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WILLIAM:Eu estava aqui pensando, você já teve medo de alguma coisa?
Eu acho que desde que a gente nasce, a gente começa a ser criado através do medo.
Medo do bicho papão, medo da loira do banheiro, medo de tanta coisa..
Tem gente que tem medo de Deus, que fala assim: Deus vai te castigar,
vai te colocar a mão. As vezes a mãe fala assim: "Olha, você vai ver a hora que seu pai chegar".
E a gente vai sendo criado com medo, são tantos medo que vão permeando a nossa vida,
tem gente que tem medo de perder o emprego, tem gente que tem medo de perder o casamento,
terminar um namoro, tem gente que vive com medo.
E pra falar sobre medo nós vamos receber o especialista em neurolinguística,
psicólogo clínico, familiar e profissional da comunicação.
Olha, ele trabalhou por mais de cinco anos no programa casos de família do SBT,
junto com a Cristina Rocha. E hoje ele está aqui no programa crescer você para a gente falar sobre medo.
Vamos receber com muito carinho o Dr Ildo Rosa, meu grande amigo, parceiro de tantos programas.
ILDO: Tudo bem meu querido?
O prazer é meu, William.
WILLIAM: Ildo, posso te chamar de Ildo? Amigo, mas é que é doutor Ildo.
Dr Ildo, você tem medo, Dr Ildo? Não?
ILDO: Eu tenho alguns.
WILLIAM: Tem alguns medos?
O medo tem algum lado positivo? Porque a gente fala muito do lado negativo do medo,
tem lado positivo o medo?
ILDO: Tem, eu estava ouvindo a sua introdução, se a criança realmente vai se desenvolvendo assim...
WILLIAM: Falei muita bobagem na introdução?
ILDO: Não, perfeito. Isso é dito para as crianças o tempo todo,
na expectativa de manter controle sobre elas. Então se eu quero controlar eu inculto a ideia do medo,
e não de uma formação adequada. Você suba a escada assim, desça assim,
mexa com o fogão assim, você vai preparando a criança pra vida.
Nesse caso, você prepara a criança pra não viver, e quando você começa a não viver,
ai você vai para o medo patológico que é o pânico.
E agora está super na moda, sindrome do panico pra todos os lados,
porque as pessoas não se sentem aptas para viver, como se viver fosse algo impossível.
E o universo inteiro foi planejado para que a gente viva, e viva em abundância, não é?
WILLIAM: Eu vi uma vez uma frase que diz assim: a gente tem muito medo, porque o medo fica
no campo da fantasia, todo mundo tem medo daquilo que não sabe do que vai ser,
medo do desconhecido, medo da morte.
ILDO: Se você tem medo da piscina é porque você não entrou na piscina,
não foi apresentado como entrar na piscina, como ter esse respeito pelo mar,
não precisa ter medo do mar, respeite o mar, até o joelho está bom né?
WILLIAM: A mãe fala isso, "não passe do joelho".
ILDO: Eu não sou um exímio nadador, mesmo para os que são,
é desejável respeitar todas as forças da natureza.
Mas você dizia William, tenho medo saudável, medo prudência, medo responsabilidade,
aí vamos falar dos adolescentes?
"Ah, não tenho medo", então vai sem camisinha, vai de qualquer jeito,
depois chama a gravidez de indesejada. Então o medo, consciência, prudência, responsabilidade,
é uma emoção tão saudável quanto o amor.
WILLIAM: Olha que importante isso, como é que é?
ILDO: O medo, prudência, consciência, responsabilidade, é uma emoção tão importante
quanto o amor. Mas a gente gosta sempre de falar do amor, do amar, como se o medo fosse
o grande vilão. O medo é uma emoção muito saudável nessa função que ele tem na nossa vida.
Quem tem medo respeita, num segundo momento procura conhecer.
WILLIAM: Engraçado que em todas as histórias infantis tem bruxa, tem feiticeira, tem ladrão,
tem um monte de coisa, tem João e Maria, tem a bruxa que encontra,
tem o chapeuzinho vermelho que encontra o lobo mau, então a gente fica sempre esperando
o protagonista e o antagonista, o bem e o mal, o tempo todo.
E a vida parece que é assim mesmo.
ILDO: Não é, é mais comodo vive-la assim, porque se você não tem um inimigo suposto,
você não tem motivação. As pessoas tem supostos inimigos.
As pessoas entendem que elas precisam vencer algo fora de si mesmas,
então nós nos tornamos muitas vezes competitivos, desonestos e tal.
Mas qual é o maior desafio? É vencermos o que está dentro de nós.
Aí eu entendo que a proposta do crescer você é esse olhar que vai em direção ao inteiror
de cada um de nós.
WILLIAM: O ser humano tem feito viagens interplanetárias,
e esquece de fazer viagem pra dentro do interior dela.
ILDO: William, nós já quebramos a partícula do átomo, mas não quebramos alguns preconceitos.
Está tão pertinho. Vamos quebrar o átomo? Vamos. E o preconceito? Nao dá.
WILLIAM: Dr Ildo, o senho recebe muitas pessoas assim, quantos anos de carreira já como psicólogo?
ILDO: Vinte e poucos anos.
WILLIAM: Vinte e poucos anos?
ILDO: Uns 50 acho que já tem (risos).
WILLIAM: Nesses 20 e poucos anos o senhor conheceu muitas histórias..
ILDO: Muitas histórias...
WILLIAM: O senhor não leu só livros, leu pessoas, leu a alma humana.
ILDO: Exatamente, eu tenho essa felicidade na minha vida, de ler as pessoas.
WILLIAM: Outro dia o senhor comentou comigo uma coisa importante que diz assim,
uma mulher quis marcar uma consulta e aí o senhor falou assim "as sete da manhã".
Aí ela disse assim "Ué, mas o senhor vai ouvir problemas as sete da manhã?"
E o que o senhor respondeu?
ILDO: Pensar soluções.
WILLIAM: Olhar diferentes para as coisas, né?
ILDO: Mas de fato eu não ouso problemas, a gente pensar soluções
por ângulos que muitas vezes a pessoa não se dá conta.
Ela não se reconhece com esse recurso, ela não sabe que ela tem essa potencialidade,
e a gente vai espelhando isso pra ela, vai mostrando isso pra ela.
É como um grande jardim que vai se florindo.
WILLIAM: E nesses vinte anos tem um medo que as pessoas tem assim muito pavor?
Porque eu citei alguns no começo do bloco, o que você percebe mais?
ILDO: O medo da morte, que é o grande clássico, principalmente para as pessoas que não tem uma religião,
uma filosofia que as ajude a entender essa coisa da vida e da morte.
E pasme você, medo de falar em público.
WILLIAM: É verdade, eu percebo muito isso nos alunos da universidade,
eu faço muitos exercícios com eles "semana que vem vocês vão declamar um poema aquina frente"
tudo mundo fez assim "cara de espanto".
ILDO: Aí a aura do pânico toma conta da sala, não é isso?
WILLIAM: É verdade.
ILDO: Muitos do que você está trabalhando pensam em se tornar professores.
WILLIAM: Exatamente, professores, advogados...
ILDO: É de se pensar, não é?
Como eu vou fazer se eu tenho medo de falar, mas a minha profissão implica nisso?
E o estar na vida implica nisso na verdade.
Então o medo da morte, e o medo de falar em publico são alí campeões.
E depois, na sequência que você colocou, o medo de perder um vinculo de afeto,
de quebrar um vínculo afetivo, ou de aceitar que ele se quebrou.
De ficar sozinho, como se a pessoa não fosse uma boa companhia pra si mesmo.
WILLIAM: Legal isso.
ILDO: A gente precisa se pensar como boas companhias pra nós,
do que eu estou alimentando minha alma?
Porque se você se alimentar de coisas boas você não tem medo de ficar "sozinho" .
Até porque você não vai conseguir, porque naturalmente as pessoas querem ficar ao seu lado.
Das pessoas alegres, das pessoas que cantam, com a nossa Paula, com o nosso Gabriel.
WILLIAM: Lindos, maravilhosos.
ILDO: Não tem muito como a gente não querer chegar perto,
saber algo, conhecer mais, enfim, também descobrir do que eles se alimentam pra conseguirem trazer
pra nós algo de tão bom assim como o show que deram aqui agora.
WILLIAM: O próprio Gabriel Rocha falava nos bastidores pra mim assim " Eu não quero fala,
não quero falar, tenho medo de falar, não me pergunta nada".
Mas Gabriel, você canta, você encanta só com a sua presença.
Que talento que Deus te deu, porque o dom significa presente, que Deus nos dá vários dons.
ILDO: A fala conta das nossas almas.
A imagem a gente produz, não estamos bonitinhos? Todos alinhadinhos aqui hoje, né?
WILLIAM: Estreia do programa, né?
ILDO: Então, a gente faz uma produção, fica bom. Agora a fala fala do meu interior.
A fala conta como está a minha alma, e as vezes eu tenho dúvidas se a minha alma é tão bonita
quanto essa produção que a gente consegue colocar externamente.
Tem uma coisa muito interessante, que todo gago canta.
WILLIAM: Eu já ouvi falar mesmo.
ILDO: Porque o texto não é dele. Não tem problema nenhum, o outro que assinou, eu reproduzo.
WILLIAM: Então quando eu falo eu tenho uma representação...
ILDO: do meu interior...
WILLIAM: da minha fala, da minha alma.
ILDO: Eu estou tendo a "coragem" de espelhar a minha alma.
WILLIAM: O próprio Alejadinho que se expressou em tantas obras de arte fantásticas.
ILDO: Isso, a linguagem tem essa magia. Quando Deus percebeu que nós estávamos distantes
a linguagem foi o elo pra que nós nos aproximássemos.
Numa fala o verbo é muito importante nas nossas vidas.
Então a gente tem que buscar isso, vencer os medos com o conhecimento,
você falava uma coisa muito bonita na sua apresentação e eu estava atento acompanhando.
O pensar, uma das significações da palavra pensar é cura.
Pensar nos leva à cura. Eu vou pensar as minhas feridas, emocionais.
WILLIAM: Então quando a pessoa vai no seu consultório ,bate um papo,
ela vai pensar as suas feridas emocionais.
ILDO: Uma metáfora muito precisa com a ferida física, você precisa limpar aquele curativo,
trocar aquele curativo, cada sessão, cada encontro, cada conversa, casa insight,
como se diz tecnicamente lá na minha área, na minha praia, é um processo de cura
que vai se dando.
WILLIAM: Dr Ildo, por que tem gente que fala em público, se expressa bem, é ótimo profissional,
comanda centenas de funcionários, e depois tem medo de dormir no escuro?
O que é esse medo do escuro?
ILDO: No escuro ele se encontra com ele.
WILLIAM: Vocês ouviram essa? No escuro você se encontra com você mesmo.
Olha que interessante.
ILDO: E se eu não faço um investimento nesse meu interior, lá está cheio de bicho papão,
de fantasmas, a loira do banheiro. Então ele se encontra com tudo isso.
É insuportável estar comigo, mas quando eu vou em direção ao outro,
volto com a ideia da produção. Eu tenho um saber intelectual, uma bagagem,
eu organizo isso e posso encantar o outro, mas os meus fantasmas não foram cuidados.
WILLIAM: Nesses anos todos de experiência, quem mais tem medo da solidão, homem, ou mulher?
Tem isso, ou não?
ILDO: Tem, tem e não é muito difícil da gente imaginar a resposta.
A natureza feminina é plural. Tem uma coisa que me encanta nos meus anos de terapia de casal,
que o par chega, se acomoda na minha sala, e eu pergunto pra ele "como foi a semana de vocês?".
E a mulher diz assim " Ah, nós brigamos segunda, nos entendemos terça, depois nós brigamos quarta,
nos entendemos quinta...". Nós, nós, nós, nós.
WILLIAM: E ele?
ILDO: Ela me incomodou segunda, ELA (risos).
WILLIAM: Me encheu na quarta.
ILDO: Ela não me deixou fazer tal coisa no sábado.
Então é muito da natureza masculina viver o singular, o eu.
WILLIAM: Aliás, você que está acompanhando a gente, ouvindo esse bate papo,
se você tiver alguma ideia escreve pra gente, manda um e-mail: crescervoce@tvmundomaior.com.br
Mande papo, dúvidas pro Dr Ildo. Dr Ildo é aqui de casa,
acho que ele deveria ter um quadro aqui no programa, todo final de programa.
ILDO: A natureza feminina é plural, uma mulher pra ir numa esquina ela sempre pega a bolsa,
e quando ela está arrumando essa bolsa a gente tem uma sensação que ela vai abandonar a casa.
WILLIAM: Pera aí, não conta o que tem nessa bolsa não que eu vou pro intervalo,
e eu já volto e o senhor me conta o que tem nessa bolsa feminina aí. Até já.