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NO LIMIAR DA VIDA
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Emergência
Pode entrar.
Sou Professor Ellius. Falei ao telefone com Dr Karlsson.
Ele sugeriu que eu chamasse uma ambulância e viesse para cá.
- Era a sua mulher que estava sangrando? - Sim.
- Enfermeira Mari. - Sra. Ellius.
- Como está se sentindo? - Sinto dores.
- Como em contrações? - Dói, e depois para...
... aí dói de novo e sangra. - O médico vai vê-la.
- Pode se sentar e esperar. - Obrigado.
Seja forte. Vai dar tudo certo.
Vou ficar aqui com você, caso precise de mim.
Lembre-se, Cissi. Ellius espera que sua esposa cumpra o seu dever.
Você realmente quer esse bebê, Anders? Eu preciso saber.
Eu preciso saber. Não queria saber antes, mas agora preciso saber.
Não há nada que você e eu possamos fazer. Os médicos farão o que puderem.
Se der para salvar o bebê, ele decerto será salvo.
Apenas entregue-se aos cuidados dos médicos.
Um grande pacote com outro pequenino dentro.
Fique calma, Cissi. Fique calma, e tudo vai ficar bem.
Só preciso saber de sua data de nascimento.
20 de março de 1930.
Seu nome completo e nome de solteira.
Kristina Cecilia Ellius, nome de solteira Lindgren.
- Endereço e número de telefone? - Cederdalsgatan, 23.
201879.
- E qual a sua profissão? - Trabalho no Ministério da Educação.
Pode escrever "secretária".
Qual foi o primeiro dia de sua última menstruação?
Não lembro, enfermeira. Quando o médico disse para nos apressarmos...
O médico vem lhe ver assim que puder. Primeiro precisa dar entrada.
27 de junho.
- Então está grávida de dois meses? - Sim.
O médico está vindo. Pode me chamar, se precisar de algo.
Enfermeira! Enfermeira...
Enfermeira!
Está saindo!
- E então, doutor? - Teremos de lhe aplicar uma injeção.
Mas... como está o bebê?
Quero saber exatamente.
Embora já saiba.
Abortei.
Sim. Infelizmente.
Mas teria acontecido isso mesmo se tivesse chegado mais cedo.
Algo saiu errado desde o início.
Entendo.
Dá para ver o que seria?
Não, não dá.
Agora durma, Sra. Ellius, enquanto fazemos a curetagem.
Para deixar tudo limpo para a próxima gestação.
Não acho que vai haver uma próxima...
A pobrezinha está sofrendo.
Será que já sabe?
Não sinta pena dela.
Meu Deus... O que vamos fazer com ela?
Venha um pouco mais para baixo.
Ela ainda está sob o efeito da anestesia.
Bom dia, Sra. Ellius. Sou a enfermeira Brita.
Fizemos a curetagem. Vai sentir alguma náusea.
Foi um erro desde o início.
Não era para ter bebê nenhum.
Não diga nada - eu já sei.
Não tente me consolar. Não preciso disso agora.
Mas é imperativo que eu diga. Digo agora que vejo com mais clareza.
Nunca vi nada mais claro em toda a minha vida.
Esse bebê não era desejado.
O pai dele não o desejava.
A mãe dele não era forte o bastante para amá-lo sozinha.
Desse modo, não podia ter nascido, mas descartado ralo abaixo.
Ou colocado numa vidro para estudos científicos.
Eu ouvi falar de como fazem isso.
Você descartou pelo ralo aquilo que poderia ter sido o meu filho.
Eu merecia isso, pois não era forte o suficiente.
Não o amava o suficiente.
Não pode ir embora, enfermeira. Tem de me ouvir.
Raramente eu falo, mas agora preciso falar.
Não sinto náusea, apenas uma clareza sem tamanho.
Sempre soube disso.
Sabia que não seria boa o bastante.
Nem como esposa, nem como mãe.
Algumas pessoas estão predestinadas a nunca serem boas o bastante.
Não acha, enfermeira?
E sabem disso desde sempre.
Eu não via isso com tanta clareza quanto vejo agora.
Agora parece que sempre soube disso.
Quando fiquei sabendo que eu estava grávida, não fiquei feliz.
Lá no fundo, algo me dizia: "Esse bebê não vai nascer nunca."
Eu sabia que Anders não me amava.
Ele nunca me disse, claro. Ele nunca diria algo assim.
Mas eu via isso em seus olhos.
Eu vi isso em seus olhos, quando disse-lhe que teríamos um filho.
Não era nada. Não pode ser nada.
Está tudo acabado agora. Isso não há de me matar.
Vou comer, rir e dormir de novo. Já dormi e ri.
Todos vão ser tão gentis comigo agora. Flores e livros.
Faço esse tipo, sabe.
Tenho meus amigos e meu trabalho, e todas essas coisas bonitas.
Faço bordados tão lindos.
Vou ter tudo isso de volta quando sair daqui.
Aqui tudo é diferente. Posso senti-lo.
Você fica diferente aqui.
Até mesmo eu. A probre e assustada Cecilia Ellius.
Talvez não apenas ventres são abertos à força aqui.
Mas as pessoas.
Nunca vou esquecer esse momento.
Tão perto, sabe... Nunca vou estar tão perto da vida novamente.
Pelo menos foi-se por minhas mãos, pelo meu ventre.
Mas como água.
Como água.
Não deixou nenhum traço.
Minha mãe costumava fazer isso comigo. Talvez não funcione, mas é bom.
Minha mãe fazia o mesmo. É de fato bom.
- Está melhor? - Bem melhor.
Suponho que seja o efeito da anestesia.
Falei muito.
Como fui parar nessa cama?
- Parecia um boneco sem vida. - Boneco sem vida?
- Não deveria ser tão informal. - Por quê?
- Meu nome é Cecilia. - O meu é Stina.
E aquela ali é a Hjördis.
O seu marido vem lhe visitar daqui a pouco.
Não são permitidas visitas durante o dia, mas a enfermeira Brita abriu uma exceção.
Podemos sair do quarto, se quiser. Vamos dar uma caminhada.
Não é preciso.
Se eu pudesse pelo menos chorar.
Já chorou bastante enquanto estava dormindo.
Sentou na cama e chorou um tanto. Sinti muita pena de você.
Muitas coisas se passaram sem o meu conhecimento.
Mas sinto como se estivesse a par de tudo.
- Do quê? - De que o bebê não sobreviveria.
Não é assim tão incomum quando é o primeiro.
Aconteceu o mesmo com minha mãe na primeira vez, mas ficou tudo bem...
Ela acabou por se vingar. Teve sete em nove anos.
Não vou ter outro.
- Como se sente, Sra. Ellius? - Muito melhor, obrigada.
O professor Ellius vai chegar dentro de uns instantes.
- Por quanto tempo tenho de ficar aqui? - Três ou quatro dias.
Enfermeira Brita? Os guardanapos estão prontos agora.
Devíamos adiar o seu parto, assim você podia nos ajudar com essas coisas.
Mas é contra as regras. Os pacientes não podem trabalhar.
Tenho de me manter ocupada. Esse menino já está me dando nos nervos.
- Vamos chamar isso de terapia, então. - Parece-me ótimo.
Serve para que você não comece a subir pelas curtinas.
- Não me agüentaria... - Era o que eu temia.
- Há algo que queira, Sra. Ellius? - Nada, obrigada.
- Sim. Chá ou sopa. - Obrigada.
- Ele está aqui. - Seu marido já chegou.
Por favor, coloque o biombo, enfermeira Maud.
- Boa tarde. - Boa tarde.
Obrigada.
- Que delicadeza. - Delicadeza, não, Cissi.
- Não é uma delicadeza. - Fala como se a um estranho.
E não é o que é? Sempre foi gentil comigo.
Como um estranho. Alguém distante.
Não discuta. Deixe-me dizer o que quero.
Só poderei fazê-lo aqui, nesse momento.
Obrigado, enfermeira.
- Não vai tomar chá? - Vou tentar.
Não vou discutir com você. Diga o que tem a dizer.
- Mas não se estresse. - Eu queria dizer...
... que eu sei que você não me ama. - Não devíamos esperar...
- Não estava contente com o bebê. - Está cansada e triste.
- Vamos ser sensatos agora. - Sempre fiz a coisa sensata.
- Se tivéssemos gritado ao menos uma vez... - Cecilia, eu imploro...
Pode ter acreditado um dia que me amava.
Aí nos casamos, e era muito gentil para admitir que foi um engano.
Quando se deu conta de que foi um engano, se me permite que eu pergunte?
Ontem.
Enquanto subia as escadas, o sangue escorrendo de dentro de mim.
Estava com medo. Virei-me para olhar para você
- Vi a verdade em seus olhos. - Bem...
O que a verdade disse para você?
Ela disse: "Eu não amo você. Nosso casamento foi um erro."
- "Esse bebê não deve vir à luz." - Nunca sugeri isso.
- Não pode negá-lo. - Sim, posso. E nego isso completamente.
Eu...
Posso não ter ficado tão feliz quanto um pai deveria.
Fiquei preocupado com você. Mas também comigo mesmo.
Preocupei-me por nós dois, Cissi.
Era para esperarmos até que eu terminasse a minha tese.
A morte de nosso filho não é minha culpa.
Querida Cissi...
Já não temos bastante por que sofrer sem assumir essa culpa?
Não estava contente como devia estar?
Chorava à noite?
Era difícil saber se eu devia ser feliz.
Eu era feliz. Em segredo, era feliz.
Por vezes, só tinha alegria.
Pensava: "vou ter um bebê." Mas nunca ousei mostrar essa alegria.
Tinha medo de que eu não ficasse feliz também?
Ou não ousava mostrar a sua felicidade com medo de que isso fosse estragar tudo?
Desculpa.
Sou tão desajeitado.
Você não me ama. É tudo.
Sou uma decepção, um tormento. Nada do que esperava.
Não pude sequer lhe dar um filho.
Não vê como isso é uma confirmação terrível de minha inutilidade?
Tenho de libertá-lo. Quero que seja feliz.
Quer que eu seja feliz, mas e você?
Vou ficar feliz se souber que você está feliz.
Quero ir embora, Anders.
Foi o que sempre quis. Não sou uma pessoa forte.
Não fui feita para a vida.
Pelo menos, a vida de casada.
Está querendo dizer que quer que nosso casamento termine?
Quero libertá-lo, Anders.
Acho que é o que quero há já algum tempo.
Mas posso vê-lo agora com mais clareza, depois do que aconteceu.
E é mais fácil fazer isso.
Mas tudo o que construímos juntos... Tudo o que está em casa.
- Nossa mobília e livros... - Que sejam!
Deixemos isso para depois.
E depois? O que há de ser depois?
Tem de me dar um tempo.
- Não devo voltar aqui, então? - É melhor assim.
- Talvez deva levar isso também. - Deixe-me ficar com elas. Por favor.
- Cissi... - Vá agora, Anders. Vá.
Vou tomar a liberdade de ligar para a enfermeira para ter notícias suas.
- É muito gentil de sua parte. - Sabe muito bem que eu não...
- Quer que eu deixe o chá aqui? - Não, obrigada.
Sou o Dr. Thylenius. Gostaria de fazer umas perguntas.
Era saudável antes, ou já esteve hospitalizada?
Nunca estive num hospital antes.
Mas quando era jovem, tive um problema de coração.
Vamos dar uma olhada nisso, então.
Ótimo, obrigado.
Não, nada.
Quando foi a sua primeira menstruação?
Quando eu tinha dezesseis anos.
- Tem filhos? - Não.
- Já teve algum aborto antes? - Não.
Já teve alguma doença venérea? Gonorréia, sífilis?
Não, nunca tive nada disso.
Fez alguma coisa para provocar esse aborto?
Perdão. Pode repetir?
Perguntei se fez alguma coisa para provocar esse aborto.
Não, não fiz nada.
Eu queria a criança.
É tudo. Obrigado.
- Artigos Esportivos Andersson. - Posso falar com o Tage?
- Que Tage? - Tage Lindin.
- Alô? - Alô, Tage. É Hjördis aqui.
- Oi, como vai? - Não muito bem, Tage.
Vai ficar melhor quando sair daí. Espere e vai ver.
Por que não vem me visitar hoje à noite?
Permitem visitas à noite.
- Preciso falar com você. - Está louca? Num lugar como esse?
Muitas pessoas vêm aqui. Maridos, noivos e outros.
Não sou um maldito noivo.
- Mas é o pai da criança. - Vamos tratar disso quando você sair.
- Não como da última vez. Não faço. - Não como da última vez. Prometo.
O que devo fazer? O que devo dizer a eles aqui?
Ficam perguntando tudo. O que fiz e o que vou fazer.
Essas perguntas me enlouquecem.
Fique calada. Fique calada como um túmulo.
Eles não estão te forçando a nada, estão?
Anime-se. Não posso ficar aqui falando o dia inteiro.
Tchau.
Não são adoráveis?
Devíamos conversar um pouco mais. Eu tenho tempo.
- Não temos mais nada do que falar. - Vamos.
As coisas estão indo bem agora, foi o que disse a enfermeira Brita.
O sangramento parou, e não há nada mais para se preocupar.
Sente-se, por favor.
Mas...
Talvez não esteja feliz com isso. Talvez tivesse preferido que...
Bem... Não acha que casar com o pai da criança é uma opção -
- e não quer ir para a casa de seus pais.
Seus pais ainda não sabem de nada.
Gostaria de lembra a você mais uma vez o que eu disse antes.
A situação das mães solteiras na Suécia hoje -
- é completamente diferente do que foi há 30-40 anos atrás.
O Estado está aí para ajudar e proteger a mãe -
- enquanto ela luta pela criança.
Há o auxílio maternidade e regalias para a criança -
- creche gratuita e seguridade social.
Os direitos da criança são protegidos por lei -
- e a Secretaria da Infância irá auxiiá-la.
Vão garantir que receba ajuda do pai.
Há casas de apoio onde será bem- vinda antes e depois do parto.
Seria obviamente melhor se entrasse em contato com seus pais.
Você... Você tem medo de sua mãe, não é?
- Eu poderia ligar... - Não tenho medo de minha mãe.
Não se preocupe. Não faremos nada sem a sua permissão.
Mas saiba que as perspectivas em relação a isso mudaram drasticamente.
Não é nem vergonhoso nem desafortunado que uma garota dê à luz.
Pode se chamar de senhora e conseguir uma casa.
E de onde eu tiraria o dinheiro? Do banco?
Pode receber um empréstimo e ter prioridade na lista de espera.
- E como vou pagar o aluguel? - Teria de trabalhar, claro.
- E quem cuidaria da... - Há creches excelentes...
com mensalidades muito em conta para os de baixa renda.
- E à noite? Quando ficar doente? - Bem...
Algumas coisas terão de ser feitas por você mesma.
A felicidade de ter uma criança, algo por que viver...
Diga-me... Não vai tentar ver a coisa por esse lado?
Como um presente?
Algo precioso.
Algo que nem todos podem ter, por mais que queiram.
Há mulheres que nunca poderão ter um filho porque...
Está tentando me fazer chorar.
Não, minha querida. Não quero emocioná-la.
Não sou sua querida.
E quer me ver chorar, porque assim eu amoleço.
E uma vez amolecida, vai me força a falar.
- Não vamos forçar você a nada. - Vai me forçar a dar à luz.
Dinheiro daqui e dali. Casas aqui e casas ali...
"Não são maravilhosos?""
Eu os acho repugnantes. Repugnantes e repulsivos.
O que sabe sobre essas coisas? Só leu os livros em sua mesa.
Nunca esqueceu a camisinha em casa ou viu braços tatuados te prendendo.
Opa! Essa foi quase.
Você também acha que crianças são adoráveis, enfermeira Britta?
- Foi sobre isso a discussão? - Você acha?
Eu as vejo todos os dias, ano após ano.
Acho que minha opinião seria tendenciosa.
Não são extamente adoráveis. Mas há algo de especial nelas.
Têm de um tudo desde o início.
Pulmões respirando, corações batendo -
- braços se dobrando e mãos agarrando.
- Acho que são pequenos milagres. - Acho que são repulsivas.
Verdade? Nada além?
Sinto pena delas também, por terem nascido.
Para que serve chutar, gritar e dobrar os dedões?
É tudo uma porcaria, enfim. Tudo uma porcaria.
- Não é tudo porcaria. - Acho que é.
Quisera nunca ter nascido.
Quisera nunca ter nascido.
Não apenas agora. Já tinha o mesmo desejo desde criança.
E é por conta disso que está com medo de ter você mesma um filho.
Eu deveria mesmo tê-lo, quando penso o que penso?
Algumas vezes você precisa fazer certas coisas sem perguntar.
Não posso. Não posso.
Por que está me torturando com seus "Não são maravilhosos?"
Ela gostaria de ter um filho, mas não pode.
Abortou várias vezes.
Depois do último, o médico disse-lhe que desistisse.
Isso não significa que tenha de me encher o saco.
Vamos ver se sobrou café. Não tomei café hoje.
Esteve fora por um tempão.
Disseram-me que vão acelerar o seu parto agora.
Não. Quem disse isso?
- Aposto que só foi o Thylenius. - Não só. Aquela mulher também.
Você ouviu isso? Chegou a ouvir o seu pequenino deitado aqui?
Só dormindo e comendo.
Vamos lá, preguiçoso, para que mamãe fique magrinha de novo.
Venha para suas roupinhas, seus curativos umbilicais e calções.
Venha para o seu pai, que não consegue dormir à noite por sua conta.
Saia daí, seu danadinho. Seu malandrinho, aprontador!
Saia para ver a sua mãe.
Não tirou nada do armário de remédios, tirou?
Não, enfermeira. É tudo fé, esperança e amor.
Às vezes é preciso também um esforço.
- É cerveja? Vai ser a minha primeira. - Vai precisar, para engolir isso.
Óleo de rícino? Nesse caso, vai ser a minha última cerveja também.
Mas já pra dentro.
Vou tomar goles bem grandes. Assim.
Venha cá.
Um para o pai. Um para a mãe.
E um para o nosso Pai e para ninguém mais.
Uma para a avó, que nunca está triste.
E um para o avô...
... que mora numa cidade.
Um para mim, que estou sempre feliz.
E um para o menininho -
que há de ser o orgulho e a felicidade da mãe.
Já viu uma mãe tão louca quanto eu?
Não, a Sra. Andersson é a pior que já vi.
Estou tão ansiosa. Enlouquecerei se não vier logo.
O que há, Sra. Andersson?
Nada, enfermeira. Não há nada.
O que é mesmo que a bíblia diz?
"Uma espada atravessou-lhe a alma."
É isso.
Não sei de onde veio.
Mas, de repente, pensei...
... e se não quer vir à luz como deveria?
Senti uma dor me atravessar.
Por que brinquei e ri tanto?
É perigoso.
- Cantar antes... - Mas não é antes do desjejum.
É antes do jantar.
Assim não conta.
Assim não conta.
Pelos céus! Só falta meia hora para o horário de visitas.
Tome.
Devia ter sido uma cabeleireira.
Sabe com mexer com isso.
Não é tarde demais para isso, é ainda uma criança.
Assim poderia tomar conta de seu filho.
Minha cabeleireira sustenta doi menininhos.
Eles são os garotos mais bonitos em toda a vizinhança.
Não...
Como conseguiu fazer isso? Pareço estar pronta para um baile.
Guarde as minhas palavras, você tem talento para isso.
Pelos céus!
- Devo colocar pó? - Sim. Deixe-me ver o que tem.
Deixe que eu faço.
- Agora é a sua vez. - Nào recebo visitas.
Sente-se. Vamos.
Não vai ficar tão bem quanto eu, mas sei fazer uma coisa ou outra.
Vamos ver agora.
Podia se arrumar um pouco, mesmo que não receba visitas.
Além do que, não pode estar certa.
Não. Não, não...
Mantenha a esperança pelo tempo que puder.
Deixe-me ver agora.
Está melhor. E agora desse lado.
Stina não é tão estúpida quanto pensa.
E assim... É isso, minha criança.
Eu com certeza não recebo visitas. Meu marido esteve aqui de manhã.
- Mesmo assim é bom um certo trato. - Claro que sim.
Que mãe maravilhosa será.
Você também.
Olhe só - fígado guisado. Adeus para a anemia!
Tomilho. Eles usaram tomilho!
Delícia!
Quer a sua comida aqui na mesa?
Sim, por favor.
O pai mandou dizer que chegou.
Foi à fazenda pegar flores?
Sim. Arrumei um tempinho.
Achei que você e o garoto mereciam um presente de lá.
E não flores de supermercado, já que chega quando as nossas aparecem.
E vai chegar logo. Apressaram-no.
Tomei óleo de rícino. Imagine-me tomando cerveja.
Nunca te ensinei isso. Confie-lhe essa.
Ainda não aprendi. O sabor que tem...
Isso não é nada mal. Fígado.
- Está comendo, pobrezinho? - Não tenha pena de mim.
Devia ter visto o bacon que fritei para o jantar. Estava crocante.
Está aqui para ver Hjördis?
- E para a sobremesa... - Olá, Hjördis.
Olá.
Não te reconheci nessa roupa.
- Por favor, pegue essa cadeira. - Obrigada.
Todos do hospital mandam lembranças...
As flores são de todos nós.
Comprei na hora do almoço e não tinha onde colocá-las -
- de modo que precisam de água.
- Vou pedir para uma das enfermeiras. - Pode fazer isso? Só pedir?
É para isso que estão aqui. São pagas para isso.
E trouxe isso para você.
Obrigada. Não tenho essa.
- Tem licença para sair? - Quando não está sangrando.
Não está? Quer dizer...
Estava sangrando muito no trabalho.
- A enfermeira Signe disse que não vingaria. - Mas vingou.
Sou muito responsável. Se não tivesse ido ao trabalho, não teria parado aqui.
- Você teria abortado, então. - É o que teria acontecido.
Agora dão-me injeções e mandam-me deitar.
O que teria feito?
O de sempre. Comi quinino e bebi uísque.
- Pulei corda. Pulei tanto! - Sei.
E agora? O que está fazendo?
- Ei... A Benke falou que a Tage sabia... - E se eu não concordar?
Se colocar uma lona assim...
Por sobre uma estrutura como essa...
E se colocar tudo isso em cima da banheira, assim.
Não vai precisar se abaixar tanto quando for dar banho nele.
Vendem lona no armazém, e não é assim tão caro.
Então pode encomendar uma folha de compensado -
- que pode colocar em cima da banheira, onde pede colocar as mamadeiras.
Talco de umbigo, talco de bumbum, talco de cabelo...
Não, pó de cabelo não, seu tolinho.
Mas e se o compensado não agüentar o umidade?
Vai agüentar. É bastante resistente.
Fica pensando em tudo isso quando está deitado?
Sim, aí preciso me levantar para desenhar.
Fiquei ali, cheirando o seu roupão por um tempo.
Tive de abrir o armário e olhar para as roupinhas do bebê.
Aí voltei e dormi que nem uma pedra.
E sabe de uma coisa? É tão louco quanto eu.
A hora de visitação acabou.
- Adeus, então. - Adeus, mamãe.
Não se esforce muito.
Deixe de tolice.
Adeus.
Diga olá para o garotão.
Bem, é hora de desfazer a beleza. Foi curta, mas ótima.
- Precisa de ajuda para dormir? - Não tomo remédios
Pode ajudar na primeira noite. Não está sentindo dores?
- Está incomodando lá embaixo. - Era de se esperar.
Vou deixar as pílulas aqui para você.
- Acho que já teve o suficiente. - Sim.
Senti o gosto do óleo de rícino na comida, a despeito de estar muito boa.
Os fins justificam os meios, Sra. Andersson.
- Que lindas. - São de nosso terreno.
- São para dar boas-vindas ao seu filho. - Exatamente, enfermeira.
- Posso desligar as luzes? - Sim
- Boa noite. Bons sonhos. - Boa noite.
Foram alimentados pela última vez hoje.
Sinto dores no meu estômago.
Pode estar vindo hoje à noite.
Não ousaria -
roubar o sono de sua mãe.
Mas será muito bem-vindo.
Hoje à noite.
Vou querer que seja batizado na igreja e tudo.
Mesmo que o Harry não concorde.
Harry...
Ele é o melhor do mundo para mim.
Mas não compreende bem essas coisas.
- Já decidiu que nome dar? - Harry, claro.
Como o pai. Já está certo.
E Konrad, como o meu pai. Um nome e tanto, não é?
Mas isso está certo também. Depois Torsten, como o avô paterno.
Todo mundo acha que devemos chamá-lo assim.
Mas eu vou sempre chamá-lo pequeno Harry.
Ai...
Vai ser tão bom poder dormir de barriga pra baixo de novo...
Bem, meninas, é hora de naná pra mim.
Hora de naná. Era assim que minha mãe dizia.
E cochilo ou soneca.
- Boa noite e bons sonhos. - Boa noite.
Bons sonhos.
Começou, enfermeira. Está vindo.
Quanto tempo entre uma e outra contração?
Cinco ou seis minutos.
Vamos levá-la para a sala de parto.
Chegou a hora, meninas. Estou tão feliz.
E minha doce, querida enfermeira...
Veja se consegue trazer as flores amanhã. Elas são...
Não fique tão assustada, criança. Isso é maravilhoso. É a vida.
Espero que voltem a dormir.
Enfermeira Inga-Britt.
- Essa é a caminha dele? - Sim.
Está esperando um príncipe coroado?
Vá para a outra cama.
Respire fundo.
Eu tenho falado tanto que vai ser um menino.
Mas claro que vou ficar feliz, seja o que for.
- Mas acho... - Eu acho também, e depressa.
Foi rápido, Sra. Andersson.
- Como se sente agora? - Sinto-me muito bem.
Acho que a cabeça já mudou de posição.
Está empurrando durante as contrações?
Acho que sim.
Diga-me quando chegarem as próximas contrações.
Acho que estão chegando.
Respire fundo e segure a respiração.
Mova o queixo para o peito.
Empure. Assim.
Mantenha a respiração presa. Continue empurrando.
- A contração já acabou? - Não sei.
- Não consegue dormir? - Não.
É impossível. Estou completamente sem sono.
Eu também.
- Posso sentar aqui por uns instantes? - Sim.
Pegue esse cobertor, assim não vai apanhar um resfriado.
Queria poder fumar.
- Pegue um. - E se alguém aparecer?
Estamos no meio da noite. Ninguém vai aparecer.
Não sinto o gosto.
Não sinto o gosto de nada.
- É culpa dessa maldita criança. - Não a chame de maldita.
- Ela não fez nada de errado. - Não.
Mas eu fiz.
Acham que sou horrível. Eu também acho.
Acho que sou horrível.
Não quero responder assim, mas as palavras simplesmente saem de minha boca.
Eu falo mal de tudo, mas no íntimo não quero fazê-lo.
Então, à noite, quando não consigo dormir, fico tão zangada comigo mesma.
Tudo cresce e cresce.
E eu sempre acabo no rés do chão.
Tudo o que faço dá errado. Não sei o que fazer.
Droga!
Que porcaria eu fiz. Deixei cair o cigarro.
Vão ver que alguém andou fumando.
Bem, deixe que gritem comigo pela manhã.
- Quer que eu acenda a luz? - Não, eu já achei.
"Se as coisas fossem diferentes", você disse. O que quis dizer?
Se eu tivesse alguém que me amasse o bastante para querer casar comigo.
Se eu tivesse algum lugar para morar, de modo que o bebê tivesse um lar -
- então eu estaria contente por conta do bebê também.
Não como a Stina, claro.
Mas ainda assim... Do meu jeito.
Sempre gostei de crianças. Nos tempos passados.
Nos tempos passados. Quando foi isso? Há muito tempo atrás?
Fiquei cansada de trabalhar em casa. Nada acontecia. Aí eu parti.
Seus pais não podem ajudar você?
Não.
Minha mãe jamais me perdoaria. Jamais.
Essa foi a última coisa que me disse.
Ela não queria que eu partisse.
Ela temia que eu me metesse em confusões.
"Não ouse voltar para casa com uma criança", ela disse.
As mães dizem cada coisa -
- mas no fim elas sempre recebem as filhas com os braços abertos.
Não a minha mãe.
Ela sempre foi tão arrogante e metida -
apesar de o meu pai ser apenas um lenhador.
Meu pai... Não acho que se importaria tanto.
- Mas a minha mãe... - E o pai da criança?
Ele não é um pai.
Ele só quer se livrar dela.
Já fez isso uma vez.
Sabe...
Eu não sabia que era assim.
Não sabia de nada. Só fiz o que ele me mandou fazer.
Mas nunca vou fazer isso de novo. Nunca!
Prefiro me afogar do que fazer isso de novo.
Por que não saiu logo no início?
Sinto como se fosse um tumor -
- que apenas toma todo o meu sangue.
Mas é verdade o que disse.
Ele não fez nada de errado.
Penso sobre isso às vezes, à noite.
Não fez nada de errado. Não pediu para nascer.
Mas lembro-me que quando era criança já desejava sair de casa.
Pensava: "Quem decidiu que eu dvia ter nascido aqui?"
"Quem decidiu isso?"
Ainda assim, tive uma boa vida, se comparada com a que esse aqui vai ter.
Sem um pai e tudo o resto.
Quando crescer, vai perguntar:
"Por que me teve?"
"Teria sido melhor se tivesse me deixado morrer."
Ainda acho que deve falar com sua mãe.
As mães não são sempre do jeito que a imaginamos.
Elas também foram jovens e não terão esquecido isso...
Desculpe, Hjördis. O meu remédio está começando a fazer efeito.
Eu o tomei quando a Stina foi levada.
Por que não tenta dormir um pouco?
Não consigo.
Eu tento, mas isso só faz me sentir ainda mais acordada.
Sinto-me tão agitada.
Tome um remédio para dormir. Não te deram um?
Não está tomando os seus remédios?
Não deu para escapar das injeções, mas não estou tomando as pílulas.
É um bebê muito forte esse que tem aí -
- que não precisa de pílulas para ficar onde está.
Não sei qual delas é a de dormir.
Essa aqui. Lembro-me porque se parece com um foguete amarelo.
- Isso há de me fazer dormir. - Sim, tenho certeza de que sim.
Boa noite, Hjördis.
Já estou quase dormindo.
Esse bebê vai ser muito forte.
Ponha o queixo no peito, prenda a respiração e empurre mais.
Um pouco mais. Assim.
Aperte. Aperte. Assim.
Assim.
Calma. Relaxe um pouco.
Relaxe e recupere o fôlego. Deite-se e descanse.
Já saiu muito?
- Alguma pausa entre as contrações? - Não. Quase nenhuma.
- A dor já parou? - Não, ainda dói.
Meu Deus, eu não fazia a menor idéia de que isso seria tão doloroso.
Tente relaxar, Sra. Andersson.
Tente respirar devagar.
- Vou chamar o Dr. Melin. - Peça que venha logo.
Acho que vamos ter de sedá-la, Sra. Andersson.
- Há algo de errado? - Está sendo difícil.
É provavelmente melhor para você estar sedada por uns instantes.
Não use o fórceps! Vai machucá-lo!
Vou conseguir! Eu vou... Eu vou...
É para o seu próprio bem.
Por favor, conte comigo. Um, dois, três...
... quatro, cinco, seis, sete...
Bom dia.
- Já está na hora? - Já faz tempo que ouço a choradeira.
Queria saber quem está fazendo tanto barulho.
Aqui está a sua resposta. Isso vai fazer com que pare.
Oh, está faminta, pequenina. Aqui está.
Meus Deus, está pingando por todo lado.
Vamos, apresse-se.
Está trazendo as flores?
Não, apenas essas. Ela queria que viessem para cá.
- Ela já teve o bebê? - Acho que sim. Começou ontem à noite.
Ela já esteve aqui antes, mas num outro quarto.
Não, não, as mulheres não devem se comportar assim.
Engula tudinho sem pensar.
Agora dê aquele arroto.
Enfermeira Maud?
Enfermeira Brita, por favor, o que aconteceu?
O bebê faleceu.
Disseram que o parto foi muito violento para ele.
Ela estava querendo tanto esse bebê. Não é sempre que se vê isso.
- Ela já sabe? - Sim, acho que sim.
Tenho frio.
Vou pegar uns cobertores a mais para a senhora, Sra. Andersson.
O que vamos fazer?
Nada, Hjördis. Não há como ajudarmos.
É horrível...
É como se a vida tivesse morrido.
Como se nada fosse jamais nascer novamente.
Os médicos estão fazendo rondas e logo estarão aqui.
- Como vai, Sra. Ellius? - Bem, eu acho.
Estou sentindo um pouco de dor, acho.
- Já saiu da cama? - Não.
Tente sair da cama um pouco essa tarde.
Quero saber por que morreu.
Senti-me tão impotente quanto a senhora.
E sinto muito. Não havia nada de errado como a senhora -
e, tanto quanto pude observar, não havia nada de errado com o bebê também.
Mas... não era para ser.
Por mais cruel que isso possa soar.
É tudo o que posso dizer.
Mas...
Mas...
Ainda ontem estava vivo...
Senti que se movia...
ontem à noite.
Mas ele não sobreviveu ao parto.
Tanto quanto sabemos, foi muito pesado para ele.
Pode ter sido por conta de mudanças em sua placenta -
- uma vez que já estava tão atrasada.
Mas não há nada que sugira que da próxima vez não vai dar certo.
Acho que podemos dar alta à senhora -
- mas fale com a conselheira Gran primeiro; ela vai lhe ajudar.
Sim, é na sala E.
Não pode colocá-las aqui agora!
- As flores são dela. - Mas não pode. Vou falar com a Brita.
Sim. Raio-X amanhã às dez. Obrigada.
Enfermeira Brita, querem colocar isso o quarto da Stina. Não podem, sim?
Vamos colocá-las aqui, Hjördis.
Mas está tremendo de frio. Vá colocar as suas roupas; pode ir para casa amanhã.
Está horrível aqui. É como se não houvesse mais nada além de morte.
Enfermeira Brita?
Pode me emprestar algum dinheiro para que eu possa ligar para a minha mãe?
Claro.
Você poderia segurar a minha mão? Não vai demorar muito.
- Qual é o número? - Söderåsen 975.
Aqui é a enfermeira Brita, da maternidade, enfermaria 2.
Gostaria de fazer uma ligação para Söderåsen 975. Obrigada.
Enfermaria 2, Brita.
Só um instante.
975? É mamãe?
Olá, mamãe, é Hjördis.
Estou doente, mamãe. Estou no hospital -
mas me sinto melhor agora.
Mamãe...?
Estou grávida, mamãe. É por isso que estive doente.
Queria me livrar do bebê, mas não posso.
Mamãe... Quero ter o bebê, mesmo que tenha de criá-lo só.
Posso, de verdade?
Mesmo que o seu pior pesadelo tenha se realizado?
Então estarei aí amanhã. Vou pegar o trêm hoje à noite.
Adeus, mamãe.
Ouviu o que ela disse, enfermeira Brita?
"Venha o quanto antes", foi o que disse.
Não posso acreditar que a minha mãe disse isso. E eu estava com tanto medo.
Você tem dinheiro para a passagem, Hjördis?
Não, não tenho. O que vou fazer?
Posso te emprestar o dinheiro. A Sra. Gran há de me devolver mais tarde.
- Quanto é? - 27,50 coroas.
- Tenho de escrever um recibo! - Não é preciso.
Quer fazer como tem de ser. Quero fazer tudo como tem de ser.
- 50 coroas será o suficiente? - Sim, desde que chegue em casa!
Isso basta?
Se tudo der certo, enfermeira Brita, é por sua causa.
Você tinha isso consigo mema e eu acreditei em você, é tudo.
Enfermaria 2, enfermeira Brita.
Certo.
Sim. Sim, obrigada. Muito bem.
- Você e o Anders formam um bom par. - Greta...
Como uma solteirona convicta, não deveria dar palpites, mas...
Anders é meu irmão, e você sabe o que ele significa para mim.
- Deve entender. - Entender o quê?
Que mulheres como eu não devem se casar.
Somos independentes o suficiente para cuidarmos de nós mesmas.
Mas não independentes o suficiente -
- para sustentar aqueles com quem casamos.
A solidão é a nossa única saída.
O que acha que é a solidão?
Uma serenidade magnífica, uma segurança inviolável?
Isso é uma ilusão, Cissi.
A solidão de verdade é um feito.
Por sob o qual um medo contínuo perscuta.
Um medo contínuo, Cissi.
- Está preparada para isso? - Apesar de tudo, acredito que sim.
Não será o seu sentimento de culpa e sua condição física?
Essa condição física de que você está falando...
Eu queria me despedir. Estou indo embora.
- Não vamos ter tempo para... - Estou voltando para casa.
- Para a casa de sua mãe? - Obrigada por tudo.
Foi muito gentil.
Stina está dormindo. Pode dizer para ela que estou voltando para casa?
Claro, Hjördis. Boa sorte.
Bem, não pode sair-se assim como o fez ontem.
O Anders ficou devastado. Ele não compreendeu. Precisamos discutir.
Sim, precisamos discutir o assunto.
Devo dizer para ele vir aqui hoje à noite?
Peça para ele vir, se ele quiser e não estiver muito cansado.
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