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A Escócia é celebrada mundialmente
por sua beleza natural,
seus vales e charcos selvagens,
seus lagos profundos,
suas montanhas escarpadas e litoral magnífico.
É difícil imaginar que o homem tenha causado algum impacto.
Mas cada centímetro quadrado foi afetado
por séculos de atividade humana.
Vou analisar com o homem criou a paisagem escocesa,
e como essa história moldou o presente.
Neste episódio, as terras altas escocesas.
Elas são belas ou estão sem vida?
CRIANDO A PAISAGEM ESCOCESA
MUSKETEERS Kakko e Otoni
Nesta sala tem um mapa da Escócia.
Montanhas, lagos e vales.
Queremos que conheça esse país,
bem como as pessoas que nele vivem
e entenda seu ponto de vista.
Até 1950, as terras altas da Escócia
eram um cartão-postal,
mundialmente famosas,
as terras das cores vívidas.
O verde era mais verde do que qualquer coisa podia ser.
Bem como os marrons, os azuis,
e o vermelho do cervo.
Havia pouco dinheiro e ainda menos gente nas terras altas,
mas tudo bem.
Menos gente implicava mais beleza,
mais espaço para uma natureza magnífica
envolta por urze e história.
Os rios corriam entrecortados.
Até 1950, as emoções prevalentes vivenciadas
por visitantes das terras baixas eram orgulho e admiração.
Orgulho de que esta terra era deles para visitar,
andar, escalar, contemplar.
E admiração, admiração de sua imensa dimensão.
Então em 1950, um relatório chegou
ao Depto. Escocês de Governo em Edimburgo,
uma avaliação da fertilidade e futuro das terras altas do oeste.
Ele fora atribuído a um jovem cientista,
Frank Fraser Darling, 3 anos antes.
Agora, ali estava ele.
E era uma heresia.
"As terras altas são uma paisagem devastada",
escreveu ele, "um deserto úmido."
Outrora, afirmava Darling,
havia um sistema natural rico nas terras altas,
praticamente um ser vivo autônomo.
E o ser humano o destruiu.
As terras altas notoriamente belas eram estéreis,
desprovidas de recursos, por isso, estavam vazias.
Darling descobrira um ecossistema cheio de buracos.
Espécies inteiras tinham desaparecido.
A perda das árvores levou à perda das formigas das florestas,
que outrora processavam o húmus das folhas.
As minhocas também estavam ausentes,
prejudicando ainda mais o solo.
As colinas expostas estavam agora
cobertas por urze forte e silvestre
densa demais para suas próprias sementes chegarem ao solo.
Os coelhos não tinham mais predadores naturais.
Sua população explodira,
suas tocas desestabilizaram as encostas.
A solo das terras altas foi transformado
de um húmus fértil e quebradiço
a uma densa turfa flexível,
que isolava os nutrientes.
O relatório de Darling descrevia um ecossistema dominado por,
em seus termos, "gargalos", engarrafamentos de nutrientes
nos quais os ciclos naturais estavam parados.
Só Deus sabe o que o político que atribuiu o relatório
esperava ouvir, mas não devia ser isto.
"A terra está arruinada. Recomece."
Darling nunca recebeu confirmação pelo Depto. Escocês
de que o relatório fora recebido, que dirá lido.
Ele não existia.
Não fora feito.
Oh, mas ele existia.
Assim como a história evocada por Frank Fraser na própria pesquisa.
Havia motivos para que as terras altas estivessem assim.
E todos eram humanos.
Esta é Glenshiel, nas terras altas do oeste,
no interior da Ilha de Skye.
Não é muito remota, mas não vejo gente,
apenas seus vestígios.
Estas outrora foram casas.
Em 1773, este vale abrigou James Boswell e Samuel Johnson.
Johnson não era conhecido por seu amor aos escoceses ou à Escócia.
"A melhor vista que um escocês tem",
escreveu ele, "é o caminho para a Inglaterra."
No seu famoso dicionário, ele definiu "aveia" como
"alimento para cavalos que, na Escócia, é dado ao povo."
Mas Johnson não era racista. Ele só gostava de piadas curtas.
Ele gostava do povo que conheceu aqui,
uma vila com cerca de 100 falantes de gaélico:
agricultores, criadores de gado. Um povo hospitaleiro.
Ele sabia que sua sociedade estava acabando.
Desde a batalha de Culloden,
o governo trabalhava para que rebelião idêntica
não voltasse a ocorrer.
Bonnie Prince Charlie tinha seu apoio nos habitantes
que se atinham a uma visão tradicional da sociedade gaélica,
na qual o clã possuía a terra,
e o proprietário de terras era o líder do clã.
Tais regras estavam sendo reescritas,
impondo uma divisão entre o proprietário e o clã,
transformando o proprietário de líder em dono de terra.
Qual era atitude do membro do clã para com a terra?
Era de domínio ou de manejo?
Há um ditado gaélico no sentido de que
todos têm o direito de retirar uma árvore da floresta,
um peixe do rio e um cervo da colina,
mas de forma a não comprometer o recurso.
Era feito de uma forma que, em termos modernos,
seria classificado de sustentável,
embora ninguém usasse tal termo à época.
Com o surgimento das...
propriedades com o proprietário
firmando o direito sobre a caça, tudo isso muda.
Se eu for ao rio e pegar um salmão para meu uso
isso é crime perante a lei.
Mas essa espécie de conceito
de propriedade privada e seus recursos
não representaria nada
na sociedade que existiu aqui.
Não creio que eles distinguissem entre
a paisagem, a terra como recurso e eles mesmos.
Eles faziam parte dela, eram parte integrante dela.
O que estava ocorrendo com a remoção e expulsão
era que o elo que fora tão poderoso e forte por gerações
foi rompido subitamente.
Por todas as terras altas, os proprietários expulsavam
os membros dos clãs de suas casas e vales
substituindo-os por lucrativas criações de ovinos.
Foram as remoções.
Alguns foram obrigados a sair,
outros saíram por própria disposição
pois tinham pouco dinheiro agora necessário ao arrendamento.
Alguns se reuniram para fretar navios e emigrar.
Os vales vazios passaram a ter muros para conter os ovinos.
Por isso, o famoso vazio,
a maravilhosa solidão das terras altas
é de um tipo peculiar e perturbador.
Nos anos 50, um dos descendentes
desses desalojados voltou a Glenshiel.
Ele era da família MacLennan que passou esse período no Canadá.
Ele escreveu: "Acima do paralelo 60 no Canadá
"a gente sente como se apenas Deus estivesse estado lá."
"Mas em um vale das terras altas abandonado,
"a gente sente que todos que importavam morreram."
Creio que ele quis dizer que não era tanto o vazio,
mas a sensação de orfandade.
Os ovinos chegaram às terras altas em grande número
a partir da década de 1780.
Tinham baixo custo de manutenção, comparado às vacas e pessoas.
Substituíram uma sociedade
com respeito inato pela terra e pelo que vivia nela
por uma prática agrícola que transformou a paisagem
em uma fábrica para produção de lã e carne de ovino.
Colhiam indiscriminadamente. Os "gafanhotos lanosos".
Eles comiam gramíneas e outras plantas
que antes regressavam ao solo para recompô-lo.
Comiam as mudas de árvores.
As colinas já estavam muito estéreis.
Agora, os ovinos a deixam ainda mais rentes.
Mas o pior ainda viria,
graças a um pastor apaixonado por tecnologia.
Em 1791, Alexander Forsyth tornou-se pastor
da paróquia de Belhelvie, perto de Aberdeen.
Talvez o trabalho não fosse muito pesado
ou Forsyth não levasse tão a sério seus deveres pastorais,
mas, de qualquer forma, ele tinha tempo de sobra.
Ele adorava atirar em patos e estava farto de errar.
O problema de Forsyth não era a precisão.
Ele atirava muito bem para um homem de Deus.
Seu problema era a espingarda de pederneira.
Havia um atraso entre a pólvora no côncavo e o disparo da bala.
E também havia o clarão,
que dava aos patos o que ele não queira...
...um alerta.
O que fez Forsyth? Como ele contornou esse problema?
Forsyth criou um mecanismo onde não colocava pólvora no côncavo.
Um sistema de detonação, usando fulminato de mercúrio
em uma pequena câmara chamada "frasco de perfume".
A invenção de Forsyth logo foi aperfeiçoada por outros
e ficou conhecida como espoleta.
O que acontece aqui?
É uma espoleta.
Ela é posta neste bico aqui.
O cão inflamava a espoleta,
e não havia atraso entre o cão atingindo a espoleta
e o disparo da pólvora. Era instantâneo.
Era uma má notícia para quem estava no outro extremo?
Vamos dar uma olhada. Ver como é. Vou me afastar.
A caça agora podia tornar-se um passatempo agradável.
Em 1815, um pequeno anúncio no London Times
oferecia a propriedade do duque de Gordon
ao "esportista exigente".
Esta era a terra em questão, Glen Feshie em Cairngorms,
uma das 7 florestas de cervos da Escócia.
É um termo interessante, "floresta de cervos".
Vamos dissociá-lo.
Em uma floresta de cervos, árvores são permitidas.
Mas, claro, a floresta não é essencial.
Qualquer árvore dessa altura em Glen Feshie
tem pelo menos 220 anos.
Quando a população de cervos chegava ao nível de saturação,
nada mais jovem que isso sobrevivia.
Na década de 1830, a caça era um negócio,
quase tão lucrativo para os donos das terras
quanto a criação de ovinos.
Os clientes eram quase todos ingleses.
Eles eram... como se diz?
"Finos".
Uma das primeiras famílias a tornar hábito
o aluguel de terras escocesas para a caça
foi a do duque e duquesa de Bedford.
Seu local predileto era esta propriedade, em Rothiemurchus,
a poucos quilômetros de Glen Feshie.
Os feriados da duquesa Georgiana com seu marido bem mais velho
eram animados com a presença do amante dela.
Edwin Landseer estava na casa dos 20 anos.
Ela tinha idade para ser a mãe dele.
Landseer também era um artista.
Desde a infância quando impressionou a Academia Real
com uma habilidade inata como desenhista.
Ele era ambidestro, podia pintar com as duas mãos,
o que a duquesa devia adorar.
Nas décadas de 1820 e 30,
ele acompanhava os Bedford nos feriados.
Landseer e Georgiana curtiam vigoroso sexo ao ar livre
enquanto o duque não estava olhando.
Nas horas livres, Landseer pintava e desenhava.
Landseer estava tão apaixonado
pelas terras altas quanto por Georgiana.
Ele fez amizade com Walter Scott, escritor e poeta,
e até pintou o seu retrato.
Juntos, eles fizeram a mais poderosa campanha de marketing
em prol da Escócia e sua paisagem que alguém podia conceber.
A obra de Walter Scott celebrava
o grande romance de colinas e vales e os escoceses.
As pinturas de Landseer deram um pano de fundo
a essas figuras históricas, e a alguns animais.
Nas suas pinturas, a Escócia era a natureza,
extremamente rude.
Era impossível o céu escocês sem nuvens.
Animais encontravam seu destino em riachos nas montanhas.
As pessoas apareciam ocasionalmente
com animais como companhia.
Ele era melhor com animais.
Em 1842, o grande romance das terras altas escocesas
envolveu a própria rainha Vitória.
Ela veio ao norte da fronteira pela primeira vez
com seu marido, Alberto,
com um exemplar do épico poema escocês, "A Dama do Lago",
e com as memórias do catálogo de obras de Landseer.
Ele já a tinha pintado algumas vezes, duas sobre um cavalo.
Esta foi a segunda delas.
A rainha mantinha um diário.
Da área que viraria seu lar nas terras altas, escreveu ela:
"Era tão calma, solitária,
"fazia-se bem olhar ao redor,
"e o puro ar da montanha era refrescante.
"Tudo parecia respirar liberdade e paz,
"para fazer alguém esquecer o mundo
"e suas tristes turbulências."
Tradução: sem gente.
Ela estava muito feliz.
Alberto matou alguns cervos.
E foi isso.
O futuro da paisagem escocesa estava definido.
Agora, estava muito na moda para resistir a ela.
Quando Vitória comprou a propriedade
e a casa em Balmoral por 30 mil libras
as terras altas foram inundadas pela aristocracia inglesa
e pelos ricos comerciantes vitorianos,
todos ansiosos para fazer como a rainha.
As florestas de cervos envolveram as terras altas.
As colinas chegaram próximo ao estado
no qual Fraser Darling as encontraria...
...estéreis.
A promoção de outro animal
ao status de alvo predileto também não ajudou.
A queima de urze servia para manter a população de tetraz.
Áreas queimadas estimulavam o crescimento.
Áreas não queimadas provinham abrigo aos tetrazes.
As queimadas em excesso podiam destruir
o estoque de sementes e a camada superficial do solo,
provocando erosão além de matar plantas e animais.
Mas isso não importava.
Os outros tipos de animais competiam
com nossos ovinos, nossos cervos, nossos tetrazes.
Os outros animais eram animais daninhos,
para usar o termo técnico.
Águias, por exemplo, eram animais daninhos.
As memórias de Osgood Mackenzie de Inverewe
estão cheias de animais daninhos.
Suas propriedades eram bastante modestas.
Seus ovinos e cervos precisavam ser protegidos.
Eles eram sua subsistência.
E as águias eram odiadas.
Elas arrancavam coelhos das armadilhas,
matavam cordeiros,
e ao avistar uma os tetrazes voariam assustados.
"Quando se avista 7 no ar de uma só vez",
escreveu ele, "é hora de eliminá-las."
Ele falava com alegria em dar chumbo às águias,
descrevia a estricnina como
"uma droga maravilhosamente útil".
As águias foram apenas um dos predadores
que ele matava constantemente,
problemas que um ou dois barris resolveriam.
Corujas-de-orelha-pequena... bangue!
Furões... bangue!
Doninhas... Bangue! Bangue!
MacKenzie não era um homem incomum.
Cada propriedade privada tinha ao menos uma,
todos atirando em algo com dentes ou garras.
A águia de cauda branca, o milhafre real,
a águia-pescadora, o açor e o furão
foram todos extintos.
Se os temos hoje é porque foram trazidos de outras regiões.
Foram substituídos artificialmente.
As aves de rapina também declinaram.
Todos os animais que dependiam
de sebes, bosques, urzes, charcos e colinas,
quaisquer dos habitats que os ovinos e cervos comiam,
e os homens queimavam, iriam sofrer.
As populações de ratazanas, ratos,
lebres e pequenos pássaros declinaram.
Não havia espaço nessa ecologia artificial para outros animais.
E tudo devido ao ato de caçar tornar-se tão popular.
Não sei o que passava na cabeça dos homens
enquanto perseguiam e atiravam nos cervos.
Não vejo atrativo. Não consigo entender sua cabeça.
Mas eu nunca atirei em nada.
Talvez seja hora de atirar.
Estamos prontos?
Acho que podemos trocar esse casaco...
- Está um pouco chamativo, não? - Acho que sim!
Se puder tomar posição.
O que eu devo fazer?
Vou ver que animal vamos pegar.
Acho que aquele. Aquele ali do meio.
Está em pé e parado.
- Pode ver? - Posso.
Espere um pouco. Vamos ver se ele se vira um pouco.
Onde eu devo acertar? Onde eu devo mirar?
Mire na metade do corpo, atrás da pata dianteira.
Na metade do corpo.
Ele está se virando agora.
Não tenha pressa.
Basta relaxar.
Atire agora.
Está travada?
Tomar posição.
Estou vendo ele. Está na mira.
- Acerte-o. - Ainda não.
Foi um bom tiro.
Se tivesse bala!
Minha primeira caça imaginária.
Foi uma caçada.
O engraçado é que eu realmente queria atirar de verdade.
Porque a gente quer realmente testar se...
Isso é terrível, não?
Mas a gente quer saber se estava mirando certo.
Havia algo viciante na caça.
Como um praticante disse de outro:
"Ele tinha raça.
"Quando alguém mata um cervo,
"é como um cão matando uma ovelha."
Ele nunca mais consegue parar.
Enquanto um membro tradicional do clã
matava para comer ou utilizar o animal inteiro,
essas caças foram apenas pelo troféu.
Só estavam interessados na cabeça,
um cabide porta chapéu natural,
o que torna este local a maior chapelaria do mundo.
Todo verão, a alta sociedade
chegava ao norte em grande número.
Em 1862, a nova estação em Aviemore
abriu as portas para as terras altas do leste e Cairngorms.
A transformação de um vilarejo das terras altas
em resort turístico começou.
O cervo já agitava o lugar,
mas a bonança anual do 12 de agosto,
o início da temporada de tetrazes,
recebia os maiores trens de todos.
Segundo relatos, um dos trens que levavam
os abastados ao norte para a temporada de tetrazes
consistia em 36 ***ões oriundos de 9 empresas,
incluindo a "London to Brighton" e a própria "Highland Railway".
Bares, ***ões de bagagens, cocheiras para cavalos,
era uma invasão.
A rede se espalhava aos poucos, ao norte e ao oeste.
Para alguns caçadores entusiastas,
não bastava alugar uma fazenda para caça nas terras altas.
Eles queriam ser donos, não locatários.
Banqueiros e manufaturadores consideravam
uma propriedade nas terras altas com uma floresta de cervos
como a melhor forma de mostrar que haviam vencido,
que eram iguais à aristocracia.
Sir Alexander Matheson, por exemplo,
venceu fazendo fortuna com a venda de ópio aos chineses.
Ele se aposentou do comércio de narcóticos,
que, no século XIX, não era tão sujo quanto hoje,
adquiriu 50 mil hectares nas terras altas e construiu isto.
Não ficou impressionado? Mas ficará com isto.
Afinal, qual o objetivo de gastar
70 mil libras em um chalé de caça
ao qual seus convidados não pudessem chegar?
Os pedidos de Matheson por uma estação ferroviária
não foram ouvidos.
Assim, ele fez o óbvio, construiu a sua própria.
Não eram apenas as classes altas,
Os de baixa renda também vinham ao norte.
Thomas Cook alegou que a Escócia o havia transformado
de um guia de excursão barato em organizador turístico.
Em 1860, ele havia trazido 50 mil turistas à Escócia,
e a própria rainha, que Deus a abençoe,
havia se tornado um destino turístico.
Cook trazia seus grupos a Balmoral que,
hoje, está oculto atrás destas árvores.
E os turistas saudavam Sua Majestade
com uma interpretação do Hino Nacional,
às 7:30 da manhã.
Um turista, segundo Cook, usou seus binóculos de ópera
para dar uma olhada no príncipe consorte na janela,
com sua touca de dormir.
É fácil imaginar a rainha ouvindo ao canto patriótico matutino
e lembrando-se com certa nostalgia
do registro do diário de sua primeira visão de Balmoral,
aquela sobre "solidão e paz".
Por isso, ela plantou isto.
Afinal, esse era o objetivo,
as propriedades nas terras altas não eram para se compartilhar.
Os turistas de Cook, andarilhos, os transeuntes,
tinham de enfrentar a mesma verdade fundamental.
Eles podiam olhar, mas não tocar.
Era como ver uma obra de Landseer,
não podiam entrar dentro da paisagem
pois era uma propriedade privada.
Resumindo, não havia o crime de invasão na Escócia.
Não era crime andar pela terra
possuída ou alugada pelo lorde Poshbury
ou pelo Sr. Muck, o magnata dos fertilizantes de Liverpool.
Significava que a imposição dos limites
dependia de capatazes e fiscais de caça
empregados por cada propriedade.
Havia ameaças de violência,
violência de verdade e placas que diziam coisas como
"Cuidado, balas perdidas."
"Os proprietários não assumirão responsabilidade
"pelas lesões causadas."
Isso já era bastante desagradável,
mas em 1879,
o país foi lembrado o quanto desagradável
o processo de transformar as terras altas
em propriedade privada sempre foi.
Naquele ano, a obscura propriedade
de Leckmelm no noroeste
foi adquirida por um fabricante de papel de Aberdeen,
Alexander Pirie.
Pirie criou uma floresta de cervos,
expulsou todos os arrendatários,
privou-os do seu gado
e os desalojou de suas casas.
Eles foram compelidos a fixar residência num barracão
e a trabalhar em sua fazenda.
As expulsões resultaram em vales vazios.
Os destituídos foram escondidos, fora de vista,
abandonados por conta própria ou a morrer em outro lugar.
Mas Pirie transformou seus arrendatários
em força de trabalho cativa,
dependente de empregos que só ele podia oferecer.
Não era escravidão, mas assemelhava-se.
Mas houve repercussão.
O pai do homem de quem Pirie comprara a propriedade
declarou sua simpatia pelos arrendatários.
A atitude de Pirie foi condenada em sessões
em Inverness, Glasgow e até Londres.
Questionava-se no Parlamento.
Os arrendatários estavam encontrando um defensor,
e não estavam sozinhos.
O partido liberal estava ouvindo.
Seus membros, sobretudo da classe média,
estavam cada vez mais confiantes e impacientes
com todas as benesses que a classe alta se concedia.
Eles simpatizaram com a situação dos arrendatários
e apoiaram a Liga de Terra das Terras Altas
que os arrendatários fundaram no início de 1880.
Em 1886, os liberais aprovaram
a Lei do Arrendatário no Parlamento.
Ela garantia que aqueles que ainda ocupassem a terra
poderiam conservá-la e até dizer quem a herdaria.
Era o fim das expulsões.
Mas para os arrendatários isso não era suficiente.
Eles não queriam o fim das expulsões,
queriam que fossem desfeitas.
Em Lewis, arrendatários invadiram uma floresta de cervos
onde outrora ficava a sua vila.
Eles mataram e comeram diversos cervos.
Seus líderes foram presos e liberados sem punição
com rapidez incrível.
A realidade da Lei do Arrendatário foi revelada.
A lei pegava o arrendatário pela mão
e dizia com voz suave: "Sabemos que não é justo.
"Também não gostamos deles,
"por isso deixaremos que sejam rudes.
"Até deixaremos que mate alguns cervos.
"Mas não receberá a sua terra de volta."
Para alguns liberais, foi exatamente
a falta de gente nas terras altas que comoveu.
As terras altas não eram mais um lugar para se viver.
Elas se tornaram um lugar para visitação,
para caminhar,
para escalar.
James Bryce, parlamentar por Aberdeen,
apresentou uma lei exigindo garantias
para o acesso público a charcos e montanhas.
Mas o Parlamento era um reduto das classes altas.
A maioria dos seus membros passava o mês de agosto
com uma espingarda nas mãos.
A proposta de Bryce fracassou por falta de tempo parlamentar,
mas ele se especializou em perseverança.
Afinal, até o The Times publicara matéria a favor da iniciativa.
Bryce reapresentou a proposta em mais 11 ocasiões.
E toda vez seu discurso ficava mais claro.
"A paisagem de nosso país tem sido surrupiada
"justo quando começamos a desejá-la mais do que nunca",
disse ele em um debate.
Fora do Parlamento, ele acrescentou
ação direta ao discurso claro.
Ele divagava.
"Divagar, verbo intransitivo.
"Andar sem direção certa."
Mas no dicionário de Bryce,
"divagar" tinha significado diferente.
"Andar sem direção certa" significava também andar
para onde se quisesse em propriedade privada.
Em 24 de junho de 1887,
um dia após o jubileu de ouro da rainha Vitória,
Bryce e um grupo de simpatizantes
dirigiram-se ao centro dos Cairngorms.
E, no meio do nada, em Shelter Stone,
onde viajantes dormiram durante séculos,
eles fundaram um clube.
O Clube de Cairngorm.
Gastamos duas horas neste tempo horrível
para chegar aqui.
Este lugar devia ser muito importante para eles.
E era porque seu tipo emblemático de paisagem
era o que o Clube de Cairngorm e seus membros
queriam explorar e desfrutar.
À época, Cairngorms era propriedade
de vários grandes latifundiários,
vários deles da aristocracia com títulos nobiliárquicos.
E o que eles acharam da ideia de andarem por suas terras?
Em alguns casos, eles foram firmes defensores
do seu direito de propriedade e privacidade.
Por outro lado, os andarilhos
não estavam dispostos a "respeitar"
tais direitos de privacidade
e procuravam de todos os meios, brincalhões e aventureiros,
desafiar essas alegações de privacidade.
Ficava cada vez mais claro que era uma guerra de classes.
As classes altas responderam
fundando o Clube de Montanhismo Escocês.
O CME era aristocrático.
Um dos principais membros foi Sir Hugh Thomas Munro, baronete.
Munro fez uma lista das montanhas escocesas acima de 900 m,
e a publicou no jornal do clube em 1891.
Havia quase 300 montanhas.
Quase todas em terras particulares.
Ele nunca imaginou que o resultado
seria um grande número de gente sem pedigree
andando pela Escócia para escalar as "Munros",
como tais montanhas ficaram conhecidas.
Afinal, o ingresso no CME se dava apenas por convite.
Nenhum dono de propriedade de caça
iria se opor a um baronete em trajes com bom corte,
alguém com que não se importaria que sua filha casasse.
O Clube de Cairngorm andava por toda a parte.
Os arrendatários pressionavam pela devolução das terras,
e as classes desportistas os ignoravam completamente.
Em 1900, metade da área das terras altas
pertencia a apenas 15 pessoas.
Quase 40 novas florestas de cervos
foram formadas nos últimos 20 anos do século.
Se isso era uma guerra de classes, e, certamente o era,
não havia dúvida sobre qual estava vencendo.
Em 1908, um projeto de lei para acesso a charcos e montanhas
chegou até a ser discutido no Parlamento.
Um parlamentar de Yorkshire
registrou o dano causado pelos turistas.
O parlamentar de Windsor pediu a inclusão de artigo
que tornasse os turistas invisíveis e inodoros.
Enquanto isso, o lorde Willoughby de Eresby desviava o foco.
Algumas propriedades de caça
instalaram campos de golfe que ele gostava muito.
E se um turista decidisse sentar
para comer um sanduíche no 18º buraco?
Não daria certo. A proposta fracassou.
A quantia de terra dedicada ao prazer das classes privilegiadas
continuou a crescer.
Eles eram seus donos. Quem poderia impedi-los?
Em 1912, as florestas de cervos cobriam 30% das terras altas.
Os ricos eram invencíveis.
E sob a mão de ferro dos seus fiscais de caça,
o reino animal declinou.
Claro, a paisagem ainda era bela.
Mas também praticamente sem vida.
Em 1914, fiscais de caça e capatazes
haviam assegurado a vitória na sua guerra aos animais.
Quase todos os predadores estavam extintos...
com a exceção óbvia dos caçadores.
O que iniciou em Sarajevo em 1914
foi um tipo totalmente diferente de guerra.
Ela acabou 4 anos depois.
As classes trabalhadoras haviam se sacrificado aos milhares
na "guerra para acabar a Grande Guerra".
A classe alta sentiu uma certa obrigação com os sobreviventes,
e também sentimento de culpa de que a guerra revelara
a fraqueza da sociedade britânica.
Os operários britânicos tinham se mostrado
subnutridos, inadequados, não habituados ao ar livre.
Na década anterior à guerra,
várias organizações da classe operária
haviam demonstrado interesse crescente
nas áreas mais remotas da Escócia.
Nos anos 20, eles circulavam até os Trossachs,
Ben Lomond, ou aqui nos Alpes Arrochar.
O governo via isso com bons olhos.
Mais exercício significava melhor saúde.
Operários que se esforçavam assim
prestariam melhor serviço ao Estado.
Havia até conversação para criação de parques nacionais,
não pelo bem do meio ambiente.
A visão era de ar puro, exercício,
paisagem grandiosa e melhoria da linhagem.
Conforme a década avançava, ficou claro que havia
um espectro assombrando os donos de propriedades de caça.
O espectro do sacrifício pessoal
de milhares de hectares pelo bem comum.
Eles não gostaram disso.
A campanha a favor de parques nacionais cresceu.
Um movimento paralelo para a criação
da Organização Escocesa de Albergues da Juventude
também surgiu.
A revista "Scots" publicou matérias seguidas,
afirmando que os charcos e florestas da Escócia
haviam sido convertidos em parques particulares,
com acesso público apenas às margens.
Várias áreas foram classificadas como adequadas para parque,
mas os Cairngorms eram francos favoritos.
Então a eleição de maio de 1929 criou um parlamento equilibrado.
O trabalhista Ramsay MacDonald tornou-se primeiro-ministro.
Seu apoio a um parque nacional nos Cairngorms era conhecido,
no outono daquele ano ele formou a Comissão Addison
para estudar a viabilidade de parques nacionais.
Os donos de propriedades nos Cairngorms
temiam que suas terras fossem estatizadas,
que fossem sufocados pelo que um dos proprietários chamou
de "meninos de ruas de Glasgow".
Eles formaram sua própria comissão.
O rei George V passou a apoiá-los quando surgiu boato de que
parte da propriedade de Balmoral podia ser destinada a parque.
A ideia de um parque nacional nos Cairngorms
pôs-se no seu lugar,
submeteu-se à classe superior
e recolheu-se à sua insignificância.
Mas em 1935, uma propriedade do lorde Strathcona
foi posta à venda em Glencoe,
incluindo a majestosa Buchail Etive Mor,
uma magnífica montanha, uma escalada desafiadora.
Arrecadaram fundos para comprar a terra
para o novo Fundo Nacional da Escócia.
Ela fracassou, mas surgiu um misterioso doador
com o dinheiro necessário.
Quem, na falta de um parque nacional,
fornecia esse generoso prêmio de consolação
para os caminhantes escoceses?
Foi o presidente do Clube de Montanhismo Escocês.
Percy Unna traiu a sua classe.
Unna insistiu para que sua identidade ficasse em segredo,
e no ano seguinte ele fez outra doação,
alcançando o total de 20 mil libras.
O dinheiro foi gasto em terra contígua à primeira comprada.
Assim, de certa forma, a Escócia tinha um parque nacional.
O dinheiro veio com certas condições,
que ficaram conhecidas como as "regras de Unna".
O público teria acesso irrestrito. Que bom!
Mas a terra deveria ser conservada
em seu estado primitivo, rudimentar.
Nada deveria ser feito para facilitar ou tornar mais segura
a escalada das montanhas.
Não devia haver sinalização ou abrigos nas colinas.
É impossível negar a generosidade do ato de Unna.
Mas as regras mostraram a quem procuravam beneficiar,
os montanhistas. Os montanhistas experientes.
O povo comum podia ficar ao nível do chão,
olhar para Buchail Etive Mor e admirar.
Unna acreditava em um tipo diferente de aristocracia.
Para Unna, Glencoe era perfeita do jeito que estava.
Suas regras a envolveram numa bolha.
Nada podia ou devia mudar.
Na verdade, a bolha cobria as terras altas inteiras.
Nem os proprietários de terra nem os montanhistas
queriam que as terras altas mudassem.
E os turistas que Unna relegou aos sopés
ficaram felizes em estar numa paisagem quase estéril
praticamente inabitada por quase 150 anos.
Mas no início dos anos 30,
um jovem cientista inglês chegou à Escócia.
E quanto mais a estudava,
mais acreditava que a paisagem escocesa tinha um futuro...
..como também um belo passado trágico.
Frank Fraser Darling chegou em Tanera Mor,
no extremo noroeste escocês, em 1937.
Ele viera provar que era possível cultivar.
A opinião dominante era que a agricultura
era incapaz de prover mais que subsistência,
mas Darling atribuía isso
aos 200 anos de criação de ovinos e às florestas de cervos
que empobreceram o solo das terras altas do noroeste.
Ele começou a renutrir o solo com algas,
conchas, escória industrial e estrume.
Após 4 anos de árduo trabalho, a ilha floresceu.
Vacas e ovelhas prosperavam.
Ele restabeleceu a qualidade das gramíneas das cercanias.
Ele plantava milho, batata, nabo, repolho, couve,
cenoura, couve-flor, brócolis, alface, cebola.
Estava claro que se podia fazer o deserto florescer.
Darling conquistou renome.
Ele escreveu a respeito.
Após a guerra, o Secretário de Estado escocês
designou Darling para criar um relatório
sobre o estado das terras altas do oeste.
O relatório que ele apresentou continha a ideia revolucionária
de que o ser humano era parte da natureza,
não apenas seu guardião.
Ele descreveu a ecologia das terras altas do oeste
como um organismo que o ser humano abusou e matou.
Afirmou que parte desse abuso foi a dizimação efetiva
da cultura gaélica original
que tratava o meio ambiente com mais respeito.
Darling sabia que o turismo seria peça vital
do futuro das terras altas.
Mas recuperar a paisagem extinta
iria exigir mais uma vez o povo que aqui vivia,
gente treinada com modernas técnicas agrícolas
que soubesse que a natureza precisava de proteção.
A questão não era que houvesse muitos cervos, ovinos,
poucas vacas, águias, doninhas e ratazanas.
Era que não havia gente suficiente.
A ideia de Darling de que as terras altas
deviam ser repovoadas não agradou.
O governo considerava os cumes e vales quase vazios
como fonte ideal de energia hidrelétrica.
Donos de terras, caminhantes e montanhistas
queriam que tais vales continuassem vazios.
Darling foi preterido para cargo de chefia
no recém-criado Instituto de Preservação da Natureza,
por acreditar que o homem era parte da natureza.
Seu estudo das terras altas do oeste foi ignorado,
escrito por um homem cujo nome foi enlameado.
Frank Fraser Darling foi para os EUA
onde virou astro do novo movimento
pela consciência ecológica.
Quando ele morreu em 1979,
o ambientalismo tinha começado a fazer sentido para as pessoas
que outrora descartaram o estudo das terras altas do oeste,
os políticos.
Na Escócia, o Estado começou a aplicar tais ideias,
e a paisagem estéril outrora aproveitada
apenas pelos ricos e seus empregados
começou a se recuperar.
Temos parques nacionais criados pelo Parlamento escocês
logo após a sua autonomia.
Estes parques, um perto do lago Lomond em Trossachs
e outro em Cairngorms, não são meros locais para recreação.
O meio ambiente está preservado, aqui e em outros locais,
por órgãos governamentais e fundos privados.
As florestas de cervos ainda cobrem
8 mil km quadrados das terras altas.
Mas hoje a lei obriga seus donos a cuidar do meio ambiente.
Em Glen Feshie, onde o boom de florestas de cervos
começou há quase 200 anos,
os donos de terras decidiram abater 10 mil cervos
para permitir que a natureza se recupere.
Pensei que na caça desportiva vocês desejassem muitos cervos,
mas vocês estão reduzindo-os ao mínimo.
Qual é a estratégia?
Bem, acreditamos que fomos longe demais,
ou que a propriedade seguiu o caminho errado.
Há 10 anos, durante maior parte do ano,
veríamos facilmente 1.000 cervos
nesta parte de Lower Feshie.
- É muito cervo. - Densidade agrícola.
Sem esperança de recuperação.
Seria cerca de 40 cervos por km quadrado.
E reduziram a quanto? Eram 40, e hoje?
Apenas um.
- Caiu de 40 para 1? - Sim.
Talvez em algum lugar com cerca de três,
as árvores começam a reagir, começamos a ver mudas.
Que outras mudanças viu na fauna?
Vimos...
as ratazanas de cauda curta aumentaram drasticamente.
Temos falcões, e recentemente vimos
um esmerilhão não muito longe daqui,
uma visão bastante rara.
Temos muitas corujas marrons, corujas da igreja.
As árvores e cervos são apenas parte disto.
Da recuperação do ecossistema.
Será que a natureza da clientela mudou quando os cervos reduziram?
Hoje, é preciso estar em forma para caçar em Glen Feshie.
Não se anda e encontra facilmente um cervo.
Como era há 10 anos quando havia milhares de cervos?
Como eram os caçadores à época?
Eram bastante bêbados e pesados!
Gente gorda e bêbada atirando. Parece assustador!
Em Glen Feshie, Thomas MacDonnell administra
o que ele espera seja um dia um parque nacional de PPP,
financiado por seu dono e pelo governo.
Caminhantes, alpinistas e campistas
são bem-vindos em Glen Feshie,
assim como hoje o são em quase toda parte das terras altas.
Seja a terra particular ou não,
o direito de acesso na Escócia hoje em dia não tem precedentes.
Mas o manejo ambiental foi apenas
parte do recado de Fraser Darling.
Uma das espécies que ele esperava trazer de volta
era a dos humanos.
A menos de um vale de distância de Glen Feshie
fica a propriedade dos Rothiemurchus,
onde Edwin Landseer e a duquesa fogosa trocavam carícias.
A antiga floresta hoje é foco de todo tipo de atividade turística.
E 1.600 km adiante, Aviemore se desenvolveu,
graças em parte ao teleférico inaugurado
na montanha Cairngorm em 1960.
No final dos anos 50, ela tinha apenas 300 habitantes.
Sua população hoje é de cerca de 3 mil.
Em razão dos turistas que atrai todo ano,
Aviemore cresce em diversas direções.
Ela não é bela. Não há razão para mentir.
Mas uma nova cidade nas terras altas
com população crescente e emprego pleno
é algo para comemorar.
Poucos lugares nas terras altas podem atrair turistas anualmente.
Mas o turismo não é a única resposta.
Graças à internet e às tecnologias de baixo impacto,
o lento mais constante repovoamento
das terras altas e ilhas está em curso.
Em outros locais há empreendimentos
que dispensam os donos de terras,
o que é ótimo, considerando que, há 150 anos,
os donos de terras estavam expulsando seus arrendatários.
Até 1997, a ilha de Eigg era como as demais propriedades
que se espalhavam pela Escócia como rastilho no século XIX,
pertencentes à única pessoa.
Mas desde 12 de junho de 1997,
os habitantes de Eigg controlam seu próprio destino.
Eles concluíram a compra da comunidade
e a ilha tornou-se propriedade de um fundo,
do qual cada um dos seus 63 habitantes era sócio.
Todo ano, eles celebram o dia da independência,
e a população tem crescido.
Hoje, há mais de 90 pessoas em Eigg
e o número segue crescendo.
Nasceram dois bebês ano passado.
- Foi motivo de comemoração. - Novos habitantes!
Teremos 10 crianças na escola primária após as férias de verão.
- Isso é muito bom. - É ótimo.
Espero que as pessoas estejam treinando atrás de mais!
Também espero!
Uma pequena ilha como esta, com longas noites de inverno.
Mas é ótimo. Parece que a comunidade está crescendo.
De certa forma, acho que isto é o âmago da ilha, a eletricidade.
É o nosso parque eólico, provavelmente
um nome pomposo...
Não é o que a maioria pensa ao imaginar parques eólicos.
São turbinas eólicas de 6 quilowatts
que estão ligadas a... Temos 3 hidrelétricas no total.
E temos 10 quilowatts oriundos de placas fotovoltaicas.
- A rede nacional de Eigg? - Isso mesmo.
A ilha está repleta de casas,
casas às quais a rede nacional de Eigg
nunca estará ligada.
O que ocorreu no continente aconteceu aqui.
Outrora, Eigg abrigou uma população de 400 pessoas.
Nunca mais voltará a abrigar.
Hoje, o Fundo Eigg pretende permitir no máximo 120.
Há 3 fazendas em Eigg, 21 plantações,
uma empresa florestal.
Certos empregos dependem diretamente do turismo,
outros, não.
Um ilhéu trabalha como pesquisador,
outro organiza eventos para uma produtora do continente.
Graças à banda larga e à economia do conhecimento,
não é mais preciso morar na cidade onde se ganha dinheiro.
A bolha que outrora cobriu as terras altas estourou.
E, hoje, há espaço para diversos futuros.
Espaço para parques nacionais, públicos e privados.
Espaço para o meio ambiente se recuperar.
Espaço para caminhantes, turistas e montanhistas.
Espaço para as pessoas viverem.
Vários habitantes de Eigg são imigrantes.
Eles não falam gaélico,
mas amam a terra na qual vivem, assim como seus filhos.
Seus netos ainda não se decidiram.
Há pouco menos de 50 anos,
o jovem que escolhesse ficar na terra natal nas terras altas
estava escolhendo uma vida de oportunidade limitada.
Isso não é mais verdade.
Este episódio trata de terra,
mas, em verdade, trata de gente.
Embora fosse ótimo ver mais lugares como este,
também seria ótimo ver mais gente em lugares assim.
O suficiente, talvez, para que, um dia,
as histórias das pessoas que hoje vivem aqui
pudessem ser transmitidas, de vale a vale, de ilha a ilha,
não por cabos de telefonia, mas de boca em boca.
Acho que Frank Fraser Darling teria aprovado.
Eu aprovo.
MUSKETEERS Legendas Para a Vida Toda!