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Antes de começarmos nossa viagem pelos três assuntos (Economia, Meio Ambiente e Energia),
precisamos compreender isso que se chama dinheiro.
O dinheiro é algo com que convivemos tão intimamente todos os dias que
provavelmente escapa à nossa observação atenta.
O dinheiro é uma criação essencialmente humana, e se todo ele desaparecesse,
uma nova forma de moeda apareceria espontaneamente em seu lugar, como vacas, tabaco, pão
certo tipo de casca de noz ou até mesmo conchas marítimas.
Sem o dinheiro, as complexas especializações de trabalho que temos hoje não existiriam,
porque o processo de troca exige esforços pesados e limitadores
Mais importante ainda, porém, é o conceito de que cada tipo de sistema monetário tem seus prós e contras.
Cada um vai impor seus resultados peculiares promovendo certos comportamentos e eliminando outros.
Agora, se abrirmos um livro especializado, verificamos que o dinheiro deve possuir três características.
A primeira é de que seja uma reserva de valor.
O ouro e a prata cumpriram esse papel perfeitamente, porque eram raros,
exigiam muita energia para serem minerados e não se corroíam nem enferrujavam.
Em contraste, o dólar americano constantemente perde valor com o tempo
– uma característica que pune os poupadores e força a necessidade de especular e/ou investir.
Uma segunda característica é que o dinheiro precisa ser aceito como um meio de troca,
isto é, ser aceito amplamente por uma população como intermediário, em todas as transações econômicas
E o terceiro caráter do dinheiro é que precisa ser uma unidade contábil,
isto é, deve ser divisível e cada unidade deve ser equivalente à outra.
A unidade contábil dos Estados Unidos é o dólar. Os diamantes têm muito valor,
mas não servem como dinheiro, porque não são perfeitamente equivalentes uns aos outros
e dividi-los provoca a perda de seu valor.
Isto é, não podem ser uma unidade contábil.
Conversa fiada.... O que é o dinheiro realmente? Eu acredito numa definição muito simples.
O dinheiro é um direito sobre os frutos do trabalho humano.
Com pouquíssimas exceções, quase tudo em que você pensa poder gastar seu dinheiro à vontade envolve o trabalho humano para trazê-lo até você.
Digo que é um direito e não uma reserva, porque o trabalho humano em questão
pode ter acontecido no passado ou pode não ter acontecido ainda.
O conceito de dinheiro, sendo um direito sobre o fruto do trabalho humano, é importante
e vamos elaborá-lo mais tarde, especialmente ao falarmos sobre a dívida.
Como está implícito na série de figuras anteriores, literalmente qualquer coisa pode ser considerada dinheiro:
vacas, pão, conchas, tabaco. Um dólar americano, como todo dinheiro moderno, porém,
é um exemplo de um tipo de dinheiro chamado moeda fiat.
“Fiat” é uma palavra latina que significa “seja feito”,
e a moeda fiat possui valor porque um governo decreta que o tenha.
E isso nos leva à pergunta chave: o que é exatamente um dólar americano?
No passado, o dólar se apoiava sobre um peso conhecido de prata ou ouro de valor intrínseco.
Neste exemplo, podemos ver que o dólar saiu do Tesouro dos Estados Unidos e
se sustentava sobre uma certa quantidade de prata pagável ao portador quando apresentado.
Naturalmente, isso foi na década de 30, há muitos anos atrás.
Hoje os dólares são o passivo do Banco Central (Federal Reserve), uma entidade privada cuja função é
administrar a oferta monetária dos Estados Unidos, com poder estabelecido pela Lei do Banco Central de 1913 para desempenhar essa função
Notem que os dólares modernos não têm nenhuma frase impressa dando ao portador direito a coisa alguma,
isto porque não são mais sustentados por nada tangível.
Ao contrário, o “valor” do dólar deriva desta frase aqui: O fato de que é ilegal
recusar a aceitação de dólares como pagamento e serem eles a única forma aceitável de pagamento de tributos.
É crucialmente importante que a oferta monetária duma nação seja administrada com cuidado, porque se não o for,
a unidade monetária pode ser destruída pela inflação.
De fato, há mais de 3.800 exemplos de papel moeda que não mais existem.
Há numerosos exemplos dos próprios Estados Unidos, que podem ter algum valor para colecionadores,
mas que não possuem nenhum valor monetário.
Naturalmente, eu poderia apresentar exemplos bonitos, mas não mais funcionais de papel moeda da Argentina,
Bolívia, Colômbia e centenas de outros lugares.
Como ocorre a destruição hiperinflacionária de uma moeda (dinheiro)?
Há um exemplo relativamente recente oriundo da Iugoslávia entre os anos de 1988 e 1995.
Antes de 1990, o dinar iugoslavo tinha um valor mensurável.
Você podia comprar algo com um deles.
Entretanto, durante a década de 1980, o governo iugoslavo teve um déficit orçamentário persistente
e imprimiu moeda para cobri-lo.
No início da década de 90, o governo tinha usado todas as reservas monetárias de metal
e começou a pilhar as contas pessoais de seus cidadãos
Para poder manter a economia em movimento, notas de valor cada vez maior foram impressas,
finalmente culminando neste exemplo assustador: uma nota de dinar de 500 bilhões.
No seu auge, a inflação iugoslava era da ordem de 37% por dia.
Isto significa que os preços dobravam a cada 48 horas mais ou menos.
Vou tentar tornar isto mais concreto para vocês. Suponham que no dia 1º de janeiro de 2007
vocês tivessem um centavo e pudessem comprar algo com ele.
Com uma inflação de 37% ao dia, em 3 de abril de 2007, precisariam de uma nota destas – uma nota de um bilhão de dólares -
para comprar o mesmo item. Ao contrário, se tivessem guardado um bilhão de dólares em 1º de janeiro dentro de uma mala,
em 3 de abril aquela quantia teria um poder de compra de apenas um centavo.
Claro que se tivessem tentado economizar algum dinheiro durante aquele período, teriam perdido tudo,
de modo que podemos dizer que os regimes monetários inflacionários penalizam os poupadores.
O outro lado da moeda é que os regimes monetários inflacionários promovem gastos
e exigem que o dinheiro seja investido ou se especule com ele, para se ter ao menos a oportunidade de manter-se passo a passo com a inflação.
Naturalmente, investir e especular envolve riscos, de modo que podemos expandir estas palavras para
incluir a afirmação de que os sistemas monetários inflacionários exigem que seus cidadãos
sujeitem seu dinheiro ganho com sacrifícios a riscos.
Vale a pena ponderar um ou dois minutos sobre isso.
Ainda mais importante, já que a história nos mostra como é comum que as moedas sejam mal administradas,
é que precisamos prestar atenção aos encarregados da nossa política monetária e administradores de nosso dinheiro para termos certeza
de que não estão sendo irresponsáveis criando muito dinheiro do nada e assim destruindo nossas economias,
cultura, e instituições pelo processo de hiperinflação.
Um minuto, por favor. Eu disse “criando dinheiro do nada”?
Disse sim, eu disse isto.
Isto é um processo tão importante para o nosso futuro
que vou passar os dois próximos capítulos explicando como o dinheiro é criado.
Se estiverem prontos, passemos à próxima sessão�