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O que eu vim falar aqui hoje
É um trabalho que estamos desenvolvendo ligados na área do departamento ligado
ao CEB
onde nós
trabalhamos com ideias
de módulos simples
visando a melhoria de tecnologia assistiva. Então eu dei esse título que ficou
um pouco grande até
mas a medida que eu for passando vai ficar mais claro para entender
Inicialmente vou falar rapidamente o que a gente entende como Engenharia de
Reabilitação, que é uma das quatro grandes áreas da Engenharia Biomédica.
Basicamente, o nome já diz tudo: É engenharia voltada à reabilitação.
Mas a gente pode aprofundar um pouquinho mais, onde que entra a engenharia
e em que sentido se tem a reabilitação.
Costumo falar na disciplina de pós aos alunos que
a melhor definição é a seguinte: aplicação da engenharia
nos seus fundamentos, suas técnicas e recursos de engenharia
para
reabilitação de
deficits ou deficiências, onde entram as deficiências motoras,
relacionadas ao movimento,
as deficiências sensoriais, principalmente visão subnormal,
cegueira, surdez, audição subnormal
e também, uma época eu colocava em um slide
"cognitiva" com um grande ponto de interrogação...
E isso era uma falha, pois eu pensava: será que um dia a gente vai ter aplicação?
Eu não antevejo, não consigo ver
uma aplicação direta da engenharia
para reabilitação na área cognitiva.
E, confesso, estava enganado porque acabo de perceber, mais recentemente e onde
entra este trabalho,
Onde a gente começa
a voltar alguns trabalhos
para a área cognitiva de socialização
onde a gente está começando alguns trabalhos
com... visando
a interação com crianças com autismo
Bom, quando a gente fala "Engenharia de Reabilitação voltada a tecnologias
assistivas,
a gente tem uma visão de uma reabilitação que eu chamo de "clássica",
onde nós temos "tecnologia de ponta"
por exemplo, medir
qual o grau de deficiência motora de uma pessoa que
caminha, tentar descobrir qual é o problema, o deficit motor exato,
você monta aquele enorme laboratório
de análise de marcha, que tem um custo altíssimo, usa tecnologia de ponta
para extrair informações.
Você vai trabalhar com a tecnologia mesmo na intervenção, você vai criar uma cadeira
de rodas: oh muito legal uma cadeira motorizada capaz de subir
escadas e tudo o mais.
Vai ver o custo, você tem componentes muito caros, um desenvolvimento muito caro
um trabalho praticamente artesanal,
porque você não vende muitas unidades, pensando em termos de empresa. Então a
empresa vai desenvolver um produto,
ela tem que usar tecnologia de ponta, tenta aplicar tecnologia de ponta
que tem um custo alto
e tem que fazer um trabalho que é praticamente artesanal
para se criar isso, até porque isso demanda uma customização muito grande,
se notar as pessoas, o grau de deficit das pessoas é diferente de
uma pessoa pra outra.
Então você tem que adequar o sistema à necessidade daquele indivíduo
Então você tem um sistema que é parcialmente, vamos dizer, "de prateleira",
você pega ele pronto,
e em cima dele você tem que customizar. Esta customização custa caro.
Então você tem alta customização, muito tempo para desenvolver,
e você tem que eu chamo de baixa "diluição" de custos,
ou seja, você tem um custo de desenvolvimento
que você vai diluir dentro de uma comunidade relativamente pequena.
Então isso acaba aumentando o custo unitário
tremendamente.
E uma coisa que eu digo, há uma frase famosa, ou nem tanto, porque eu criei-a
a alguns meses atrás, é de minha autoria, o conceito talvez não
mas a maneira de colocar, eu coloco desta maneira: que não há como falar em
acessibilidade plena
enquanto o custo dessa tecnologia assistiva impedir o acesso,
aí ligando acessibilidade com acesso,
a essa mesma tecnologia
por parte das pessoas que realmente precisam dela. Então enquanto eu tiver um
equipamento
que possa resolver um problema de reabilitação
mas que o usuário não tem condições de adquirir, esse equipamento
não serve para nada.
Essa é a minha visão pessoal,
eu defendo ela com unhas e dentes,se estou errado ou não, eu não sei, mas é
a visão que eu acredito,
e é baseado nela e que eu apresento esta ideia dos novos
paradigmas.
Esses paradigmas se baseiam em algumas mudanças importantes da tecnologia nos últimos
anos.
A primeira delas é a prototipagem rápida.
Todos já devem ter ouvido falar das novas
impressoras 3D capazes de fazer peças plásticas,
peças até em materiais cerâmicos ou metálicos, mas a mais comum
é a de materiais plásticos,
que permitiu criar peças mecânicas
customizadas, realmente feitas sob medida,
com custo baixo por unidade, eu quero criar uma unidade de uma determinada peça, eu
vou lá e crio com um custo
bastante reduzido.
Placas de circuito impresso que antes eram caras de ser feitas, um processo
demorado,
hoje você desenha em
programas, software de computador gratuitos,
e existem ferramentas que, a partir dos arquivos de computador, são capazes de
gerar essas placas em
pouco tempo, em poucos minutos com custo baixo
E por fim o que a gente chama de "módulos de prateleira", hoje você já encontra
módulos que você pode usar para determinados aplicações.
O exemplo mais
clássico que eu posso usar hoje é talvez a famosa placa Arduino, que é
uma iniciativa livre,
Você compra aquela placa, ela tem um certo poder de processamento, você compra ela pronta
você compra os tais "shields", que são placas que se adaptam a ela, para a função de
periféricos que você desejar, então tem "shield" pra conexão com a internet,
tem shield pra conexão de redes wi-fi,
em redes de sensores, redes zigbee por exemplo, que é uma rede pra
uso com sensores,
pra controle de motores de corrente contínua, motores de passo
vários tipos de motores, para conexão de vários tipos de sensores também,
então você tem uma variedade de módulos prontos, você compra sensores, uma plaquinha
pronta que você pluga no Arduino e pronto, o Arduino está
lendo informação.
Então isso eu chamo de módulos "de prateleira".
Em termos de
programar sistemas, a gente está falando aqui muitas vezes em tecnologia assistiva
de um sistema
que a gente chama de "computação física". Você tem um processador, tem sensores
e tem atuadores, então são os módulos: módulo de processamento,
módulos de sensores,
módulos atuadores.
Você tem que programar esse módulo de processamento.
Antigamente a programação ficava a cargo apenas dos programadores, que aprendiam
por anos o uso de determinadas linguagens de programação, técnicas de
programação.
Hoje você tem linguagens muito simples.
"Hoje" talvez não, me corrijam se eu estiver enganado:
O LOGO era uma iniciativa de linguagem muito simples para uso educacional.
Mas falando em computação física, hoje você tem linguagens, como a própria linguagem usada
pelos módulos Arduino,
que é uma linguagem muito simples
de ser usada, há crianças de seis, sete anos, que aprendem
a programar no Arduino sem grandes dificuldades.
Existem ainda geradores de código,
quem quer partir para uma linguagem mais avançada tem a facilidade
de programas que geram partes do seu código mais avançado,
e principalmente, na minha opinião são os foruns online
que também, de novo uso o exemplo do Arduino,
onde nós temos
muitas pessoas, uma comunidade muito grande num processo colaborativo.
Então isso ajuda muito a difusão de ideias.
Outro ponto importante,
a evolução dos dispositivos eletrônicos, nós temos novos
processadores mais avançados, sensores
mais avançados,
e com tudo isto um custo muito mais baixo, se compra
uma placa Arduino
mesmo aqui no Brasil, vindo de fora com todos os impostos com um custo que é menor
do que 100 reais, vamos dizer, não vou dizer quanto exatamente, mas por menos
que 100 reais
se compra uma placa Arduino para brincar ou desenvolver uma aplicação séria, então
você tem uma redução
de custos muito grande, e os forums online, como mencionei, ajudam muito. Então
são pontos importantes:
A capacidade de criar protótipos muito rapidamente,
a facilidade de programação e de troca de ideias sobre a programação,
novos dispositivos, e custos muito mais baixos.
Então
esse é o panorama atual.
Em cima disso, podemos dizer o seguinte, e a ideia que quero passar hoje é essa,
que cada vez mais pessoas podem
trabalhar com tecnologia assistiva e podem contribuir com essa área,
porque
as pessoas já podem comprar material e equipamentos com baixo custo,
você compra um módulo que já integra um monte de funções, então
ao invés de ter que plugar
vinte módulos diferentes você pluga dois ou três, e já tem alguma coisa que você
pode testar como conceito,
você integra funções nos componentes,
e você tem muita simplicidade depois pra programar, qualquer pessoa é capaz de
aprender
a programar
esse sistema,
e com isso você não depende de especialistas para criar um sistema,
montar o sistema,
e programar o sistema.
Com um pouco de treinamento você já é capaz
de ter isto.
Outra vantagem que aparece com isso é que se consegue trabalhar mais com essa
customização, essa adequação ao individual da pessoa, sem grande aumento de
custo.
Para dar um exemplo disso, a gente fala do exemplo das próteses,
próteses de membro inferior.
Existe um componente que deve ser feito sob medida, chamado soquete,
que é aquela espécie de "copo" onde se encaixa
o segmento corporal, o remanescente
do braço ou da perna,
tem que se encaixar, tem que ser feito sob medida.
Hoje você passa um "scanner" 3D
e faz por prototipagem rápida, em menos de um dia você tem isso pronto, coisa
que demorava uma ou duas semanas para ser feito
de maneira artesanal.
O custo geral
se reduz e você consegue mais
dispositivos disponíveis no mercado, se todos vão ser bons ou não,
provavelmente muitos não vão ser tão bons,
mas serão tentativas,
se você tem
cem tentativas e você tiver uma margem de acerto de 1%,
você já tem pelo menos um dispositivo que pode causar um impacto de mercado.
Então,
com isso acho que muito mais gente pode colaborar
na criação de tecnologia assistiva
e com isso, conseguir
dispositivos que atendam a necessidades mais individuais e com um
custo que se torne acessível
ao usuário.
Esses são alguns exemplos de
manchetes
que levantei recentemente:
Primeiro, "Africano cria impressora 3D com sucata"
de informática.
Ele pegou pedaços de PC que iam ser jogados fora,
alguns motores, motores de divers de CD,
fonte de computador PC e algumas peças mecânicas,
ele criou uma impressora 3D
com a sucata
de informática.
Outra notícia: "Homem usa impressora 3D para criar prótese de mão para o filho".
Ele não é um especialista na área,
Ele fez as peças em uma impressora 3D,
adaptou no filho dele, o filho dele usa aquela prótese de mão
pra brincar, pra estudar, pra tudo.
Fez em casa.
E aí eu me pergunto, eu comecei a ter alguns problemas de identidade, onde
que eu vou me encaixar nesse futuro, onde fica o pesquisador, a gente se
especializa tanto em fazer isso,
e pensa: e se
essa tecnologia assistiva daqui a pouco
todo mundo fizer?
Onde vou me encaixar nesse mundo novo?
Aí pensei um pouco e cheguei a algumas conclusões em relação ao
papel
do pesquisador e do especialista no futuro.
O pesquisador vai ter que se concentrar em ideias
não tanto em "mão na ***", apesar de eu adorar essa parte,
a gente vai ter que começar a se concentrar um pouco mais
nas ideias,
em trabalhar em cima das ideias, até na filosofia
do processo de reabilitação das pessoas.
Segundo papel: aperfeiçoar esses recursos.
O usuário pode comprar uma impressora 3D, pode comprar um
módulo de processamento,
mas quem vai criar isso? É aí que entram os especialistas, que vão ter
que continuar
criando módulos cada vez melhores, criando
sistemas de prototipagem cada vez melhores e que
reduzam o custo, os módulos, as ferramentas, as
linguagens de programação mais simples.
Outro papel importantíssimo: colaborar
com os forums de difusão.
Vemos que
é muito importante, eu participo
um pouco do forum do Arduino, participo um pouco mais do forum de uma
empresa que fabrica
microcontroladores e microprocessadores, que tem um
programa universitário com a UNICAMP,
então eu participo do forum, troco ideias,
e a gente vê o papel que tem, como a gente
entra mais a fundo no uso
destes processadores,
como a nossa opinião ajuda as pessoas que têm dificuldades, a pessoa coloca
a pergunta: "Como eu faço isto? Estou com dificuldades.", você responde, ajuda a
pessoa,
o pesquisador ainda vai ter muita importância também em ajudar as
pessoas que querem fazer alguma coisa.
E acompanhar a criação e aplicação dessas ideias,
obviamente que não dá pra qualquer um criar qualquer coisa e sair
aplicando no usuário sem
a mínima consideração com segurança. Então acho que fatores de
segurança
também vão ser importantes para os especialistas da área: como se
aplicar corretamente essas novas
tecnologias, esses novos equipamentos que vão sendo feitos.
Queria deixar pra finalizar um exemplo
de tudo isso que eu falei, de uma coisinha que eu fiz
dentro do prazo de uma semana só com o tempo livre, que tempo livre é uma coisa que
a gente não tem muito aqui durante o semestre enquanto trabalha, então
nos intervalos de tempo
comecei a trabalhar nessa ideia e acabei desenvolvendo uma coisa que eu
chamo "PC aranha". PC vem de "paralisia cerebral",
e acho que tem um pouco a ver com o que o Prof. Valente colocou sobre
educação para crianças com paralisia cerebral,
mas o objetivo aqui é um pouquinho diferente, é trabalhar a motricidade de
crianças com paralisia cerebral,
e de uma maneira que complementa a informática,
enquanto na informática você tem um jogo,
aqui a gente tem um dispositivo, um brinquedo físico,
e aí que eu acho que
complementa a terapia de maneira muito mais lúdica para uma criança com
paralisia cerebral, que tem dificuldade de movimentos.
Chamei de "PC aranha" porque é um robozinho em formato de aranha.
O resultado disso,
ainda não experimentei em crianças com paralisia cerebral,
mas fiz uma pequena brincadeira com minha sobrinha, para evitar
problemas também de divulgação de imagem, usei gente da família
pra fazer isso.
Ela tem 2 anos.
Então a mensagem
final eu queria deixar
para todas as pessoas que eventualmente vão ver esta palestra é a seguinte:
Não esconda as suas ideias.
Muitas vezes temos ideias que são sensacionais, algumas muito malucas
na nossa cabeça, mas muitas podem dar certo. A gente acaba pensando: "Não tenho como
fazer isso".
Pesquise um pouquinho, pense na ideia, veja se não dá pra
fazer com
essa tecnologia cada vez mais acessível pra gente. Faça, experimente, se não
der certo, não deu. Se tentar algumas vezes, tenta uma, duas, tenta 10 vezes,
uma hora funciona.
Essa é a mensagem que eu queria deixar aqui
para todos, e
quem quiser entrar em contato e saber mais sobre essas tecnologias, estou
a disposição.
É isso o que eu tinha para dizer. Obrigado.