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É a historia de um exterminio lento e progressivo
de um pequeno povo da Amazônia
os Awá.
Cercados pelos madeireiros,
o perigo se aproxima cada dia mais da tribo.
Os traficantes de madeira alimentam o mercado mundial.
Uma madeira cortada ilegalmente
usada para nossos estacionamentos ou nossas varandas.
"Nós não podemos viver sem a floresta
Onde viveríamos sem a floresta?
Esta floresta é nossa, deixem ela, é tão bonita!"
Os Awá são uns dos últimos caçadores coletores nómades do mundo.
Da sua floresta, não sobra hoje muita coisa
e sem ela, eles não sobreviverão.
Tenho a convição que se não se protege os Awá
eles serão exterminados naturalmente
será então um grande genocídio
que a humanidade não vai nunca ser perdoada.
Os Awá estão num situação muito difícil
porque eles são nómades
e que eles sofrem a pressão dos madeireiros e dos fazendeiros.
O único jeito para eles sobreviverem é que se fala deles.
Os Awá atrapalham os interesses das multinacionais madeireiras.
Os interesses financeiros são colossais.
A exploração ilegal das florestas no mundo renderia US$ 15 bi por ano.
Digam não, não ao agronegocio,
não ao tráfico de madeira
não aluguem suas terras
uma coisa só conta agora,
Vocês devem se defender!
A floresta tão longe de nós,
é no entanto nossa historia.
A França é o primeiro importador de madeira tropical brasileira.
Perfeito. É ipê que esta chegando do Brasil
é uma madeira verdadeiramente admirável.
Para sobreviver, os Awá escolheram lutar
e enfrentar os milhares de invasores saqueando suas riquezas.
Não é o Índio quem mata o branco não
É o traficante de madeira quem nos mata.
Numerosos Awá ainda vivem em isolamento
é a tribo mais ameaçada do mundo
e quando os traficantes os vejam, eles os matam.
Vamos fazer o seguinte:
um homem pode parar isso
o ministro brasileiro da justiça.
Índios da Amazônia, o último combate
Se você for procurar um Awá na floresta,
melhor olhar para cima
lá, em cima, na copa das árvores,
se encontra frequentemente uma criança de 6, 7 ou 8 anos.
A colheita e a caça são fundamentais na educação dos Awá
uma das últimas tribos de caçadores coletores nómades do mundo.
olhe
é um macaco, não pode tirar não,
As mulheres não o comam, só os homens o comam
Quando os vi pela primeira vez,
eu me apaixonei.
É um povo muito receptivo, alegre e acolhedor
e me apaixonei pelos Awá.
Isto que me impressionou, a gentileza
uma ingenuidade quase como a das crianças
São índios que riam por tudo o tempo tudo
eles não têm noção do perigo que lhes ronda.
É a flor do pequi
É uma flor que o cervo vem comer
Dá para ver os rastos, ele passou por aqui
Tem um pássaro por aqui. Vamos lá para ver.
É no norte do Brasil que vivem os Awá.
No estado do Maranhão.
Ao todo, eles seriam 350 estabelecidos em 4 locais diferentes.
e mais uns 100 que viveriam num canto da floresta
sem nenhum contato com a nossa sociedade
por enquanto, pelo menos.
Seu modo de vida atual é um pouco o nosso,
com alguns milhares de anos de diferença.
A floresta é tudo para eles.
É ao mesmo tempo seu hospital, sua igreja
seu mercado
eles acham tudo do que eles precisam
É uma das tribo mais ameaçada do mundo.
e mesmo se hoje alguns caçam com espingardas e usam camisetas made in China,
os Awá estão firmes
eles querem ficar na floresta.
Ele se chama Irakatoa
e é o mais velho da tribo
Na verdade, sua idade exata, como para os outros Awá,
é um mistério,
para os Awá, os anos não se contam.
Deixem nossa árvores em paz.
É na floresta que encontramos nossa comida
nos caçamos tartarugas, antas, bugios
eu não quero ver a floresta destruida
eu não quero assistir sua destruição.
Aqui, é nosso.
Os traficantes de madeiras não estão muito longe da tribo
eles avançam cada dia mais um pouco na floresta.
Eles já estão a uns 3 km.
São geralmente pequenas empresas
empregando umas cinquenta pessoas
para cortar árvores.
São pequenos negocios, mas movimentam em torno de US$ 1 milhão por ano.
Mesmo se esta empresas parecem mal cuidadas,
elas são economicamente muito rentáveis
É um bom jeito para ficar rico?
Sim, sobretudo numa região tão pobre.
Estamos numa destas estradas ilegais
construidas pelos traficantes para escoar as toras.
Um homen da região que conhece bem os madeireiros
é nosso guia.
Aqui, é preciso ser prudente para filmar as madeireiras clandestinas.
Olhem, ali, é uma madeireira.
Os traficantes estão frequentemente armados
e eles detestam é ser atrapalhados
Porque colocaram estas tabuas na frente?
É para impedir que alguém olha
para evitar que se possa ver toda a madeira que eles cortaram.
Nesta estrada que beira o território awá,
toras recentemente descarregadas por um caminhão dos traficantes.
Alí também é uma madeireira.
O que eles fazem, eles pararam?
Não.
Eles queimam o pó de serra
Fazem isso para não deixar vestígios.
Apagar os rastos do crime, uma rotina.
Assim como receber a visita dos agentes do Ibama
a polícia das florestas.
Aqui, cada lado se conhece bem
um pouco demais...
É sempre igual,
quando o Ibama vem para cá,
todos os madeireiros já sabem,
eles têm alguém là dentro que avisa.
Os madeireiros trabalharam rápido, muito rápido.
Em menos de 25 anos, é quase 30% do território awá que sumiu.
O território é no entanto, no papel, oficialmente protegido pela Constituição.
Isso é o território awá
e dá para ver como tudo foi cortado.
Eles entraram pelo norte, pelo sul e pelo oeste.
É uma das 5 zonas mais crítica da Amazônia brasileira.
Nesta região, tem uma mistura de dois tipos de floresta.
Tem ao mesmo tempo uma floresta úmida, aberta,
e uma outra muito mais densa.
Quando tem estes 2 tipos misturados, há uma biodiversidade excepcional
é por isso que esta floresta é rara.
O corte de madeira é só o primeiro passo do processo de desmatamento.
Uma vez que tiraram as toras, eles queimam tudo o que sobrou.
A solução é radical.
A floresta dos Awá é as vezes literalmente queimada.
São frequentemente os produtores de soja quem provocam estes incendios.
Em alguns dias, o terreno é limpo
as sementes de crescimento rápido podem então ser semeadas.
Segundo um relatório do Banco Mundial,
a exploração florestal ilegal representa US$ 15 bi por ano
e seria muito frequentemente ligada ao crime organizado.
Para saquear a floresta dos Awá, os madeireiros, os fazendeiros
nunca hesitaram a usar a força.
Em 2012, mais de 1200 indígenas brasileiros foram vítimas
de agressões físicas, de violência ***, de tentativas de homicídio.
Neste número assustador, tem que acrescentar
os 60 Índios assassinados o ano passado
quase sempre por jagunços e pistoleiros.
Há mais de 30 anos, os Awá são sistematicamente
perseguidos e as vezes assassinados na floresta pelos madeireiros.
Uma violência que Irakatoa nunca esquecerá.
Os madeireiros estão logo aí, atraz da floresta.
Eles chegam frequentemente por tras
Uma vez eles chegaram,
e tinham colocado arame em tudo lugar.
Ficamos presos.
Ficamos cercados a noite toda.
Os madeireiros mataram os Awá.
Uma vez até atiraram no meu pai, na nádega.
Muitos de nós pegaram a gripe dos brancos
muitos morreram disso.
Eu me lembro de seus nomes,
todos eles morreram.
Durante mais de 8 anos, o juiz federal do Maranhão, Carlos Medeira,
investigou sobre os crimes e a violência praticados contra os Awá.
A noticias que eu tenho, é que os madeireiros entram na floresta
com fogos de artifício, foguetes,
e o barulho é tanto que as caças fogem
e os Índios estão aterrorizados e fogem eles também.
É nessa hora que os madeireiros penetram na floresta
para cortar as árvores da região dos Awá-Guaja.
Conversando com os Awá,
escutei testemunhos de familias inteiras que morreram
depois de ter ingerido farinha envenenada.
Foi recolhido também numerosos testemunhos segundo os quais
eles teriam sido caçados
perseguidos por pessoas atraz atirando
e também perseguidos por cachorros.
Rosana sabe, sua luta contra os madeireiros pode lhe custar caro.
Entre 1971 e 2002,
1280 militantes, advogados, pequenos agricultores, líderes sindicais e religiosos
foram assassinados porque se opuseram ao desmatamento.
Dentre dessas vítimas, Chico Mendes.
Este sindicalista que lutava para preservar a biodiversidade
levou 2 balas na cabeça no dia 22-12-1988.
Centenas de outros foram eliminados.
Irmã Dorothy em 2005,
que também defendia os povos da Amazônia,
e mais recentemente, Zé Claudio
um militante que vivia no Pará.
Seu corpo, e o de sua esposa, foram encontrados numa fossa em maio de 2011.
A orelha do ativista foi cortada,
sinal de uma morte encomendada e prova do sucesso da missão do matador.
Esta execução não surpreendeu ninguém
nem a propria vítima, Zé Claudio,
que tinha previsto seu assassinato 6 meses antes durante uma conferência.
Vivo da floresta.
Eu protejo ela de qualquer maneira.
E por isso, vivo sempre com uma pistola apontada na minha tempora.
Eu vou para cima, denuncio os madeireiros,
denuncio os carvoeiros
e eu corro o risco de desaparecer um dia.
A mesma coisa que fizeram com Chico Mendes e Irmã Dorothy,
eles querem fazer comigo.
Eu posso estar hoje aqui, falando com vocês
mas daqui a um mes, quem sabe, não estarei mais aqui.
Me perguntam: tem medo?
Tenho medo, sou humano, tenho medo.
Mas o meu medo não fará que eu fico calado.
Enquanto eu posso andar, farei tudo para combater
aqueles que prejudicam a floresta.
Os assassinos de Zé Claudio foram encontrados e presos
mas os mandantes ainda continuam livres.
É nesta estrada, perto de Marabá, no Pará
no norte do Brasil,
que o casal de moto foi morto por 2 homens
com os rostos escondidos pela viseira do capacete.
No lugar onde os corpos foram encontrados
foi erguida uma estela.
O irmão de Zé Claudio e sua sobrinha
vão frequentemente ali para orar.
mas aparentemente, alguns dias antes,
alguém atirou na estela.
Eu fico realmente revoltada.
Essa estela simbolizava o lugar onde foi morto meu tio
e agora...
A vida de meu irmão
a luta de meu irmão
não tinha preço.
Seu trabalho era a nossa vida.
A vida da humanidade que se apoia nesta diversidade.
Toda a sua luta
é só uma questão de vida,
de nossas vidas.
Sem essa floresta, sem essa diversidade,
sem estas frutas, como a castanha,
nos não poderemos mais viver.
porque não poderemos mais respirar este ar.
Para falar a verdade,
tudo o sangue derramado na floresta não parece incomodar as autoridades brasileiras.
Como prova: a impunidade dos madeireiros,
regularmente encontrados com moto serras em terras indígenas.
Segundo um relatório de Greenpeace,
as 5 principais empresas do Pará
pagam raramente as multas quando condenadas pela justiça.
Os métodos dos grandes traficantes são no entanto conhecidos por todos.
A madeira é sempre cortada por subalternos nas florestas protegidas
e é transportada de noite nas caçambas de caminhões.
Depois, os traficantes fazem documentos falsos
que dão a impressão que a madeira foi cortada legalmente.
Finalmente, é levada num porto para ser exportada no exterior
ou numa outra cidade brasileira.
Em Belém, as leis prejudicam raramente os madeireiros:
todas as campanhas eleitorais são financiadas
pelas companhias de exploração florestal.
Um dos homens mais poderosos do Pará
é Guilherme Carvalho.
Ele é presidente da associação de exportadores de madeira da região toda.
Cada ano, dezenas de milhares de metros cúbicos de toras
são exportadas para os Estados Unidos e a Europa.
Discreto mas poderoso, o lobby do setor madeireiro que ele representa
não tema os procedimentos policiais.
Não importa se estas empresas são regularmente pegas em flagrante
na floresta dos Awá.
O Ibama tem cometido varios erros no passado.
O Ibama não é perfeito, nenhum de nos é perfeito alias.
Todos nos fazemos erros.
Na mesa do industrial as infrações se amontuam.
Mas não importa, ele repete que não tem nada a ver com isso.
Então essas coisas acontecem, não é a primeira vez
muitas vezes pode acontecer que
quem nos vende a madeira tenha documentos falsos
é comum, ele comprou madeira documentada,
agora, se é o outro quem falsificou os documentos, é este quem deve ser punido,
não nos.
Você concorda com o fato ocorrendo com os Awá
que sofrem do desmatamento e do tráfico de madeira?
Eu não conheço esta tribo.
Qual é o nome dela?
Awá? Não conheço esta comunidade.
Eu tenho um sentimento, como cidadão,
que o Estado brasileiro foi letárgico.
Se me perguntar se a legislação existente no Brasil
protege aqueles que agridem o meio ambiente,
responderia sim.
Eu acho que a legislação brasileira protege melhor quem destrõe o meio ambiente
que a propria natureza, o proprio meio ambiente.
A impunidade judiciária destes traficantes de madeira,
é ele que pode mudar isso... se ele quiser.
José Eduardo Cardozo é desde 2011 ministro da justiça.
O que você vai fazer para lutar contra a impunidade dos traficantes de madeira?
Nos temos florestas imensas,
e os crimes ambientais podem acontecer em zonas isoladas.
Quando podemos, tentamos pegar em flagrante os autores dessas infrações.
Tenho a impressão que isso está no papel, é um pouco teórico,
muitas empresas foram pegas em flagrante
pelo Ibama, traficando madeira dentro de território indígena
mas elas continuam.
Como você explica esta falha do sistema judiciáro ou policial brasileiro?
Veja, nos temos reduzido bastante o desmatamento ilegal.
e isso graças ao trabalho da policia brasileira,
do exército brasileiro,
do ministério do meio ambiente
e do ministério da justiça.
Mas repito, nos temos ainda muito o que fazer
para que possamos evitar situações desta natureza.
O discurso é firme, mas não passa de um discurso.
A madeireiras clandestinas implantadas no território Awá
voltam sempre a operar algumas semanas depois da fiscalização do Ibama.
Esta madeireira trabalharia as vezes indireitamente para
marcas famosas que fazem propaganda da madeira tropical.
Um dos fornecedores do grupo Leroy Merlin
esta atualmente indiciado por tráfico de madeira no território awá.
Irakatoa olha para uma propaganda publicitária
da multinacional francesa...
Dois mundos se encontram.
Reconheço esta árvore, é paparauba
essa aqui é ipê,
tudo isso aqui é ipê.
Nos, os Awá, vivemos com essas árvores.
Esta serve para fazer arcos,
muito bons arcos.
para caçar macacos.
Esta é jatobá,
esta árvore dá uma flor que os macacos comem.
Isso deve custar caro
Os Awá talvez não sabem que a França, a Europa, os Estados Unidos existem,
no entanto, um parte de sua floresta acaba frequentemente là.
A França é um ótimo cliente do Brasil,
é o primeiro importador europeu de madeira tropical brasileira.
Varias vezes, ONG's agiram para bloquear o acesso ao porto
dos conteiners cheios de massaranduba e de ipê
as duas essências mais comercializadas da floresta amazônica.
No dia 23 de março de 2005,
este navio de madeira vendida pela companha Rancho da Cabocla
chega no Portugal.
Rancho da Cabocla é um dos exportadores mais importantes do Pará,
mas também uma empresa conhecida por seus antecedentes
de fraudes e falsificação de documentos.
Naquele dia, ativistas de Greenpeace
bloquearam a entrada do escritório do importador.
O carro do empresario quase nos atropelou.
Mas quem autorizou você a fazer isso?
Não fique aqui, vai trabalhar!
Quando não é descarragada no Portugal,
a madeira tropical brasileira chegue no porto do Havre.
Nos cais, encontra-se frequentemente Emmanuel Guillemette.
Na Normandia, todo mundo conhece a familia Guillemette.
Há 4 gerações, os Guillemette importam madeira. 85% vem do Brasil.
Emmanuel Guillemette é um dos 4 maiores importadores francês de madeira brasileira.
Esta madeira é vendida na usinas das lojas Lapeyre e Point P
antes de acabar nas nossas casas como assoalho ou móveis de jardim.
É perfeito. Parece OK. É ipê que está chegando do Brasil,
é 27 155... É ipê.
É a essência mais conhecida no mercado francês hoje,
é uma madeira admirável
que serve sobretudo de piso
em volta das picinas e nos terraços,
é uma madeira maravilhosa que é imputrescível,
que não sofre deformação, que não empena,
e que permiteu realizar belas obras,
notadamente em Paris onde tem grande realizações com ipê
como a Grande Bibliothèque de France
e uma realização que eu gosto particularmente porque forneci
quase 100% da materia prima, é a passarela Solferino
que fica entre o museu de Orsay e o jardim das Tuileries
e que foi feita inteiramente com ipê do Brasil
e que é uma realização magnifica.
O sr Guillemette não é bem visto pelas ONGs que lutam contra o desmatamento.
Sua atividade lhe provocou problemas com alguns ativistas.
Como nos Campos Eliseus em Paris em 1994:
a associação Robin des Bois (Robin Hood) tinha feito uma ação
para denunciar o saque das florestas e das terras indígenas.
A causa: os bancos feitos de ipê brasileiro.
Alguns anos depois, é a Biblioteca Nacional de França
quem sucita uma polémica.
Greenpeace fez uma ação là.
Em 2008, Greenpeace tentou bloquear uma carga de madeira
destinada, dentre outras, à empresa Guillemette.
Uma madeira exportada por varias sociedades brasileiras
famosas por seu talento em falsificar documentos,
dentre elas, a sociedade Rancho da Cabocla.
Mais de 6 anos depois do ato de Greenpeace,
documentos do Ibama provam que a empresa Guillemette
continua comprando madeira de companhias regularmente
indiciadas pela justiça brasileira por falsificação.
O sr. Guillemette no entanto deveria conhecer a lei brasileira:
pois ele é também consul honorário do Brasil na França.
O empresário é diplomata.
O consulado e a sede de sua empresa têm o mesmo endereço.
Seu escritorio de consul fica na 3ª porta a esquerda na sua empresa.
Para o diplomata, os negocios nunca param.
Eu vou sábado no Brasil,
poderei te dar uma resposta no começo da semana que vem.
e agora, estamos a 2 meses da estação de chuva
eu te ligarei se não incomodar
mas creio que só pode confirmar a tua opinião.
É isso aí amigo.
Não é complicado ser ao mesmo tempo consul do Brasil
e importar madeira proveniente de empresas conhecidas
pelo sistema judiciário brasileiro por fraudar regularmente?
Veja bem, como você mencionou meu cargo de consul,
de fato sou consul honorário do Brasil
aqui para a Normandia toda,
posso garantir que minha posição
como representante de um estado de direito que é o Brasil,
eu sou duplamente vigilante em relação às importações,
e os documentos que exijo para minha atividade profissional.
Não seria ser mais vigilante parar de trabalhar
com empresas regularmente condenadas
por uso de documentos falsificados?
Não tenho conhecimento recente de condenação
da sociedade Pampa ou Rancho da Cabocla.
Tem um documento aqui que data de 3 meses.
Escute, há 3 meses, não estava no Brasil,
mas vou no Brasil na semana que vem,
e te garanto que vou investigar de maneira pessoal e aprofundada,
e se percebo que há coisas que foram ditas e são verdadeiras,
eu tomarei minhas providências.
E as tribos indígenas nisso tudo
o que pensa o consul-importador?
Meu ponto de vista
claro, as vezes pode ser surpreendente dizer
vamos atribuir 10 mil hectares de floresta para uma população de 300 Índios
é talvez um pouco disproporcionado
mas tem pessoas presas à essa tradição
é talvez um pouco um dever de memoria
quando chegamos, esses Índios já estavam aí,
então, talvez para ter a conciência em paz,
estabelecer essas últimas reservas
elas desaparecerão dentro de alguns anos
no decorrer do tempo.
E não é muito grave?
Escute, acho que, quando se visita as reservas indígenas,
eu tive a oportunidade de ver uma ou duas na minha vida,
em cada casa indígena tem uma antena parabólica,
há um carro 4x4 em frente da casa,
acho que eles são atraidos pela vida das grandes cidades
a vida ocidental,
e todos eles sonham de ter, como nos, uma casa, um teto,
um banheiro, um sofá, uma TV, e é completamente normal.
Um dos grandes clientes do importador
é um gigante da construção,
é inclusive o primeiro do mundo,
um orgulho nacional:
o grupo Saint Gobain,
uma empresa francesa fundada em 1683
cotada na bolsa de valores,
presente quase no planeta inteiro,
um planeta que ela afirma querer proteger.
Mas de seus 133 mil assalariados,
nenhum aceitou ser entrevistado.
Na empresa Leroy Merlin,
pelo contrario, conseguimos uma entrevista.
A marca francesa teria como fornecedor um traficante de madeira
que trabalharia na terra dos Awá,
um fornecedor indiciado atualmente pela justiça brasileira.
É complicado porque temos mais ou menos 6000 itens nas nossas lojas
contendo madeira,
são 50 fornecedores direitos,
que têm seus fornecedores de madeira,
consideramos que temos em torno de 250 fornecedores indireitos
trabalhando conosco,
e precisamos verificar para cada um que tudo é feito nos quadros da lei.
Quando você diz que tem que verificar, significa que neste caso não foi feito?
Sim, tinhamos feito,
mas aí você está falando de uma investigação que ainda
não foi julgada negativamente contra o fornecedor,
então este fornecedor não aparece em nenhum documento oficial
que poderia eventualmente demostrar uma implicação num tal tráfico.
Então este fornecedor tem os documentos legais
e aparentemente, se sua investigação o confirma,
este caso específico escapou de nossa vigilência.
Alguns tempos depois da entrevista,
o grupo Leroy Merlin decidiu retirar de suas lojas
todos os assoalhos fornecidos por esta empresa
suspeita de ter gravamente prejudicado a tribo awá.
Depois das árvores, é a riqueza do solo desta tribo
que as multinacionais começaram a se interessar.
Nesta região do Brasil, um dia de 1967,
um geológo estadunidense descobriu um tesouro
que iria fazer a fortuna de mineradoras internacionais:
Carajás
a maior mina de ferro à céu aberto do mundo.
Em 1985, uma estrada de ferro de mais de 900 km
é especialmente construida de São Luiz até Carajás
para escoar o minério.
Este trem corta o território awá em dois.
Este trem nos trouxe muitas coisas ruins.
Este trem, nos não gostamos dele.
Ele só nos trouxe o seu veneno.
Este trem, como a mina, é propriedade do gigante Vale,
primeiro produtor de ferro do mundo.
Para os Índios, é um pesadelo.
A passagem do trem assusta os animais,
seu único meio de sobrevivência quase desapareceu.
Os Awá tentaram bloquear o trem
cada vez eles tentaram se fazer ouvir
mas em vão.
Nos não conseguimos mais caçar.
Nos não podemos mais escutar o som dos animais se aproximando.
Assim que o trem passa, eu não escuto mais nada.
Não tem mais silêncio, tem barulho o dia todo e a noite toda.
Esta ferrovia foi financiada pelo Banco Mundial,
mas também pela Europa,
a CE (Comunidade Europeia) na época.
Um maná para um país em plena decolagem econômica.
E um negocio fantástico para os Europeus
que iriam deste jeito ter acesso ao minério
por nada menos que US$ 270 milhões por ano.
Era um enorme mercado com milhões de dolares em jogo.
Mas tinha uma condição para este financiamento.
Era previsto que os Awá estariam protegidos,
e que seu território seja demarcado.
Penso que a União Europeia e o Banco Mundial são em parte
responsáveis do que está ocorrendo hoje com os Awá.
O barulho na floresta começou há 25 anos
O trem não se limitou em só levar o minério,
trouxe também migrantes.
Em alguns anos, milhares de agricultores, cultivatores, pecuaristas,
puderam acessar estas áreas totalmente proibidas a todo elemento exterior.
Milhares de colonos, sem respeitar as leis, se instalaram em pleno território indígena.
em plena violação da constituição.
Como neste vilarejo que não existe em mapa nenhum,
e que se chama Vitória da Conquista.
O nome diz muito sobre o espírito desses invasores.
Nos trabalhamos de lavoura.
Nos plantamos mandioca, milho, arroz, feijão, batata...
é com isso que vivemos.
Faz 23 anos que estou aqui.
A terra aqui é tão boa que nunca vi antes uma terra assim.
Vocês já encontraram Awá aqui nesta área?
Não, nunca.
Os Awá não existem.
Ou então se eles passaram por aqui, foi voando
ou de galho em galho, trepado, que nem macaco.
Nenhum deles o dirá frente a cámera,
mas as vezes eles ajudam os madeireiros.
Os caminhões dos traficantes, vindos da cidade vizinha,
nunca são muito longe.
Olhe, os madeireiros.
É um caminhão dos madeireiros?
Sim, são os madeireiros
Traficantes?
Sim.
Eles vem todos os dias?
Toda hora, eles passam o tempo todo, de dia e de noite.
Eles vem de onde?
Eles vem de Zé Doca, a cidade vizinha.
Todo mundo aqui concorda com o fato
que o negocio ilegal de madeira é uma coisa ruim?
Rapaz, eu tô de acordo.
O tráfico de madeira aqui não foi criado por nos os moradores.
Eles foi criado pelos proprios Índios.
E depois, eles reclamam de não poder mais caçar.
Se não for tomadas medidas, não terá mais uma árvore de qualidade.
Não somos nos que vendemos a madeira, são eles.
Se os Índios vivessem num sistema como o nosso,
trabalhando, negociando com os bancos,
como deveria normalmente acontecer,
então a gente perceberia que todo o território que eles têm
é uma coisa absurda.
Para os moradores de Vitória da Conquista,
nem pensar ser excluidos deste crescimento
que faz decolar o Brasil há uma década.
Terceiro exportador agricola mundial,
primeiro produtor de café, de frango, de suco de laranja
de carne de boi no mundo
quase autosuficiente em energia graças ao petróleo,
a hidreletricidade, o etanol,
o Brasil se tornou em pouco tempo a fazenda do mundo.
Em frente, do outro lado dos números e das estatísticas,
os Awá não têm muito peso.
Em 2008, sairam de suas reservas e pegaram um ónibus
alugado por uma ONG.
Eles foram para a cidade de Zé Doca, onde ficam os madeireiros
para mostrar que eles existem, que eles são reais
e que eles não iam abandonar sua floresta
sem a qual eles não podem sobreviver.
Nos viemos dizer que existimos.
Nos não queremos deixar vocês construirem na nossa terra.
Nos não vamos deixar vocês construirem na nossa terra.
Como que a gente vai ficar?
Ninguém sabe
é nossa terra
nos queremos ficar aqui para ver nossas crianças crescerem
e comer nossas frutas
queremos continuar viver caçando.
Nos pedimos que nos respeitam
assim como nos respeitamos vocês.
Somos Awá-Guaja.
Durante esta manifestação, Rosana, a ativista
que luta há 20 anos do lado dos Awá,
veio para avisar contra as tentações
contra todas as propostas feitas pelos madeireiros.
Então não embarque nessa de madeira porque
esta terra não pertence ao governo, é sua terra, a sua!
Vocês tem o direito de viver nela
valorizem-na, dividem-na com seus filhos
valorizem sua cultura
e sejam felizes.
Nosso modelo só destroe a água,
destroe a floresta, queima e semea a morte dos povos indígenas.
Não aceitem isso, digam não.
Vocês devem se defender
digam não ao agronegocio
não ao tráfico de madeira, não aluguem suas terras!
E sobretudo, digam sim à vida
o mais importante e que vocês possam atender a suas necessidades e de seus filhos.
No Brasil, os primeiros inimigos da causa indígena
são os lobbistas do agronegocio
próximos de varios parlamentares.
Este setor dá trabalho para quase um terço dos brasileiros,
e representa um quarto do PIB.
Nenhum deputado se colocará contra os interesses
dos produtores de soja, de açucar ou de algodão.
Em março de 2011, varias tribos invadiram o parlamento
para tentar ser ouvidos.
Durante um momento, alguns deputados anxiosos ficaram com medo destes brasileiros.
Senhor presidente, todo mundo está com medo.
A sessão está encerrada.
O senhor diz que estava com medo
mas estava com medo do quê?
Porque eles vinham com armas, flechas e suas coisas
e são armas, não deixava de ser uma arma.
Eles poderiam ter ferrido alguém, dar uma facada na gente.
Nos não podemos dizer que foi um gesto democrático dos Índios.
Tem que tirar o Índio da miseria,
hoje, no resto do mundo, nos Estados Unidos ou na Guyana Francesa,
là você encontra Índios de qualidade.
Eu quero o Índio na universidade, não tirando o habitat dele,
mas eu quero dar qualidade melhor de vida para o Índio.
Quero viver como antes.
Quando tinha tudo em abundância
antes de ser contatados.
É o que quero.
Eu não quero deixar a floresta.
Estas árvores são belas,
não quero ver sua destruição.
Existem muitos preconceitos sobre os Índios:
que eles são preguiçosos,
que eles têm terras demais,
e os políticos dizem "não são 300 Índios
que vão impedir 10 mil não índios de viver."
Todos os estudos mostram que a integração forçada
das tribos indígenas nunca dá certo.
Dá para constatar facilmente.
Fisicamente, eles são mais vulneráveis às doenças,
como a Aids por exemplo,
as taxas de suicídio aumentam
é o que está acontecendo com os Guarani no Brasil
ou com os Inuit no Canadá.
A única maneira que funciona,
é deixar as tribos escolherem.
A escolha deve ser delas.
Há quase dois anos, a ONG britânica Survival International
faz pressão no governo brasileiro para que sejam expulsos
todas as pessoas que invadiram o território awá.
Porta voz desta campanha, o ator Colin Firth.
Muitos Awá vivem ainda em isolamento
é a tribo mais ameaçada do mundo.
Diversas celebridades aderiram a esta campanha.
Em Londres e em Paris, e em outras capitais da Europa,
no inverno de 2012, ativistas se manifestaram diantes das embaixadas do Brasil.
Na floresta, jornalistas locais decidiram se interessar pela luta dos Awá.
Para Survival International,
só um homem pode salvar os Awá:
o ministro da justiça.
Só ele pode decidir da expulsão dos moradores de Vitória da Conquista
e do desmonte das madeireiras clandestinas.
Precisamos ser numerosos para que nos levam a sério.
Eu, nossos amigos, nossas familias, tudo mundo conta.
Ele deve achar que sou mágico.
É difícil, não posso chegar num território e botar os colonos para fora.
Eles vão morrer de fome.
Eu corro o risco de criar um problema social.
Então eu tento seguir um processo.
Aí, você tem a visão internacional, que é geralmente romântica.
Tem que tirar essas pessoas, mas vai você, vai ver como é o problema.
Não depende de um só homem, é romantismo total.
O ministro sabe, cada dia conta agora.
Daqui a alguns anos, se nada for feito,
os Awá desaparecerão.
Atenção, a promessas à seguir não são as primeiras neste assunto,
mas desta vez, uma camera está filmando.
A situação é grave? Sim ela é grave na região.
Trata-se de atos ilícitos? Sim.
Porque demorou tanto tempo? Porque a justiça foi muito lenta.
E a partir de hoje, nos vamos tomar medidas
para devolver a terra aos Índios
uma vez que os tribunais terão dado a sentença final.
O Estado brasileiro tem o dever de agir?
Sim, tem, e vai agir para devolver esta terra aos Índios.
O mais tarde é dezembro, janeiro? Quando?
Na verdade, criamos com os juizes um plano de expulsão,
nos vamos botar quem não é índio para fora,
é o que estamos fazendo
e vai ser feito o mais tardar até o inicio do ano que vem (2014).
Quanto tempo eles ainda têm exatamente?
A qual velocidade o progresso
como diriam alguns deputados,
vai os alcançar?
Os Awá não contam os anos,
mas o tempo está começando a faltar.
Creio que teremos o sentimento de ter perdido uma nação.
Não importa se eles são 300, 400 ou 500,
imagine se se extermina uma nação,
a nação francesa, a nação brasileira,
não importa a dimensão, o sentimento é o mesmo sentimento
que eles sejam 300 ou 3 milhões
esta dimensão matemática não tem importância nenhuma.
O importante é o direito natural
o direito fundamental, o importante é o dever humano
de proteger uma comunidade desemparada.
tradução: Stéphan Bry