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Vamos ouvir um discurso de Sabine Lichtenfels acerca do tópico "Comunidade,
amor e parceria." Bem vindos!
Agradeço pelas palavras do orador anterior.
De imediato, quase que podemos dizer
que é possivel sentir que a comunidade é uma espécie de panela de pressão,
junta os tópicos que se já encontram presentes
na nossa consciência.
Eu desisti de me preparar para este discurso.
Vou apenas servir-me da abundância
contida neste tópico,
que só por si merece
todo um curso de estudo.
Mas vou tentar fazer um resumo. Vou começar
de novo
com o tópico principal, "o que é comunidade, realmente?".
Ontem, debruçamo-nos sobre a questão "o que é a paz?".
E reconhecemos que, decididamente, a paz não é apenas
a ausência de guerra.
A paz está relacionada com a
integração
de todos os poderes da vida.
A paz relaciona-se com o cessar da supressão de certas áreas
e com o aprender a integrar forças,
de forma a que possa emergir um equilibrio de poderes.
E neste contexto,
quero apenas sublinhar de novo
que para mim amor,
amor,
sexualidade
e comunidade
são tópicos políticos.
Estas questões não dependem do facto de eu viver sozinha,
ou em celibato, ou em monogamia,
ou em homosexualidade.
É mais uma questão
do quão consciente eu estou de que existe uma crise
na nossa sociedade
na área do amor e da sexualidade,
que recebe muito pouca
atenção.
Eu assumo, que tão certo como sermos seres humanos
e termos um corpo físico,
somos também seres comunitários. Este é um princípio básico
da existência.
Somos uma comunidade, quer queiramos quer não.
Estamos apenas geralmente ignorantes acerca disso.
Se pararmos um momento para reconhecer a maravilha inacreditável que é o facto de
eu conseguir falar aqui agora,
e de vos conseguir ver a todos.
Bem, eu não me criei a mim própria.
Não faço ideia da razão pela qual consigo levantar o meu braço
e baixá-lo de novo.
Algo aqui
parece conter um princípio organizador,
que permite a este organismo viver
-- que faz com que os meus olhos vejam,
que me permite ouvir,
cheirar, saborear.
E para além de toda a investigação científica,
posso apenas ajoalhar-me perante este milagre
e dizer
dizer "eu sou um empreendimento comunitário".
Se de repente o meu coração dissesse "quero ser como o figado",
todo o meu organismo deixaria imediatamente
de funcionar.
Se alguma parte de mim dissesse
"eu consigo fazê-lo sozinha
-- vou segurar a respiração".
Provavelmente todo o meu organismo deixaria de funcionar.
Menciono este exemplo simples
para trazer à nossa consciência a maravilha da Criação
-- de que somos,
por natureza, seres comunitários.
E quando esta imagem do organismo é transferida
para o corpo humano,
então torna-se evidente
que o princípio da comparação, da competição,
de modelos económicos baseados no lucro,
não podem funcionar a longo prazo. Estes não têm o poder
de se perpetuarem a si próprios.
É óbvio
que o princípio fundamental da cooperação nos trará, provavelmente muito mais rapidamente,
até à nossa grande meta
de experienciar
este planeta
como um lar.
falo de comunidade, quero dizer com isto muito mais do que
comunidade entre seres humanos.
Acredito que todos nós emergimos
a partir da mesma Matriz original -- todos temos o mesmo DNA, o mesmo código,
e somos todos responsáveis pelo que acontece
às outras criaturas, aos animais, às plantas,
aos elementos.
E aqui a mudança de consciência deve ser efectuada a um nível fundamental.
Neste sentido, eu diria que a maior ferida da humanidade é
facto de nos termos esquecido de como viver em comunidade.
Imaginem que se desenvolviam de novo, de forma natural,
comunidades
descentralizadas
que teriam em si próprias
transparência e partilha funcionais.
Poderia assim existir guerra?
Seria então possível
deixarmo-nos governar de tal forma?
E temos de enfrentar o facto de que todas as nossas sociedades,
como recentemente ouvimos dizer,
são intrinsecamente sociedades de guerra.
Parece-nos totalmente natural para nós que existam
Ministérios da Defesa.
Agora, na Alemanha, tem havido muito debate
sobre se vale de todo a pena enviar soldados para o Afganistão. Quantas pessoas
tiveram de morrer?
Estou convencida de que se voltarmos
à forma de vida comunitária e original,
e construirmos modelos descentralizados,
irá então emergir uma transparência entre seres humanos,
que tornará impossível controlar e governar as pessoas desta forma.
E se depois repararmos, vamos perceber que já temos
conhecimento suficiente em ecologia
e em tecnologia,
em todas as áreas já existe conhecimento suficiente para sobreviver.
Mas comunidade?
Oh -- aqui torna-se difícil.
Aí reconhecemos,
sim, "como poderia funcionar?" Ouvimos acerca do projecto Tempelhof;
para mim, um milagre autêntico.
Raramente ouvi falar de uma comunidade que
tenha encontrado
tão rapidamente formas básicas de solidariedade.
Como parte da minha experiência pessoal, posso dizer
que visitei muitas, muitas comunidades.
E qual a maior razão
para o seu colapso?
Quase sempre, este encontra-se na área de crise do amor e da sexualidade.
Em Tamera, teríamos possivelmente progredido mais rapidamente
não tivessemos abordado este tópico.
A ideia das Paisagens de Retenção de Água foi rápidamente aceite,
a necessidade da pesquisa na energia solar foi rápidamente aceite,
se dizemos públicamente
"investigamos novas estruturas sociais nas quais a paz seja possível,
investigamos novas formas
de relacionamento entre os sexos
que
tornem a paz possível",
aí, ou as pessoas se riem
ou lutam contra nós.
Ao longo do tempo, este tópico tem sido lentamente valorizado.
Pego agora neste exemplo -- M. Tamerice.
Uma cantora brilhante.
Uma oradora brilhante.
Por natureza, ela seria imediatamente minha amiga. E é.
De imediato, falámos rápida e facilmente -- aquele tipo de amizade feminina.
Agora imaginem que o meu parceiro se encontrava aqui nesta sala.
Um homem muito atraente.
De repente
o seu olhar prende-se na M. Tamerice.
No seu cabelo loiro fabuloso. No seus seios fabulosos.
E nós
sabemos o que acontece numa sala
se a teia subtil do Eros
é activada.
Isto não é falado abertamente.
Imaginem agora que poderíamos tornar isto transparente entre nós.
Que o meu parceiro me pudesse dizer "esta mulher,
põe-me doido".
Nas nossas meditações,
não temos apenas de ir para o chakra lá em cima, podemos dirigir-nos também
ao chakra ***.
E imaginem que o que se passa com estas forças se pudesse tornar tão sagrado
e tão aceite
como o que aparece cá em cima na nossa consciência.
E podemos adivinhar que competição e que tópicos emergem
quando colocamos realmente isto no centro.
Nos primeiros anos do nosso projecto,
tivemos de usar pelo menos metade dos dias
para desenvolver formas sociais nas quais pudéssemos comunicar
acerca destas coisas.
E sentimos o quão profundamente enraizado nas nossas células
está o medo. Somos todos crianças magoadas na área do amor e da sexualidade.
Somos todos moldados por um sistema
de pensamento orientado para a segurança.
onde dizemos "aqui está a minha fortaleza, o meu carro, a minha casa
a minha mulher
a minha terra."
E a ideia de que isto pode ser partilhado
é uma mudança profunda de paradigma.
Sentimos o quão profundamente somos comandados pelo medo. O medo da perda.
Aqui temos um trabalho
a fazer com a nossa consciência
-- como é que podemos transformar este paradigma no poder da confiança?
Ontem, mencionámos que somos todos governados pelo medo.
Como é que este poder pode ser transformado
em confiança?
E depois reconhecemos que a maiorias de nós provém de uma história de religião...
a Terra era um "vale de lágrimas". A Terra era vista como o inferno,
e lá em cima, algures, estava o "além".
Estou convencida de que existem inúmeras dimensões
neste mundo
e sinto-me afortunada por ter a possibilidade de estar aqui na Terra.
Um dia, quando morrer, lá em cima, vou sentir saudades
deste paraíso que é a Terra
e é uma aventura dizer
"Sim!
Eu vivo num corpo!"
As nossas religiões, de certa forma, retiraram a Deusa de Deus.
Isto é bastante solitário.
Imaginem que na realidade, quase sempre,
as energias fluem entre os poderes primordiais masculinos e femininos da criação.
Imaginem a diferença que seria caso o Deus e a Deusa
celebrassem constantemente o seu casamento.
Todas emergimos deste processo. E todos emergimos da unidade,
na qual
existe uma diversidade e complexidade
que querem verdadeiramente partilhar amor.
E quando depois estudo o mandamento "ama o próximo
como a ti mesmo"
-- sei que isto não pode cessar no limiar da sexualidade.
Vivemos num sistema
onde o poder *** é permitido apenas nesta área.
Quase como se fosse imprisionado numa jaula.
. E assim que nos abrimos,
é como se alguém nos esperasse com uma frigideira.
Faço bastantes seminários, e rimo-nos bastante acerca disto, mas se soubessemos
quantos neste momento cometem suicídio por desespero
no amor...
No último seminário, uma mulher descreveu
como a sua irmã foi morta pelo seu parceiro,
que posteriormente se suicidou.
Que tragédia insana.
E quem se lembra de pensar que isto
pode ser causado pelo facto
de termos construído sistemas sociais
que não correspondem aos princípios do amor?
Podemos apenas ser fieis quando somos autorizados a amar outros.
Somos capazes de encontrar a nossa desejada parceria
caso nos encontremos rodeados por uma comunidade que nos ajude
a realizar este sonho do amor.
Sabemos que todos nós temos pontos de medo nesta área.
E eu não quero ignorar que o ciúme é uma realidade,
que o medo no amor é uma realidade. Não podemos negar este facto.
A questão é se percebemos
que é necessário trabalhar neste tópico em conjunto,
para que o possamos curar.
Eu diria que o amor não inclui ciúme.
Ainda assim, podemos dizer "tenho ciúmes
e estou em busca do caminho para a cura".
Quando falo de "amor livre",
falo de "liberdade" no sentido
de
aprendermos realmente
o que significa amar,
tomando responsabilidade
pelo que amamos.
Na minha visão, é de certa forma evidente
que, por exemplo, uma mulher possa amar vários homens,
ou que um homem possa amar várias mulheres.
E que é possível chegarmos a casa e exclamar alegremente
"isto foi incrivel!"
que estamos condicionados pela mentalidade de escassez,
e que esta mentalidade quer regressar a uma confiança primordial.
Para isto, o Deus e a Deusa precisam de encontrar de novo o seu espaço.
Para isto,
a realidade erótica e a realidade ***
têm de ser de novo posicionadas como um santuário sagrado
no centro da cultura.
E mais uma vez, quero dizer
que amor livre não significa, o que já nos acusaram por várias vezes,
de que "deveriamos" partilhar a sexualidade com diversos parceiros. Não se trata de todo
de "leis" como esta. Apenas significa
-- Verdade no Amor.
Significa criar espaços
quais possamos tornar-nos transparentes no amor.
especialmente se nos dirigirmos a uma área de crise,
não se trata de irmos à carga hasteando aos outros as nossas bandeiras
e as nossas nossas visões sobre o mundo.
Trata-se de desenvolver conhecimento nestas áreas
-- criar escolas de amor.
Para que as jovens mulheres possam aprender como o amor funciona.
Para que saibam algo sobre a sexualidade,
ao invés de darem por elas já grávidas, pensando depois "quem é o meu
parceiro afinal?"
Seria apropriado
criarmos aqui educação
de forma a que possamos escolher os nossos parceiros de forma consciente e com clareza.
Encontro-me numa posição afortunada e posso dizer-vos que vivo
à mais de trinta anos em parceria.
E a abertura
que emerge quando dizemos
"queremos realmente ultrapassar o ciúme"
não diminui o amor,
nem diminui o Eros certamente.
Eu diria que o amor não é um pedaço de bolo que partilhamos,
ou um pouco de energia que
depois de extingue.
Pelo contrário, trata-se de
ser verdadeiro no contacto,
e depois sentimos que existe uma fonte inesgotável de energia
que nos qualifica
para nos tornarmos quem realmente somos.
E depois, dada determinada situação, decidimos
"tenho de viver em celibato",
e ainda assim dizer sim ao Eros.
Ou damos por nós em determinada situação e dizemos "Amo apenas este homem,
e apenas desejo este homem".
E depois celebramos este facto em conjunto.
E se este homem de repente diz "sinto-me atraído por outra
mulher também"
não pensaremos
que ele tem agora de escolher
entre uma e outra.
Pelo contrário, a comunidade cria as condições para que um novo espaço
de confiança possa emergir.
E da minha experiência, posso dizer que o Eros não diminui.
Este cresce porque
podemos depois decidir-nos por dizer "nunca te abandonarei",
porque de certa forma sabemos mais
sobre o caminho do amor e da lealdade.
E, de repente,
podemos dizer alegremente a uma outra mulher "o meu parceiro é incrível na cama
-- se precisares de um homem recomendo-te vivamente!"
Pinto estas cenários do futuro porque com isto quero dizer que nós simplesmente
não enviaríamos
os nossos filhos para a guerra,
nem nos inseririamos em sistemas sociais
nos quais não queremos viver, caso estivessemos realmente a trabalhar numa visão
que permitisse
o emergir da confiança e da verdade entre seres humanos,
especialmente na área do amor e da sexualidade. Obrigado pela vossa atenção!