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O Meu título: "Mais singular do que podemos conceber: A estranheza da Ciência."
"Mais Singular do que podemos supor" é uma expressão de J.B.S. Haldane
o famoso biólogo, que disse, "Bem, a minha própria suspeita é
que o universo não é apenas mais estranho do que supomos,
mas mais singular do que podemos conceber.
Suspeito que há mais coisas no Céu e na Terra
do que é sonhado, ou pode ser sonhado, em qualquer filosofia."
Richard Feynman comparou a precisão da teoria quântica --
previsões experimentais -- à determinação da largura dos Estados Unidos da América
com a precisão do diâmetro de um fio de cabelo.
Isso significa que a teoria quântica tem que ser, de algum modo, verdadeira.
Todavia os pressupostos que a teoria quântica precisa de definir
para que se obtenham essas previsões são tão misteriosos
que mesmo o próprio Feynman teve que fazer o seguinte comentário,
"Se achas que compreendes a teoria quântica,
então não compreendes a teoria quântica."
É tão estranha que os físicos recorrem a uma ou outra
interpretação paradoxal dela.
David Deutsch, que deu também uma conferência aqui no TED, A Fábrica da Realidade
adopta a "interpretação de muitos mundos" da teoria quântica,
porque a pior coisa que você pode dizer sobre essa interpretação é
que é disparatadamente desperdiçadora.
Postula um grande número de universos que aumenta muito rapidamente
existindo em paralelo -- mutuamente indetectáveis excepto através
de estreitos portais de experiências de mecânica quântica.
E este é Richard Feynman.
O biólogo Lewis Wolpert
acredita que a singularidade da física moderna
é apenas um exemplo extremo. A ciência, ao contrário da tecnologia
violenta o senso comum.
Sempre que bebes um copo de água, aponta ele,
as probabilidades mostram que vais beber pelo menos uma molécula
que passou através da bexiga de Oliver Cromwell.
É apenas teoria das probabilidades elementar.
O número de moléculas por copo cheio de água é gigantescamente maior
que o número de copos de água, ou bexigas cheias, no mundo --
e, claro, Cromwell não tem nada de especial,
nem as bexigas. Vocês acabaram de inspirar um átomo de azoto
que passou através do pulmão direito do terceiro iguanossáurio
à esquerda de uma alta cicadófita.
"Mais singular do que podemos conceber."
O que é que nos torna capazes de supor alguma coisa,
e isso diz-nos alguma coisa sobre o que podemos conceber?
Há coisas sobre o universo que estarão
para sempre além da nossa capacidade de compreensão, mas não além do alcance de alguma
inteligência superior? Há coisas sobre o universo
que são, em princípio, ininteligíveis por qualquer mente,
por maior que seja?
A história da ciência tem sido uma longa série
de brainstorms violentos, consoante as gerações sucessivas
têm obtido descrições cada vez mais singulares
do universo.
Hoje estamos tão familiarizados com a ideia de que a Terra roda em torno do seu próprio eixo --
ao invés do Sol se mover no céu -- que é difícil perceber
quão radical essa revolução conceptual deve ter sido.
Afinal, parece óbvio que a Terra é grande e sem movimento,
que o Sol é pequeno e móvel. Mas vale a pena lembrar
a observação de Wittgenstein sobre o assunto.
"Diga-me", perguntou a um amigo, "por que é que as pessoas dizem sempre que foi natural
para o homem assumir que o Sol rodava em redor da Terra
em vez de considerar que a Terra rodava em torno do si própria?"
O seu amigo respondeu, "Bem, obviamente porque simplesmente parece
que o Sol circula em redor da Terra."
Wittgenstein respondeu, "Bem, o que pareceria
se parecesse como se a Terra estivesse em rotação?" (Risos)
A ciência ensinou-nos, contra toda intuição
que aparentemente coisas sólidas, como cristais e rochas
são, realmente, quase totalmente compostas de espaço vazio.
E na imagem habitual considera-se que o núcleo de um átomo é uma mosca
no meio de um estádio de futebol e o átomo vizinho
está no próximo estádio.
Então parece que a rocha mais dura, mais sólida e mais densa
é realmente quase inteiramente espaço vazio, quebrado apenas por partículas minúsculas
tão amplamente espaçadas que não deveriam nem contar.
Então por que é que vemos e sentimos as rochas como duras e impenetráveis?
Como um biólogo evolucionista eu diria que nosso cérebro se desenvolveu
para nos ajudar a sobreviver nas ordens de grandeza de tamanho e velocidade
com as quais os nossos corpos lidam todos os dias. Nós nunca evoluímos a ponto de navegar
no mundo dos átomos.
Se o pudéssemos fazer, os nossos cérebros provavelmente perceberiam que as rochas
são cheias de espaço vazio. Sentimos as rochas como duras e impenetráveis
para as nossas mãos, precisamente porque os objectos como pedras e mãos
não se podem penetrar um ao outro. Isto é, portanto, útil
para que os nossos cérebros construam noções como "solidez" e "impenetrabilidade",
porque tais noções ajudam-nos a navegar através
do mundo de tamanho médio no qual temos que andar.
Mudando para o outro extremo da escala, os nossos antepassado nunca tiveram que
viajar através do universo a velocidades próximas
da velocidade da luz. Se o tivessem feito, a nossa mente seria muito melhor
a compreender Einstein. Quero dar o nome de "Mundo Médio"
ao ambiente de escala média em que evoluímos
a capacidade de actuar -- não tem nada a ver com a Terra Média.
Mundo do Meio. (Risos)
Nós somos habitantes do Mundo do Meio, e isso limita
o que nós somos capazes de imaginar. Achas, instintivamente, que
compreender ideias como, quando um coelho se move -- a uma
velocidade média à qual se movem coelhos e outros corpos do Mundo do Meio,
e colide com outro corpo do Mundo do Meio, caindo estatelado.
Posso introduzir o Major General Albert Stubblebine III,
comandante de inteligência militar em 1983.
Ele olhou fixamente para uma parede em Arlington, Virginia, e decidiu fazê-lo.
Por mais assustador que parecesse, iria passar para o escritório do lado.
Levantou-se e saiu de trás da secretária.
De que é feito, maioritariamente, o átomo? pensou. Espaço.
Começou a caminhar. De que é que sou feito? Átomos.
Acelerou o passo, agora quase em corrida.
De que é feita a parede? Átomos.
Tudo o que tenho de fazer é fundir os espaços.
Então, o nariz do General Stubblebine embateu com força na parede
do seu escritório. Stubblebine, que tinha comandado 16 000 soldados,
ficou confundido pelo seu falhanço continuado de atravessar a parede.
Não tem dúvida de que um dia esta capacidade será uma ferramenta comum
no arsenal militar. Quem se meteria com um exército
que o conseguisse fazer? Retirei isto de um artigo da Playboy,
que estava a ler no outro dia. (Risos)
Tenho todas as razões para pensar que é verdade; estava a ler a Playboy
porque eu próprio tenho lá um artigo. (Risos)
Uma intuição aprendida no Mundo do Meio, sem escolarização,
tem dificuldade em acreditar em Galileo quando afirma que
um corpo pesado e um corpo leve, na ausência de resistência do ar,
atingem o solo no mesmo instante.
E isto porque no Mundo do Meio, a resistência do ar está sempre presente.
Se tivéssemos evoluído no vácuo esperaríamos que estes corpos
atingissem o solo simultaneamente. Se fossemos bactérias
permanentemente empurradas pelos movimentos térmicos das moléculas,
seria diferente,
mas os Habitantes do Mundo do Meio são demasiado grandes para sentir o movimento Browniano.
Do mesmo modo, as nossas vidas são dominadas pela gravidade
mas somos quase indiferentes à força de tensão superficial.
Um pequeno insecto inverteria estas prioridades.
Steve Grand -- o que està à esquerda,
Douglas Adams está à direita -- Steve Grand, no seu livro,
Criação: Vida e como fazê-la, é absolutamente contundente
sobre a nossa preocupação com a própria matéria.
Temos esta tendência de pensar de que apenas as coisas materiais, sólidas
são coisas completamente reais. As ondas de flutuações electromagnéticas
no vácuo parecem irreais.
Os Victorianos pensavam que as ondas tinha que ser ondas num certo meio material --
o éter. Mas consideramos que a matéria confortável apenas porque
evoluímos para sobreviver no Mundo do Meio
em que a matéria é uma ficção útil.
Um vórtice, para Steve Grand, é algo com tanta realidade
como uma pedra.
Numa planície desértica na Tanzânia, à sombra do vulcão
Ol Donyo Lengai, existe uma duna feita de cinzas vulcânicas.
O belo é que esta duna se move como um todo.
Isto é tecnicamente conhecido como "barchan", e toda a duna
se move através do deserto no sentido oeste
com uma rapidez de cerca de 17 metros por ano.
Mantém a sua forma em crescente e move-se no sentido dos chifres.
O que sucede é que o vento sopra a areia
na região, do lado oposto, de declive menos acentuado, e a seguir,
consoante cada grão atinge o topo da crista da duna
origina um movimento descendente de grãos no lado interior do crescente,
e deste modo toda a duna em forma de chifre move-se.
Steve Grand afirma que eu e vocês, nós mesmos,
somos mais como uma onda do que como algo permanente.
Convida-nos, ao leitor, para "pensarmos numa experiência
da nossa infância- algo de que se lembrem claramente,
algo que possam ver, sentir, talvez até cheirar,
como se estivessem mesmo lá.
Apesar de tudo, estiveram realmente lá naquela altura, não estiveram?
Como poderiam lembrar-se se assim não fosse?
Mas é neste ponto que está a bomba: vocês não estiveram lá.
Nem um único átomo do vosso corpo esteve lá
quando esse acontecimento ocorreu. A matéria flui de lugar para lugar
e, num certo momento, une-se para ser um de vós.
Independentemente do que vocês são, portanto, não são as coisas
de que são feitos.
Se isto não lhe faz arrepiar os cabelos
leia-o de novo até que o faça, porque isso é importante."
Por isso "realmente" não é uma palavra que deveríamos utilizar com confiança.
Se um neutrino tivesse um cérebro,
que teria evoluído em antepassados do tamanho do neutrino
diriam que as rochas consistem realmente em espaço vazio.
Nós temos cérebros que evoluíram de antepassados de tamanho médio
que não conseguiam atravessar as rochas.
Para um animal, "realmente", é tudo o que o seu cérebro necessite que seja
para que o ajude a sobreviver,
e porque as diferentes espécies vivem em mundos diferentes,
haverá uma variedade desconcertante de "realmentes".
O que vemos do mundo real não é o mundo desenvernizado
mas um modelo do mundo, regulado e ajustado pelos dados sensoriais,
mas construído de modo a que seja útil nas interacções estabelecidas no mundo real.
A natureza do modelo depende do tipo de animal que formos.
Um animal voador necessita de um tipo diferente de modelo
de um animal que anda, escala ou nada.
O cérebro de um macaco tem de ter um software capaz de simular
um mundo tridimensional de galhos e troncos.
O software de uma toupeira para construir modelos do seu mundo
estará adaptado para uma utilização subterrânea.
O cérebro de um alfaiate (insecto de água) não necessita de nenhum software 3D
dado que vive na superfície de um lago
numa "planolândia" de Edwin Abbott.
Tenho especulado que os morcegos podem ver cores com os seus ouvidos.
O modelo de mundo de que um morcego necessita para navegar
em três dimensões capturando insectos
deve ser muito semelhante ao modelo do mundo de qualquer ave voadora.
um pássaro diurno como a andorinha, necessita de realizar
o mesmo tipo de tarefas.
O facto de o morcego utilizar ecos na escuridão
como os dados correntes nas variáveis do seu modelo,
enquanto a andorinha usa a luz, é casual.
Os morcegos, cheguei mesmo a sugerir, usam matrizes de percepção, como vermelho e azul,
como rótulos, rótulos internos, para alguns aspectos úteis dos ecos --
talvez para a textura acústica das superfícies, peludas ou suaves, e assim por diante
do mesmo modo que as andorinhas ou, na verdade, nós, utilizamos essas
matrizes de perceção -- intensidade de vermelho e intensidade de azul etc --
para rotular comprimentos de onda da luz, longos e curtos.
Não há nada inerente ao vermelho que faz com que o seu comprimento de onda seja longo.
E o fundamental é que a natureza do modelo é controlada pelo
modo como é utilizado, e não pela modalidade sensorial envolvida.
O próprio J. B. S. Haldane tinha algo a dizer sobre os animais
cujo mundo é dominado pelo cheiro.
Os cães conseguem distinguir dois ácidos gordos muito semelhantes, extremamente diluídos:
ácido caprílico (octanóico) e ácido capróico (hexanóico).
A única diferença, que se nota, é que um deles tem um par extra de
átomos de carbono na cadeia.
Haldane acha que provavelmente um cão seja capaz de localizar os ácidos
segundo a ordem das suas massas moleculares através dos seus cheiros,
tal como um homem localizaria as cordas de um piano
na ordem dos seus comprimentos através das suas notas musicais.
Bem, existe um outro ácido gordo, o ácido cáprico (decanóico)
que é muito semelhante aos outros dois,
excepto no facto de conter mais dois átomos de carbono.
Um cão que nunca tenha encontrado ácido cáprico, talvez, não tenha
maior dificuldade de conceber o seu cheiro do que nós teríamos
em imaginar, digamos, um trompete a tocar uma nota mais alta
do que outra que já tenhamos ouvido tocar antes.
Talvez os cães e os rinocerontes e outros animais orientados pelo cheiro
cheirem em cores. E o argumento seria
exactamente o mesmo que para os morcegos.
Mundo Médio -- a domínio de tamanhos e velocidades
em que evoluímos para nos sentirmos intuitivamente confortáveis --
é um pouco como a estreita faixa do espectro electromagnético
que vemos como luz de cores diferentes.
Somos cegos a todas as frequências fora desta faixa,
a menos que usemos instrumentos que nos ajudem.
Mundo Médio é uma faixa estreita da realidade
que julgamos ser normal, em oposição à estranheza
do muito pequeno, do muito grande e do muito rápido.
Poderíamos fazer uma escala semelhante de improbabilidades;
nada é totalmente impossível.
Os milagres são apenas acontecimentos extremamente improváveis.
Uma estátua de marmóre poderia acenar-nos; os átomos que a constituem
a sua estrutura cristalina vibram todos para um lado e para o outro em todas as direcções.
Porque existem tantos,
e porque não há acordo entre eles
numa direcção privilegiada de movimento, o mármore,
tal como o vemos no Mundo do Meio, permanece como uma rocha firme.
Mas os átomos da mão poderiam todos mover-se
do mesmo modo ao mesmo tempo, de novo e de novo.
Neste caso, a mão mover-se-ia e veríamo-la a acenar-nos
no Mundo do Meio. A probabilidade para isso é, obviamente, tão pequena
que se começ*** a escrever zeros no instante em que
o universo teve origem, ainda não terias
escrito um número suficiente de zeros.
A evolução no Mundo do Meio não nos equipou para lidar
com acontecimentos muito improváveis; as nossas vidas não são suficientemente longas.
Na vastidão do espaço astronómico e do tempo geológico,
o que parece impossível no Mundo do Meio
pode vir a ser inevitável.
Um modo de pensar sobre isso é contando planetas.
Não sabemos quantos planetas existem no universo,
mas uma boa estimativa é entre 10 e 20, ou 100 milhões de biliões.
E isto dá-nos uma boa maneira de exprimir a nossa estimativa
da improbabilidade da vida.
Poderíamos fazer algum tipo de pontos de referência
ao longo de um espectro de improbabilidade, o qual poderia parecer
como o espectro electromagnético que acabamos de ver.
Se a vida surgiu apenas uma vez em qualquer um --
se -- se a vida pudesse -- se a vida pudesse originar-se uma vez por cada planeta
poderia ser extremamente comum, ou se se pudesse originar uma vez por cada estrela,
ou uma vez por galáxia ou talvez apenas uma única vez em todo o universo,
em cujo caso teria que ser aqui. E em algum lugar lá em cima
seria a probabilidade de que um sapo se transformasse um príncipe
e outros fenómenos mágicos desse género.
Se a vida surgiu apenas num único planeta em todo o universo,
esse planeta tem que ser o nosso, porque estamos aqui a falar disso.
E isso significa que se queremos tirar partido disso,
podemos postular acontecimentos químicos na origem da vida
que têm uma probabilidade tão pequena quanto um em 100 milhões de biliões.
Não penso que deveríamos tirar proveito disso,
porque suspeito que a vida é bem comum no universo.
E quando digo bem comum, poderia ser tão rara
que nenhuma ilha de vida jamais encontraria outra,
o que é um pensamento triste.
Como deveremos interpretar "mais estranho do que podemos conceber?"
Mais estranho do que, em princípio, pode ser concebido
ou apenas mais estranho do que podemos supor, dadas as limitações
dos nossos cérebros aprendizes evolutivos do Mundo Médio?
Poderíamos, através da prática e treino, emanciparmo-nos
do Mundo Médio e atingir algum intuitivo,
assim como matemático, entendimento do muito pequeno
e do muito grande? Sinceramente não sei a resposta.
Imagino se nos ajudaria a compreender, digamos,
a teoria quântica, se trouxéssemos crianças para jogar jogos de computador,
desde cedo na infância, que tivessem um tipo de
mundo faz de conta de bolas que atravessasem duas fendas num ecrã
um mundo em que os estranhos caminhos da mecânica quântica
fossem ampliados pelo mundo faz de conta do computador,
para que se familiarizassem com esta escala no Mundo-do-Meio.
E, do mesmo modo, um jogo de computador relativístico no qual
os objectos do écran exibissem a contracção de Lorentz, e assim por diante,
para tentar que o nosso pensamento seguisse esse caminho ---
levar as crianças a pensar sobre isso.
Quero terminar aplicando a ideia do Mundo do Meio
às nossas percepções uns dos outros.
Actualmente, a maioria dos cientistas subscreve uma visão mecanicista da mente:
nós somos como somos porque os nossos cérebros têm a arquitectura que têm;
as nossas hormonas são como são.
Seríamos diferentes, as nossas características seriam diferentes,
se a nossa neuro-anatomia e a nossa química fisiológica fosse diferente.
Mas nós, os cientistas, somos inconsistentes. Se fôssemos consistentes,
a nossa resposta perante uma pessoa desajustada, como um assassínio de crianças,
seria algo como, esta unidade tem uma falha num componente;
necessita de uma reparação. Não é o que dizemos.
O que dizemos -- e incluo o mecanicista mais austero entre nós,
que provavelmente sou eu --
o que dizemos é, "Monstro vil, a prisão é boa demais para ti."
Ou pior ainda, procuramos vingança, com grande probabilidade de disparar
a fase seguinte de um ciclo vicioso de contra-vingança,
que vemos hoje, claro, por todo o mundo.
Resumidamente, quando pensamos como académicos,
olhamos para as pessoas como máquinas elaboradas e complicadas,
cmo computadores ou carros, mas quando regressamos ao lado humano
comportamo-nos mais como Basil Fawlty, que, lembramo-nos
rebentou o seu carro para lhe dar uma lição quando ele não queria arrancar
numa noite gastronómica. (Risos)
A razão por que personificamos as coisas como os carros e os computadores
é tal como os macacos que vivem num mundo árboreo
e as toupeiras que vivem num mundo subterrâneo
e os alfaiates (insectos de água) que vivem numa "planolândia" dominada pela tensão superficial
vivemos num mundo social. Nadamos através de um mar de pessoas --
uma versão social do Mundo do Meio.
Evoluímos para tentar adivinhar o comportamento dos outros
transformando-nos em psicólogos intuitivos e brilhantes.
Tratar as pessoas como máquinas
pode ser cientificamente e filosoficamente preciso,
mas é uma pesada perda de tempo
se queremos adivinhar o que esta pessoa fará a seguir.
O modo economicamente útil de representar uma pessoa
é tratá-lo como um agente com finalidades, que procura atingir determinadas metas
com prazeres e dores, desejos e intenções,
culpados, culpabilizável.
A personificação e a atribuição de uma intenção
é um modo tão bem sucedido de conceber o homem,
que dificilmente é uma surpresa que o mesmo software de modelação
com frequência assume o controle quando estamos a pensar sobre entidades
para as quais não é apropriado, como o Basil Fawlty com o seu carro
ou como milhões de pessoas desiludidas com o universo como um todo. (Risos)
Se o universo é mais estranho do que podemos conceber,
é apenas porque fomos naturalmente seleccionados para conceber
apenas aquilo que precisamos de conceber para poder sobreviver
no Pleistoceno em África?
Ou serão os nossos cérebros tão versáteis e expansíveis que poderemos
treiná-los para sair para fora da caixa da nossa evolução?
Ou, finalmente, existem algumas coisas tão singulares no universo
que nenhuma filosofia de seres, por mais divinos, pudesse sonhá-las?
Muito obrigado