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legendas: Cris_bsb
O TREM DA VIDA
Era uma vez um pequeno shtetl, um vilarejo judeu no leste europeu
no ano 5701, ou 1941, no novo calendário.
Era verão, verão de 1941.
no mês de julho, eu acho.
Eu fugia, como se pudesse fugir do que eu achava ter visto,
e vi mesmo.
Eu corria para avisá-los,
a minha gente, o meu shtetl, o meu vilarejo.
Esta é a história do meu vilarejo, e de quando recebemos visita.
Rabino! Rabino!
- O que foi? - Rabino!
- O que foi?
- O que foi?
Conte a eles!
Ele permitiu que o fizessem.
Deus permitiu.
''Veja!''
''Olhe!'', me disse, "Olhe".
Você é louco.
Como lavar a sujeira dos olhos?
Olhos que viram tanto?!
Os pássaros, que voavam e cantavam,
de repente, se calaram.
Voaram daqui pra sempre,
deixando de nos fazer companhia, a nós, homens.
Mas o que está dizendo?
Schlomo, conte-lhes dos nazistas! Os nazistas!
É o que estou fazendo, não?
os nazistas... Eu estou dizendo dos nazistas.
Um dia, viajaremos para o infinito...
Agora eu sei.
O infinito está no nosso coração.
E nós vamos buscá-lo noutro lugar.
Sente-se e aqui e pare. Eu conto a eles.
Traduzindo...
Os nazistas chegaram!
Não ao nosso shtetl, não aqui.
No shtetl atrás das montanhas.
Entenderam? Schlomo nos traz uma notícia terrível!
O exército nazista está aqui para deportar para destinos desconhecidos
todas as famílias judias, todos!
homens, mulheres, crianças, velhos, vilarejos inteiros!
E não é mentira, porque ninguém voltou,
ninguém mandou sequer uma carta!
O que vamos fazer? Eu pergunto a vocês.
O nosso vilarejo será o próximo...
Como pode desaparecer um vilarejo inteiro sem que ninguém saiba? Não é possível!
Vamos acreditar num louco?!
Vamos dizer que ele se enganou e não fazemos nada.
Mas,
se diz a verdade,
como podemos dormir toda noite?
O que dirão amanhã a suas esposas, seus filhos e netos?
''Nós soubemos, mas não acreditamos.''?
Temos que encontrar uma solução. Esta noite mesmo!
Como salvar a nossa comunidade?
- Uma idéia! - Uma idéia!
Silêncio!
Sura, estamos pensando!
Se acordarem um só de meus filhos, ponho todos pra fora!
Rabino, como podemos pensar sem poder falar?
- Pois é!
- Tenho uma idéia! - Fale de uma vez...
Compramos armas e nos defendemos!
- Matando-os? - Não, mas que pressa!
Tira conclusões depressa demais, por que não me deixa falar?
É besteira!
É uma boa idéia!
Só porque não deixei minha Esther casar com o idiota do teu filho!
É pecado dizer isso!
Ponha sua Esther numa moldura e fique olhando pra bela!
- Isso é pecado! - Parem!
Basta!
Por favor...
Um trem simulando deportação.
- Quem falou? - Deus de Israel.
O louco, né? O louco falou!
Repete, Schlomo!
- Um trem simulando deportação. - O quê?
Um trem simulando deportação. Rabino, está surdo?
Organizar nós mesmos um trem para simular nossa deportação?
Deportaríamos as cabras... as vacas... os gansos...
pra Terra Santa... Israel.
E as crianças!
E nós? Por que só as crianças?
Sim, nós... e as crianças...
Seríamos os deportados e os alemães.
Shtetl... Ucrânia... Rússia...
Palestina.
nossa casa... livres como os pássaros.
Oh, meu Deus! É uma verdadeira loucura!
Por que facilitamos o trabalho deles? Por que nós o faremos?
Se vão nos deportar, que o façam, mas que se dêem o trabalho!
Genial! Que idéia! Realmente magnífica!
Schlomo, vai ficar rico! Como se chama?
- Rothschild. - Guardem este nome!
- Minha mulher não suporta trens. - Como pode saber, nunca viajou?!
Nunca viajou porque não os suporta! Aposto que também nunca andou.
Vestir-se de alemão, de nazista? Que vergonha! É pecado!
Deus não nos perdoará mais!
Uma palavra mais e vão todos pra fora!
Um trem? Mas como? Um trem?
E por que não um barco? Assim caberia o vilarejo inteiro!
Tá certo! Ele tem razão.
Um trem!
Um trem!
Como conseguimos um trem?
Compramos, na cidade. ***ão por ***ão. E depois o fazemos funcionar.
- E com que dinheiro? - Da comunidade.
Todos doarão.
Quanto?
E os uniformes?
Não somos os judeus os maiores alfaiates do mundo?
- Então, os faremos! - E as armas? E documentos falsos?
Armas? Pra que armas?
Documentos falsos, sim. Os documentos... basta escrevê-los assim, falsos!
Teremos que falar alemão sem sotaque iídiche!
E preparar a partida.
Lembrar de tudo o que temos que levar.
Sim, certo, nós faremos! E voltaremos.
O céu se unirá à Terra... e os pássaros voltarão!
Senhor, por que põe os homens pra dirigir o mundo, e um louco pra lhes mostrar o caminho?
Yehuda, ouviu a notícia?
Até um surdo ouviria! Vamos à Palestina de trem!
- E não está preocupado? - Não, por que?
Não se fala do preço da passagem, deve custar uma fortuna!
- Para a Palestina, de barco! - Não, de trem!
Ah, melhor! Comprei bóias para as crianças, então vou ver se as vendo!
Ouvir um louco?! Estão todos loucos!
Quem vai vigiar nossas casas?
Não posso ir, tenho o casamento do meu filho!
Schlomo, fiz uma lista. Veja o que vou levar.
Eu levo a lista. Não tenho mais nada pra levar.
- O que está fazendo? - Não deixo nada para os alemães!
Não vão usar meu banco pra admirar minha Esther em casa! Nunca!
- Ela não estará aqui! - Meu banco também não!
Comprar um trem não é como comprar pão.
Vou esconder onde, debaixo da escrivaninha?
- Vamos levar os móveis? - Não sei de nada!
- E voltaremos? - Pergunte ao rabino, sim?
Nós voltaremos?
Voltaremos?
Voltaremos? Nós voltaremos?
- Rabino! - Rabino!
- Rabino! - Rabino!
Silêncio!
Não se escuta nada!
Façam uma pergunta por vez! Não só a mim, mas a Schlomo!
Eu não posso responder a todos!
Mas é o louco, rabino, o bobo do vilarejo.
E lhe parece sensato que nós nos deportemos?
Schlomo, eu devo fazer 5 uniformes de oficiais nazistas,
e 30 de soldados. Itzik fará as botas.
Herschele, os quepes e capacetes,
mas quem veste? Vestem que número?
Me diga você, quem usará? Quem serão os alemães?
Os nazistas.
Esqueci de comprar farinha.
Ninguém pode sair!
Quem quer ser nazista?, ou melhor, alemão?
- Itzik? - Não, rabino, Deus me livre!
Ser nazista é pecado!
Seria uma desgraça na minha casa, pra minha família.
Gentil se lembrar de mim, mas não, obrigado.
Yankélé!
Por que eu? Eu sou contador. E tenho úlcera.
- Alemães não têm úlcera... - Então, ninguém quer?
Se ninguém quer, rabino, contratamos nazistas reais!
Cale-se. Seríamos deportados a sério!
E você, Mordéchai?
Perdão, rabino, eu não posso.
Penso que é muita responsabilidade pra um judeu
enfrentar alemães, disfarçado de alemão. Não, não posso!
Proponho que o 'Conselho dos Sábios' resolvam a questão e nomeie os alemães.
Muito bem! Bem dito! Bravo!
Não saiam daqui! Venham.
- Fiz bem em negar? - Muito bem!
- Por que não pediu a você? - Eu, um nazista?
Meu Pai do Universo, te suplico que não me escolham!
- Soube de algo? - Não.
O Conselho dos Sábios decide, para o bem da comunidade,
aqueles de nós que falam alemão com o mínimo de sotaque,
que possuem uma certa cultura germânica,
e que deram prova de autocontrole, superando os demais.
A decisão é definitiva e irrevogável!
A tarefa é conduzir a comunidade a salvo à Terra Santa, à Palestina,
a Israel, como disse Moisés, quando nos tirou do Egito.
Eles serão responsáveis diante de Deus pela realização da tarefa.
O Conselho nomeia, em virtude dos seus atributos,
o vendedor de madeira, Mordéchai Schwartz,
comandante do trem, o chefe do comboio!
confiando-lhe toda a responsabilidade. Os outros alemães serão...
Samuel Heimovici, Ezra Finkelstein, Ezra Harai...
Venham, venham!
Ponham ali.
Tome. E o seu.
- Pães, dezessete. - Dezessete?
Golda, sem doces. Não é um alimento indispensável.
São para as crianças!
Não! Não temos bastante farinha e nem espaço nos ***ões.
E depois, são doces para o Purim, está longe de chegar.
- E se não chegamos antes do Purim? - Me garante que não vão comer antes?
Mas como uma criança pode saber quando é Purim ou não?
Eles vêm o doce, comem e pensam: "Chegou o Purim!''
Ah, Golda, discutir com você é impossível!
E aquilo, o que é?
São só uns picles.
São 1.150(*) de batata,
Repolho, cenouras...
4.200(*) kneidlers, latkes, klopslers e língua de boi.
Agora, Malka, faça pão com Lea.
Não esquecemos nada?
Lembre a Ari que ele prometeu carne.
Como está linda, minha filha!
Feliz de quem se casar contigo.
Será rico e belo!
Vai ver.
Eu tenho certeza.
Esther!
Case comigo! Vamos nos casar antes da viagem.
- Eu te suplico! - Yossi, não!
Você é velho, feio, vive com sua mãe e é escravo do rabino!
Nunca me casarei com você, eu já disse!
Vou me casar com um homem, um homem de verdade, entende?
E serei sua,
de corpo e...
Venha!
Tenham disciplina para fazer as doações, façam fila!
Formem fila, por favor!
- Venha, Mendel! - Já vou, Yankélé!
Um jogo de xadrez de madeira da sra. Grossman.
Sim, obrigado.
Um jogo de xadrez. Anote, Yankélé!
- Sim, rabino. - Doado pela sra. Grossman.
Schlomo, uma maçã!
Anote. Obrigado. O próximo! Pode ir, Schlomo, obrigado.
O próximo!
Schomo, uma maçã.
Obrigado.
Muito bem, obrigado!
Muito obrigado. Bom domingo!
Temos que voltar pra casa. Sim, sim, sim!
Veja, é tudo prata. Estamos vendo.
Bom, já é alguma coisa!
''Caro Israel Schmecht...
Caro primo...''
Israel Schmecht, primo de minha esposa...
Escritor iídiche de fama mundial.
Israel vai se unir a nós,
fará parte de nossa aventura.
Chegou da Suíça, onde vive,
desde que saiu da Áustria, seu país de origem,
invadida pelos bárbaros de Hitler.
Vai nos dar uma boa ajuda.
Ensinará a nós um alemão fluente, sem nenhum sotaque iídiche.
Um alemão perfeito!
Ensinará a cultura, a civilização, a psicologia do povo de Goethe.
de sua burguesia e dos soldados do terceiro Reich.
Não consigo. Por que é tão difícil?
Mas lembra o iídiche. Entendo tudo!
O alemão é uma língua rígida, Mordéchai.
Concisa e triste.
O iídiche é uma paródia do alemão, mas com um toque de humor.
Então, pra quem quer falar perfeitamente o alemão,
e perder seu sotaque iídiche, é só tirar o humor. É só!
Os alemães sabem que fazemos paródia de sua língua?
Não estaríamos em guerra por isso?!
Não, não e não!
Yankelé, concordo que comprar o trem de uma vez só
custaria bem menos, mas seria suspeito!
De ***ão em ***ão é mais caro, mas mais seguro!
Que coisa, Mendel! Não posso mais continuar assim.
- Querem me matar, é isso? - Yankelé, está louco? Ninguém quer matá-lo!
Não deve falar desse jeito, não posso fazer nada!
Ele faz ***ão por ***ão, dez mil.
Dez mil por um ***ão? Nem pensar!
Sou louco, por acaso? Não posso, o dinheiro não é meu!
É revestido de couro! Entrega escondido dois dias antes da viagem.
Por menos, não fará.
Diga-lhe que tire o couro, não nos serve! Mordéchai não pediu revestimento em couro.
Cinco mil. É meu último preço!
Yankelé, não é Modéchai que pediu isso.
Todos os ***ões de oficiais alemães são de couro! Se fosse alemão saberia...
O que me interessam esses alemães? Fizemos uma aposta, por acaso?
Eu os detesto, sem mesmo nunca ter visto um!
o primeiro que encontrar, juro que...
É o preço por aquilo que todos têm sonhado.
Yankélé, o que foi? É a úlcera? Qual é o remédio?
Não peça mais tanto dinheiro! Esse é o melhor remédio.
É lindo!
Custou pouco!
Um trem!
Abaixados!
De pé!
''Mi führer'', não ''meine fihrer''.
Sim, muito bem!
- Mein führer. - Fihrer.
Yossi, meu filho, guardou bem o dinheiro?
Agora ouça, seu primo Abraham é comunista, vê Messias em todo lugar.
Fique longe dele, pode ser contagioso!
Você pode enlouquecer também!
''Homens e mulheres de todo o mundo, uni-vos!''
Já pensou? ''Uni-vos!'' Não pensa noutra coisa!
Você lhe dá o dinheiro, ele faz os documentos falsos,
feitos na sua tipografia clandestina, e você esconde.
Rabino, você já me disse, não esqueci.
- Convém repetir dez vezes. - Sim, mas vinte?
- Bom, você esconde... - Dentro da camisa.
Durmo na comunidade, pego o trem no dia seguinte,
e Joschka me espera na estação!
Viu como sabe, agora? Por que devo repetir vinte vezes?!
- Para não esquecer nada, rabino. - Bravo, meu filho!
- Filho, uns docinhos para a viagem. - Obrigado, mamãe.
Adeus!
Voltará em quatro dias!
Quer um docinho de minha mãe?
- Yossi, é você? - Sim, mamãe, sou eu.
Como seu primo Abraham não veio?
Não lhe disse que vamos todos para a Palestina?
- Sim, mamãe, mas ele não quis vir. - E por que?
Mamãe, me escute.
Logo todos os homens serão iguais.
Abi disse que não devemos fugir.
Fugir não tem sentido, agora que o mundo todo será um só país. Livre!
Nós não sabemos nada.
Vivemos aqui isolados, fora do mundo.
Vai partir agora e me deixar só?
Mãe, não é isso, escute o que estou dizendo.
Nós somos surdos, não somos informados de nada.
Tudo vai mudar. É o futuro.
- Sabem o que ele me disse? - Não.
''Proletários de todo o mundo...
uni-vos!''
''uni-vos.''
Não é lindo aquilo?
O Messias chegou! Acreditem.
- Você o viu? - Claro que vi, como vejo vocês.
- Ele está... - O que?
Está liderando a Revolução, dia e noite.
Está mudando a mentalidade, está criando um homem novo!
- E o que fará com os velhos? - Com que idade terão netos?
Não somos proletários, Yossi, somos judeus!
Escutem, a coisa é simples.
Nós conhecemos Messias, mas não sabemos quem é.
É um cognome para não ser desmascarado. Como ''proletário''.
É o código dos revolucionários para não serem reconhecidos.
Atuamos na sombra, enfrentando o perigo.
Somos incógnitos, clandestinos...
revolucionários... utópicos...
aventureiros, judeus!
Agora basta, Yossi! Senão verá o que é perigo!
É por isso que tirou a barba? Trocou de roupa pra não ser reconhecido?
Boa coisa! Tenho pena de sua pobre mãe!
Proletário!
E vocês, são vagabundos? Que fazem aqui? Vão pra casa!
Bravo! Bravo!
- Por que um ***ão azul? - A tinta acabou.
Bravo!
Devagar! Devagar, vai quebrar!
Ah, rabino!
Sou o comandante do trem, mas não guio a locomotiva!
Precisamos de um maquinista judeu,
um mapa ferroviário e uma locomotiva usada e barata.
- E onde vou encontrar? - Espere, me deixe falar.
Vá à cidade e procure Anton Lévi, parente de Rachel Radovitch.
A velha louca? E quem admite ser sua parente?
Não importa, diga que não a conhece.
- E como digo seu nome?
- Quem disse pra dizer seu nome? - Você, rabino!
Eu lhe disse pra dizer o nome dela?
Viu? Não deve dizer o nome dela e nem de ninguém!
Apenas encontre Lévi. É o cocheiro!
- E o que tem um cocheiro com um trem? - É da área de transporte,
quase a mesma coisa! Deve conhecer alguém no Depto. Ferroviário.
Tome o dinheiro pra viagem. E não me volte comunista como aquele outro!
Rabino, Itzik chegou! Rabino, Itzik chegou!
Sim, avise o Conselho dos Sábios! E Mordéchai, corra!
Yankélé, depressa! Vamos, todos vocês!
- O que aconteceu? - Itzik chegou!
O alfinete!
Este é Schtroul Gheitzi, maquinista de trem!
Seja bem-vindo! Então, dirige trens?
O fato é que Schtroul, aqui presente, nunca dirigiu um trem na vida.
Mas, atenção! É um alto funcionário do Depto. Ferroviário.
Responsável pelos arquivos.
E trouxe com ele... me dê, me dê!
um manual: ''Como dirigir uma locomotiva".
Eu sempre sonhei ser maquinista.
Vivia fechado, sonhando com grandes espaços.
Estique!
Temiam que fosse um judeu errante que poderia fugir numa locomotiva.
Mas é um homem honesto, um maquinista talentoso!
Um verdadeiro maquinista de locomotiva judeu!
Viva o nosso maquinista Schtroul Gheitzl!
E a locomotiva?
Ele encontrará uma bem barata nos arquivos!
Shalom, rabino. Itzik...
Mordéchai...
Schtroul, Mendel, Schlomo...
e doutor...
Por que o doutor?
Alguém está doente?
Não! A locomotiva não! Não tenho dinheiro!
Está bem?
Aqui está!
Aqui está!
Mais, mais!
Está bem. Pode parar!
Agora, pare!
Venham!
Parece destruída!
Fomos enganados!
Não, parece nova! É porque está escuro.
Obrigado. Para a estação!
Espero que seja forte em geografia.
Pense bem. A Palestina não é logo ali.
Vai dar a volta ao mundo, rabino.
Espere pra ver à luz da manhã.
Tem neblina.
Espere que melhore o tempo.
Pinte de vermelho! Precisa cintilar, brilhar!
O parafuso é muito grande.
Vamos, rápido!
Checar o carvão.
É fácil.
Barômetro para indicar a pressão de vapor!
Deve ser esse! Arranque de partida.
É o maior trem do mundo!
É mais rápido que um relâmpago!
Voa entre as nuvens! É todo de ouro!
É um trem mágico!
Que pena não poderem ir conosco!
Adeus aos negócios!
Os judeus estão partindo.
Senhor rabino, então me assegura que não é verdade,
que tudo não passa de fantasia de criança?
Oh, desculpe!
Posso dar sua palavra à comunidade?
Eu lhe asseguro, intendente. Não vamos a nenhuma parte!
Vou acabar já com esses rumores, fique certo!
Devemos partir imediatamente.
Os vizinhos já desconfiam e os alemães estão chegando!
- Quando, rabino? - Esta noite!
A locomotiva está pronta?
- É... sim, sim. - Então, vamos!
Precisamos acordar as crianças, avisar a todos! Mas que bagunça!
- Rabino, eu estrou pronto! - Muito bem! Vamos!
Mordéchai, assuma o comando!
Sura! Sura!
Acorde as crianças!
Mas não é hora... eu não estou pronto.
Que Deus abençoe este trem...
que possa levar todos vivos
e com boa saúde à Palestina,
à Terra Santa, a Israel! Amém.
Amém.
Filhos de Abraham e de Moisés, subam!
Que Deus os abençoe e lhes proteja!
Vamos!
Eu cheguei primeiro!
Primeiro os mais velhos!
Os alemães nos ***ões verdes!
Os outros, nos ***ões vermelhos!
Nada de colchões, nem móveis!
Depressa, o trem vai sair!
É meia-noite e vinte. À meia-noite e vinte e três, se parte!
Agora chega, senão já sabe!
A postos, Mordéchai. Vamos!
Schtroul, avante para a Palestina!
Imbecil! Uma partida discreta...
Que Deus nos proteja!
Vovó Golda, estamos partindo!
Sim, meu anjo....
estamos partindo.
Yankélé!
Yankélé, o banco concedeu o empréstimo!
O banco concedeu o empréstimo!
Yankélé!
Então era verdade. Agora é fato.
Eles partiram.
Verificar se o nível de vapor está em 11... onze!
e se a alavanca está girando.
Neste caso, as rodas devem estar girando avante,
ou seja, no sentido horário.
Horário.
Veja, veja. Não, não. Lá! Lá!
Ouçam, prestem atenção.
Assim não resistiremos até o final, teremos um infarto.
Parem de ver alemães em todo lugar!
Um alemão aqui, um alemão lá. Nesse momento, não tem nenhum!
Vamos!
Venha!
Estamos prontos!
Está adiantado. Está chegando! Está a 30 km!
Maldito, está adiantado!
"Sabote a máquina de guerra alemã"
Não é justo que alguns nasçam pobres e outros ricos.
Marx também disse isso.
Eu concordo com os camaradas Yossi e Marx.
Seria mais justo que pobre nascesse rico e rico pobre.
Cale-se! Diga,Yossi!
Eu penso em ser comunista.
A condição é poder conservar meus papéis e outras coisas. É possível?
E assim que vai se transformar num homem novo?
Conservando suas coisas?
O homem novo é novo!
Entendeu? O homem velho é passado.
Obrigado, Moitl. Obrigado.
Muito gentil.
Ouça, não quer ser o idealista soviético do trem?
Mas Yossi, eu não li Marx.
Nem eu. Não tem problema.
- Você o escreverá! - Está bem.
Maldição, uma estação!
Um trem fantasma! Não é verdade, não acredito!
Você ouviu? Um trem fantasma vai se chocar em 15 minutos com o expresso das três!
Corra rápido!
Cinco, quatro, três...
Rabino!
Mordéchai!
Rabino!
Malditos nazistas! Boa viagem!
Maldição, ele parou!
Rabino! Mordéchai!
Onde estão?
Posso falar com eles!
São homens, têm Deus, como nós!
- Mas, quem? - Como, quem? Os alemães!
Que alemães? Não tem alemães!
Como não tem alemães?
- Não tem nenhum alemão! - Por que então parou o trem?
- É muito pior, é terrível! - Pior que alemães?
Oh, não quero saber! Fale, engoliu a língua?
Nós passamos por uma estação. Não era previsto!
Uma estação? Mas isso é um trem! Queria passar por um porto?
Fomos descobertos, rabino!
Vamos, depressa! Não temos muito tempo!
Mais rápido, vamos!
O nosso trem não está no programa do horário ferroviário!
Que programa, que horário ferroviário? Do que está falando?
Dê-me isso.
''Atenção, judeus!
Nova lei referente à população...
de crença israelita.''
Meu Deus!
Então é verdade!
O que vamos fazer?
Aí vem ele! Em sentido contrário!
Vamos explodi-lo? Não passarão!
Não, não é o mesmo! É um trem de passageiros.
Devem ter soado o alarme, rabino.
Na próxima estação nos aguarda um batalhão!
A locomotiva está fazendo barulho.
Não é nada, eu a trato muito bem.
Quem te permitiu falar assim da minha locomotiva?
Rabino, estamos num trilho único.
Abaixem!
Milagre!
Passou por baixo!
Obrigado, meu Deus, cavar um túnel em tão pouco tempo!
Que foi agora?
Precisamos avisar a comunidade que não tem alemães!
Devem estar mortos de medo, colados como moscas nas paredes dos ***ões!
Vá, Schlomo, Corra avisá-los.
Vou convocar o Conselho.
Na próxima estação nos espera um batalhão!
Eu não discuto ordens do Partido, mas você não é o Partido!
E agora, o que faremos?
Preciso verificar as perdas.
E não peçam indenização, hein?
- Papai, posso lhe falar? - Está tudo bem?
Sim.
Eu estou apaixonada.
'Mazel tov'!
'Mazel tov', minha filha! Não tema, é maravilhoso, não?
- Quem é o sortudo? - É filho de um homem rico, papai.
Oh, que bom! Oh, que bom!
Sami Schwartz, filho de Mordéchai, o comerciante de madeira.
O quê? O filho de um nazista?
Acha que vou receber em minha casa o filho de um nazista?
Que nazista? Que casa?, vivemos num trem!
Seu avô era rabino. Ele é judeu, como você.
Sami é um amigo, um verdadeiro comunista.
Sei o que pensam. ''É o filho de Mordéchai,
de um burguês, um nazista!'' Mas ele não é.
Este jovem tem um espírito proletário e marxista.
- Viu, papai?
Não é só nazista, mas comunista também!
- Não tem como ser as duas coisas! - O que é que você sabe?
Minha resposta é 'não'. Está proibida de vê-lo.
A discussão acaba aqui.
E se desviássemos?
Não há vítimas, rabino. Cinco feridos,
vinte e oito brigas, das quais quinze continuam.
Deixe que briguem. É sinal de boa saúde. Obrigado, Yankélé!
Não, é impossível evitar qualquer estação até à Rússia.
Impossível... Não existe impossível.
Para um bom soldado, tudo é possível.
- Eu sou o chefe, eu que decido! - Não! O povo é quem decide!
E ele decidiu que os deportados
dormirão nos ***ões nazistas, com lindos lençóis.
São os nazistas e burgueses imperialistas que dormirão em suas camas,
nos ***ões dos deportados.
Todos nós temos o direito ao privilégio e ao conforto alemão!
- Pela habitação! - Humana!
Yossi, o que está dizendo? Qual é o problema?
- Yossi... - Mamãe!
Meu problema é que os alemães têm o melhor tratamento.
E eles se ofereceram. É esse o problema.
Nós queremos justiça!
- Sim! - Por lindos lençóis!
Era só o que faltava... que nos destruíssemos nós mesmos.
- Não devemos tomar partido. - Silêncio!
Você, venha aqui!
Quer dormir em meu ***ão? Em meu leito?
Então, repita: ''Já vou, meu Major!''
Ouviram? Não? Não?
Com esse sotaque seria morto numa palavra.
E isso vale para todos!
Não é alemão quem quer, é alemão quem pode ser!
Aquele que faça o sacrifício de sê-lo.
Fascista! Fascista!
Parem de brigar!
Prometo lindos lençóis na Palestina. Voltem todos para os ***ões.
São apenas promessas, rabino, atenção!
A luta final apenas começou.
As campanhas de uma nova era estão aparecendo.
Então, vamos esperar. Pra que gastar energia?
Escutem, para a questão das estações, tenho uma idéia.
Grossman!
Conhecem Eli Grossman, nosso campeão de xadrez.
Com sua mente estratégica,
pode ajudar a prever os movimentos dos alemães.
Grossman, eis o mapa, dê uma bela idéia.
Só vejo uma coisa a fazer.
Desviar o caminho, ir onde menos esperam.
Perderemos tempo!
Sim, mas ninguém desconfiará que o trem fantasma somos nós.
- Devagar se vai longe! - Certo!
E precisamos de estratégia pra isso? Rabino, diga,
sabe pra onde estamos indo? Pra Rússia, terra do inimigo!
Por mim, tudo bem, tenho parentes lá.
Onde estão os judeus?
Não sei. Eles prometeram não partir,
Pois é difícil para nós também,
com quem faremos negócios agora?
Conosco. Verdadeiros negócios!
Fala de vocês? Ou vão buscar os judeus?
Gosta de gracinhas?
- Não!
- Vá, vá, Schtroul! Vá, avante!
''Porque'' chama ''Por quem''. Alô.
''Por quem"? Responda!
Responda!
Alô! ''Por quem''?
- "Porque", te escuto! - Falhou!
- Por quê? - Sim, sou eu.
- Não, por quê falhou? - Ah... foram por outro caminho.
Eles não podiam! Destrua esse maldito trem!
- De acordo, "Por quem".
Começarei por ti! Pela causa!
Meu Deus.
Agora me ajude.
Coragem!
Hi, Hitler!
Documentos, por favor.
Senhor meu Deus, nunca pensei que salvasse a todos.
Mas faça ao menos que as crianças e os jovens
possam passar pela fronteira e viver em paz na Palestina.
Mulheres e homens também, as crianças precisam de seus pais.
E já que vai salvar toda essa gente,
por que abandonar os velhos? Que mal fazem?
Se ele não te escuta, falo eu!
Não estão na lista. É um trem fantasma!
Claro... Não!
É para deportados.
- Há outros trens. - Com judeus!
A maioria transporta judeus, e eles estão em minha lista!
É mesmo?
Sim, sr. Herr Haupts-turm-führer.
Mas este está em missão especial.
Não consta nas listas.
nós transportamos judeus especiais!
Os judeus são todos iguais. O quê esses têm de especial?
Esses são...
judeus comunistas.
Muito perigosos. Duplamente perigosos,
porque são judeus e comunistas ao mesmo tempo.
Todos no mesmo trem.
Excelente negócio para o Reich.
Em um trem só é possível transportar comunistas ou judeus.
Não é possível separar judeus e comunistas.
Economizamos um trem. Entendeu?
Imagine...
quantos judeus e comunistas iam querer sabotá-lo?
Por isso, nada de lista.
Um trem fantasma.
Sigilo absoluto!
Compreendo.
- Precisa de escolta? - Não, obrigado.
Só mais uma coisa.
Talvez possa me ajudar.
Todos os judeus do vilarejo vizinho desapareceram.
Não os viu, por acaso?
Vilarejo vizinho?
Desapareceram?
Todos?
Eu não me preocuparia.
Eles devem estar perto, visitando alguém.
São unidos à família, nunca viajam sozinhos.
- Eles voltarão. - Acha mesmo?
Estou seguro, eu os conheço.
Eles andam, andam, mas sempre voltam.
Sentem falta de suas raízes, com toda a certeza.
É muito inteligente...
Estudou a psicologia do inimigo.
Sim, estudei... Dia e noite!
- Hi, Hitler! - Hi, Hitler!
- Canalhas! - Canalhas!
Mordéchai,
na próxima parada, eu volto ao meu ***ão, está bem?
Salvos! Estamos salvos!
Não falei que os alemães não são tão inteligentes?
Nunca conseguiremos, não é, mamãe?
Os alemães nos matarão, não é?
Não, os alemães não são tão maus.
A prova é que estamos indo.
E logo estaremos na Palestina.
Já não sente o vento do deserto?
Escutem esta história.
''Era uma vez um paraíso terrestre...
um grande deserto, que parecia hostil...
mas que escondia, debaixo da areia
um maravilhoso tesouro.
Jardins floridos, grandes hortas, palácios...
chuvas, animais, pássaros,
e um povo forte e feliz, Repleto de força''...
"Chapeuzinho Vermelho"
O Partido decidiu organizar os ***ões em soviéticos.
Através de uma eleição secreta, isso ninguém precisa saber.
Nomeamos um secretário soviético por ***ão.
Sami Schwartz, o Partido te nomeou secretário do ***ão n. 1.
Tem que mudar de ***ão.
Fascista!
Yossi, deixe Sami em paz. Nunca me casarei com você, nunca!
Não está sonhando, não é um pesadelo.
Mas quem falou de casamento? Eu só te peço calma!
Fique com Sami, eu fico com o Partido!
Não quero me casar com você, eu me casei com o Partido.
Não sou mais um homem livre! Ficou louca?!
Ainda estamos muito longe?
Sim, muito longe, meu tesouro.
Mas a terra é santa só num lugar?
Não, querido, a terra pode ser santa em todo lugar.
Basta querer.
E assim nada seria muito longe. Nada longe.
Está bem, está bem.
Eles não quiseram descer. Vão matá-los todos!
Pronto, meninas, vamos!
Mexam-se, vamos!
É a última oração!
Mordéchai, tire o quepe.
E diga aos seus homens que tirem os capacetes nazistas!
Faça o que eu te digo!
Já temos que suportar os seus uniformes!
Não faço, nossas cabeças ficarão cobertas!
Onde está escrito que é proibido usar quepe nazista?
Mordéchai!
- E você, não diz nada? - Amém!
- Amém!
Eu decido o que devem ou não devem fazer os meus homens.
E também os deportados. Estão todos sob minha responsabilidade.
Tenho um documento!
Pois eu autorizo os deportados a usarem o solidéu.
E meus homens usam capacete!
E se de repente chega um alemão e nos pega de surpresa?
Os uniformes estão em ordem,
e a comunidade é salva, viva! É isso que importa!
Você é um chefe falso, seu documento é falso,
- e o trem de deportação é falso! - Ah, é?
Se os alemães são de verdade, é necessário um verdadeiro chefe!
-Amém. -Amém!
-Amém.
Os alemães estão rezando e ouvindo o rabino.
- Tem certeza? - Acha que não reconheço um alemão?
Estão se inclinando com um livro na mão!
Espere.
Maldita guerra!
- Pronto? - Sim.
Sim, confirmado. É a oração do Sabá.
Devem ser alemães de crença israelita.
- Sim, e o que fazemos? - Parem a missão, está complicado.
Se tem alemães religiosos, como saber se são nazistas ou judeus?
Mas estão com uniformes, estão deportando e matando inocentes.
Não discuta comigo! Estamos escrevendo a história,
mas não podemos interpretá-la! Voltem e pronto!
Os chefes sempre têm razão. E esse só nos impede.
Assim a história vai falar de cinco pobres coitados,
Cinco covardes que fugiram da luta.
Não, não, não!
Que foi agora?
Veja, rabino! Eles nos arrancaram as panelas!
Como?!
Yossi Weintraub, o que estão fazendo?
- Jantando, rabino. - E por quê?
- E a reunião? - Qual reunião?
A reunião do Partido. Mas não foi convocado, não se preocupe e continue rezando.
Nós jantamos para não nos atrasar.
Yossi, eu te eduquei como um filho!
O Sabá é sagrado!
E minha reunião, não é? Você me criou no obscurantismo!
Agora somos materialistas, marxistas e leninistas!
Pra nós, o Messias já chegou. Deus não existe.
Calado! Cão materialista!
Venha rezar, renegado, e deixe-os rezar também!
Isso é mal exemplo para as crianças!
- Porco comunista! - Fascista! Nazista!
Deus não existe!
Vou continuar gritando para o infinito, para que as crianças conheçam a verdade!
Não me peguem, eu sou louco!
Se Deus existe ou não existe, que importância tem?
Já se perguntaram se nós existimos?
Schlomo, fique fora disso!
Deixe-o falar! Fale, Schlomo.
''Deus criou o homem à sua imagem.''
Isso é lindo!
Schlomo, a imagem de Deus!
Mas quem escreveu essa frase no Torá?
O homem... não Deus.
O homem...
a escreveu sem modéstia, comparando-se a Deus.
Talvez Deus tenha criado o homem.
Mas o homem...
O homem, o filho de Deus...
criou Deus só para poder se inventar.
Pode repetir?
O homem escreveu a Bíblia...
por medo de ser esquecido, sem se importar com Deus.
Schlomo, já temos muitos problemas aqui.
Rabino, nós não amamos e não oramos a Deus.
Mas lhe imploramos para que nos ajude a continuar adiante...
É o que nos importa de Deus
Só pensamos em nós mesmos.
Agora a questão não é só saber se Deus existe,
mas se nós existimos.
Bravo!
É uma oração maravilhosa.
Obrigado, Schlomo.
- Shabbath Shalom. - Shabbath Shalom.
Shabbath Shalom.
Entendeu algo?
Sim, Deus não está certo de que o homem existe.
''O homem não existe.''
E eu o que sou, uma fêmea?
É você, jogue.
Bem, um a menos.
Schlomo, por que você é louco?
Por acaso. Queria ser rabino, mas já tínhamos um.
Faltava um louco, então pensei, vou ser um. Se não fosse eu, seria outro.
- E não se sente muito só? - Não, tem muitos loucos.
Não, quero dizer uma mulher.
Por que nunca se casou, Schlomo?, ter filhos, um lar?
Não, não sou tão louco!
Te importa se pego sua rainha?
Eu os amaria demais e morreria de amor...
ou enlouqueceria... não, não, não!
Mordéchai, acabaram as provisões!
Oh, não... não é verdade... O que faremos?
Compras.
Ah, é? Chegar na venda pra fazer compras de sacola na mão?
''Heil, shalom! Um quilo de cenouras, por favor.''
Mas é necessário. As crianças não terão comida.
Sim, mas com que dinheiro, rabino?
Não, não guardei nada!
Se dou o pouco que me resta, adeus 'documento', 'filho' e Palestina!
Já se foi o 'filho'. Meu Sami é comunista.
E quanto a mim, 'cidadão documentado', estou quase enlouquecendo.
Bem, no fundo...
se morremos antes, de que me servem 'documento e filho' na Palestina?
Não haverá compradores. Muito menos vendedores.
Virem-se!
Ame-me, Sami!
Finalmente pode.
Não tem mais que dar exemplos, acabou a responsabilidade.
Não entendo... ser expulso do Partido sem motivo algum.... é injusto!
Não posso acreditar...
amar um nazista comunista só pra... Estou louca!
Mas não aguento... vou morrer virgem!
Devo esconder nossa relação, não posso me casar,
e nem contar aos camaradas...
Ex-camaradas!
que estou com a garota mais linda do mundo
tudo por causa do teu pai, um velho fanático que...
Não chame meu pai de fanático! Teu pai é que não devia ser um nazista!
E isto?
Não vale mais que Marx, Engels e Lenin no mundo?
Acorde, são duas da manhã!
Acorde!
- Venha, venha. - Sami.
Esther...
Venha, vamos!
Não!
Mordéchai! Mordéchai, abre!
Mordéchai, abre!
- Que foi? Alemães? - Não! São eles, fugiram!
- Mas quem? - Os deportados!
O meu trem! Queriam roubar o meu trem, aqueles selvagens!
Peguei um traidor na locomotiva!
Vamos partir! Eles serão detidos e revelarão onde está o trem.
Não temos um minuto a perder. Vêm nos pegar a todos!
Não!
São nossos irmãos, judeus como nós.
Não podemos abandoná-los, é pecado!
São uns porcos comunistas!
Mas são nossos, Mordéchai. Se lhes pegam e os torturam...
Se partimos imediatamente, não iremos longe.
Nós devemos chegar à Palestina todos juntos. Está escrito!
Tenho uma idéia.
Bravo, meu Schlomo, bravo!
Camaradas, vamos nos separar. Boa sorte a todos.
Nos vemos em Moscou, na Rússia. Viva o Partido Comunista!
Proletários de todo o mundo, uni-vos!
Mas não disse que devemos nos separar?
- Vamos! - Mas que raça de selvagens!
Este é o único casaco que tenho. Você o rasgou!
É pior que os alemães!
Fascista!
Yossi, espera! Vamos conversar.
Por que fez isso? Yossi, Yossi, fale comigo!
Estão todos aqui? Vamos partir!
Na próxima vez, meus homens vão atirar.
Não é, rabino? O regulamento deve ser respeitado.
Disparar em teus irmãos?
Esperem! Não podemos partir. Falta Lilenfeld, o alfaiate.
Pronto!
Estou aqui!
Eu me entrego! Estava perdido!
Eu sou judeu, como vocês!
Vamos partir! Schtroul, pronto!
Ele será torturado. Se revelar a posição do trem, morreremos todos.
Não, não vamos! Temos que salvá-lo!
Salvá-lo? São mais numerosos, mais armados e treinados que nós!
E o oficial é de grau superior ao meu. Não tenha dúvida, rabino!
Não imaginam como é um verdadeiro nazista.
Só eu posso saber. Só eu.
Tenho uma idéia.
Está louco?
- Hi, Hitler! - Hi, Hitler!
Tenente coronel Von Glück, às suas ordens!
Vim procurar meu judeu.
Desculpe, mas são meus judeus!
Não, é meu, ele fugiu do meu trem.
Mas está em minha prisão. Temos que interrogá-lo.
Por que quer tanto ter um judeu?
Isso pode ser mal interpretado.
Alimenta uma admiração especial secreta, por esse judeu?
Ou pelos judeus em geral?
É da família?
e, portanto, seria judeu também?
O que? O que?
Não! Está me gozando?!
Não sou judeu e nem os admiro!
Estou realmente em dúvida!
Vejo o que vem da sua alma.
Defender e querer tanto manter um judeu...
é, no mínimo, suspeito!
Eu me pergunto se sua intenção,
depois que nós partirmos,
é libertá-lo! Ou pior...
escondê-lo e protegê-lo.
Talvez goste dele.
- Talvez vocês sejam... - O quê?
amigos... ou quem sabe, algo mais?
Pare, eu suplico! Leve teu judeu,
eu lhe entrego, não o quero mais!
Tragam o prisioneiro judeu! Depressa!
Você é um grande talmudista,
aplica maravilhosamente a arte da retórica e da interpretação!
Muito obrigado! Hi, Hitler!
- O que é isso? - É para que aprenda a não fugir mais!
Levem-no para o trem!
Excelente! Agora reúna seus homens,
frente ao comando!
- Não exagere, Mordéchai, vamos!
- Não! Ele tem que ser punido!
- Puna-o! - Sim, Sr. Marechal.
Mas o que está acontecendo?
Tragam todos as suas provisões!
Preciso reabastecer meu estoque.
E vão à fornalha, será necessário cozinhar!
- Sim, Sr. Marechal! - Excelente.
Ai, ai, ai, Mordéchai, vamos!
Veja! Uma beleza, não?
- É kosher? - É o quê?
kos... a carne foi esterilizada?
Mentira! Essa carne não parece ter sido esterilizada!
Querem nos envenenar?
Podemos esterilizar agora, se quiser.
Já deviam ter feito isso há muito tempo!
Traga o meu... o meu... atchim!
- Saúde! - Saúde!
Quero meu açougueiro, meu cozinheiro e panelas!
Não confio em você.
E traga todos os seus animais! Vivos!
- Sim, Sr. Marechal!
Peixe gratinado...
Adoro pastrami.
Carpa recheada. Que delícia!
- Tudo pronto. - Excelente.
Hi, Hitler!
Até logo, imbecil!
Eu juro, nossos nazistas são uns anjos, se comparados,
umas criaturas divinas.
Humanos. Verdadeiros judeus. Finalmente entendi.
Os outros são verdadeiras bestas, uns monstros.
- Não podem nem imaginar. - Não escutem-no!
Foi liberado com a condição de nos espiar.
Agora trabalha para Mordéchai.
Defender nazistas é um ato anti-revolucionário.
Proponho sua expulsão do Partido por unanimidade!
Quem é a favor? Quem é contra?
Expulso por unanimidade. Traidor!
Por ser espião a serviço dos poderes imperialistas e fascistas,
o Tribunal Soviético Supremo do ***ão número 2,
te condena à prisão domiciliar.
Ficará em seu ***ão pelo resto da viagem,
sem direito de sair e de se comunicar com os outros.
A comida era kosher, judaica.
Quero dizer, só os judeus comem isso.
É o que disse minha mulher, que trabalhou para os Rudenbaum.
Kosher? O trem fantasma?!
E só agora me avisa? Traidor!
Vai apodrecer na prisão!
Pare com isso. Você os salvou. Todos estão orgulhosos de você.
Logo estaremos na Rússia. Livres!
Orgulhosos de mim?
Não me amam, seja o que quer que eu faça.
- Oh, o que está dizendo? - A verdade.
Ninguém faria nada pra me defender, em caso de perigo.
Ninguém! Entendeu?
Nem sequer Sami, meu próprio filho!
Quando tenho que enfrentar os alemães,
sinto o peso de toda a comunidade sobre mim.
Toda a comunidade está ali ansiosa.
Sentem medo por mim? Não.
Esperam que eu tenha sucesso
para que o trem parta, naturalmente.
Mas imaginam o pior. Sabe o que os deixaria alegres?
Que fosse eu a primeira vítima.
Sabe muito bem que não é verdade.
Eu só fiz a vontade do rabino e do Conselho dos Sábios. E de Deus.
Se inventaram que eu vivesse um nazista,
não foi por mim, mas por amor a minha gente,
para conduzi-los a salvo até a Palestina.
Por que me censuram agora?
Você está louco.
Você os queimaria para defendê-los?
os trataria como animais?
os separaria uns dos outros, filhos de pais,
irmãos, marido e mulher,
a pedido do rabino ou do Conselho dos Sábios?
- Faria isso? - Que loucura está dizendo?
Eu não queimo ninguém, não maltrato ninguém. Está delirando.
Este trem está louco. E está nos enlouquecendo.
E o pior louco é quem teve essa idéia!
- Fui eu.
- Ah, sim?
Então, tudo bem!
Schtroul, imbecil, aprenda a guiar!
Hi, Hitler!
Tenho ordens para revistar o trem.
- O que? Meu trem?! - São ordens de Berlim, do Führer.
Meu Deus! Era bom demais pra ser verdade, não?
Nos trouxe a um passo da meta!
Às vezes me pergunto se não é um pouco sádico.
Está vendo nossa desgraça? Está vendo?
Ou tapa os olhos e os ouvidos para não se atemorizar?
Desçam!
Estou cansado de suas barreiras!
Eu também tenho ordens de levar os judeus ao campo.
Ah, sim? Qual campo, na Rússia?
Está perto da linha de fronteira.
Mas, espere, me diga uma coisa.
Você é do norte ou do sul da Alemanha?
Por que?
Eu sou... eu sou...
do sul da Alemanha.
Estranho... eu também sou do sul e não reconheço seu sotaque.
Ah, não?
Que palavra, por exemplo?
- Hi, Sholom! - Quem é você?
- Mordéchai, ouviu seu sotaque? - O sotaque dele ou o meu?
Mordéchai?
Seu nome é Mordéchai?
Schlomo! Schlomo!
- Mas é você?!
Schlomo, meu irmão! Você está vivo!
Manzatu, meu irmão cigano! Como vai você?
É Schlomo! São todos judeus!
São os húngaros, todos nazistas e deportados, como nós!
Estou no comando! Eu decido! Quero o trem!
Eu quase consegui! Foi por pouco!
Estou farto! Farto! Já basta de gente intrometida!
Eu não queria ser nazista!
Eu te entendo, eu também não queria!
- Pra onde vão? - Para a Índia, e vocês?
À Palestina!
Não são alemães. São ciganos! São irmãos!
Guardem as armas!
Venham, são todos judeus. Não há nenhum alemão, venham!
Deus é grande. O trem é pequeno, mas cabem todos.
Deportados com deportados e alemães com alemães.
Embarcar!
Rabino, os porcos vão entrar também?
Sim, deixe que subam. Deus vai entender.
- E devo anotar? - Como quiser.
Por favor.
Fique com a cama. Dormirei no sofá.
Muito grato!
Você só poderia ser um judeu.
Um alemão entregaria o trem.
- Hi, Hitler! - Hi, Hitler.
Papai, você tinha razão.
Deixei Sami.
'Mazel tov', minha filha! Deixe eu abraçá-la!
Deus escutou as preces de seu pai.
Não fique triste. Vai encontrar outro, é tão jovem, tão bela!
Certo, papai.
- Eu já encontrei outro amor. - Mas já?
Bendito seja Deus. E quem é?
Miron Pastaié, o húngaro.
Sabe, filha... preferia o nazista.
Você mudou muito, meu filho.
Era belo... amava as pessoas...
sonhava... tinha Deus.
Pra onde vai?
É isto o comunismo?
Eu iria com você até o fim do mundo.
Yossi, Yossi... meu Yossele...
comunista, vá lá...
mas torne-se um homem.
Íntegro.
Rabino, estão assando um porco. Mas o fogo é kosher, não?
Sim, tudo bem, já entendi.
- Agora, por favor. - Não, amanhã.
- Não, agora. - Não, amanhã.
E se não houver amanhã?
Então, esta noite. E se não houver ''esta noite''...
Daí deixamos pra amanhã.
Viu como haverá amanhã?
Sim, mas não esta noite!
Obrigada, lindo!
Não é bonito espiar, viu, lindo?
Eu... eu não estava espiando ninguém.
Ia acender?
Eu? Não! Nunca!
Gostaria que te acendesse... eu?
Sim.
É que o Partido proíbe o amor livre, sem ideologia saudável...
proletária.
Prepare-se, lindo!
Esta noite eu amarei você...
e o teu Partido,
como vocês nunca foram amados antes!
Uma verdadeira revolução.
Será preciso pôr em prática as idéias!
Entende o que eu digo?
Não toque em minha vaca! Ela é kosher.
Como é, comeu o seu violino?
Parece até que eles inventaram o violino. Vamos, toque!
Venham, nein? Vamos, nein?
Por que eles sempre dizem 'nein'? É tudo nein!
Nein?
Não me agrada ouvir tanto 'nein'.
E você, o que faz aqui?
Ele representa um terço das pessoas do trem.
Seu lugar é aqui.
Ainda podemos voltar.
Todas as tropas alemãs estão aqui.
Nunca passaremos por eles!
Viemos até aqui pra nada? Nós passaremos!
- Estão de acordo?
- O que ele disse?
Quem concorda.
Quer alguma coisa?
Então, saia.
Diga, Schlomo...
nunca desejou uma mulher?
Para amar e viver com uma mulher?
Não?
Sim.
E já amou uma mulher?
Faz muito tempo?
Não.
Ainda a ama?
Sim.
Nós morreremos, Schlomo.
Quem é essa mulher?
É você.
Schtroul, pare! Deve ser aqui.
Pare o trem.
- Encontrou? - Não, ainda não.
Mas não falem, procurem!
Rabino...
Será que os alemães nos odeiam tanto assim?
Se esconderiam na linha da fronteira só por rancor?
O que nós realmente lhe fizemos?
Eu não sei!
Oh, meu Deus! Os alemães! Desta vez, é o fim!
Não! Está tudo bem!
Estamos na linha da fronteira!
Disparam daquele lado e do outro e na mesma distância!
Estamos bem no meio! Estamos livres!
Estamos livres! Nós estamos livres!
Estamos livres!
Uma vez em território soviético,
a maior parte de nós ficou ali, abraçando a causa comunista.
Outros foram à Palestina, sobretudo os ciganos.
Outros, à Índia, principalmente os judeus.
Schtroul continuou a viagem até a China,
virou chefe de estação numa cidadezinha.
Esther...
a bela Esther...
ficou na América, e teve tantos filhos, um mais belo que o outro.
É isso!
A verdadeira história do meu shtetl.
Bem... quase verdadeira.
Shtetl, shtetl, shtetl...
Não me esqueço, shtetl
Um dia parti num trem
Para muito longe
Shtetl, shtetl, shtetl...
Não me deixe esquecer dos olhos das pessoas
É o que ainda me mantém vivo
A sublime loucura
A sublime loucura
Do Trem da Vida