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Sabe filho,
foi muito difícil escrever esta pequena carta,
pois a idade vem chegando
o coração vai ficando mais sensível
e as lágrimas insistem em cair.
Só gostaria que soubesse
que você tornou a missão de pai muito mais fácil.
Ensinei algumas coisas, mas foi você que me ensinou o principal
Corrigi alguns rumos,
mas você me ensinou o caminho.
Te mostrei que na vida nós temos problemas, e você me mostrou Deus,
em quem devemos confiar.
Ao seu lado passei momentos inesquecíveis,
destes que o tempo nunca vai apagar.
Quando você era pequeno corria para os meus braços
e num longo abraço me sentia o maior dos mortais.
Do pega-pega...
você era tão rápido e eu tão lento,
nunca conseguia te pegar.
Do esconde-esconde... você se escondia sempre no mesmo lugar,
e eu, e eu, filho,
Nunca conseguia te encontrar.
Lembro das nossas idas à praia,
dos castelos de areia que a maré cheia insistia em derrubar.
Dos bonecos de super-heróis que você gostava tanto de brincar.
Veja só que engraçado,
me deu saudades de tudo,
até do barulho da bateria nas tardes de domingo
que eu queria descansar.
Das nossas idas ao cinema,
onde procurávamos os diálogos e as cenas que mais nos marcaram para
depois conversarmos.
Que saudade, filho!
Do eclipse demorado, do pôr do Sol alaranjado que nunca deveria acabar.
Daquela noite na varanda,
da queima de fogos que parecia que era só pra nós.
Quero te confessar uma coisa:
Tudo isto era uma desculpa,
pois o que mais me marcava mesmo era ter você ao meu lado.
Mas de tudo que passamos um fato marcou muito a minha vida.
Para você talvez não foi o mais importante,
mas pra mim foi o principal.
Foi um dia comum, nada de especial.
Como pai,
senti que precisava ter uma conversa com você,
corrigir alguns rumos.
Peguei um banquinho, coloquei no lugar que você mais gostava de estar.
Me lembro como se fosse hoje.
Minhas palavras foram estas:
"Meu filho, vou te falar uma coisa que talvez você não goste de escutar,
mas faço porque te amo,
e como pai tenho o dever e a responsabilidade,
e nunca quero me omitir.
E gostaria que se um dia você tiver um filho,
e precisar, faça o mesmo."
E ali conversamos por muito tempo,
e depois de um longo abraço,
entre lágrimas, trocamos juras de amor.
Sim, porque se enganam os poetas e menestréis
que acreditam que elas só servem para os namorados.
Juras de amor servem também para pais e filhos.
Naquele momento
pude sentir a coisa mais importante que um pai poderia sentir:
Eu tinha o seu coração, meu filho.
Agora você vai se casar,
e quero te dar alguns conselhos:
Ame muito a sua esposa.
Mas lembre-se:
Amar só não basta. Tenha atitudes!
Respeite-a sempre,
se perto ou longe estiver.
Procure não gritar, não erguer a voz ao conversar.
Andem sempre de mãos dadas
mesmo depois que a idade chegar.
Escreva cartas,
mande flores,
nunca deixe o romantismo acabar.
Se Deus der a vocês a graça de terem filhos,
levem ao circo, ao cinema.
Brinquem de pega-pega,
vocês vão ver como eles são tão rápidos e vocês tão lentos que é difícil de pegar.
Brinquem de esconde-esconde,
talvez eles se escondam sempre no mesmo lugar
e vocês vão ver como é
difícil de encontrar.
Comam pipoca, contem histórias
de príncipes e princesas.
Falem de Deus e sua grandeza.
Parem para ver um eclipse, nem que demorado for.
Assistam a um pôr do Sol,
talvez vocês dêem sorte e ele seja alaranjado.
Mas acima de tudo,
valorizem as pequenas coisas,
pois nelas estão a verdadeira felicidade.
Mas se um dia seu filho precisar,
não tenha vergonha.
Pegue um banquinho,
coloque no lugar que ele mais gosta de ficar.
Convide-o para sentar,
conversem,
depois se abracem,
e com certeza Deus vai te dar a suprema graça
que eu tive um dia de ouvir de um filho simplesmente
"Meu pai, eu te amo!"