que estar num ramo,
a cantar alegremente todo o dia sem nenhuma preocupação no mundo?
E, é claro, possuir aquela capacidade de voar.
Para qualquer lado que queira, totalmente gratuito.
Uma vida feita nos céus.
Tudo isto, mas...
As aves têm de trabalhar desde o amanhecer até ao anoitecer.
Elas têm de encontrar alimento e água para sobreviverem.
Se não o fizerem, morrerão.
Elas têm que lutar contra os elementos.
Sobreviver, especialmente durante o Inverno, é extremamente difícil.
Durante a Primavera, estão ocupadas a criar as suas novas famílias.
Nessa altura, elas não têm só que encontrar alimento para si próprias,
mas também para as suas crias esfomeadas.
Elas têm que proteger as suas crias de outros que as pretendem prejudicar.
E elas próprias poderão ser alvos.
E, é claro, elas têm que sobreviver junto de nós.
Elas têm de encontrar uma maneira de sobreviver na nossa paisagem artificial.
Nesta série, eu irei descobrir
como é que é realmente a vida de uma ave no País de Gales.
Irei descobrir a grande variedade de espécies que temos aqui.
E irei investigar as suas vidas secretas.
O planalto de Traeth Mawr em Brecon Beacons.
Amanhece numa manhã fria de Abril.
O pico mais alto de Beacons, Pen y Fan, observa-se à distância.
Esta primeira hora está viva com sons.
O dia começa cedo para as aves.
Quando o sol nasce e a neblina eleva-se,
as aves são reveladas em toda a sua glória.
Neste episódio, irei explorar a vida secreta do canto das aves.
Não existem muitos locais no País de Gales
onde encontramos uma área tão preservada como esta
e com uma variedade incrível de habitats.
Aqui temos a erva alta, temos o tojo,
temos as montanhas por trás de mim, temos o sapal,
e temos as colinas cobertas de fetos ali também.
E temos imensas aves aqui.
Pode identificar todas elas através dos seus chamamentos e canções.
Esta é uma ferreirinha.
Uma felosa musical.
E uma felosa dos juncos.
Todas estas aves são machos e cantam para marcar o território.
E no seu território,
eles escolheram o maior ramo e o arbusto mais alto para cantar.
Aqui ouve-se este tipo de chamamento irregular por entre o tojo.
Trata-se de uma felosa dos juncos que acaba de regressar de África.
Aqui há lavercas na erva. Aqui há petinhas dos prados.
Aqui um par de maçaricos reais.
Aqui uma felosa musical agora a ir embora.
Até um cuco a cantar numa encosta ali ao fundo.
O melhor de todos, eu acho, encontra-se aqui nesta área pantanosa e húmida.
Trata-se de uma ave chamada narceja
e emite uma espécie de chamamento do género tic-tac-tic-tac.
Mas ela também possui uma exibição, onde não usa o seu bico,
ela usa realmente a sua cauda.
Ela empurra para fora estas duas penas exteriores da cauda,
e quando desce, ela imite este som incrível.
Este é o chamamento tic-tac da narceja.
A narceja emite chamamentos algures no solo.
É alto o suficiente para atrair uma fêmea ao seu território.
E então, ele exibe-se.
O movimento do vento através das suas penas exteriores da cauda
criam este som único.
Estamos em Bute Park, Cardiff.
Aqui também, o dia começa cedo para as aves.
Este é um tordo comum, um dos nossos melhores cantores.
Ele repete sempre uma frase, pelo menos duas vezes.
É importante cantar cedo
para ser o primeiro a atrair a atenção de uma fêmea.
Além disso, o seu canto viaja ainda mais no parque
no relativo silêncio da madrugada
do que se o fizesse mais tarde.
Muitas das nossas aves começam realmente a cantar no meio do Inverno.
Isto é óptimo, porque não há folhas e assim consegue observá-las.
Uma das primeiras e também a mais pequena é a carriça.
Agora ouve-se um canto afastado aqui.
É uma das nossas aves mais pequenas e mesmo assim possui uma canção incrivelmente alta.
Eu penso que é tudo pulmões porque ela não começou a cantar,
absolutamente explode.
Esta aqui abana as suas asas assim.
Ela possui um rival num lugar próximo
e ela está a tentar parecer-se maior do que realmente é.
Aves barulhentas. Eu gosto de carriças.
Tee-cher-tee-cher-tee-cher. Consegue ouvir isto?
Este é um chapim real. Está um aqui,
e ali está outro a responder.
Trata-se de uma ave comum dos jardins e bosques
e ainda assim, olhamos para ele mais de perto e é impressionante.
Verdes e amarelos e pretos e brancos.
A canção é interessante.
Descobriu-se que os machos com as canções mais longas e intricadas
são os mais bem sucedidos a atrair um parceiro.
Então o que eles fazem é, roubar pequenas partes das canções de outras aves
e incorporam-nas na sua própria canção.
Mas eles possuem sempre o elemento tee-cher-tee-cher.
Existem muitos aqui.
Os pica paus malhados grandes também estão a atrair-se uns aos outros,
mas eles possuem um método diferente.
Eles martelam.
Esta é uma fêmea. Tanto os machos como as fêmeas martelam.
O macho possui uma mancha vermelha no seu pescoço.
E como todos os bons bateristas, eles selecionam o melhor tambor.
Aquele que irá fazer mais barulho.
Embora os cantos das aves possam ser complexos e variam dependendo da espécie,
algumas aves contentam-se com uma forma mais simples.
Esta pequena ave está a cantar sobre Ceibwr Bay, próximo de Cardigan
na costa norte de Pembrokeshire.
Quando pensamos no canto das aves,
temos a tendência de pensar em canções realmente harmoniosas como as canções melodiosas
dos piscos e dos melros ou até mesmo da laverca.
Mas nem todas as aves cantam assim. Este é um papa amoras comum.
Trata-se de uma pequena felosa que viajou até aqui vinda de África.
Ele começa a cantar a sua canção no seu poleiro assim que chega aqui.
Neste caso, canta num velho pedaço de silva.
A sua canção é o que poderíamos chamar, na melhor das hipóteses, uma canção estridente.
Mas, obviamente, funciona
porque ele possui um fêmea a nidificar sobre esta margem aqui.
Lá vai ele. Ele foi-se embora por um bocado para poder alimentá-la
antes de voltar para cantar exactamente no mesmo local.
Este papa amoras comum sortudo provavelmente possui uma das melhores áreas de território no País de Gales.
Uma residência de Verão com uma vista deslumbrante.
Algumas aves não possuem tanta sorte. Até as aves muito especiais.
Esta é uma felosa do mato. É uma das aves mais raras do País de Gales.
E a sua residência localiza-se em Port Talbot.
A felosa do mato parece muito diferente
de qualquer outra ave pequena que podemos observar no País de Gales.
O ponto de vista não importa.
O que é mais importante é que ele encontrou uma pequena parte de habitat perfeito,
onde ele pode cantar e nidificar.
Mas ele terá de cantar muito alto acima do ruído do trânsito
e isto é algo que todas as aves urbanas têm de se acostumar.
Isto é Betws-y-Coed no norte do País de Gales.
É de manhã cedo e a A5 encontra-se muito movimentada.
No parque, as aves também se encontram muito ocupadas.
Um tordo comum canta ali em cima.
Canta com o seu pequeno coração a partir do topo daquela árvore.
Ele irá fazer isto durante a Primavera e o Verão.
O problema é que ele decidiu nidificar numa cidade,
por isso tem de competir todas as manhãs com o tráfico.
Pesquisas demonstraram que as aves urbanas possuem canções mais altas
para compensar este ruído.
As canções também podem ser muito diferentes das canções
das mesmas espécies que habitam no campo.
Nem todas as aves cantam a partir de um poleiro.
Algumas aves galesas vivem em habitats
onde não existem árvores ou poleiros adequados para cantar.
Estas são as dunas de Gronant perto de Prestatyn no norte do País de Gales.
Aqui, as lavercas reproduzem-se durante a Primavera e o Verão.
Eu não acho que muitas canções possam competir com a canção da laverca.
É um tempo ocupado para elas.
É Primavera e os machos estabelecem os seus territórios.
Eles perseguem-se uns aos outros.
Tudo o que fazem é cantar e subir e subir e subir e cantar e cantar.
É como uma competição para saber qual é que consegue realizar
a canção mais complicada e subir mais alto.
É importante que eles façam isto porque o território que estabelecerem
terá de sustentar, não só a eles, mas também uma companheira e uma família.
É por isso que há muitos aqui. Há dezenas deles.
Eles irão cantar durante todo o caminho através da Primavera até ao Verão
e no Outono também. É um som encantador.
As lavercas incorporaram as suas canções com uma exibição aérea.
Os machos atraem as fêmeas literalmente caindo do céu.
Eles irão fazer isto várias vezes
mesmo quando já encontraram uma fêmea, para a manter, e ao território.
Desde criança, que sou fascinado por ninhos de aves.
Um muro como este é ideal para um pisco ou uma carriça.
Devido a esconderem muito bem os seus ninhos, uma das melhores maneiras para os encontrar
é ouvir um chamamento de alarme.
Um chamamento de alarme é diferente para cada ave, mas eles são semelhantes.
São altos, muito ásperos e, muitas vezes interruptos
um pouco como uma metrelhadora.
Quando ouvir isto, saberá que o ninho não estará muito longe.
O chamamento de alarme serve para vários propósitos.
Avisa-me para não me aproximar.
Além disso, alerta outras aves que existe perigo na área.
Serve também para avisar a companheira, que está a incubar os ovos ou os juvenis,
para ficar quieta, calma e para não denunciar a localização do ninho.
Todos ouvimos este, um melro chateado.
Geralmente é um gato ou uma pessoa a caminhar debaixo da sua árvore.
É ilegal aproximar-se de um ninho de falcão peregrino
pois trata-se de uma espécie protegida.
Mas o falcão peregrino logo o avisará que se encontra demasiado perto.
Esta é uma situação interessante numa floresta perto de Harlech.
Um casal de trepadeiras azuis assumiu residência num buraco antigo de um pica pau.
A trepadeira azul no ninho é alertada por um chamamento de alarme do seu companheiro.
Um pica pau é agora um hóspede indesejável quando se aventura perto demais.
O casal de trepadeiras azuis dá o seu melhor para o afugentar.
Eventualmente, o pica pau recebe a mensagem.
Este tentilhão tem um ninho próximo.
Está e emitir um chamamento de alarme agudo.
Possui uma frequência muito alta e é muito difícil para nós conseguir ouvi-la.
Mas a mensagem é dirigida para as suas crias.
Um aviso para permanecerem quietas e não denunciarem a localização do ninho.
Todos estes chamentos são um sistema de alerta
e são essenciais para ajudar as aves a escapar do perigo.
Algumas aves possuem chamamentos que são tão complicados,
como se elas tivessem a sua própria linguagem.
Esta é a floresta de Newborough na costa oeste de Anglesey.
Trata-se de uma das maiores plantações de coníferas no País de Gales.
Durante o Inverno, cerca de 800 corvos dormem todas as noites nesta floresta.
É uma das maiores concentrações de corvos da Grã Bretanha.
Os corvos possuem a mais ampla série de chamamentos de qualquer ave.
Durante o dia, eles alimentam-se de cadáveres,
e regressam aqui ao anoitecer para a segurança e calor da floresta.
Quando eles chegam e ocupam os seus poleiros nas árvores,
os chamamentos que fazem uns aos outros são fascinantes.
Estou escondido debaixo das árvores, exactamente nos limites do dormitório.
O dormitório principal encontra-se à minha esquerda, mas há aves a vocalizar aqui à minha direita.
Ouçam estes sons.
Dizem que os corvos possuem mais de 30 chamamentos diferentes
e eu bem posso acreditar.
Realmente é uma espécie de linguagem.
Uma linguagem que não compreendemos, mas uma linguagem, no entanto.
Constantemente a comunicarem uns com os outros.
Alguns destes sons são tão estranhos.
Deve haver uma razão para os corvos possuirem chamamentos assim.
Eles simplesmente não emitem chamamentos por diversão.
Por enquanto, é um mistério. Nós não entendemos a sua linguagem.
Existem boas evidências, eles talvez compartilhem informações
sobre fontes de alimento.
Um corvo não consegue defender uma carcaça sozinho.
Mas consegue se fizer parte de um grupo.
Acredita-se que o volume e a natureza de um chamamento
talvez forneça informações sobre a localização, distância
e o tamanho de algo a descobrir.
Ao compartilhar essa informação, eles poderão regressar juntos no dia seguinte
para beneficiarem do alimento.
Em todo o País de Gales, fabulosas visões de bandos em voo são comuns,
especialmente ao longo da costa.
E nesses bandos, as aves chamam-se frequentemente umas ás outras.
Estas limícolas estão próximas do Estreito de Menai.
É um lugar onde poderá ouvir uma fabulosa variedade de chamamentos.
Estes gansos do Canadá estã a descolar do Estuário de Nevern.
As gralhas de nuca cinzenta são particularmente barulhentas.
Estas regressam ao seu dormitório perto de Llanelli.
Mas a exibição mais impressionante de comunicação no País de Gales,
tanto em termos de som e visão, é aquela realizada pelos estorninhos.
Estes chegaram a Aberystwyth para passarem a noite no cais.
Oh! O céu aqui está cheio de estorninhos.
Para atrás e para a frente. Observá-los a chegar ao dormitório é realmente hipnótico.
Esta enorme forma muda constantemente o tempo todo.
A vantagem do cais Aberystwyth é ser tão baixo.
Isto significa que a exibição passa directamente sobre as nossas cabeças.
E também, poderá ouvi-los.
Se ouvir atentamente, todas estas asas batem ao mesmo tempo.
Eles chamam-se uns aos outros constantemente.
Por estarmos tão perto deste espetáculo aqui,
sentimo-nos parte dele.
Aqui estão eles de novo, observem isto! Uma onda de estorninhos a chegar.
Oh, uau!
Ao anoitecer, chegam milhares. Talvez 20.000 ou mais.
Ninguém sabe ao certo porque é que os estorninhos fazem isto,
mas eles estão certamente a comunicar uns com os outros por qualquer razão.
Eles estão constantemente a chamar.
A exibição em voo em si pode servir como uma necessidade social.
Eles podem estar a organizar-se nos mais fortes e mais aptos
para, eventualmente, conseguirem a melhor posição no dormitório.
Eles podem movimentar-se assim para se protegerem
de aves predadoras.
Podem simplesmente estar a verificar o dormitório antes de pousarem.
Seja qual for a razão, trata-se de uma visão impressionante.
Eles continuam a emitir chamamentos e a conversar após o pouso.
Assim que cada ave encontra o seu poleiro,
dificilmente existe um único lugar livre.
Amontoados, eles mantêm-se aquecidos.
As aves que se encontram no centro do dormitório não estarão apenas mais quentes,
mas mais seguras também.
Nenhuma raposa, gato ou falcão peregrino consegue alcançá-los aqui.
A primeira luz da madrugada na Montanha Ruabon perto de Llangollen
no nordeste do País de Gales.
O amanhecer, literalmente, encontra-se activo.
Sons estranhos podem ser ouvidos a quilómetros deste pântano estéril.
Os sons pertencem aos galos lira machos.
Eles estão a exibir-se.
Está a decorrer um concurso.
O vencedor será a ave de topo desta área.
Ele será o melhor e o mais forte galo lira.
Aquele que será escolhido pelas fêmeas.
Para ganhar o concurso, fazer muito barulho, não será o suficiente.
O melhor galo lira também tem que parecer forte.
Estas aves tornaram-se grandes e coloridas.
As suas penas corporais possuem um brilho bonito.
A cauda transformou-se num leque branco brilhante.
As sobrancelhas vermelhas possuem normalmente um quarto deste tamanho.
Elas têm sido ampliadas com sangue para torná-los mais visíveis.
E todo este visual maciço e esforço vocal servem apenas para uma coisa,
para ganhar o direito de acasalar com uma fêmea.
E para este macho, todo o esforço valeu a pena.
A necessidade dos machos em atrair as fêmeas
levou à enorme variedade das mais belas aves que temos no País da Gales.
Abibes com penachos,
pintassilgos com plumagens coloridas,
alvéolas com brilhantes coletes coloridos
e adornados faisões coloridos.
As aves macho muitas vezes mudam a sua cor de Inverno para a de Primavera.
Esta é a versão de Inverno do guincho.
Esta é versão de Verão.
Os estorninhos mudam a cor do bico e desenvolvem uma plumagem muito brilhante.
Aos mergulhões pequenos também crescem penas coloridas para a Primavera.
Tudo isto para cortejarem as fêmeas.
Esse será o meu próximo episódio da Vida Secreta das Aves.