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O cérebro é maior que o céu.
Ao pô-los lado a lado
qual será o maior
você decida.
O cérebro é mais profundo que o mar.
São ambos azuis
absorvem-se como esponjas.
O cérebro é só o "Peso de Deus".
Para metade deles, é mais difícil.
E eles serão diferentes como uma sílaba do "som".
O cérebro da criança.
Uma profusão de biliões e biliões de neurónios
estendendo-se a outros tantos
formando triliões de conexões
pulsando com energia eléctrica e química.
Exuberante conectividade.
As células tornam-se super-activas com todas estas conexões
descobrindo-se umas ás outras
formando as bases do que chamamos a algo significativo.
Aprender é conexão
e conectividade, e exuberância.
Começa com um bloco de mármore, para uma escultura
e há ali muito mármore.
Uma criança tem centenas de triliões de conexões no cérebro.
O dobro das conexões de um adulto.
E vem um escultor que tira bocados de mármore
para revelar uma forma.
A experiência é o escultor.
A experiência determina quais as conexões que se devem tirar
e quais se devem deixar.
Isso é o que se chama aprender.
É o mudar a importância das conexões no cérebro
dependendo da experiência.
O cérebro da criança é elástico.
Um motor extremamente flexível para aprender.
A criança aprende a gatinhar, depois a andar
correr e explorar.
A criança aprende a raciocinar, a tomar atenção
e a lembrar.
A criança aprende a fazer amigos.
Mas nada é mais dramático que aprender a linguagem.
Um grande salto que o cérebro faz
que não é menos que um milagre.
SILABA DO SOM. O CEREBRO DA CRIANÇA.
Então ela já começou a falar?
Ela fala, mas nós não a percebemos.
Ela diz palavras, mas sem sentido.
Ela tem cerca de 5 palavras que se percebem.
Ela diz gatinho.
Ela diz olá.
Ela diz papá.
Ela diz apanha.
Ela diz ão-ão, para cãozinho.
Ela tem mais palavras, Nate?
Eu acho que, Nate.
Á sim, ela diz day para Nate.
É ele, o calmeirão.
Olha para isto! Telefone! Olá, quem é?
O desenvolvimento da linguagem representa
uma das mudanças profundas e misteriosas.
Trazemos um bebe do hospital
nascido de fresco com 3,2 kg.
E em 3 anos, essa criança fala com frases
e falar com qualquer pessoa
e enganá-lo com as suas palavras
e inspirá-lo com as suas palavras.
Como é que isto acontece?
Falhas-te!
Quase todas as crianças aprendem a falar
tão facilmente como um pássaro a cantar.
Michael Blankenship é uma excepção.
Aos 5 anos, quando a maioria das crianças domina a gramática
Michael ainda luta para se fazer entender.
E ninguém ainda entende porquê.
Quando Michael estava na idade, esperamos que os miúdos digam mãe ou pai
algum tipo de som.
Ele não produzia qualquer tipo de som. Nem tentava.
Todos os nossos sobrinhos faziam
e notamos que o Michael não.
Acho que o Michael tinha cerca de 2,5 a 3 anos
quando começou a dizer as primeiras palavras.
E mesmo quando começou a dizer mãe ou pai
era ma e pá.
Ele não dizia a palavra completa.
Ele não tinha grande vocabulário
eu diria, provavelmente até aos 3,5 anos.
Então começou a apanhar palavras diferentes.
E nós entendíamo-lo porque vivemos com ele
mas mais ninguém da família o entendia.
O que é que te parece?
É grande ou pequeno?
Pequeno.
As dificuldades do Michael com as palavras
não tem nada a ver com inteligência.
No seu laboratório, na Universidade do Oregon
a neuro-cientista Helen Neville
tenta perceber o que correu mal.
Enquanto Michael está distraído com as marionetas,
eléctrodos no carapuço
apanham impulsos eléctricos, gerados pelo cérebro,
à medida que ouve frases com erros gramaticais.
Á perda de comunicação, no sistema de linguagem em si.
Neville estuda as ligações entre falar, ouvir e compreender.
Partes com ligações próximas com o complexo sistema de linguagem no cérebro.
É muito importante que pegar na linguagem da criança
e avaliar o que é deficiente ou não.
A linguagem depende de diversos sistemas e estruturas no cérebro
que uma falha em qualquer desses sistemas
pode levar a um problema comum.
É um impedimento de linguagem.
Enquanto os cientistas ainda procuram entender
porque é que o cérebro ás vezes falha o processar da linguagem.
Com pratica, crianças como o Michael, podem melhorar.
Michael ainda tem dificuldade em produzir sons com precisão.
Por exemplo, ele não diz o som do "L".
Irá trabalhar mais tarde nos sons do "R", no "V"
e nos "TH".
Ele melhorou muito nos sons iniciais, que não conseguia
e agora já consegue.
Através da repetição e pratica
Michael está a tornar-se fluente na linguagem falada
que é seu direito como ser humano.
Ele está a moldar o seu próprio cérebro.
Mudando-o com cada sílaba e som.
Ele está excitado ao expandir o seu vocabulário
a aprender a dizer palavras.
Ás vezes não é muito
mas está a conseguir.
Todas as semanas há diferenças na fala.
Está a melhorar.
O cérebro humano é altamente adaptável.
E o cérebro jovem mostra uma habilidade maior para mudar
que o cérebro mais velho.
Ao estudar o Michael e outros como ele
estamos a adquirir um conhecimento básico
de como um sistema de neurónios, no cérebro
pode dar origem à linguagem humana.
Esta maravilhosa habilidade, não tem limites.
Sem limites, podemos gerar novos sentidos, que nunca ouvimos falar.
É um fenómeno. Podemos compreender
mesmo que nunca tenhamos ouvido falar.
Como é possível?
Há milhares de línguas humanas
e os bebes nascem com capacidade para aprender qualquer uma.
Começam por ouvir.
Um bebe distingue através de um monte de sons
com mais perspicácia que um maestro
a ensaiar uma orquestra sinfónica.
Na Universidade de Washington
a neuro-cientista Pat Cool
tem estudado os blocos de construção da linguagem.
As vogais e consoantes que constituem as palavras.
Nesta experiência vemos como as crianças reagem
aos sons da sua língua nativa
e aos sons de uma língua estrangeira.
Gravamos o que acontece ao cérebro
à medida que o bebe ouve, em chinês, ***.
E o que acontece ao cérebro quando esse som muda para TSHI.
Claro que para nós, parece ***, ***.
Parece-nos a mesma coisa.
Estamos interessados em saber se o bebe percebe a diferença.
Quando há uma mudança física nos sons.
Como americanos, nós não diferenciamos.
Soa à mesma categoria de sons SH.
Para os chineses, eles dizem que não, há uma mudança clara.
A coisa interessante que este estudo mostra, é que
à nascença e durante um pequeno período
os bebes têm esta incrível habilidade de distinguir diferenças
entre os sons usados em todas as línguas do mundo.
Os bebes têm melhor performance que nós.
No principio, gosto de me referir a eles como cidadãos do mundo.
E claro que nós não somos cidadãos do mundo.
Somos ouvintes com ligações culturais.
Aos 7 meses, os bebes ainda são cidadãos do mundo.
Mas quando chegam aos 11 meses
são cidadãos só de um país.
Especialistas numa só língua.
Aos 11 meses, começam a comportar-se como os seus pais.
Estes bebe não reage à mudança entre *** e TSHI.
Agora é ***, *** para o bebe, como para nós como adultos.
A novidade é que aos 11 meses não nos apercebemos da realidade.
Não reagimos ás diferencias reais dos sons.
Ouvimos através deste filtro
que se desenvolveu, cedo na vida
à medida que mapeamos os sons da nossa língua
durante a audição.
O bebe começa com uma habilidade perspicaz para ouvir coisas distintas.
A façanha do desenvolvimento é formar categorias
e ignorar algumas coisas.
Coisas que serão boas para uma língua estrangeira
mas não para a língua que se está a aprender.
E essa habilidade produz um cérebro que é muito diferente
daquele que vimos à apenas 4 meses.
Á medida que a criança se torna num adulto
o cérebro torna-se mais complexo.
Um intrincado órgão modular
com muitas partes especializadas.
Em quase todos os adultos
a linguagem está localizada no hemisfério cerebral esquerdo.
Vocabulário, gramática, compreensão
são sistemas de linguagem diferentes
com os seus próprios circuitos neurais.
Temos muito pouco conhecimento de como
esta parte altamente diferenciada se forma.
Como se torna assim? É isso que queremos saber.
Está lá à nascença? Desenvolve-se com o tempo?
O que conduz o desenvolvimento? Será baseado nos nossos genes?
Ou depende da nossa experiência?
O que vamos fazer hoje, é medir a resposta do cérebro
se ela compreende a lista que você fez
e gravaremos diferentes áreas do cérebro
para saber se há áreas com mais actividade ou não.
Quão especializado é o cérebro de um bebe?
Que parte do cérebro usa o bebe para compreender palavras?
Numa série de experiências na Universidade da Califórnia, em San Diego
Psicóloga de desenvolvimento Debra Mills
constatou que bebes com 13 meses
ouvem e compreendem com ambos os hemisférios cerebrais.
Mas aos 20 meses, quando os bebes aprendem até uma dúzia de palavras por dia
aumentando o tamanho do seu vocabulário dramaticamente
o centro de linguagem no cérebro começa a mudar para o hemisfério esquerdo.
Onde estão os pés? Muito bem!
Onde está a mão? Muito bem!
O que leva à especialização da linguagem?
Será um processo biológico inevitável?
Um produto da maturação cerebral da criança.
Ou será um resultado da experiência adquirida com as palavras?
Crianças que compreendem mais que uma língua
ajudam os cientistas a responder a estas perguntas.
Ariel Elgasse tem quase 2 anos.
Porque os seus pais falam inglês e espanhol
ela compreende ambas as línguas.
Mas ela sabe mais palavras em espanhol do que em inglês.
O que faz com que Ariel seja um sujeito perfeito para esta experiência de Mills.
Se só a idade, for a responsável pela especialização cerebral
então aos 2 anos, ambos, o inglês e espanhol
deveriam começar a mudar para o hemisfério esquerdo da Ariel.
Mas se a responsabilidade pela especialização cerebral
for o aumento do vocabulário
então o hemisfério esquerdo de Ariel reagirá a palavras espanholas
enquanto no inglês haverá reacção por todo o cérebro.
De facto, a equipe de Mills, constatou que em crianças como Ariel
o cérebro começou a especializar-se a reagir ao espanhol
a língua que conhecem melhor.
Palavras em inglês, provocam uma reacção mais difusa
em todo o cérebro.
Isso sugere que é a experiência na linguagem que conduz à especialização.
Não pode ser a maturidade, porque é na mesma criança, no mesmo cérebro.
A revelação surpreendente que aconteceu nos últimos anos, é que
a experiência tem um papel fundamental
em conduzir o desenvolvimento da diferenciação no cérebro.
Se a linguagem está localizada no hemisfério esquerdo
o que acontece se o hemisfério esquerdo for comprometido
por um acidente ou doença?
Durante a maior parte dos seus 8 anos de vida
Katie Warwick, sofreu ataques tão devastadores
que até hoje, ela não consegue falar.
Depois de discussões agonizantes com doutores
no Hospital John Hopkins, em Baltimore
os seus pais, decidiram-se.
Os médicos de Katie aconselharam-nos
que a sua pequenina só tem uma hipótese de viver como as outras crianças.
Acabar com os ataques, eliminando a parte do cérebro responsável.
O hemisfério esquerdo.
Vai ser removido cirurgicamente à Katie, quase metade do seu cérebro.
Quando nos dizem, tudo o que ouvimos é o risco.
Á 4 anos dissemos que nem considerávamos isso.
Não é uma opção para nós. Vamos explorar todas as possibilidades com drogas
antes de começarmos a pensar nisso.
4 anos depois, foi o que fizemos.
Não há mais drogas no mercado para ela.
Já passou por todas.
A operação levará 6 horas.
Se tiver sucesso, os ataques vão parar.
E Katie talvez aprenda a falar outra vez.
Tenho que repetir a mim mesma, que o resultado vai valer a pena.
Foi à 7 anos que Michael Rehbein de 14 anos
que a parte esquerda do seu cérebro foi removida.
De 2 em 2 anos, ele encontra-se com outras crianças como ele.
São um bando pequeno.
Crianças que fizeram a operação que curou os seus ataques
mas roubou-lhes parte dos seus cérebros
deixando-os parcialmente paralisados.
Ele teve de aprender a andar outra vez.
Aprender a falar outra vez.
Foi como volta a ser bebe outra vez.
Começar do principio.
Ele sabia o abecedário, contar do 10 para trás...
Teve que aprender tudo de novo.
- Foi muito difícil. - Uma batalha árdua.
Ainda hoje é. Coisas que ele terá de aprender até ao fim da sua vida.
Vais bem? Pareces bem?
Vou-te dizer o que vamos começar a fazer.
Vou dizer 2 palavras.
Quero que prestes atenção.
Diz-me se elas são iguais ou não.
Estás pronto?
No Hospital John Hopkins
a neuro-cientista Dana Boatman
tem testado Michael Rehbein desde que o hemisfério esquerdo foi removido.
Parte do seu estudo é acerca
de como as crianças compreendem a linguagem falada.
Uma das descobertas surpreendentes, no nosso estudo
é quando testamos a compreensão de Michael o discurso
independentemente da sua capacidade na fala
ele comporta-se nos limites normais da sua idade.
O hemisfério direito parece fazer um trabalho tão bom
como o esquerdo na compreensão da linguagem falada.
Isso sugere-nos que essas capacidades
não acontecem só no hemisfério esquerdo
mas estão representadas nos dois hemisférios do cérebro.
Vais ficar acordado? Acho que fizeste uma soneca hoje.
- Não fiz. - Então vais dormir hoje?
Parece haver mais elasticidade aqui da que tínhamos antecipado.
Como achas que consegues fazer todas estas coisas?
Tentando fazer o melhor.
Persistência, persistência é a chave. -Determinação.
Pareceu-me realmente trabalho árduo. Eu vi-te a fazer aqueles ***.
São difíceis?
Alguns são difíceis, alguns fáceis.
Qual é a parte mais difícil? É recordá-los?
Não, é falar.
A fala é a coisa mais difícil para o hemisfério esquerdo.
Paciência em ultrapassar. Porque perde-se centro do discurso.
A memoria está boa. Ele consegue lembrar-se de tudo.
Eu gosto de matemática.
- Mas o falar? - Difícil, um pouco.
Todos os sábados, durante o verão
Michael corre em pequenos carros de corrida
na Tricounty Speedway perto de sua casa
no Estado de New York.
- Já teve medo? - Mais do que uma vez.
- Quantas vezes capotas-te? - Duas.
Tive um medo de morte.
Fechei os olhos.
Deve ter fechado os seus olhos também.
O meu coração estava na garganta.
Vimos-te correr, depois o carro avariou-se. Que aconteceu?
Avariou-se uma vela.
Todas elas.
Ele não tinha nenhuma no bolso.
- Como te sentis-te? - Triste.
Odeias quando pequenas coisas te correm mal, não é?
Como era o Michael antes da cirurgia?
Lembras-te?
- Subia ás arvores. - Era muito atlético.
Estavas em Tasty Frees uma noite, lembras-te?
E olhas-te e não o vias, quando te viras-te ele estava lá em cima do pau.
E depois os ataques começaram.
Quando os médicos locais não sabiam dizer aos Rehbein o que estava mal
eles levaram o Michael ao Hospital John Hopkins.
Eu acho que eles sabiam o que era antes de cá chegarem.
- Só pelas descrições. - Sim, só por olhar para ele.
E eles, tipo, baixaram os olhos.
Eles tomaram muitas decisões, muita busca.
No dia em que era um dia bom
ele tinha 50, 60, ou 70 ataques.
Sentávamos e dizíamos: Queremos fazer-lhe mesmo isto?
Será algo que o vai beneficiar?
E no dia seguinte ele tinha talvez 300 ou 400 ataques.
Não havia duvidas nesse dia nas nossas cabeças.
Finalmente chegámos ao ponto em que ficou tão mau...
- Que tínhamos de fazer alguma coisa! - Que tínhamos de fazer alguma coisa!
E no dia em que mandámos para cirurgia
ele não teve nenhum ataque, nesse dia.
Comecei a testar o Michael na 1ª semana depois da cirurgia
e apesar do facto de ele não falar, nessa altura
ele mostrava uma aptidão
a ouvir e processar a linguagem falada.
Isso sugere-nos que estas crianças já têm
as capacidades no hemisfério direito
para adquirir a linguagem
e podem usar essas capacidades para desenvolver a linguagem.
6 meses depois da cirurgia
a capacidade de compreensão da linguagem do Michael
eram as mesmas que antes da cirurgia.
Nessa altura ele produzia
uma ou duas palavras, espontaneamente.
Muito devagar, a capacidade para produzir palavras volta
no decurso de pelo menos 2 anos.
A extensão em que eles conseguem produzir um discurso fluente
parece variar de criança para criança.
Eu tive o Michael na minha aula, acho que 7 meses depois da operação
e ele não usava frases completas. Falava sempre
em frases de 2 ou 3 palavras.
Fazendo muitos gestos.
Trabalhámos muito a tentar que o Michael aumentasse o seu vocabulário
para falar em frases.
Lembro-me da 1ª frase completa que ele me disse
que ele nos deu
ele disse-me: -Gosto de si com todo o meu coração.
Michael, estás acordado?
Sim.
- Vais dormitar aí? - Não.
Bom!
Ao scanear o cérebro de crianças como o Michael
que perderam os seus hemisférios esquerdos
Dana Boatman tenta compreender como os sistemas de linguagem
foram reorganizados.
Estás preparado para começar a trabalhar?
Sim.
Vais ouvir aqueles sons agora.
Quero que decidas se são os mesmos ou diferentes.
Se forem os mesmo, carrega no botão. Lembras-te dessa parte?
Sim.
Sabemos que o hemisfério direito suporta a recuperação da linguagem.
Começamos a tentar identificar
as áreas exactas no hemisfério direito que foram recrutadas.
Será a mesma área que a criança usava no hemisfério esquerdo?
Ou será uma área diferente?
Precisarão de mais área no hemisfério direito para suportar linguagem
da que necessitavam anteriormente no hemisfério esquerdo?
As descobertas preliminares de Boatman
mostram que áreas no hemisfério direito
que tomaram o trabalho de compreende a linguagem
correspondem ás áreas no hemisfério esquerdo.
Mas o hemisfério direito, não é tão eficiente como o esquerdo.
O Michael precisa de mais hemisfério direito
para compreender a palavra falada
de que uma criança com os dois hemisférios.
Temos agora crianças com 16 anos
que fizeram lobotomias no hemisfério esquerdo
que conseguiram recuperar a capacidade de compreender a linguagem
tão bem, como tinham antes da cirurgia
e como crianças normais.
Isso sugere que precisamos de rever a noção
do limite de idade para estas cirurgias serem feitas
e tomar em consideração, o facto de que funções em diferentes línguas
podem ser afectadas diferentemente pela idade.
Ele é o mesmo rapaz que era antes da cirurgia.
Não perdeu a sua determinação.
Continua a tentar, tentar, tentar...
Aprendemos a confiar uns nos outros, bastante.
- Somos uma família muito unida, não somos? - Sim.
Num sentido isto protelou alguma infância dele.
Protelou também de nós.
Nos anos em que ele esteve no primeiro 2º ciclo
foram anos preciosos, ainda são, mas foram muito frustrantes também.
Não poderíamos pedir por um rapaz melhor.
Na elasticidade do cérebro da criança
há razões continuas para esperança.
6 meses depois do seu hemisfério esquerdo ser removido
Katie Warwick já não sofre as violentas tempestades no seu cérebro.
Apesar dos anos de ataques deixarem a sua marca
o hemisfério direito de Katie está a adaptar-se ás suas novas responsabilidades.
É uma alegria, vê-la excitada por alguma coisa.
Ela acorda feliz!
Está bastante sintonizada com o que a rodeia, mais desperta.
É como um acordar.
Disse ao Robert que é como ter uma criança diferente.
Temos de aprender a conhece-la de novo.
A linguagem de Katie está a começar a voltar.
A sua compreensão melhorou.
Ela mostra sinais de querer falar.
Os sons começam a sair dela.
A seu modo, na sua linguagem.
Como um bebe.
Quando começam a falar, não são muito explícitos
mas percebemos aquilo que querem.
Olhos, ouvidos.
Nariz.
A cada 2 semanas vemos alguma coisa diferente.
Sentimo-nos muito ligados.
Como dizer olá pai e mãe, está tão perto disso.
Vemos ela a formar as palavras
a tentarem sair, o que é um pouco difícil.
Sabem, com os danos que aconteceram...
Mas estamos confiantes.
Era uma vez um príncipe que queria casar com uma princesa.
Mas ela tinha de ser uma princesa verdadeira.
O príncipe olhou e olhou, e conheceu muitas princesas
mas o príncipe mandou-as todas embora.
Para a maioria de nós
falar é tão inevitável como andar.
Ler é outra coisa.
Um desempenho do cérebro que requer uma coordenação sofisticada
de muitas das suas partes.
Ler não acontece simplesmente.
Ler é um exemplo de um dos mais complexos
desempenhos humanos diários que temos.
Se formos pequenos ou jovens
acontece de uma certa maneira no cérebro.
Se formos mais velhos
processos automáticos são usados noutras partes do cérebro.
Se estivermos a ler caracteres chineses
está a ser usado uma parte do nosso cérebro.
Se lermos um alfabeto, usamos outra parte do nosso cérebro.
Uma vez à muito tempo, num sitio escuro e sozinho
onde a luz do Sol, nunca iria lá chegar
viveu um Elfo, com bochechas de mocho e compleição encerada.
Através do vale, onde o Sol brincava em todas as folhas e flores
vivia uma criada, com bochechas parecidas com pétalas de rosas
e cabelos como seda dourada.
Bem, pensem em sintaxe, pensem vocabulário
pensem em palavras que nunca costumamos ouvir em discurso à volta da mesa.
A criança tem de aprender a juntar todas estas centenas de conceitos, para ler.
Para algumas crianças, ler vem facilmente.
Para outras é uma luta
que não tem nada a ver com o seu pensamento ou compreensão.
Para conseguirmos ler, temos de entender
quais são as correlações entre os sons que compõem as palavras
e a informação visual que fornecemos nas letras.
Então o que acontece, por exemplo comparado com a linguagem
que as crianças adquirem muito naturalmente
a leitura tem de ser explicitamente ensinada.
Estão prontos?
O mais rápido que conseguirem.
E que tal este?
Ler são diferentes tipos de comportamentos.
É dar o nome ás letras
é ter a percepção das letras
é a percepção das palavras
é reconhecer as palavras, compreensão.
E todos estes comportamentos utilizam diferentes partes do cérebro.
Indiferentemente de falarmos só de uma letra
ou de falarmos de ler uma passagem de Prewst.
Ao ler, o cérebro tem de casar uma variedade de partes
que evoluem para outras finalidades.
Visão, audição, juízo, memoria
todas entram no jogo
num processo fulminante
que os cientistas começam agora a compreender.
Estamos a falar de uma habilidade extraordinária
que aprendemos.
E a pergunta é quando aprendemos uma habilidade com esta
onde a guardamos no cérebro?
Que parte do cérebro fica disponível para fazer esta habilidade especifica?
Para a criança que começa a aprender a ler
mesmo uma só letra despoleta uma série de reacções.
O cérebro começa a focar a sua atenção
na própria tarefa de leitura.
Então, apanha uma representação visual da letra
e manda-a para as áreas do cérebro
onde o símbolo visual da letra se encaixa com o seu som e significado.
Finalmente a letra é articulada.
É incrível.
Temos cerca de 17 regiões diferentes
que estão envolvidas na leitura.
Uma pode facilmente descarrilar.
Vamos começar por aqui.
Que palavra é esta?
Ombro, ilha
correctamente.
Cientifico, banquete.
Duvidoso...
Posso passar esta?
Podes tentar?
Está bem.
Dá-me o teu melhor.
E estas?
Tenho esta coisa no meu cérebro chamada Exocia.
Não sei, é alguma coisa no meu cérebro.
Não sei realmente o que faz, mas o meu pai sabe.
Sempre ficamos impressionados com a inteligência do Russell.
Ele tem muita criatividade, um forte vocabulário
muito interessado no mundo exterior
consegue juntar conceitos, é muito lógico
é realmente um rapaz brilhante.
A habilidade para aprender a ler
é um dom que nem todas as crianças recebe igualmente.
Milhões, como o Russell com 8 anos
são dislexicos.
Incapaz de traduzir as palavras numa pagina
em sons e sentido.
Quando eras pequeno e começas-te a escola
e começas-te a aprender a ler
tiveste problemas?
Era fácil
porque eram palavras deste tamanho.
E quando eras mais velho?
Começou a ser mais difícil.
Porque as palavras ficavam maiores.
A leitura ficou mais complicada.
Há historia familiar
de pessoas muito espertas, mas com problemas na leitura.
Eu repeti o 3º ano
a minha irmã do meio repetiu na pré-escola
e fomos informadas que tínhamos de repetir
e ir para a sala de estudo depois da escola.
Temos uma aprendizagem lenta.
Dislexia é a incapacidade de aprender a processar
linguagem rítmica
apesar de a inteligência ser adequada
sentidos adequados, exposição adequada
ter tudo adequado
ainda assim, o seu sistema foi elaborado de maneira diferente.
O que acontece no cérebro de uma criança dislexica
que faz com que ler seja tão difícil?
No Hospital Universitário de Georgetown, em Washington D.C.
a neuro-cientista Guinevere Eden
faz TAC's aos cérebros de crianças dislexicas
para ver qual é a diferença do das crianças que lêem sem problemas.
Ouves-me bem Russell?
Sim.
Está suficientemente alto?
Obrigado.
Ainda estamos a tentar saber qual é o mecanismo para a dislexia
como é que o cérebro dislexico é diferente.
Estudos de imagens do cérebro mostram-nos que há algumas áreas
que vemos ter actividade em indivíduos que lêem bem
durante uma tarefa de leitura.
Não as vemos, em indivíduos que têm dislexia.
Uma parte do estudo de Eden
examina o cérebro de crianças dislexicas
à medida que tentam remover o 1º som
de palavras que aparecem no ecrã.
Cientistas demonstraram que o cérebro de algumas crianças dislexicas
não têm actividade nas áreas responsáveis em dissecar palavras
nos seus sons constituídos.
Crianças que têm dislexia não entendem o conceito
que uma palavra é constituída por vários sons.
Por exemplo, na palavra "cat" (gato)
os sons ca... t, nós combinamos os 2 sons.
E ao crescermos a falar
simplesmente dizemo-los como um som.
É isso que precisamos de fazer
para comunicarmos o significado.
Mas agora que temos de mapear o tipo desse som
temos de entender que há de facto 3 sons que constituem a palavra "cat".
Essa capacidade fundamental
de pegar nesse fluxo de linguagem
e pô-lo em pequenas partes sonoras
é essencial na leitura.
De outro modo, a professora diria
"bu... a... t" (mas)
e as crianças não faziam ideia o que ela estava a fazer.
Crianças dislexicas aprendem
mas aprendem de modo diferente.
O Programa Lindemude Bell oferece varias estratégias
para as ajudar.
O que vamos fazer é codificar com blocos coloridos
eu digo uma palavra e tu pões um bloco por cada som que sintas.
A 1ª palavra é "flip".
Bem feito.
O que receitamos para o tratamento de Russell
é um procedimento em que abrandamos
a articulação no modo como dizemos as palavras.
Ele precisa de ser hiper sensibilizado
para a capacidade de separar esses sons
mas igualmente importante é voltar a junta-los
que é o que fazemos quando lemos.
Podes etiquetar-me os sons?
O que sentes que a tua boca faz?
Quando fazes "p" a língua bate ou usas os lábios?
Os lábios.
Certo.
Estimulamos a capacidade deles terem atenção consciente
ao que sentem, quando produzem um som particular.
Um som de sorriso?
Sim, porque lhe chamamos um som de sorriso?
Porque quando o dizemos faz a boca sorrir.
Muito bem.
Estamos a obter mudanças de comportamento.
Noutras palavras, podemos ensinar as crianças a ler melhor.
O que não compreendemos, é
quais são os mecanismos no cérebro
que ao nível neurofisiológico mudam, como resultado desse processo.
Depois de 6 semanas de Lindemude Bell
a leitura de Russell melhorou.
E Guinevere Eden quer saber o que mudou no seu cérebro.
Baseado em estudo prévios
adultos dislexicos, melhoraram a sua capacidade de leitura.
Eden especula que Russell agora usa mais áreas do seu cérebro
para ler, que pessoas normais.
Possivelmente, mesmo partes do seu hemisfério direito.
A coisa será mais representativa
quando tivermos varias crianças que fizerem a mesma coisa.
Vai dar-nos uma melhor perspectiva.
Levará vários anos para Eden completar o seu estudo
mas enquanto ela e outros cientistas esperam para compreender como
crianças dislexicas continuam a remodelar os seus cérebros.
A infância pode ser
um dos períodos mais maravilhosos de toda a vida
porque temos tudo para descobrir.
A criança é o pai do homem, mãe da mulher.
Acho que o cérebro deve de gozar imenso quando criança
porque é muito flexível.
Se houver uma só palavra para desenvolvimento em aprendizagem
é flexibilidade.
E flexibilidade, eu acredito, pode durar a vida toda.
Tradução, adaptação e sincronização por
Pedro Lucas