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A resenha que me propus a fazer trata do estudo apresentado na PUC-SP, em 2012, para obtenção
do título de Doutora em Educação, sob a orientação do Prof. Doutor Odair Sass. A
autora é Isabel da Silva Amaral. O cerne da pesquisa foi investigar a potencialidade
da literatura poética na constituição da consciência crítica dos jovens e tem como
base conceitual a Teoria Crítica da Sociedade. A pesquisa é constituída por quatro capítulos,
o primeiro trata do percurso do conceito de belo à noção de estética, a cisão entre
razão e sensibilidade e a relação do artista com sua obra e com a realidade social.
No segundo capítulo, são apresentadas as contradições do sistema educacional, intensificando
as desigualdades formativas. Ainda neste tópico realiza-se um levantamento sobre a educação
estética brasileira. No terceiro, a autora discorre sobre a construção da escala denominada
Arte, Educação e Autoconsciência, as concepções teóricas que a basearam e sua validação
por meio de duas técnicas. A análise e apresentação dos resultados compõem o capítulo quatro.
A hipótese que norteou o estudo é de que os sujeitos com maior recepção poética
tendem a ter também um maior nível de autoconsciência. Para a verificação dessa hipótese a autora
utilizou a escala de atitude denominada Arte, Educação e Autoconsciência que se divide
nas subescalas: Autoconsciência e Recepção poética. A escala e um questionário informativo
da história de vida dos sujeitos foram aplicados em 120 estudantes do ensino médio, de uma
escola pública localizada na periferia de São Paulo.
Os resultados obtidos indicaram não ser possível estabelecer uma correlação direta entre
autoconsciência e apreciação poética. Entretanto, outras associações importantes
foram realizadas. Dentre elas, a relação entre a média dos sujeitos com altos níveis
de autoconsciência e de apreciação poética e o hábito de leitura em literatura poética.
As mulheres apresentaram tanto uma maior imersão à arte, como um hábito de leitura mais pronunciado
que o dos homens. E ainda elas apresentaram também os níveis mais elevados de autoconsciência
e recepção poética na escala Arte, Educação e Autoconsciência. Outro apontamento é que
a condição socioeconômica dos jovens é um fator decisivo para o pouco contato com
o universo estético. O estudo, dessa maneira, sinaliza a importância
de se oferecer aos jovens de baixa renda atividades artísticas variadas em curso regulares ou
extracurriculares, nas escolas e espaços públicos. A Indústria Cultural tem sido
a tônica das manifestações culturais em nossos dias, é primordial que a população
tenha acesso à arte, pois ela é uma forma de emancipação, de construção crítica
e autoconsciência. Na concepção dos frankfurtianos não há como negar a importância do universo
estético na constituição de indivíduos autônomos e críticos. (AMARAL, 2012, p.128)
Em consonância as discussões apresentadas por Magalhães in Kleiman (1995) e Delamotte
(2002) in Souza-e-Silva & Faita (2002) sobre a importância do contexto social e cultural
na construção da identidade dos sujeitos e sobre as ‘situações criativas’ pode-se
afirmar que a qualidade e a intensidade das interações do individuo com o mundo podem
determinar a formação de sua identidade e também de seu coletivo. Desse modo, o acesso
à arte numa perspectiva sócio interacional reconfigura modelos identitários já existentes,
tornando mais dinâmico o processo de construção identitária.
A arte sensibiliza o jovem, ao criar novos espaços de subjetividade e modos de viver.
O trabalho com a sensibilidade confere condições para que ele perceba em sua subjetividade
as marcas da cultura e do ambiente vivido, reconhecendo na sua história de vida as construções
compartilhadas com os outros. Esse processo de aprendizagens e experimentações possibilita
ao jovem a reconstrução da sua subjetividade, adoção de novos valores, ao mesmo tempo
em que se percebe parte de um contexto histórico-cultural e uma comunidade. Desse modo, a arte é um
meio pelo qual o individuo constrói sua identidade e também de seu coletivo. As interações
com a arte proporcionam aos jovens novas formulações individuais e sociais, além de contribuírem
para a promoção da criatividade e imaginação.