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Tradutor: Ruy Lopes Pereira Revisor: Gustavo Rocha
Tenho muito prazer de estar aqui hoje
para lhes contar
como poderemos reparar
o cérebro lesionado.
Este campo é fascinante para mim
porque sou um neurologista
e acredito que ele oferece um dos grandes meios
que nos possibilitam levar esperança
a pacientes que hoje vivem
com doenças devastadoras do cérebro, para as quais ainda não há cura.
Eis o problema.
Vê-se aqui a imagem do cérebro de alguém
com a doença de Alzheimer
ao lado de um cérebro normal.
É óbvio que no cérebro com Alzheimer
no círculo vermelho, há uma evidente lesão;
atrofia, cicatrização.
Eu poderia mostrar imagens semelhantes
de outras doenças: esclerose múltipla,
doença neuromotora, doença de Parkinson,
e até a doença de Huntington.
Em todas elas seria a mesma história.
Em conjunto, esses distúrbios do cérebro representam
um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade.
Os números são assustadores.
Hoje há 35 milhões de pessoas
que vivem com uma dessas doenças do cérebro
e o custo anual global
é 700 bilhões de dólares.
Pensem nisso.
É mais do que 1%
do PIB global.
E torna-se pior
porque todos os números estão aumentando
pois, geralmente,
são doenças ligadas à idade e vivemos cada vez mais.
A pergunta que precisamos fazer a nós mesmos é:
por que, dado o impacto devastador
dessas doenças no indivíduo,
sem contar a amplitude do problema social,
por que não existem tratamentos eficientes?
Para poder discutir isso,
eu preciso antes dar um curso rápido
de como o cérebro funciona.
Ou seja, eu preciso contar-lhes
tudo o que aprendi na escola de medicina.
(Risadas)
Acreditem em mim, não vai demorar muito.
Certo? (Risadas)
O cérebro é impressionantemente simples:
ele é constituído por quatro células,
duas das quais são mostradas aqui.
Há a célula nervosa,
a célula mielinizante
ou célula isolante. E chamada de oligodendrócito.
Quando essas quatro células trabalham em conjunto,
sãs e em harmonia,
elas criam uma sinfonia extraordinária de atividade elétrica
e é essa atividade elétrica
que sustenta nossa capacidade de pensar, sentir emoções,
lembrar, aprender, movimentar-se, sentir, etc.
Cada uma dessas quatro células
sozinha ou em conjunto, pode funcionar mal ou morrer
e quando isso acontece, adquire-se uma lesão.
As ligações são danificadas.
As conexões ficam interrompidas.
Isso fica aqui evidente pela condução mais lenta.
No fim, a lesão irá se manifestar
como uma doença, sem dúvida.
Se a célula nervosa que começa a morrer
for uma neuromotora, por exemplo,
você irá adquirir uma doença neuromotora.
Gostaria de dar um exemplo real
do que acontece em uma doença neuromotora.
Esse é um paciente meu chamado John.
Estive com o John na semana passada, na clinica.
Pedi para que ele contasse quais foram seus problemas
que levaram a um diagnóstico inicial
de doença do neurônio motor.
John: Fui diagnosticado em outubro de 2011;
era principalmente um problema respiratório.
dificuldade de respiração.
Siddharthan Chandran: Não sei se entenderam tudo.
O que John dos disse
é que a dificuldade em respirar
no fim levou ao diagnóstico
de doença neuromotora.
A jornada de John já dura 18 meses.
Agora pedimos que nos contasse alguma coisa
de suas queixas atuais.
John: Agora a minha respiração piorou
Tenho fraqueza nas mãos, nos braços e nas pernas.
Fico na cadeira de rodas a maior parte do tempo.
SC: John disse que fica em uma cadeira de rodas
na maior parte do tempo.
Esses dois clipes mostram
as devastadoras consequências da doença
e além disso nos dizem algo
do avanço chocante da doença
pois em apenas 18 meses,
um homem adulto saudável foi reduzido a
um dependente de cadeira de rodas e de respirador.
John poderia ser o pai,
irmão ou amigo de um de nós.
Isso é o que acontece quando o nervo motor morre.
Mas o que acontece quando a célula de mielina morre?
Adquire-se esclerose múltipla.
A imagem à esquerda
é uma ilustração do cérebro,
um mapa das conexões do cérebro,
na qual estão superpostas
áreas com lesões.
Nós as chamamos de lesões de desmielinização.
Elas estão danificadas e são brancas.
Eu sei o que vocês estão pensando:
“Meu Deus, veio este sujeito
dizendo que falaria de esperança
mas tudo o que fez foi contar uma história
desolada e depressiva.”
Eu disse que essas doenças são terríveis.
Elas são devastadoras, os números estão aumentando,
os custos são enormes, e o pior de tudo,
não existem tratamentos. Onde está a esperança?
Sabem de uma coisa? Eu acho que há esperança.
Há esperança na próxima seção,
na seção do cérebro de alguém com E.M.,
porque o que ele ilustra
é surpreendente, o cérebro pode se reparar.
Ele apenas não o faz suficientemente bem.
Novamente, há duas coisas que eu quero lhes mostrar.
Em primeiro lugar a lesão desse paciente com E.M.
E novamente, esse outro com essas massas brancas.
Mas de modo crucial, a área assinalada pelo anel vermelho
destaca uma área azul claro.
A área em azul claro antes era branca.
Então estava lesionada. Agora está reconstituída.
Para sem bem claro: não é por causa dos médicos.
É apesar dos médicos, não devido aos médicos.
É uma regeneração espontânea.
É maravilhoso e ocorreu
porque existem células-tronco até mesmo no cérebro
que possibilitam a deposição de nova mielina,
novo isolamento sobre os nervos lesionados.
Esta observação é importante por duas razões.
A primeira é que ela desafia uma das ortodoxias
que aprendemos na escola de medicina,
pelo menos foi o que aprendi no século passado,
que o cérebro não consegue se regenerar,
ao contrário, digamos, do osso ou do fígado.
Na verdade, ele o faz, mas não suficientemente bem.
E a segunda coisa que ele faz,
é nos indicar com clareza o caminho de novas terapias.
Não é preciso ser um gênio
para saber o que fazer aqui.
Basta achar meios de estimular
a regeneração endógena e espontânea que ocorre sempre.
A pergunta é: “Por que, se sabemos disso,
já há algum tempo,
por que não existem tratamentos?”
Em parte isso reflete a complexidade
do desenvolvimento de drogas.
Deve-se considerar que o desenvolvimento de drogas
é uma aposta cara e arriscada,
e as chances dessa aposta são, a grosso modo,
10 mil para 1 contra,
porque precisa-se pesquisar cerca de 10 mil compostos
para encontrar um potencialmente adequado.
Gastam-se 15 anos
e mais de 1 bilhão de dólares,
e, mesmo assim, pode-se não ter uma droga adequada.
Para nós, a pergunta é:
“Podemos mudar as regras do jogo
e melhorar as chances?”
Para tanto, devemos procurar saber:
“Onde está o gargalo do descobrimento de drogas?"
Um dos gargalos já é antigo no descobrimento de drogas.
Toda pesquisa é feita com animais.
Sabemos que o estudo adequado da humanidade é o homem,
para citar Alexander Pope.
Podemos estudar essas doenças
usando material humano?
Podemos sim, com certeza.
Podemos usar células-tronco
especificamente células-tronco humanas.
As extraordinárias células-tronco humanas,
embora simples, podem fazer duas coisas:
elas podem se renovar ou se reproduzir mais,
mas elas também podem se tornar especializadas
para produzir osso, fígado ou, decisivamente, células nervosas,
talvez até células neuromotoras
ou a célula de mielina.
O desafio, há muito tempo, tem sido:
É possível coletar
o indubitável poder das células-tronco
de cumprir a promessa
da neurologia regenerativa?”
Eu acho que agora é possível
porque houve várias descobertas importantes
nos últimos dez ou vinte anos.
Uma delas foi aqui em Edimburgo,
deve ser a única ovelha famosa, Dolly.
Dolly foi produzida em Edimburgo.
Dolly foi um exemplo
da primeira clonagem de um mamífero
a partir de uma célula adulta.
Eu considero que a descoberta mais signiticativa
para as finalidades de nossa discussão de hoje
foi feita em 2006 pelo cientista japonês
chamado Yamanaka.
O que Yamanaka fez
em uma forma fantástica de receita científica,
foi mostrar que,
apenas quatro ingredientes,
poderiam converter qualquer célula adulta
em uma célula-tronco.
É difícil exagerar a importância disso
já que qualquer um nesta sala,
os pacientes, em particular,
agora podem dar origem a
um kit de regeneração personalizado.
Pegar uma célula da pele
em uma célula pluripotente,
e para assim fabricar
as células que são relevantes para a doença
tanto para estudar como potencialmente para curar.
A opinião sobre isso na escola de medicina...
Um tema recorrente, né, a escola de medicina e eu?
Teria sido ridícula,
mas atualmente é uma realidade absoluta.
Eu vejo isso como uma pedra fundamental
da regeneração, reparo e esperança.
Por falar em esperança,
para os que fracassaram na escola,
também há esperança,
porque este é um relatório escolar de John Gordon.
["Acredito que ele tem intenção de ser cientista; em seu presente, mostrar isso é ridículo"]
Na ocasião não se pensou muito nele.
Saibam que ele ganhou o Prêmio Nobel de medicina
há apenas três meses.
Voltando ao problema original,
qual é a oportunidade para as células-tronco,
ou essa tecnologia revolucionária
para reparar o cérebro lesionado,
que chamamos neurologia regenerativa?
Há duas maneiras de pensar nisso:
como uma fantástica ferramenta de descoberta de droga do século XXI
e/ou como uma forma de terapia.
Quero falar um pouco sobre as duas
nos próximos momentos.
Descoberta de droga em uma placa é como as pessoas
frequentemente se referem a isso.
É muito simples.
Toma-se um paciente com uma doença
digamos doença neuromotora,
colhe-se uma amostra de pele,
faz-se a reprogramação pluripotente,
como já lhes contei,
e criam-se células neuromotoras vivas.
Isso é fácil de compreender porque é
o que as células pluripotentes podem fazer.
Decididamente, pode-se comparar o comportamento dessas células
com o de células saudáveis,
preferencialmente de um parente sem a doença.
Dessa forma, compara-se a variação genética.
Foi exatamente o que fizemos aqui.
Isso foi uma colaboração entre colegas:
em Londres, Chris Shaw, nos EUA, Steve Finkbeiner e Tom Maniatis.
O que estão vendo, e isso é emocionante,
são células neuromotoras vivas, que estão crescendo,
de um paciente com doença neuromotora.
É uma forma herdada.
Imaginem isso.
Isso era inimaginável há dez anos.
Além de vê-las crescer e usar nossos processos,
também podemos projetá-las para que tenham fluorescência,
mas de modo crítico, podemos rastrear a saúde de cada uma
e comparar as células neuromotoras doentes
com as saudáveis.
Quando se faz tudo isso e juntam-se os dados,
percebe-se que as células doentes,
representadas pela linha vermelha,
são duas vezes e meia mais propensas a morrer
do que sua contraparte saudável.
O ponto crucial nisso é que se tem
uma fantástica amostra para descobrir drogas
porque o que se deseja saber sobre as drogas
poderia ser feito por um sistema automatizado de análise
de alto desempenho,
que encontrasse uma droga
capaz de aproximar a linha vermelha
da linha azul,
porque essa droga vai ser uma candidata de alto valor
que provavelmente poderia ser usada em *** com humanos
e praticamente superaria o gargalo
de que lhes falei na descoberta de drogas,
em *** com animais.
Isso faz sentido. É fantástico.
Quero voltar
a como podemos usar diretamente células-tronco
para reparar lesões.
Novamente, há dois modos de se pensar nisso
e em geral não são mutuamente excludentes.
A primeira, creio que a longo prazo,
aquela que dará os melhores resultados,
ainda não considerada assim,
é pensar nas células-tronco que já existem no cérebro,
e eu já lhes contei isso.
Todos nós temos células-tronco no cérebro,
mesmo o cérebro doente.
O caminho mais inteligente é, seguramente,
encontrar meios de estimular e ativar
as células-tronco que já existem no cérebro
a reagir e responder apropriadamente às lesões
para repará-lo.
Isso será o futuro.
Existirão drogas que farão isso.
O outro modo é introduzir células-tronco,
através de transplante,
para substituir células que morrem ou funcionam mal no cérebro.
Quero contar-lhes agora
um ensaio clínico que fizemos,
concluída recentemente,
com colegas da UCL,
David Miller em particular.
Esta pesquisa foi muito simples.
Usamos pacientes com esclerose múltipla
e fizemos uma pergunta simples:
As células da medula óssea
poderiam proteger seus nervos?
Colhemos a medula óssea,
da qual cultivamos células-tronco no laboratório,
e as injetamos novamente em suas veias.
Estou simplificando muito.
Muita gente trabalhou nisso uns cinco anos, certo?
Fiquei com cabelos brancos
e com vários tipos de problemas.
Conceitulamente, é algo muito simples.
Elas foram injetadas na veia, certo?
Para avaliar se isso foi bem sucedido ou não,
nós medimos o nervo óptico
como uma medida do resultado.
É uma coisa conveniente de ser media em E.M.,
porque, infelizmente, pacientes com E.M.
sofrem de problemas de visão:
perda de visão, visão turva.
Medimos o tamanho do nervo óptico
usando as varreduras com David Miller
três vezes: 12 meses, seis meses,
e antes da infusão;
e podem ver a linha vermelha levemente inclinada para baixo.
Isso indica que o nervo óptico está se atrofiando,
o que faz sentido, porque os nervos estão morrendo.
Depois fizemos a infusão com célula-tronco
e repetimos a medida duas vezes:
três meses e seis meses;
e, para a nossa quase surpresa,
a linha inclinou-se para cima.
Isso sugere que a intervenção
foi protetora.
Eu não acho
que as células-tronco tenham produzido mais mielina
ou novos nervos.
Acho que elas estimularam
as células-tronco endógenas, ou células precursoras,
a exercer sua função, despertar, produzir mais mielina.
Isso é a prova do conceito.
Estou muito empolgado com isso.
Quero terminar pelo tema com o qual comecei,
a regeneração e a esperança.
Perguntei ao John
quais são suas esperanças para o futuro.
John: Eu espero que,
no futuro,
graças às pesquisas que estão sendo feitas,
possa ser descoberta uma cura
para que as pessoas como eu tenham uma vida normal.
SC: Isso diz tudo.
Eu gostaria de terminar, antes de mais nada,
agradecendo ao John por permitir que eu compartilhasse
suas percepções e esses vídeos com todos vocês.
E também gostaria de acrescentar para o John e outros
que a minha visão é de esperança no futuro.
Eu acredito que tecnologias revolucionárias
como as células-tronco, que tentei explicar a vocês,
trazem esperança muito real.
Creio que o dia em que conseguiremos
restaurar o cérebro lesionado
está mais perto do que imaginamos.
Obrigado.
(Aplausos)