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Tradutor: Cláudia Almeida Revisor: Giuliano Giordano
Cães têm interesses.
Eles têm interesses quando se cheiram, quando perseguem esquilos.
E se não usamos isso como recompensa no treinamento, isso vira uma distração.
Sempre me estarreceu esse pensamento
de que se você vir um cão no parque e seu dono o chamando,
o dono dizendo, "Vem, bebê, vem aqui,"
e o cão pensa, "Hummm, interessante.
Estou aqui cheirando o traseiro desse outro cão, meu dono está chamando,
escolha difícil." Certo?
Traseiro, dono ... o traseiro vence.
Quero dizer, você perde.
É impossível competir com o ambiente
se você tem um cão adolescente.
Então, para treinar, sempre levamos em consideração
o ponto de vista do cão.
Hoje estou aqui porque
há um racha no que diz respeito a treinamento de cães -
por um lado, há pessoas que acham que você treina um cão,
primeiro, estabelecendo regras, regras humanas.
Não levamos o ponto de vista do cão em consideração.
Aí o humano diz: "Você tem que fazer assim, droga.
Vamos forçar você a fazê-lo, mesmo contra sua vontade."
E segundo - o cão não fica sabendo dessas regras.
Em terceiro - agora podemos punir o cão
por quebrar as regras que ele nem sabia que existiam.
Aí você tem um cãozinho - e seu único crime é ter crescido.
Quando era um filhotinho, colocava as patas na sua perna -
e você não achava lindo?
Você dizia: "Isso, bom menino."
Você se abaixa, acaricia o cãozinho - como um prêmio por ter pulado.
O único problema é que ele é um mastim do Tibet, e alguns meses depois
ele pesa mais ou menos uns 40 quilos.
Toda vez que pula, brigam com ele.
É assustador como brigam com esses cães.
Toda essa coisa de dominação - para começar,
o que a gente consegue é essa imitação barata
de um sistema social muito complexo.
Eles levam isso muito a sério.
Cães machos seguem uma rígida hierarquia
porque isso evita as lutas físicas.
Por outro lado, as fêmeas - as cadelas -
apresentam muitas emendas a essa hierarquia dos machos.
A primeira é, "Eu tenho, você não."
Você pode encontrar uma fêmea na base da hierarquia
que com facilidade tira um osso de um macho do topo.
No treinamento de cães vemos esse tipo de dominação,
ou cão alfa - com certeza já ouviram isso.
Cães sofrem muito abuso.
Cães, cavalos e humanos -
são as três espécies que mais sofrem abuso.
E a razão para isso é que é comportamento inato deles
sempre voltar para pedir desculpas.
Como, "Sinto muito por você ter que me bater, sinto muito, a culpa é minha."
Eles se deixam bater.
E é por isso que apanham.
O filhotinho pula, você abre o livro e o que está escrito?
"Segure suas patas dianteiras e aperte-as,
bata nas patas traseiras, jogue suco de limão na sua cara,
bata na cabeça com um jornal enrolado,
ajoelhe no seu peito, vire-o de cabeça para baixo."
Porque ele cresceu?
Porque ele está fazendo algo que você o treinou para fazer?
Isso é insano.
Eu pergunto aos donos, "Como vocês gostariam que seu cão os cumprimentasse?"
E eles dizem, "Sei lá, sentando, acho."
Eu digo, "Vamos ensiná-lo a sentar."
E damos ao cão uma razão para sentar.
Porque a primeira etapa
consiste em ensinar a sua própria língua ao cão.
Eu poderia dizer aqui, "Laytay-chai, paisey, paisey."
É, é para vocês fazerem alguma coisa.
Por que não fazem nada? Ah, não falam suaíli.
Então deixem-me dizer:
Cães não falam inglês, espanhol ou francês.
Por isso o primeiro passo no treinamento é ensinar a sua língua para o cão -
como uma língua estrangeira para ele.
É por isso que temos sempre um petisco na mão,
e usamos comida porque lidamos com os donos.
Minha esposa não usa comida - ela é uma excelente treinadora,
muito melhor que eu.
Eu não preciso de comida, mas a maioria dos donos diz,
"Senta, bebê."
Ou, "Senta, senta, senta."
E ficam apontando para o traseiro do cão por algum motivo,
como se o cão tivesse um terceiro olho - é ridículo.
Tipo, "Senta, senta."
Não, tem que ser: "Senta" - e pronto, dá certo seis vezes a cada dez.
Então começamos a tirar os petiscos,
e agora o cão sabe que "senta" significa sentar,
e você pode realmente se comunicar com o cão
numa bem construída oração.
"Phoenix, venha cá, pegue isso, e vá até Jamie, por favor."
Eu já ensinei "Phoenix", "venha cá", "pegue isso", "vá lá",
e o nome de meu filho, "Jamie".
E o cão pode levar um bilhete,
e pronto, tenho meu cão de resgate.
Ele com certeza vai encontrar Jamie,
onde quer que esteja, jogando pedras no riacho ou algo parecido,
e levar um bilhetinho dizendo,
"O jantar está pronto. Venha."
O cão sabe o que queremos que ele faça.
Será que fará?
Não necessariamente.
Como já disse, se houver um parque ou um traseiro para cheirar,
por que ir para o dono?
O cão vive com você, o tempo todo está com você,
pode cheirar seu traseiro quando quiser, se você deixar.
Nesse momento, ele está no parque e você está competindo
com cheiros, com outros cães, com esquilos.
Então o segundo estágio do treinamento é ensinar o cão a querer fazer
o que queremos que ele faça, e isso é muito fácil.
Usamos o princípio Premack.
Basicamente, emendamos um comportamento de baixa frequência -
um que o cão não queira fazer -
com um de alta frequência, chamado "comportamento problema",
ou "hobby do cão" - algo que o cão goste de fazer.
Isso então será a recompensa para o comportamento de baixa frequência.
Então é, "senta", vem para o sofá, "senta", carinho na barriga, "senta",
olha a bolinha, "senta", vai lá conversar com o outro cachorrinho.
Sim, colocamos "cheirar traseiro" na lista.
"Senta", cheire o traseiro.
Então todas aquelas distrações que atrapalhavam o treinamento
tornam-se recompensas do treinamento.
Basicamente, o que estamos fazendo é ensinar ao cão -
é deixar que o cão pense que ele está nos treinando.
Eu posso até imaginar esse cão
falando através da cerca para um Akita,
dizendo: "Uau, meus donos são muito fáceis de treinar.
São como Golden Retrievers.
Tudo o que eu tenho que fazer é sentar, e eles fazem o resto.
Abrem portas, dirigem para mim, me massageiam,
jogam bola para eu pegar,
cozinham para mim e servem a comida.
E eu só preciso sentar, é o meu comando.
Aí tenho meu próprio porteiro,
motorista, massagista, chef e garçom."
E aí temos um cão muito feliz.
Para mim, isso sim é treinamento.
Realmente motivamos o cão a querer isso,
de forma que a punição é raramente necessária.
Agora chegamos à terceira etapa, quando -
bem, às vezes, o papai realmente sabe tudo.
Eu tenho esse imã de geladeira que diz:
"Porque sou o Papai, por isso."
Sem mais explicações - "sou o papai, você não, senta."
Algumas vezes, por exemplo,
se algum amigo do meu filho deixa a porta aberta,
os cães precisam saber que não podem passar desse limite.
É uma situação de vida ou morte.
Você sai da proteção de sua casa
e pode ser atingido na rua.
Então há algumas coisas que o cão precisa saber,
"Não pode fazer isso."
Precisamos reforçar isso, mas sem usar força.
As pessoas se confundem em relação à punição.
Acham que punição é algo ruim.
Vocês acham isso, não?
Acham que é algo doloroso, ou amedrontador, ou malvado.
Não precisa ser assim.
Há várias definições de punição,
mas uma delas, a mais popular, é:
Uma punição é um estímulo que reduz o comportamento precedente,
de forma a reduzir sua ocorrência no futuro.
Não precisa ser malvado, amedrontador ou doloroso.
E, se não precisa ser, não deveria ser.
Há um ano estava trabalhando com um cão perigoso,
um cão que já tinha mandado os donos ao hospital,
além do cunhado e do filho.
Eu só concordei porque eles prometeram que o cão ficaria em casa,
e eles não o deixaram sair.
O cão acabou sendo sacrificado,
mas eu trabalhei com ele por um tempo.
A maior parte das agressões acontecia na cozinha,
então enquanto estava lá - e isso foi na quarta visita -
ficamos parados por quatro horas e meia, o cão em seu tapete.
E ele ficou lá por causa da insistência paciente da dona.
Quando ele tentava sair do tapete,
ela dizia: "Rover, no tapete, no tapete."
O cão tentou quebrar a permanência 22 vezes enquanto ela preparava o jantar,
porque muito de sua agressão se relacionava à comida.
As desobediências foram diminuindo.
A punição estava funcionando.
O comportamento problemático estava diminuindo.
Ela nunca elevou o tom da voz.
Se elevasse, teria sido mordida.
Não se deve gritar com um cão assim.
Muitos amigos meus treinam animais diferentes -
como ursos pardos, se já viram um urso pardo
na tevê ou num filme, com certeza foi esse meu amigo que o treinou.
Baleias assassinas - eu adoro porque você tem que estar ligado.
Como você vai brigar com um urso pardo?
"Urso mau, urso mau!" Bum!
Sua cabeça já voou a 100 metros.
É uma loucura.
Então, o que devemos fazer?
Queremos um treinamento melhor.
Os cães merecem isso.
Para mim, a razão para isso tem a ver com os cães,
por ter observado pessoas treinando filhotes,
e percebido que elas têm habilidades de interação péssimas,
habilidades de relacionamento lastimáveis.
Não só com seus filhotes, mas com o resto da família.
Tenho um exemplo clássico de "venha".
Você vê alguém no parque - vou até tapar o microfone
porque não quero acordá-los - há esse dono no parque,
e seu cão está adiante; e ele diz: "Rover, venha.
Rover, venha. Rover, venha, seu maldito."
O cão diz: "Melhor não."
(Risos)
Veja bem, quem em seu juízo perfeito
pensaria que o cão se aproximaria
quando gritam desse jeito com ele?
O cão pensa: "Conheço esse tom, conheço esse tom.
Quando me aproximei antes, fui punido."
Eu estava entrando num avião -
esse foi um momento único na minha carreira,
e foi determinante para saber o que queria fazer
com relação ao treinamento de filhotes -
a noção de ensinar filhotes de maneira amigável
a querer fazer o que queremos sem que tenhamos que forçá-los.
Como eu treino meu filho.
E esse momento especial foi quando estava pegando o avião para Dallas,
e na segunda fileira estava o pai, presumo, e um menino de uns cinco anos
chutando o assento da frente.
"Johnny, não faça isso."
Chute, chute, chute.
"Johnny, não faça isso." Chute, chute, chute.
Eu estava em pé ao lado com minha sacola.
O pai se abaixa, pega o menino assim e faz cara feia.
Cara feia é assim -
quando você encara um filhote ou uma criança,
e diz: "O que você está fazendo? Pare com isso, pare agora!"
E eu pensei: "Oh meu Deus, será que devo fazer algo?"
Aquela criança tinha perdido tudo -
uma das duas pessoas que ele mais confia no mundo
puxou o tapete dos seus pés.
Eu pensei: "Falo para esse babaca parar?"
Pensei: "Ian, fique fora disso, siga em frente."
Fui para o final do avião,
sentei e de repente tive um estalo.
Se fosse um cão, eu teria colocado ele para fora.
(Risos)
Se ele tivesse chutado um cão, eu o teria socado.
Ele chutou uma criança, pegou-a assim e eu deixei.
E é isso aí.
Essas habilidades de relacionamento são tão fáceis.
Nós, humanos, somos muito superficiais e escolhemos nossos parceiros
tomando como base três fatores - cor, conformação física, beleza.
Como se fôssemos robôs.
É assim que entramos num relacionamento, e tudo é ótimo por um ano.
Aí surge um pequeno problema de comportamento.
Igual ao latido do cachorro.
O marido não guarda as roupas,
ou a esposa está sempre atrasada, qualquer coisa.
E aí começa, e entramos nesse círculo,
e nossa resposta - há duas coisas a dizer sobre isso.
Quando vemos as pessoas interagindo com animais ou outras pessoas,
há pouco feedback, não é frequente.
Quando acontece, é ruim, é desagradável.
Acontece especialmente nas famílias, com o casal,
com as crianças, com os pais.
Acontece muito também no local de trabalho,
geralmento do chefe com o funcionário.
É como se houvesse uma alegria mórbida aí,
como se ficássemos felizes de ver o erro alheio,
para podermos chiar e reclamar com as pessoas.
Eu diria que essa é a maior das fraquezas humanas.
De verdade.
Não damos valor ao que é bom, mas reclamamos do que é ruim.
E eu acho que essa noção de habilidades deveria ser ensinada,
cálculo é ótimo.
Quando criança, eu era um gênio do cálculo.
Agora não sei mais nada, mas quando criança, sim.
Geometria, fantástico, mecânica quântica...
muito legal mesmo.
Mas não salvam casamentos nem criam filhos.
Minha visão de futuro,
e o que quero alcançar com esse papo sobre cães, é ensinar que,
bom, seu marido também é fácil de treinar.
Até mais fácil, comparado a um rottweiller, muito mais fácil.
Seus filhos são fáceis de treinar.
Tudo o que você tem que fazer é ficar de olho,
para observar o comportamente e, a cada cinco minutos,
você pergunta: "Isso é bom ou é ruim?"
Se é bom, diga: "Muito bem, obrigado."
Essa é uma técnica de treinamento poderosa.
Deveria ser ensinada em escolas.
Relacionamentos - como negociar?
Como negociar com seu amigo que quer seu brinquedo?
Como se preparar para seu primeiro relacionamento?
Como educar os filhos?
Nós pensamos sobre isso - uma noite você está grávida,
e aí está criando a coisa mais importante na vida - uma criança.
Isso é que devia ser ensinado - bem viver, bons hábitos,
que são tão difíceis de quebrar quanto maus hábitos.
Esse seria meu desejo para o futuro.
Droga, queria terminar na hora,
mas tenho oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois...
muito obrigado, é isso, obrigado.
(Aplausos)