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O xadrez, um jogo. A simulação do conflito entre dois exércitos.
16 peças para cada oponente. Se movimentando num tabuleiro de 64 casas.
Tem gente que acha chato, monótono e nem consideram um esporte...
Magnus Carlsen pensava exatamente assim. Ele gostava mesmo é de jogar futebol. Velocidade e agito.
Até descobrir que aquele pequeno espaço oferecia uma incrível possibilidade de ação e aventura.
Se você olha e acha monótono, não vê nada interessante, é porque não sabe o que está ocorrendo dentro da cabeça deles.
Milhares e milhares de possibilidades, peças e posições. Viajando na mente em velocidade espetacular.
Com menos de 30 anos, usa o cérebro de forma especial. Pode mudar bastante tudo que sabemos sobre raciocínio e pensamento humano.
Carlsen é um norueguês que abandonou o futebol para se tornar o maior prodígio da história do xadrez.
Aos 13 anos de idade, com esse rosto de criança, foi capaz de vencer campeões. Se tornando um dos mais jovens atletas a receber o título de GM.
A mais alta qualificação do xadrez, equivalente à faixa preta das artes marciais.
Em 2010, com apenas 19 anos de idade se tornou o líder do ranking mundial. O ser humano que chegou mais rápido nessa posição.
Não por acaso, se tornou uma celebridade. Esqueça aquele estereótipo que jogador de xadrez é um nerd sem graça.
Veja bem o estilo do Carlsen.
Se tornou um garoto propaganda de uma multinacional de roupas.
Viaja pelo mundo, passeia com atrizes de Hollywood.
Conquista milhares de seguidores nas mídias sociais.
Explicações para todo esse sucesso passam por essa incrível capacidade que Carlsen tem de usar a cabeça.
Por ele fazer parte de uma geração que cresceu desde cedo com uma companhia diferente: GERAÇÃO DOS COMPUTADORES.
MONTE CARLO, MONACO.
Para conhecer esse prodígio, viajamos até o principado de Mônaco. Um microestado localizado no sul da França.
Carlsen veio até aqui acompanhado da família para participar de um torneio de xadrez entre os melhores do mundo.
E é o pai dele, Henrik Carlsen, que nos ajuda a buscar no baú da memória e lembrar que Magnus Carlsen mostrava desde cedo algumas características bem especiais.
"Magnus Carlsen tinha alguns interesses especiais que nos chamava atenção: montar quebra-cabeças de 50 peças antes de 2 anos de idade."
"Com 4 anos de idade montava coisas fabulosas com LEGO. Uma habilidade incrível de concentração e ficar focado em tópicos por bastante tempo."
Henrik Carlsen adorava xadrez e achou que o filho poderia se interessar pelo jogo.
Então pegou um tabuleiro e tentou ensiná-lo. Magnus Carlsen tinha 6 anos de idade e não se interessou.
"Naquela época eu gostava de jogar futebol todos os dias, todo o tempo. Tinha certeza que seria meu esporte para o resto da minha vida."
Henrik Carlsen deixou Magnus à vontade pra fazer o que quisesse.
Algum tempo depois, por volta dos 9 anos de idade, Magnus Carlsen começou sozinho a jogar xadrez, não apenas no tabuleiro, mas também no computador.
"O computador é uma grande ferramenta para o aprendizado. Magnus usava o computador para várias outras coisas e se sentiu confortável naquele ambiente."
Os programas para jogar xadrez começaram a aparecer na década de 1990, justamente na geração de Magnus Carlsen.
É um processo de informação bem diferente conseguido pelos grandes jogadores do passado.
"Quando nós nos espelhávamos nos melhores jogadores do mundo tipo Bobby Fischer e analisávamos as partidas dele, Carlsen se espelha nos computadores devido à capacidade de cálculo."
Basicamente, Carlsen começou aos poucos a pensar como um computador.
Os programas de xadrez funcionam com base em 2 elementos: o processador que soma e compara números chegando até a 100 milhões de possibilidades por segundo.
Para completar, há um banco de dados com conhecimentos de xadrez, como se existissem milhares de livros com partidas históricas e regras à disposição para tomar decisão na hora certa.
O mais fácil de comparar é com o futebol: você imagina uma situação de bater um escanteio e você defensor pegou a bola.
Todo o time adversário está no campo de ataque e você pensa no contra-ataque, você analisa: passar a bola pro jogador, passar a bola pra outro ou sair correndo com a bola.
Com o objetivo de aproveitar o contra-ataque.
O computador na mesma situação analisa todas as possibilidades, inclusive chutar contra o próprio gol.
Assim, muitas vezes o computador encontra uma possibilidade que nós não pensamos.
Por conta dessa formação, Carlsen desenvolveu uma habilidade espetacular de calcular e analisar.
De acordo com alguns especialistas, Carlsen guarda na cabeça meio milhão de jogadas.
"Você treina com alguém muito melhor, a tendência é se aproximar o nível. Como o computador é muito melhor no quesito cálculo, se você treinar com o computador, você melhor os cálculos."
"Então Carlsen é mais exigido que as gerações anteriores, o resultado é superior.
Quando uma pessoa comum vai fazer uma jogada no xadrez, vê o tabuleiro assim.
Carlsen calcula rápido as possibilidades e consegue imaginar como o vai estar o tabuleiro em 20 lances à frente.
Assim fica fácil prever as ações do rival e escolher a jogada certa.
Você olha para a posição em um jogo do Carlsen e pensa: "não existe saída, está acabado." E então logo depois Carlsen escapa com algo ninguém havia pensado.
A questão central é: "como Carlsen consegue raciocinar tão rápido?"
Os cientistas já descobriram algumas pistas para responder esse tipo de pergunta analisando quais áreas do cérebro entram em ação no exato momento em que um enxadrista executa uma jogada.
Funciona assim: quando uma pessoa comum executa um movimento, o amador usa a área do cérebro relacionada à memória recente, significa que ele está pensando só naquele lance e nas suas implicações.
Porém quando grandes mestres fazem uma jogada, eles estão pensando com áreas do cérebro ligadas à memória de longo prazo.
É como se eles acessassem um grande banco de dados mental com tudo que aprenderam sobre xadrez.
Ou seja, eles consultam milhares e milhares de informações armazenadas na mente. Pessoas normais não vão tão longe do que estão vendo no tabuleiro.
Os dados apareceram cedo, aos 13 anos de idade, Carlsen já estava na estrada jogando torneios internacionais.
Parecia meio perdido no meio dos adultos, só parecia... Na hora de jogar ele mostrava o futuro.
Foi assim contra Anatoly Karpov simplesmente o melhor jogador do mundo por 10 anos.
Com um currículo assim, seria fácil ganhar de um garoto de 13 anos de idade, certo?
Errado! Karpov perdeu. E ficou impressionado com as jogadas malucas que o garoto fazia.
Acho que sou bom para decidir imediatamente se um movimento é bom ou ruim. Isso ajuda a não perder muito tempo.
O próximo desafio era ainda mais difícil, encarar Kasparov, campeão mundial aos 22 anos de idade.
Prodígio, dono das pontuações mais altas do xadrez internacional.
Kasparov já havia jogado até contra potentes computadores.
Um gênio, uma mente privilegiada.
Era difícil comparar a situação daquele dia. Era como um jogador de futebol de 13 anos de idade fosse encarar Pelé.
O jogo começa. Kasparov estranha, não entende o que está acontecendo.
O garoto lá, meio displicente. Sai da mesa, brinca.
Mas na hora certa, jogo igual gente grande.
Kasparov parece abismado. No fim o inimaginável, Carlsen consegue empatar contra o melhor de todos.
Havia mesmo algo de especial naquela cabeça.
Depois desse jogo, Kasparov foi embora correndo. Nervosíssimo.
"Mas depois mandou um de seus livros autografado para nossa casa e podia dar umas aulas, uns conselhos para Carlsen."
Treinando com Kasparov e com os computadores, Carlsen virou um profissional.
Abandonou os estudos e passou a viver apenas do xadrez. Rodando o mundo para disputar competições.
Em 2011, Carlsen esteve em São Paulo, disputou um torneio em um cubo de vidro no Parque do Ibirapuera.
Onde passa, Carlsen atrai olhares. Revigora o interesse por uma modalidade que parecia agonizar.
Todo grande jogador traz algo novo ao jogo, porém Carlsen é especial, parece agregar todo o conhecimento dos grandes campeões do passado...
... e consegue impor toda sua juventude para novas posições. Novos caminhos. Ele é um desbravador.
Um gênio. Um prodígio. Um revolucionário.
E que não esconde de ninguém: tabuleiro sempre foi e sempre será sua segunda opção.
A grande paixão continua sendo o futebol.
"Eu assisto futebol na televisão o tempo todo, principalmente os campeonatos da Espanha e da Inglaterra."
"Sou torcedor do Real Madrid, muito fã do Ronaldo e do Roberto Carlos."
"Acho até que teria sido um bom jogador, mas acho que estou bem no xadrez."
"Está valendo a pena porque estou criando umas coisas legais."
Está criando sim, e muito. Bem vindos ao mundo novo. Ao mundo de Magnus Carlsen.
LEGENDAS: João Paulo Lopes.