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Agora nós teremos a última pessoa a falar no evento.
E eu vou fazer um discurso de encerramento antes,
e depois nós todos podemos sair pra beber alguma coisa.
Talvez vocês tenham achado,
muitos de vocês talvez estejam sabendo só agora que
Schönberger está se juntando a Bill Dultson e a mim
e passando a ser um dos três professores do Oxford Internet Institute [OII].
Então talvez vocês tenham achado que nós estávamos economizando talentos de fora na última palestra
usando essa estratégia de convidar alguém daqui mesmo,
mas não é esse o caso,
nós não sabíamos disso quando convidamos o Viktor,
em vez disso, passamos a saber disso quando o convidamos, então...
Eu só queria deixar isso claro.
Então. O Viktor é bastante incomum.
Ele é um advogado acadêmico com vários títulos em direito,
um deles de Harvard, mas também
ele é um tecnicista.
Eu acho que ele se encontra em boa companhia desde 1986.
Ele está se juntando a nós...
[Obrigado pelo 86.]
Eu ainda estava em dúvida sobre o ano.
Ele veio de Cingapura, onde era professor associado
do IPRC
e antes disso esteve na Escola Kennedy em Harvard por dez anos.
Ele publicou sete livros, um dos quais foi lançado no ano passado [2009]
e ganhou vários prêmios.
E se chama "Apagar: a virtude de esquecer na era digital".
E ele vai falar sobre o livro agora, obrigado a todos.
Muito obrigado, Helen
por ter me convidado
e particularmente por não ter me desconvidado depois que você soube
que eu estava entrando no OII.
Então... Quando eu perguntei à Helen sobre o que eu devia falar,
no final desse dia de palestras, eu estava achando que ela ia dizer
"Fale sobre alguma coisa empírica que você fez, mostre alguns gráficos legais, mostre umas tabelas de regressão..."
e eu estava atrás de uma discussão mais profunda,
mas em vez disso ela disse:
"Fale sobre esquecer!"
E eu disse... Ok, eu falo sobre esquecer.
Mas essa não vai ser uma apresentação acadêmica típica nenhuma.
Eu quero — porque eu sou a única coisa separando vocês do bar no final da noite,
e essa é a pior posição em que alguém pode estar —
eu queria que vocês sentassem um pouco,
relaxassem, mas não o suficiente para dormir
e queria que vocês embarcassem comigo numa espécie de meditação
sobre o esquecimento.
Stacy Snyder queria ser uma professora.
Na primavera de 2006, ela havia terminado o curso de professora e estava ansiosa para obter o certificado.
Então, de um dia para o outro, seu sonho havia acabado.
Ela fora chamada à reitoria da universidade e contaram-na que ela não receberia seu certificado de professora.
Ela não seria uma professora, mesmo tendo os créditos necessários, passado na prova e completado seu estágio.
Vários desses títulos com distinções de mérito.
Disseram que não dariam o certificado de professora a ela porque seu comportamento não era o de uma professora.
O comportamento dela... Uma foto.
Uma foto com um chapéu e um copo.
Cuja legenda era: "pirata bêbada".
Stacy Snider tinha colocado essa foto na sua página do myspace para que seus amigos vissem e, quem sabe, rissem um pouco.
Mas a administração da universidade achou que a foto poderia induzir menores de idade a consumir álcool.
E assim, inapropriada para uma professora.
Quando Stacy foi confrontada pela administração da universidade, ela considerou retirar a foto do site.
Mas era tarde de mais.
Sua foto havia sido encontrada por mecanismos de busca e arquivada por outras páginas.
Mesmo que Stacy quisesse que sua foto fosse esquecida, a internet não permitiria isso.
Lembrar... Ao invés de esquecer.
Lembrar... Esquecer.
Em 2001, Andrew Feldmár, um psicoterapeuta de Vancouver, escreveu um artigo acadêmico para uma revista.
No artigo, ele menciona que usou LSD nos anos 60.
No verão de 2006, como fazia sempre, Andrew Feldmár queria ir aos EUA para pegar um amigo no aeroporto de Seattle.
O oficial de imigração dos EUA pesquisou o nome de Feldmár no Google e descobriu o artigo acadêmico de 2001.
Porque Feldmár esqueceu de dizer ao oficial — mas nunca negou — que usou drogas quarenta anos antes.
Ele foi fichado, investigado e proibido de entrar nos EUA.
Para sempre.
Lembrar ao invés de esquecer.
Claro, alguém pode dizer, os casos de Stacy e Andrew são trágicos, mas ao menos em parte é culpa deles mesmos.
Se eles não tivessem posto essas informações online, Stacy ainda seria professora e Andrew poderia viajar aos EUA.
Todo mundo decide o que ela e ele devem colocar online.
Ou, para parafrasear Richard Gunn Friedrich-dunmat, "uma vez que algo é posto na web, não é mais esquecido".
Será?
Será que nós ficamos sabendo a cada vez que informação sobre nós é coletada, armazenada e colocada online?
Para a maioria das pessoas, o Google é o mecanismo de pesquisa preferido.
Milhões de pessoas ao redor do mundo fazem mais de dois bilhões de pesquisas através do Google todos os dias.
O Google está mostrando a essas pessoas e a nós o caminho.
O Google também nos mostra o que está sendo pesquisado, onde e por quem.
Vocês já devem ter visto o Google Trends.
O Google é tão bom em prever o que nós procuramos que podemos usá-lo para prever no que estaremos interessados daqui a pouco.
Tenho certeza de que vocês viram o Google Flu Trends mapeando quase perfeitamente a epidemia de gripe nos EUA no ano passado.
O Google consegue fazer isso mesmo para eventos de anos atrás porque o Google não esquece.
Desde seus primórdios há mais de dez anos, o Google armazenou cada pesquisa que foi feita nele.
Dois bilhões por dia. Toda pesquisa que ele já recebeu. E cada resultado de pesquisa em que você e todo mundo clicou.
Combinando informações de forma esperta, o Google acredita que pode mapear as pesquisas aos indivíduos.
O Google então soube por vários anos o que cada um de nós pesquisou e quando.
E em quais resultados dessas pesquisas nós clicamos.
Bem literalmente, o Google ficou sabendo mais sobre você do que você pode lembrar agora.
Lembrar.
Esquecer.
Esquecer tem sido fácil por milênios para a humanidade.
Biologicamente, nós esquecemos a maior parte do que experimentamos todos os dias. Sentimentos, pensamentos.
Lembrar... é difícil.
Desde o início dos tempos o ser humano tenta superar o esquecimento biológico.
E agarrar-se às memórias que são preciosas.
Por milhares de anos, nós tentamos, como esse índio Navajo, passar adiante nossas memórias aos nossos filhos.
Esperando que eles também sejam capazes de lembrar delas.
Dessa forma todos os momentos épicos de milhares de anos atrás foram lembrados através do tempo.
Mas a memória humana não é permante. Ela muda conforme nós reconstruímos nosso passado.
Dependendo do caso, nossa memória pode não ser suficiente,
especialmente quando tentamos capturar algo mais precisamente,
ou por períodos muito longos.
A pintura é uma forma de encapsular impressões visuais.
Como forma de criar uma memória externa mais precisa e duradoura,
como nesse desenho maravilhoso de uma caverna de Altamira.
A escrita, desenvolvida inicialmente — acredite — por contadores,
que buscavam um método preciso para lembrar por milênios, terminou se tornando o método preferido de memória externa da humanidade.
A língua, a pintura, a escrita. Todas nos tornando capazes de lembrar por gerações e gerações através do tempo.
Mas essas ferramentas não alteraram o fato fundamental de que para nós, humanos,
esquecer é fácil e lembrar é difícil.
Demanda tempo. É custoso.
Os livros não mudaram isso, e também não o fizeram os fonógrafos e os livros.
Lembrar continuou caro para a maior parte da humanidade.
E assim, tivemos que escolher cuidadosamente o que lembrar.
Em outras palavras, esquecer era o padrão e lembrar era a exceção.
Isso nos possibilitou lidar com o tempo.
De lidar com a nossa capacidade de esquecermos que nos livramos da memória excessiva.
Então nós temos que pagar imposto ao tempo.
E depreciar o que não é mais relevante ao nosso presente.
Como esquecer é biológico, nós humanos nunca tivemos que desenvolver a capacidade cognitiva de esquecer quando queremos.
Mesmo que isso seja possível, depreciar memórias e fazê-las desaparecer.
Hoje isso é diferente.
O Google lembra, o Yahoo lembra, a Amazon lembra, o Internet Archive lembra, os sistemas de reservas de voo lembram.
Os sistemas de reservas de voos lembram? Sim, eles lembram.
Se você fizer uma reserva de voo e não comprar a passagem, os sistemas de reserva lembram, caso precisem disso depois.
Mas nós nem sempre percebemos quando contribuímos para a memória digital e fizemos algo estar na rede.
Considerem esse exemplo. Esse é um lindo mapa de Londres.
Os pontos coloridos representam os lugares onde as pessoas tiraram fotos.
E então colocaram essas fotos no Flickr.
E o que vocês veem é que a densidade... Quanto mais colorido, quanto mais vermelho, mais as pessoas tiraram fotos.
Então vocês podem ver quais são os lugares mais visitados em Londres.
Isso é seguir as pessoas geograficamente. Mas você pode também seguir as pessoas geograficamente com o tempo.
Se as pessoas colocarem suas fotos no Flickr e fizerem isso repetidamente, você pode olhar os dados EXIF das fotos e saber onde elas estiveram.
Lembrar.
Do esquecimento biológico nós fomos até a lembrança detalhada.
Como isso aconteceu? Você sabe isso tanto quanto eu. Posso resumir.
Quatro elementos: primeiro a digitalização. Segundo, os avanços na tecnologia de armazenamento.
Em 1965, um engenheiro jovem chamado Gordon Moore previu que a densidade dos circuitos integrados "deve aproximadamente dobrar a cada dois anos".
De forma importante, como você vê aqui, a capacidade de armazenamento digital tem acompanhado esse aumento impressionante na capacidade
de armazenamento que Gordon Moore testemunhou há mais de quatro décadas.
Mas o armazenamento sozinho não é suficiente.
A Stasi do leste da Alemanha tinha centenas de milhares de dados em arquivos sobre mais de um milhão de pessoas.
E ainda assim, com esse sistema elaborado de pseudônimos e códigos em sua maior parte estando em arquivos em papel,
ela teve dificuldade, no fim, em descobrir a tempo a informação que tinha.
Isso também é diferente hoje em dia, já que indexar textos inteiros era difícil até algumas décadas atrás.
Hoje isso é tão barato que não somente prevê as expectativas das pessoas na Internet.
O "ser" Google.
E também está embutido em todo sistema operacional moderno.
Junte-se a isso a habilidade de acessar informação sobre a infraestrutura global.
Alguns minutos...
que um documento passa online são suficientes pra disseminá-lo, mesmo acidentalmente, e distribuí-lo ao redor do globo.
Como nessa página do manual de operação do Air Force One.
Que ficou online acidentalmente por alguns minutos.
Depois que o erro foi percebido, já era tarde.
E, por acaso, é assim que você entra no Air Force One. Para o caso de você precisar algum dia.
Juntando tudo hoje em dia, isso levou lembrar a ser o padrão, e esquecer, a exceção.
Até certo ponto, isso tinha que ser razão para comemorar. Sim, nossa memória digital vasta e acessível oferecendo inúmeros benefícios.
Desde o aumento da precisão e da eficiência até, do outro lado, a promessa de nos ajudar a transcender a mortalidade humana.
O mesma moeda jogando fora o esquecimento, como eu acredito, terá esse outro lado de consequências muito além da informação eficiente.
Dois termos caracterizam o que eu acredito que está em jogo: poder e tempo.
O poder é relativo e relaciona as pessoas.
Quem estuda privacidade da informação diz há muito que o poder sobre a informação pode se traduzir em poder sobre o indivíduo relacionado a ela.
Mas esse poder sobre a informação vai muito além dos limites da privacidade da informação.
Por séculos, a igreja católica manteve seu poder em nada menos do que a dominação da instituição do lembrar.
Através dos copistas, dos livros e bibliotecas.
Uma das consequências sociais de tamanho desequilíbrio de poder tem sido que as pessoas que recebem informações optem pelo silêncio.
Isso é precisamente o que quem mantém o poder deseja.
E isso tem que ser somado ao potencial de influenciar como nós interagimos.
Peguemos como exemplo o Panopticon de Jeremy Bentham.
O conceito de uma prisão em que os guardas da prisão podem observar os prisioneiros
sem que os prisioneiros saibam quando estão sendo observados.
O objetivo do Panopticon é a coerção do comportamento através da ameaça permanente da vigilância invisível.
Oscar Gandhi e outros sugeriram que a Internet talvez tenha ajudado a criar um Panopticon global onde todos podem assumir que estão sendo vigiados o tempo todo.
Tal Panóptico pode levar as pessoas à auto-censura,
com o receio de que suas manifestações de identificação possam ser mal interpretadas
por qualquer um dentre as centenas de milhões de indivíduos em milhares de jurisdições ligadas à ideia.
Mas hoje nós vemos, eu acredito, mais do que um Panopticon global.
Por causa da memória digital detalhada, nós temos que assumir que o que dizemos ou fazemos na rede
não vai ser testemunhado apenas hoje, mas vai permanecer acessível por anos, talvez décadas, ao longo do nosso futuro.
Isso cria o que eu chamo de Panopticon temporal,
no qual nós talvez nos auto-censuremos não porque temos receio de como as pessoas vão interpretar nossas palavras e feitos hoje,
mas porque temos receio de como as pessoas em instituições num futuro distante possam vir a interpretá-los.
Minha segunda preocupação é o tempo. Mais precisamente, com como nós humanos lidamos com o tempo.
Como eu mencionei, esquecer é biológico, então nós humanos não tivemos que desenvolver mecanismos conscientes
para colocar em perspectiva temporal pedaços de memória, ou seja, eventos diferentes e talvez até contraditórios.
Considerem a seguinte hipótese — é uma fraqueza dos advogados pensar em hipóteses.
Então considerem a seguinte hipótese. Jane e John. Jane e John são amigos de longa data.
Mesmo vivendo em cidades diferentes, eles tentam se manter em contato pelo menos uma vez por ano.
Um dia, Jane recebe um email de John dizendo que ele está indo visitá-la.
E que ele quer tomar um café com ela.
Jane está animada! Ela não vê seu amigo John em quase um ano e responde logo em seguida sugerindo um lugar para se encontrarem.
Para lembrar-se de onde eles se encontraram na última vez, Jane olha sua caixa de entrada e pesquisa por John.
Então ela se depara com vários emails que recebeu de John durante anos.
Procurando rapidamente por todos eles, seus olhos se deparam com um email de dez anos atrás.
Com um assunto esquisito. Ela lê com calma o assunto e começa a ler o email.
E ela fica surpresa. Chocada, ela lê como John a enganou naquela época.
E ela lembra do sentimento de raiva e da troca de farpas entre eles.
Bem devagar, os eventos e os sentimentos aflorados por esse estímulo externo concreto vão voltando à sua mente.
Sua sensação de ter sido traída e enganada.
Ela lê em seguida sobre como nos próximos meses e anos ambos devem ter se reconciliado.
Mas os emails não dizem exatamente como e por quê.
Mas bem destacado no seu pensamento está agora como John, seu querido John, a enganou. Ela já não tem mais certeza de que quer vê-lo.
Mesmo que sua mente ***ítica queira deixar de lado a memória reavivada, as palavras raivosas que ela leu deram início a essa recapitulação.
Elas são a memória externa que nos ajudam a lembrar o que pensamos que esquecemos.
Mas elas também, como mostra esse exemplo, podem tornar mais complicada a nossa habilidade de avaliar e decidir.
Em termos mais abstratos, como os psicólogos cognitivos nos lembram, para nós é difícil perceber o tempo como uma dimensão de mudança.
Na época ***ógica, esses perigos eram limitados.
Nosso esquecimento biológico obscurecia nossa dificuldade de lidar com o tempo.
Mas o que acontece quando não é mais permitido que nós esqueçamos?
Nós sabemos um pouquinho sobre as consequências através de estudos com alguns poucos seres humanos que possuem dificuldade para esquecer.
Essa é A. J., uma mulher que possui dificuldade para esquecer.
Se você perguntar pra ela sobre um dia específico, ela saberá dizer a que horas acordou, quem ligou e o que estava passando na tevê.
Para todos os dias nos últimos trinta anos.
A. J. é incapaz de esquecer.
Mas para ela, não é uma bênção, é algo terrível.
Seu passado está tão vivo na sua memória que ela diz que isso a atrapalha a tomar decisões no presente.
Como disse o escritor argentino Jorge Luís Borges,
"uma memória perfeita leva o ser humano a se perder nos detalhes e perder a habilidade de generalizar, abstrair e evoluir".
"Nós esquecemos", diz Borges, "e é isso que nos torna humanos".
"Ficamos presos num passado mais detalhado em vez de viver e agir no presente".
Esse é o resultado com o qual teremos que lidar.
Com a memória digital detalhada.
Para aperfeiçoar a memória digital, nós também negamos a nós mesmos a capacidade de evoluir no tempo... De evoluir e de crescer.
Sem o esquecimento, é difícil para nós perdoar.
E assim, com a lembrança digital detalhada, nós podemos virar uma sociedade incapaz de perdoar.
Mas existe mais um detalhe nessa história.
E se... E se, frustrados com a duração da nossa própria memória humana,
nós começarmos a fazer vista grossa para a nossa própria lembrança do nosso passado
e passarmos então a depender e acreditar somente na memória digital?
Isso dá aos que controlam a memória digital — Flickr, Youtube, Google — o poder de mudar a história?
Essas são algumas das ameaças que residem em mudar o padrão de esquecer para lembrar.
Então, se vocês estão me acompanhando, eu estou quase no fim.
Então... O que nós devemos fazer?
Bem... Algumas respostas já existem. A primeira, a mais óbvia, é a de regulamentar o direito à privacidade das próprias informações.
A ideia do direito à privacidade da própria informação é bastante simples: ao darmos a cada indivíduo o direito à privacidade das próprias informações,
nós damos poder às pessoas para que elas lutem pelos seus direitos. Fazer cumprir as regras então é algo descentralizado e delegado.
Soa ótimo. Mas isso vem junto com um monte de fraquezas herdadas.
A mais importante: essas pessoas a quem nós queremos dar o poder de controlar as próprias informações não estão nem aí pra isso.
Na Europa, por exemplo, existe há décadas uma legislação forte sobre direito à privacidade das próprias informações, mas ninguém a usa.
Ao menos não nos tribunais.
A Ecologia da Informação...
é uma segunda forma de lidar com o problema. Trata-se de regular que espécie de informações pessoais podem ser guardadas e por quanto tempo.
Essas normas da Ecologia da Informação precisam de ajuda do governo e fazê-las cumprir pode ser custoso.
Mas elas têm duas vantagens sobre os direitos à privacidade das próprias informações.
Primeiro, elas não requerem que as próprias pessoas tenham que ir à justiça para se fazer cumprir.
E segundo, elas nos protegem de um futuro incerto.
Protegem contra um futuro incerto...
Considerem o caso do registro civil dos cidadãos holandeses.
Em 1930, havia um motivo perfeitamente razoável para que o registro incluísse informações sobre religião e grupo étnico.
Mas quando os nazistas invadiram a Holanda, eles deram um novo uso à informação contida nos registros oficiais.
E então os nazistas foram capazes de matar, proporcionalmente, mais judeus holandeses do que franceses, poloneses ou alemães.
Mesmo refugiados judeus na holanda não tinham muito o que temer, pois não constavam nos registros civis.
É uma lição tenebrosa.
Como nós não podemos prever o futuro e como nossas informações pessoais serão usadas,
Talvez seja melhor guardar menos ao invés de mais.
Essa é a essência da Ecologia da Informação.
Infelizmente, desde onze de setembro de 2001, podemos observar um descontentamento insignificante,
junto uma onda de leis sobre retenção da informação
como parte de um discurso de medo e segurança
que limitam as chances da Ecologia da Informação se expandir no campo político como é preciso para lidar com a lembrança digital.
Talvez nós tenhamos que pensar além das leis.
Algumas pessoas têm defendido a abstinência digital.
Ficar longe das tecnologias que proporcionam a lembrança digital.
"Não compartilhar tudo no facebook", nos lembrou o presidente Obama, é algo que pode reduzir a ameaça da lembrança digital.
Mas isso é realista, com seis milhões de usuários ao redor do mundo?
E nós queremos nos privar do compartilhamento da informação, trabalho em conjunto e do valor que isso tem?
Dessas ferramentas que a web 2.0 nos proporciona?
Outra opção... Que é o oposto da abstinência digital, é a ideia de contextualização completa, ou seja,
guardar digitalmente a maior quantidade possível de informação.
Soa esquisito, mas o argumento por trás da ideia é: talvez o problema da memória digital seja que ela não captura o suficiente.
O suficiente de um evento, por exemplo, que nos permita revivê-lo completamente em um momento futuro.
Se nós simplesmente pudéssemos guardar tudo...
Incluindo o contexto de um evento, nós poderíamos evitar os efeitos colaterais da memória digital.
Em essência, a contextualização total nos daria de volta a possibilidade de pensar através do tempo.
Ao mesmo tempo, isso também ajudaria a sanar eventuais desequilíbrios de informação,
então de uma certa forma isso é uma proposta para o cérebro de uma sociedade transparente.
Mas será que a contextualização total vai ser em algum momento factível?
E, mesmo que chegue a ser, será que nós teremos tempo de reviver todo o nosso passado?
Todos os eventos e experiências pelos quais passamos de novo e de novo...
Apenas para descobrir quais experiências não são mais relevantes para nós?
Ainda outra alternativa seria esperar um ajuste cognitivo na sociedade.
Essa é a esperança de que com o tempo nós aprendamos a desvalorizar informações antigas e a viver em um mundo com um passado onipresente.
Não é a sociedade que deve mudar, nem as suas leis. Mas o nosso processo individual de análise das informações e tomada de decisão.
Isso... Soa correto.
E resolveria nosso problema.
Eu gosto da ideia do ajuste cognitivo.
Mas meus amigos psicólogos cognitivos me dizem... Que não vai funcionar.
Eles são céticos sobre a capacidade do ser humano de forçar uma mudança na forma de avaliar as coisas
e processar essas memórias que nós subitamente invocamos do estímulo externo do armazenamento digital.
Ele dizem que talvez demore muito para nós, humanos, mudarmos nossa fiação cerebral
para mudarmos a forma como acessamos informação. Mudar a forma como vínhamos fazendo isso por eras.
E... Mesmo que nós pudéssemos, qual seria o mecanismo apropriado para perpetrar essas mudanças?
Uma ideia diferente é não mudar os seres humanos, mas mudar a tecnologia.
Algumas pessoas propuseram que usássemos tecnologia para mudar o comportamento,
nós poderíamos criar, eles sugeriram, direitos de propriedade sobre a informação.
Algo como o direito autoral.
E colocar na nossa tecnologia, nos nossos computadores, telefones, etc., formas de garantir que somente as pessoa autorizadas
possam processar e usar as minhas informações pessoais.
Ou seja, só as pessoas que eu permiti que usassem as informações.
Em resumo, a sugestão é criar um sistema global de gerenciamento de direitos digitais para proteger a privacidade.
Mas espere um pouco. Será que nós precisamos mesmo de um sistema global que precisa observar cada passo nosso
para garantir que ninguém cometa um abuso no uso das informações pessoais de outra pessoa?
Nós não estaríamos criando um sistema de vigilância perfeito para garantir... Privacidade?
Eu mostrei seis possibilidades de como lidarmos com os desafios propostos pela lembrança digital.
Direitos à informação e a Ecologia da Informação usam normas legais para lidar com o desafio.
A abstinência digital e o ajuste cognitivo esperam que isso possa ser conquistado no nível individual.
Bem, os direitos de privacidade forçados e a contextualização forçada basicamente esperam por inovações tecnológicas enormes.
Os três da esquerda focam basicamente no que eu chamo do aspecto de poder da lembrança digital.
E os três à direita basicamente focam no desafio do tempo.
Nenhum desses meios nos dá uma solução simples e eficiente, mas cada um deles ajuda do seu próprio jeito.
Então nós talvez tenhamos que misturar e combinar esses métodos e talvez até adicionar alguma outra coisa.
Alguma coisa? Nós resolvemos 95% do problema.
Alguma outra coisa...
Além da combinação das ferramentas que eu já mostrei, eu defendo a volta do esquecimento.
Quero dizer, estabelecer mecanismos que tornem mais fácil esquecer na era digital.
E que façam a lembrança ser um pouquinho mais difícil. Não muito.
Eu não quero tornar a lembrança muito difícil, apenas o suficiente para mexer com os incentivos de lembrar e esquecer.
Voltar com os incentivos aos quais nós humanos estamos acostumados.
Uma versão disso poderiam ser datas de validade para as informações.
Isso implicaria em que, a cada informação que fôssemos armazenar, nos fosse perguntado não apenas a informação em si ou onde ela vai ficar,
mas também uma data.
Até a qual nós queremos que a informação fique armazenada. Depois disso, a informação é apagada.
Claro, poderíamos escolher datas de validade como quiséssemos e fazer isso a qualquer momento.
Uma beleza da data de validade é que ela nos deixa ter ferramentas para o compartilhamento de informação,
usar essas ferramentas,
e continuar usando, criando assim o equivalente digital das culturas de comunicação oral.
Essas ferramentas tentam imitar, mas nunca chegam de fato lá.
Por favor, entendam. O coração dessa proposta não é o apagamento automático da informação.
Ou a infraestrutura técnica que forçasse sua execução.
O cerne da proposta é que, ao sermos pedidos por uma data de validade, seremos lembrados de novo e de novo
de que a maioria das informações não existe de forma autônoma, mas está ligada a um contexto e situação específicos.
Ou seja, que a informação perde valor conforme o tempo passa.
Datas de validade, eu acredito, nos oferecem uma forma significativa de conectar memórias digitais ao tempo.
E, assim, implementam uma dimensão temporal... Na memória digital.
Não se enganem. Úteis enquanto ilustração, datas de validade vêm com uma série de fraquezas próprias.
Elas não são balas de prata, não são desenhadas para resolver desafios de privacidade das informações além da lembrança digital.
Talvez a maior parte das datas de validade problemáticas ainda possa ser do tipo "expira ou não expira".
Mas o esquecimento humano é muito mais gradual.
Talvez em algum momento nós possamos desenvolver sistemas digitais que são mais graduais também.
E permitir algo como um "enferrujar digital".
O desafio do tempo que eu tentei descrever antes — mas não o problema do poder, receio —
poderia ser contornado, ao menos até certo ponto, se nos certificarmos de que informações mais antigas — e talvez menos relevantes —
demorem um pouco mais para serem acessadas.
Para que nós não tropecemos nela por acaso e arrisquemos tornar mais difícil o nosso processo de tomada de decisão no presente.
Lembrar... Por exemplo, lembrar de pôr suas fotos em caixas de sapatos no porão.
Você tem as fotos lá em cima no porão, e se você quiser gastar o tempo necessário pra subir lá e procurá-las...
Elas estarão lá.
Mesmo que algumas delas tenham desbotado com o tempo.
Mas ir atrás dessas fotos toma em si um certo esforço, e assim faz esquecer ser o padrão e lembrar ser a exceção.
Esse pouquinho de esforço extra, acredito, é o que nos ajuda a continuar focados no presente.
Existem uma série de variantes do esquecimento digital,
mas não importando que versão nós escolhamos, por exemplo com o caso das datas de validade, eu prevejo dois atributos comuns.
Primeiro...
Nós precisamos trocar o padrão de lembrar para esquecer.
Esquecer pode ser lento, gradual, reconsiderado.
Dando poder aos donos da informação de fazer como eles quiserem, mas esquecer precisa ser o padrão.
E lembrar, a exceção.
O segundo atributo é que o esquecimento digital tem que oferecer um mecanismo de ligar a informação que nós gravamos
à dimensão temporal a que ela pertence.
Em outras palavras, dar-nos liberdade e uma chance de refletir e escolher.
Esquecer... Lembrar.
Desde o início dos tempos, esquecer tem sido fácil para nós.
E lembrar tem sido difícil.
Na era digital, a relação entre lembrar e esquecer foi revertida.
Hoje, a lembrança digital é o padrão.
E esquecer é que normalmente é esquecido.
Eu proponho a vocês pensar.
Proponho pensar em dar de volta ao esquecimento o papel que ele merece.
Que nós lembremos de esquecer.
Obrigado.
[Esquecer... Lembrar.]
[Perguntas e respostas]
Oi, meu nome é ***, da Universitat Autònoma de Barcelona. Gostei muito da sua apresentação
e essa sua ideia é muito forte, mas a pergunta é sobre quem define o que nós temos que esquecer
e que informações nós temos que esquecer? Porque no contexto de informações que nós temos ou não temos que esquecer,
eu gostaria de ouvir mais um pouco da sua opinião sobre essa questão.
Claro. Muito obrigado, essa é uma pergunta excelente. Eu tenho que voltar pra cá.
Para poder ser... Lembrado.
Então... A ironia não me escapa.
Então... O argumento que eu expandi bastante no livro — porque essa é uma coisa importante, quem vai tomar a decisão,
sobre o que lembrar e o que esquecer.
Agora... É de fato um tanto mais fácil do que vocês podem imaginar. Quando nós gravamos coisas nos nossos discos,
como a Jenny fez, essa é uma decisão que ela pode tomar, bem como com o John.
A situação é um pouco mais complexa quando há uma relação entre duas partes que produz a informação. Por exemplo, com as lojas virtuais.
Quem vai definir uma data de validade nesse caso? A data deve ser definida pelos dois lados ou não?
Minha percepção é de que sociedades diferentes vão implementar seus sistemas de esquecimento de formas diferentes.
Sobre o esquecimento digital ou os sistemas de datas de validade.
Então uma sociedade, digamos, mais baseada em leis de mercado como os EUA
talvez opte por um sistema leve e simples
no qual a pressão do mercado joga grandes volumes de informação — como o Google, a Amazon e outros —
de forma que esses dados façam uso das datas de validade que as pessoas escolherem.
Agora. Você pode olhar para isso e dizer: isso nunca vai funcionar! Por que a Amazon deveria permitir
que esses clientes apaguem dados que eles mesmos podem usar para, em um processo de mineração,
prover recomendações de livros e compras em geral?
A verdade é que a Amazon tem essa grande dificuldade: ela tem todos esses dados de transações
de todos os livros e produtos que eu comprei há dez anos.
Mas eles não têm como saber se essas informações todas ainda são relevantes para mim hoje,
porque minhas preferências, meus valores, meus interesses... Mudam.
Então eles ficariam muito felizes em saber, das informações de transações que eles possuem,
quais ainda são relevantes para mim e quais não.
E as datas de validade que eu escolho dão a eles a oportunidade de saber isso.
Então, por exemplo, se eu compro um guia de estudos porque eu tenho uma prova, eu posso escolher uma data de validade,
quem sabe, uma semana depois da prova ou alguns dias depois dela, esperando que eu passe nessa prova.
Ou, se eu comprar um guia de viagens, posso escolher uma data de validade dessa informação de compra específica para
depois de eu voltar dessa viagem, porque, uma vez de volta, eu não pretendo comprar tão cedo outro guia de viagens.
Então existe um incentivo para os grandes donos de informações
irem até os seus clientes e oferecerem a eles a possibilidade de esquecer — ou atribuir datas de validade às informações.
Outras sociedades, por exemplo, os países continentais da europa, talvez mais interessados em regulamentar o controle da informação,
talvez optem por um conjunto de leis que regulamentem as datas de validade das informações.
Na verdade, o Ministro do Interior e o Ministro da Justiça da Alemanha anunciaram
— um em junho e o outro há duas semanas — que vão propor conjuntos de leis para forçar o Facebook a implementar datas de validade.
E em outras redes sociais.
Essa é uma abordagem regulatória. Existe um espectro completo em que você pode ir desde soluções baseadas no mercado até as regulatórias.
E você pode pensar em esquemas regulatórios mais leves e mais pesados.
Mas eu acredito que cada sociedade vai ter a sua chance de vir com o seu próprio sistema de valores e inventar um sistema que funcione para si.
[Tem alguém lá atrás.]
Oi. Nós somos colegas de profissão e você não sabe ainda. Eu me chamo Sandra e trabalho aqui também.
Eu sempre achei que nós devíamos aprender a perdoar, e não a esquecer.
Como isso se encaixa no seu... Porque me parece que no seu primeiro exemplo,
a culpa não é da futura professora, quer dizer, a instituição é que deveria esquecer, ou algo assim.
Ehr... Muito obrigado. Eu sou um grande fã do Simon Wiesenthal, um sobrevivente do Holocausto.
E o Simon Wiesenthal escreveu um grande livro chamado "Perdoando, e não esquecendo". E eu acho que você está falando um pouco disso.
Que nós devíamos perdoar as pessoas pelas transgressões, mas não devíamos esquecê-las, de forma a aprender com elas.
Então eu falei com meus amigos de psicologia cognitiva em Link, e eles me disseram:
"A forma como nosso cérebro funciona é essa,
quando nós começamos a perdoar, ou seja, quando achamos que um evento no passado não é mais relevante para nós,
porque a pessoa mudou, as circunstâncias mudaram... Nós esquecemos essas coisas.
Então o que acontece de fato é que perdoar e esquecer são coisas que acontecem em paralelo.
E esquecer reforça nossa capacidade de perdoar."
Lembrar continuamente de alguma falta de alguém no passado faz com que seja muito difícil perdoar essa pessoa, mesmo que nós queiramos.
Esse é o problema da A. J., a mulher que tem dificuldade em esquecer. Ela diz — e está publicando sua autobiografia agora,
o que é uma leitura interessante. A National Geographic fez uma reportagem interessante com ela também —
Na pesquisa que foi realizada com ela, ela diz: "eu lembro de todos os erros que cometi no passado. De todas as decisões ruins que eu tomei."
"E a cada vez em que eu tenho que tomar uma decisão, todas as decisões erradas do passados voltam, e eu não consigo me perdoar por elas,
e assim eu fico indecisa."
Eu acho que é isso.
Olá. Meu nome é *** e eu sou do Sri Lanka. Acho que essa ideia, esse seu jeito de ver as coisas é excelente.
Mas eu acho que há esse sentido de manipulação quando eu olho de forma prática para o problema. Mas a minha pergunta é...
Quando é que nós deveríamos parar para pensar nisso? Por exemplo, você mencionou que
a capacidade de lembrar possui vantagens diferentes para sociedades diferentes, países diferentes,
e você pode usar esse trabalho todo. Por exemplo, o Google Maps que pode ver todos os lugares
Agora. O problema é que seis, cinco bilhões de pessoas podem não conseguir tirar vantagem da lembrança digital,
então, quando é que nós deveríamos começar a lembrar? Porque, por exemplo, em outras especialidades,
talvez fosse interessante tirar vantagem da lembrança digital, e talvez nós pudéssemos adiar o esquecimento.
Bem. Muito obrigado. Você mencionou algo para que eu talvez não tenha dado muita atenção no livro — e certamente na apresentação —
E isso é a dimensão que diferencia entre a lembrança e o esquecimento dentro do digital.
Pessoas como Brenn sugeriram formas de lidar com o desafio de poder sobre o qual eu falei.
Fazendo tudo ser transparente. Não só as casas de força do processamento mundial, os Googles por aí no mundo,
têm acesso à lembrança digital e ao armazenamento, mas também aqueles sobre quem nós armazenamos dados têm que ter acesso a eles.
Por causa da reciprocidade transparente, ele acredita que nós podemos lidar com a questão do poder fazendo isso, sendo transparentes.
E isso talvez seja verdade. Quero dizer, nós deveríamos ir nessa direção, dar acesso àqueles que são vigiados acesso aos dados sobre a vigia.
Mas existe o desafio do tempo sobre o qual eu falei antes, a dimensão do tempo.
E mesmo com uma transparência perfeita, isso seria muito pouco no sentido de resolver o problema da Jane,
Como quando a Jane encontra os emails do John no caso que eu contei antes.
O problema da A. J. de ter que lidar com todas as suas más decisões passadas a cada momento,
Então eu estou com você sobre superarmos o desequilíbrio de poder, porque ele é muito similar ao desafio do poder que eu apresentei.
Mas eu acho que isso não vai ser suficiente, porque ainda vamos precisar vencer o desafio do tempo.
Parece que há uma distinção relativa à posição estrutural no que tange lembrar e esquecer que nós podemos fazer.
É sobre poder responsabilizar líderes políticos. E isso requer memória.
E eu estou curioso sobre qual seria a sua reação. Nós certamente queremos proteção como indivíduos, num certo sentido.
Então nós não estaríamos querendo um esquecer protetor e um lembrar protetor para certas pessoas?
Sim!
Bem, você não está entrando nesse assunto de forma desinteressada, porque você não somente é um cientista político.
Você é também um pesquisador. E pesquisadores querem um conjunto de dados para trabalharem. Essa é uma dimensão importante, também.
Eu não estou defendendo uma sociedade ignorante.
Esse problema não é mais sobre lembrar. Na verdade, durante a época ***ógica, nós lembrávamos.
Há um argumento que eu não é meu mas eu uso.
Na época ***ógica, como lembrar era um pouco mais caro do que esquecer, as pessoas lembravam do que era valioso.
E hoje, por padrão, nós capturamos tudo, armazenamos tudo, então há todo um mar de informação aí fora.
E isso é mais difícil ainda de ser analisado com esse nível de detalhes todo. Eu não compartilho dessa visão,
mas a visão da qual eu compartilho é: vamos tentar mudar de volta o padrão de lembrar para esquecer
fazendo esquecer ser um pouquinho mais fácil e lembrar ser um pouquinho mais difícil
e, ao mesmo tempo, fazer-se lembrar, mas fazer com que lembrar seja a exceção.
Ao invés do que está aí, o padrão de agora.
Ter essa discussão na sociedade sobre o que nós, enquanto sociedade, queremos lembrar e o que nós queremos esquecer.
Por exemplo, o sistema de datas de validade torna perfeitamente factível para você usar uma data como daqui a 400 anos para o seu post de blog.
Se você achar que o seu post de blog tem um valor enorme para as gerações futuras.
Ou as suas fotos de pôr-do-sol, lá as 50.000 fotos de pôr-do-sol no Flickr que parecem todas a mesma.
Se você acha que as suas são particularmente importantes, então você pode usar datas de validade mais longas.
Se nós, enquanto uma sociedade, acharmos que é importante lembrar de algo, nós devemos lembrar.
É só a exceção à regra.
Vamos fazer com que os EUA lembrem o que seu presidente e seus assistentes produzam como gravações.
Faz todo o sentido! Como exceção à regra geral. É como era até recentemente, como exceção à regra. Todas as coisas eram esquecidas.
Então eu acho que nós devemos ter esse debate na sociedade. Sobre o que é importante que seja lembrado e o que pode ser esquecido.
Alguns eventos na nossa sociedade podem ser tão importantes que talvez nós queiramos criar instituições apenas para lembrar deles.
Arquivos, museus.
Eu simpatizo com essa ideia. Eu dou valor a isso. Adoro museus. Adoro livros.
Mas eu os escolho porque quero lembrar deles. Escolha minha. E nossa sociedade deve poder fazer essa escolha também.
[Voz baixinha na plateia]
Bem, dependendo de qual... Não vamos entrar nisso.
Porque isso está sendo gravado e eu posso ser responsável no futuro pelo que eu disser agora.
[Mais vozes baixinhas]
Obrigado por essa apresentação interessante e pelas ideias que você nos trouxe.
Sobre isso, a sociedade da vigilância está aí.
Eu queria fazer uma pergunta simples. Concordo com você sobre as datas de validade. Precisamos de alguma coisa assim.
Mas eu acho que, talvez em alguns casos, colocar essa data de validade na informação pode significar também que haverá lembrança ativa.
Imagine o caso de termos conjuntos diferentes de dados que categorizamos de formas diferentes com datas de validade diferentes.
Parece-me — eu não sou psicóloga — que as pessoas tendem a pensar mais nas coisas se elas forem acontecer mais cedo.
Então, para tarefas que tomam tempo, eu concordo, nós deveríamos ter a opção de escolher a validade.
Mas eu me pergunto se haveria uma outra forma de lembrar das coisas... Obrigado.
A pergunta é muito legal, mas deixe-me fazer um aparte rapidamente. Duas coisas.
Uma é se perguntar se o fato de escolher um prazo de validade por si só não torna a lembrança desse evento mais profunda para nós.
Outra é: suponha que eu tenho um programa que me lembra das coisas que estão para vencer.
Será que isso não tornaria a lembrança do fato muito mais profunda e talvez eu não quisesse isso?
Bem, o programa seria usado apenas pelas pessoas paranóicas sobre esquecer as coisas. E essas pessoas lembrariam de qualquer jeito.
Mas a primeira parte é mais interessante. Porque isso tem a ver com a pesquisa recente na área.
E pesquisa bastante interessante sobre lembrar, esquecer e como o cérebro funciona.
Descobriu-se que humanos não podem esquecer das coisas automaticamente.
Parece que é um processo passivo que acontece em segundo plano.
E descobriu-se também que humanos podem esquecer ativamente.
Esse é um fato que está sendo explorado agora mesmo. Ressonâncias magnéticas funcionais.
Até agora vimos que funciona para palavras, funciona para vídeos. É bem interessante.
Há algumas pessoas no Canadá que fizeram um trabalho inovador nesse tema.
Mas o que isso significa é que, se eu uso um prazo de validade curto e então passo a ficar na expectativa da data chegar,
e tomo a decisão de que eu quero esquecer disso,
eu também fico mais propenso a esquecer de verdade por mim mesmo, do meu jeito cognitivo, fato contrário ao que você sugere.
Estamos acabando!
Obrigado, Viktor, eu me sinto muito melhor agora porque você começou a esquecer de muita coisa esse ano e eu tenho reclamado disso.
Será que você pode me contar mais um pouco sobre a assimetria presente na antecipação do prazo de validade entre lados diferentes?
Eu sei que nós estamos correndo para terminar rápido, mas deixe-me tentar falar disso em poucas palavras.
A assimetria da informação entre processos grandes de armazenamento de informação, como o Google, por exemplo,
ou o Flickr ou a Amazon ou os consumidores por aí.
Essa assimetria é causa de preocupação. Se nós tivermos datas de validade, como daremos poder sobre elas?
Um jeito de lidar com isso em um ambiente mais regulamentado é deixar o consumidor ter a palavra final.
Isso estaria alinhado à legislação de proteção dos direitos do consumidor como nós temos visto na europa.
Existe uma versão mais leve que diz que ambos os lados precisam ser transparentes e precisa haver negociação sobre essa data.
Então, deixe-me dar um exemplo rápido.
Suponha que as câmeras digitais tenham por padrão essa possibilidade de atribuir datas de validade.
E se eu tirasse uma foto de você, você tivesse o seu chaveiro como um dispositivo de permissão.
Talvez com um comportamento padrão. Eu não quero ser fotografado.
Ou... Eu posso ser fotografado, mas você só pode manter essa foto por seis meses.
Ou... Eu posso ser fotografado e você pode manter a foto pelos próximos cem anos. Apenas dando exemplos.
E se eu tirasse uma foto de vocês, minha câmera mandaria um pedido automático de prazo de validade para os chaveiros de vocês.
Pedindo de volta as datas de validade que vocês querem.
E então a menor data poderia ser a data de validade da foto que eu tirei.
Ou, se alguns de vocês escolherem zero,
eu poderia perguntar: ei, quem escolheu zero nessa foto? Talvez você devesse fazer uma escolha melhor.
O que isso mostra é que mesmo com pouca tecnologia eu consigo diminuir os custos de negociação.
E algum mecanismo, alguma coisa que esteja dentro do mecanismo regulatório das leis, algo que eu possa ajustar.
Mas... A sua pergunta é muito válida e, no final do dia, nos traz de volta à pergunta mais geral sobre desequilíbrios de informação.
Deixe-me terminar dizendo: muito obrigado por terem assistido a essa apresentação.
Sempre me perguntam: então, você está fazendo o dever de casa? Você está esquecendo das coisas também?
Bem, eu sou uma dessas pessoas que guardam as coisas. Eu tendo a guardar muitas coisas.
Então quando eu me mudei para os EUA, no final de 1998-1999, eu tinha comigo três discos rígidos.
Em caixas diferentes, na minha bagagem de mão e tudo.
Que continham todo o meu arquivo de emails por dez anos.
Porque essa era a informação digital mais importante que eu tinha.
Todo o resto era desinteressante.
Eu cheguei nos EUA, tinha esses discos comigo, abri meu computador, conectei os discos
E de alguma forma eu consegui apagar tudo.
Eu não consigo nem expressar o quão devastado eu fiquei com isso.
Eu estava perto de me suicidar.
Cada um dos meus emails. Cartas de amor, emails profissionais, contatos...
Dez anos da minha vida foram perdidos.
Eu estava completamente devastado.
Por dois dias. Depois eu fui fazer outra coisa.
[Tradução livre para o português e legendas por Roberto Buaiz, 2013]