Tip:
Highlight text to annotate it
X
Há apenas alguns meses atrás, a maioria das pessoas nunca sequer tinham ouvido falar
sobre um site chamado WikiLeaks, ou sobre seu misterioso
e excêntrico fundador, Julian Assange.
Mas neste curto período de tempo ambos conseguiram abalar
os mundos do jornalismo, diplomacia e segurança nacional.
O WikiLeaks, que solicita e publica
documentos material secreto e suprimido de informantes ao redor do mundo,
está sob o cyber ataque de governos
que querem encerrar suas atividades.
E Assange atualmente está sob ataque legal do Governo dos EUA
que gostaria de prestar queixas de espionagem contra ele
por publicar volumes de documentos confidenciais
do Pentágono e do Departamento de Estado.
"60 Minutos" e seu correspondente Steve Kroft passaram dois dias com ele
na Grã Bretanha, onde ele atualmente se encontra em prisão domiciliar,
enquanto enfrenta um pedido de extradição da Suécia para averiguação em duas
denúncias de crimes sexuais,
que ele afirma fazerem parte de uma campanha de difamação contra a sua pessoa.
Na sua mais longa entrevista à televisão até o momento,
Assange falou conosco sobre o seu trabalho, sua visão e sua preocupação
de enfrentar acusações criminais nos Estados Unidos.
Trazido a você por WikiLeaks Brasil http://wikileaksbrasil.org
fight the powa!
Steve Kroft: Você tem sido chamado por vários nomes.
Você tem sido caracterizando como um herói e como um vilão. Um mártir. Um terrorista.
Julian Assange: Eu ainda não sou um mártir.
Kroft: Certo.
Assange: Vamos deixar desse jeito.
Até o momento, Assange está sendo mantido em uma bucólica residência inglesa de 600 acres
com um bracelete, um toque de recolher às 10 horas,
e uma lenta conexão à Internet.
Ele se recusou a falar conosco acerca das denúncias que está respondendo na Suécia,
sob o conselho de seu advogado.
Ainda não foram prestadas queixas formais contra ele que afirma ser inocente.
Kroft: Bem, eu suponho que se fosse para ficar em prisão domiciliar,
haveriam lugares piores.
Assange: Bem, é uma gaiola dourada. Mas ainda é uma gaiola.
Mas quando você é forçado a ficar em algum lugar
contra sua vontade, este se torna um lugar
que você quer deixar.
Este é um desvio radical do estilo de vida ao qual o ambulante
xereta da Internet está acostumado - pulando de cidade a cidade,
país a país, e regularmente mudando de telefone celular,
cortes de cabelo e aparência em geral, diz ele, para burlar a vigilância
e evitar ser morto, sequestrado ou preso.
E existem razões para a sua paranóia: Nos últimos quatro anos,
o WikiLeaks divulgou informações que representaram um papel importante na decisão
das eleições de 2007 no Kenya, e alimentaram a fúria
que recentemente depôs o governo da Tunísia.
Ele também divulgou a lista de membros de
uma organização Neo Nazista da Grã Bretanha,
e documentos secretos da Igreja Cientológica.
Tudo isto antes de Assange começar a publicar os segredos dos EUA,
provocando aquilo que ele considera declarações ameaçadoras
de pessoas próximas ao poder.
Kroft: A quais declarações você se refere?
Assange: Declarações como a do Vice-Presidente Biden que disse que,
por exemplo, eu era um terrorista high-tech.
Sarah Pallin afirmando que a nossa organização
deveria ser tratada como o Talibã, e deveria ser caçada.
Existem clamores tanto para o meu assassinato
quanto para o assassinato da minha equipe, ou também para o nosso sequestro
e extradição para os EUA para sermos executados.
Kroft: Bem, como você sabe, nós temos uma Primeira Emenda
e as pessoas podem falar o que quiserem, incluindo os políticos.
Eu não acho que sejam muitas as pessoas nos Estados Unidos que levaram a sério
a idéia de que você é um terrorista.
Assange: Eu gostaria de acreditar nisso. Por outro lado,
o incentivo à assassinato é um assunto sério.
E infelizmente há uma parte da população que irá acreditar neles
e poderá levar isso adiante.
Desconsiderando todo o resto, o WikiLeaks é a última demonstração
de que um pequeno grupo de pessoas com uma poderosa idéia
pode se defender com tecnologia e abalar grandes instituições.
No caso do WikiLeaks foi a idéia de agregar segredos dos Estado e das corporações
ao implementar uma caixa de entregas eletrônica na Internet
por onde informantes ao redor do mundo pudessem enviar anonimamente
informação sensível e suprimida.
Os segredos são armazenados em servidores ao redor do mundo,
além do alcance de governos ou execuções legais,
e então divulgados por toda a Internet.
Assange: Os EUA não têm tecnologia suficiente para interromper as atividades do site
Kroft: Por quê?
Assange: Da forma como a nossa tecnologia foi construída,
da forma que a própria Internet foi construída.
É bastante difícil evitar que as coisas reapareçam.
Portanto, nós temos enfrentado ataques em domínios particulares.
Pequenas partes de nossa infra-estrutura foram desativadas.
Mas agora nós temos algo em torno de 2.000 web sites de toda a forma independentes,
onde publicamos informações ao redor do mundo.
O WikiLeaks chamou a atenção da maioria dos americanos em abril último
quando divulgou um vídeo que mostrava a tripulação de um helicótero Apache no Iraque
abrindo fogo em um grupo de alegados insurgentes
que estavam parados em uma esquina de Bagdá.
Alguns desses homens estavam armados (???), mas dois deles eram jornalistas
da Reuters.
Pelo menos uma dúzia de pessoas foram mortas no ataque,
alguns deles civis inocentes.
E então, em Julho,
o WikiLeaks divulgou 76.000 relatórios de campo confidenciais
de operações dos EUA no Afeganistão que proveram
uma visão caótica e desoladora da guerra.
Em Outubro houveram outros 400.000 documentos confidenciais divulgados no Iraque
mostrando que as baixas civis lá eram muito maiores
do que foram divulgadas pelo Pentágono;
e finalmente em Novembro, milhares de cabos do Departamento de Estado
que abriram as cortinas dos bastidores sensíveis da diplomacia.
Os documentos revelavam que líderes árabes faziam lobby para os EUA atacarem o Irã,
e que o Departamento de Estado esteve
secretamente coletando amostras dos líderes das Nações Unidas.
Isto desencadeou clamores de que Assange era um ator político
tentando prejudicar a imagem do governo dos EUA.
Kroft: Você é um subversivo?
Assange: Estou certo de que existem certas visões entre Hillary Clinton e seu grupo de que
nós estamos subvertendo sua autoridade.
Mas você tem razão, nós estamos subvertendo autoridades ilegítimas.
A questão é se a autoridade é legítima ou se ela é ilegítima.
Kroft: Você considera o Departamento de Estado dos EUA uma autoridade legítima?
Assange: Ela é legítima ao passo em que suas ações são legítimas.
E pratica ações ilegítimas.
Kroft: E você perseguiu aqueles que pensou serem ilegítimos?
Assange: Nós não perseguimos nada. Essa é uma idéia um tanto equivocada.
Nós não perseguimos um país em particular.
Nós não perseguimos um tipo específico de organização.
Nós apenas nos mantemos fiéis à nossa promessa de divulgar material
que tem possibilidade de causar um impacto significativo.
(CBS) Para aumentar o impacto dos documentos dos EUA,
Assange decidiu compartilhã-los com algumas das principais organizações de imprensa
do mundo,
incluindo o New York Times - um relacionamento que se tornou complicado
quando Assange publicou a primeira parte dos diários da guerra
sem remover o nome dos afegãos que estavam cooperando
com o exército dos EUA.
Kroft: A crítica mais persistente de dentro da imprensa é a de que
você agiu negligentemente de tempos em tempos.
E o exemplo que eles usam é o fato de você ter decidido
divulgar os relatórios do Afeganistão sem editar o nome das pessoas
que proviam informações ao governo dos EUA.
Assange: Não existe evidência, ou qualquer alegação crível,
ou qualquer alegação de algum corpo oficial
de que nós tenhamos causado prejuízo a qualquer indivíduo
em qualquer época nos últimos quatro anos.
Kroft: O Pentágono disse que analisou todos
os documentos e encontraram os nomes de 300 pessoas.
Assange: Bem, essa informação pública é novidade para nós.
É possível que existem 300 nomes
no material afegão divulgado publicamente.
Nós não temos a intenção de que o nosso processo seja absolutamente perfeito.
Nós realmente mantivemos um em cada cinco documentos para minimizar os danos
e nós também melhoramos o nosso processo.
Portanto, quando foi a vez do Iraque não havia um nome sequer nele.
Kroft: Existem relatos de pessoas citando líderes do Talibã,
dizendo que eles tinham os nomes dessas pessoas
e que eles iriam buscar retaliação.
Assange: O Talibã não é uma medida muito confiável.
Mas nós não estamos dizendo que é impossível
que algo que nós publiquemos possa causar prejuízo a alguém.
Nós não podemos afirmar isso.
Kroft: Existe uma opinião da parte de algumas pessoas
que acreditam que a sua agenda atual é anti-americana.
Assange: De forma alguma. Na verdade, nossos valores fundamentais
são os mesmos da Revolução Americana.
Eles são os valores de pessoas como Jefferson e Madison.
E nós temos americanos que participam da nossa organização.
Se você é um informante e você possui material importante,
nós vamos aceitá-lo,
nós vamos defender você e publicá-lo.
Não se pode rejeitar material
apenas por que ele vem dos Estados Unidos.
Após a divulgação dos cabos do Departamento de Estado,
O Procurador Geral Eric Holder
condenou o WikiLeaks por colocar a segurança nacional dos EUA em risco.
"Existem fortes evidências.
Existe essa conclusão nossa
de que crimes foram cometidos neste episódio,"
Holder anunciou
que o Departamento de Justiça e o Pentágono
estão conduzindo uma investigação criminal.
Eles estão declaradamente revisando o Ato de Espionagem de 1917
e outros estatutos para encontrar uma forma de implicar Assange criminalmente
e extraditá-lo para os EUA.
Assange: É muito revoltante.
Kroft: Você está surpreso?
Assange: Eu estou realmente surpreso.
Kroft: Mas você brincou com forças da natureza.
Você tornou algumas das pessoas mais poderosas do mundo seus inimigos.
Você deveria esperar alguma retaliação.
Assange: Ah, não. Eu realmente esperava uma retaliação.
Kroft: Você aceitou, você ajuntou, você armazenou todo tipo
de cabos e documentos confidenciais.
E então os divulgou na Internet para o mundo inteiro ver.
Eles veem isso como uma ameaça.
Assange: Eles veem isso como muito embaraçoso.
Eu acho que na verdade isso se trata de manter a ilusão de controle.
Eu não estou surpreso com isso.
O que estou surpreso é com o tipo
flagrante de falta de consideração pelas tradições dos EUA.
É isso que me surpreende.
Kroft: Você está chocado?
Alguém no governo australiano disse,
"Veja, se você joga contra as regras
não pode esperar ser protegido por elas."
E você jogou contra as regras.
Você jogou contra as regras dos Estados Unidos.
Assange: Não.
Nós na verdade jogamos pelas regras.
Nós não saímos a campo para buscar material.
Nós operamos da mesma forma como qualquer publisher dos EUA faz.
Nós não jogamos contra as regras.
Nós jogamos pelas regras.
Kroft: Existe um conjunto especial de regras nos Estados Unidos
para a divulgação de informações confidenciais.
Existe uma tradição ...
Assange: Existe um conjunto especial de regras para soldados.
Para membros do Departamento de Estado,
que estão divulgando informações confidenciais.
Não existe um conjunto especial de regras
para publishers divulgarem informações confidenciais.
Existe a Primeira Emenda. Já é o suficiente.
E até onde eu saiba não existe precedente nos últimos 50 anos
da incriminação de um publisher por espionagem.
Simplesmente não se faz isso.
Estas são as regras. Isto não se faz.
(CBS) Ninguém acusou Assange de ter roubado segredos.
O vídeo do helicóptero e os documentos confidenciais
foram alegadamente providos ao WikiLeaks pelo Soldado de Primeira Classe Bradley Manning,
um analista de baixo-escalão da inteligência no Iraque
que é acusado de copiá-los
de uma rede confidencial do governo ao qual meio milhão de pessoas têm acesso.
Manning agora enfrenta a solitária em uma prisão militar na Virgínia,
respondendo por acusações que podem deixá-lo preso por 50 anos.
Kroft: Você afirmou que ele era um prisioneiro de consciência, certo?
Assange: Eu disse que se as denúncias feitas contra ele forem verdade
então ele é o principal prisioneiro de consciência
dos Estados Unidos.
Não existem denúncias de que ele tenha feito isso por dinheiro.
Não existem denúncias de que ele tenha feito isso por outras razões
senão políticas.
Agora, eu sinto muito se as pessoas dos Estados Unidos
não querem acreditar
que eles estão mantendo um prisioneiro político.
Mas no caso de Bradley Manning,
as denúncias são a de que ele se envolveu em atividade ilegal
por razões políticas.
Kroft: As pessoas dos Estados Unidos pensam que ele é um traidor.
Assange: Isso realmente não é verdade.
Independente do que aconteça ao Soldado Manning,
qualquer denúncia contra Assange será carregada de problemas
por que o WikiLeaks não esteve sozinho na divulgação de material confidencial.
O New York Times publicou parte desse material.
Se o governo tentar implicar o WikiLeaks criminalmente
e não o The New York Times,
se fará necessário provar que Assange esteve ativamente envolvido
em uma conspiração para obter os documentos ilegalmente.
Kroft: Você incentivou alguém a enviar esse material a você?
Ou você fez alguma coisa em ligação com os casos dos EUA
em termos de incentiver um indivíduo a provê-lo de material?
Assange: Não, nunca.
Kroft: Existem pessoas que acreditam que
isso tem tudo a ver com a próxima ameaça.
Que se eles não vierem atrás de você agora, o que terão feito
será essencialmente endorsar a atitude de organizações pequenas e poderosas
com acesso a informações importantes divulgá-las fora de seu controle.
E que se eles o deixarem escapar, eles estarão incentivando ...
Assange: E então?
- Eles terão de conceder liberdade de imprena?
Kroft: Que é encorajador para você ...
Assange: E?
Kroft: ... ou para outra organização?
Assange: E para todos os publishers. Absolutamente certo.
Isto será um incentivo
a todo publisher publicar sem medo.
É isso que irá incentivar.
Kroft: A publicar informações muito mais perigosas do que essas informações.
Assange: Se nós estivermos falando sobre criar ameaças a pequenos publishers
para fazê-los parar de publicar, os EUA se perderam no caminho.
Ele revogou as suas tradições fundamentais.
Jogou a Primeira Emenda na lata do lixo.
Por que os publishers devem ser livres para publicar.
Quando voltarmos ...
Julian Assange falará sobre o seu passado
suas convicções políticas
e algumas coisas coisas que afirma estarem armazenadas em um dos computadores do WikiLeaks
incluindo informações potencialmente perigosas,
sobre bancos americanos.