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A Incursão Americana
ou
Os Estados Unidos vistos através do olhar dos artistas americanos
hoje... A Costa Oeste
ou... O Culto da Luz
Produtor delegado Jean-Marie Drot
Vamos dar um grande salto através do continente americano
e de Nova Iorque iremos para o outro lado,
na costa do Pacífico,
para Los Angeles, para São Francisco,
e lá, o nosso espanto aumentará ainda mais,
porque finalmente, em Nova Iorque,
a pintura ainda existia,
e algo que ainda lembrava a escultura.
Mas aqui, esse culto da luz
vai conduzir artistas como Bob Irwin, como Sam Francis, Larry Bell,
e outros que iremos encontrar.
Vai conduzi-los pela criação de algo que não passa
nem pela pintura, nem pela escultura, nem mesmo talvez pela instalação,
mas por jogos luminosos.
Iremos para um mundo tão, tão, tão distante
dos nossos hábitos,
que será verdadeiramente necessário recorrer à ajuda de alguém
para que não nos percamos nessa imensa novidade
E a nossa guia se chama Barbara Rose.
Barbara Rose, que fala um francês excelente,
Barbara Rose, que é uma crítica de arte
internacionalmente conhecida,
será de certa forma a nossa guia nisso tudo.
E é com ela que tentaremos compreender melhor
o que é que a Costa Oeste, tão próxima já da Ásia,
não tão distante do ***ão,
muito próxima da filosofia oriental,
muito distante da Europa,
nós iremos, através dela, graças a ela,
saber um pouco mais sobre a Costa Oeste,
sobre os seus artistas,
que para nós são radicalmente novos.
O que é que você faz por lá?
- Eu? - Sim.
Eu...
no momento sou professora de história da arte,
dou aulas, estou aqui...
Gosto muito da Califórnia
porque de tempos em tempos é necessário...
que eu saia de Nova Iorque... para pensar melhor, refletir um pouco...
porque, você sabe, em Nova Iorque...
... a cidade é... muito...
- ... densa... - Tensa
- Sim, tensa, é isso.
E aqui...
é possível refletir um pouco, porque...
Highway.
Autoestrada.
Penso em Jack Kerouac,
no seu livro On the Road, Pé na Estrada,
embriaguez de vagar assim pelos desertos...
... e desertos,
estupefacção de atravessar, por dezenas e dezenas de quilômetros,
uma cidade fantasma,
quase invisível,
e que leva o nome de Los Angeles.
"Oil"... o petróleo.
Durante o sono feliz do proprietário,
a máquina enche a sua conta no banco.
cidade comercial segundo eles,
Los Angeles grita, a todo instante,
a bolsa ou a vida.
Mas mais adiante, em Watts,
no bairro ***,
as torres de Simone Rodia,
um primo genial do nosso carteiro Cheval,
as Torres de Watts surgem no final da estrada,
Você se diverte, se quiser,
ao som de um velho jazz.
O encontro, nesse mesmo dia, à beira do Pacífico,
com Barbara Rose.
Sim?
- Veja que estamos bem posicionados aqui para compreender que...
vir à Califórnia e ver os artistas da Califórnia
é, antes de mais nada, compreender
que eles tematizam e trabalham com a luz.
- Sim, isso certamente é verdade.
Assim, por exemplo, com um Fred Eversley,
engenheiro de formação,
que fabrica, constrói estas formas.
Aqui, evidentemente, estamos muito longe
muito, muito longe,
de um quadro impressionista,
muito longe de um Picasso,
ou de um Matisse.
DeWain Valentine,
Bob Irwin aqui...
Bom dia, Bob Irwin...
Peter Alexander,
talvez durante uma escapada de alguma filmagem em Hollywood,
ali perto,
- e esta luz tem qualquer coisa de bizarro...
- Sim, é muito clara, e não é de forma alguma
como a luz de ???
- É uma luz que provoca vertigens, de certa forma.
- Podemos dizer que sim.
Não há sombras. É isso.
A luz é de tal forma clara que as silhuetas...
- ... se dissolvem. - Sim, é isso, é isso.
- Tem-se a impressão que tudo se funde... - Sim, é isso, é isso...
- Então, muito rapidamente, provoca uma sensação evidente
simultaneamente, de uma espécie de incômodo e de felicidade,
essa luz.
- Sim... e também a vida, que é muito diferente de Nova Iorque.
- Essa escola da Califórnia é, da mesma forma,
um momento de meditação.
Tenho a impressão que é formada por pessoas que...
que meditam muito.
- Sim, acho que eles tiveram muita influência do budismo,
aqui, apesar de tudo, estamos de frente para o Leste,
- Éo que tem do outro lado... - Sim...
- ... sim, estamos todos voltados muito mais para o Oriente que para a Europa,
é importante ter isso em conta
a Europa não conta nada aqui,
e portanto, acho que a meditação, o oriente,
tem mais peso aqui.
- O Zen, por exemplo. - Sim, o Zen...
e também...porque aqui se vive descontextualizado,
onde cada um é completamente isolado,
onde o fato de se interessar pela meditação
o estado reflexivo...
entende-se melhor este movimento.
O encontro, agora, com Sam Francis.
Sam Francis trabalhando aqui no atelier gráfico de Ken Tyler,
no Gemini,
na preparação de uma litografia colorida.
- Fudendo a pedra...
- Ahhh... aí está.
Possuindo a pedra...
- Sim... é um verdadeiro ...
... é um processo bem teatral, usar apenas o preto, entende?
tendo que imaginar as cores.
- O que você quer dizer é...
... o ***, para você, vai se transformar em côr,
você sabe que côr, ao pintar em preto? - Ele se transforma.
- Ele se transforma, certo?
- ... transforma...
- A côr aparece depois, de alguma forma?
- ... sim...
... mas a pedra é muito sensível...
... é muito pesada, mas é muito, muito sensível.
... tem uma pele...
- Como uma pele?
- Mas então você sabe,
com muita precisão,
para onde você vai?
- Sim. Neste momento? - Sim
- Depois? - Não.
- Como no cabeleireiro.
- Agora é só deixar aí.
Com um Sam Francis
a pintura americana se faz cósmica.
De tela em tela,
parece que caminhamos entre as estrelas,
entre os astros, como um foguete.
- Ok - Isto podia ficar mais forte.
-É, podia ficar uma pouco mais denso.
- Para onde, agora?
Um pouco mais de amarelo nesse.
Mais amarelo?
Sim.
Sam Francis, você é uma testemunha privilegiada, já há muito tempo,
e tenho a impressão que nesta altura acontecem muitas coisas
com os jovens.
Explique-me um pouco o que acontece com os jovens artistas,
- e com os jovens no geral - Oh meu Deus...
diga-me como você vê as coisas?
- Os jovens hein...
- Isso é muito difícil.
- Mas como você sente isso?
- Contraditoriamente.
- Eles são a contradição.
- Antes de mais nada, são vítimas.
- E tentando se desvencilhar
do peso de uma subcultura propagada pela televisão.
Eles acreditam terem conseguido,
- Mas... - ... não é um fato consumado.
- Na verdade ainda não foi feito. -Está longe de ter sido sequer realizado.
- É uma tentativa em progresso.
- Mesmo os jovens artistas estão longe de serem livres.
- Talvez eles achem que são, mas eu não acho que sejam.
- A sua jovem vida pode se perder muito rápidamente.
É muito difícil quando se é jovem
de alcançar, de ultrapassar...
- ... eles realmente estão tentando superar isso..
- e é por isso, para se desvencilhar de tudo isso,
eles queimam os bancos,
fumam drogas, picam-se,
- para dissolver o sistema - para destruir o sistema.
- Eles recorrem à química, dentro de seus própios corpos
- Como se tivessem que queimar o seu próprio sangue.
- Ele quer que a arte esteja disponível
para todos que passam pela rua.
- Sim, acho que é isso que eles querem dizer.
- Mas há um fundo social nas obras deles, não?
- Tem algum tipo de intenção social?
- Em quê? - Nisto tudo.
- Sim...
- E qual é? Você pode...
- Para compartilhar as nossas fantasias com as pessoas.
- Fantasias pessoais? - Sim, e fantasias sociais também.
- As pessoas param para olhar?
- O quê? - As pessoas param e olham para o muro?
- Ah... toda hora... toda hora.
- Então aqui temos uma nova forma de viver,
mais do que uma mudança política, é mais uma mudança vital.
- "Changement" político não significa nada na Califórnia.
- Mudanças políticas não fazem sentido aqui,
a política não é o problema, mas sim mudar a vida.
- Fundamentalmente.
- Acho que os artistas, os jovens artistas,
deveriam se envolver mais com a política.
- E você?
- Eu mesmo?
- Sou um "cop out" ("tô fora") - "Cop out", a gíria... "cop out".
- É a gíria "cop out". - ... "cop out", sim...
- Não tem tradução. Talvez seja melhor Sam Francis nos explicar.
- ... "cop out"...
... é como se eu vivesse no interior de um mundo
que não é o verdadeiro mundo, enquanto artista.
- É como viver... num sonho.
- E com esse sonho, posso ver perfeitamente
a situação em que nos encontramos,
e SINTO que sei o que devo fazer, embora não saiba.
- Quer dizer, eu não uso isso no real, mas na minha pintura.
- E isso não me satisfaz, não busco satisfação.
Portanto, sou um "cop out", nesse sentido, entende?
- É meio difícil de explicar. - Saltar fora e..
- ... renunciar às responsabilidades.
Domingo, o encontro com Billy Al Bengston,
outro artista da Califórnia
que trabalha a, e com a luz. Olhem.
- "Daqui a algumas horas?"
- "Você estourou o orçamento?"
- "Que pôrra você está fazendo, aí na praia?"
Começou com um pequeno grupo
que se formou de forma um pouco bizarra,
do ponto de vista social,
desde 1958, ou seja,
seu estilo diferindo do de Sam Francis.
Por exemplo, Billy, que era muito interessado,
tematizava a praia, nesse período.
ele era ceramista, e conheceu alguns gravuristas,
como Ken Price,
e foi depois disso que tudo começou.
e depois, outros como Bob Irwin,
e Larry Bell,
e todos os outros jovens californianos,
que moravam aqui em Venice,
se juntam em torno de certos curadores,
que na verdade ainda não eram curadores,
como Walter Hopps,
- Que se tornou... - Que montou a exposição de Duchamp...
- ... de Duchamp, no Museu de Pasadena.
E Irwin Blum,
que ainda não tinha a sua galeria...
- Então era um grupo de amigos, poderíamos dizer assim.
- Um grupo de amigos...
cheios de planos,
que vão de moto juntos à praia...
... uma vida de amigos.
Irwin Blum,
proprietário de uma galeria de arte muito famosa em Los Angeles.
Eu já o tinha encontrado pelos quatro cantos dos EUA,
em todas as vernissages,
inaugurações,
em Nova Iorque,
em Mineapolis.
Visitemos agora, juntos,
a casa de um marchand de arte
na Califórnia,
em Los Angeles... aqui estamos nós.
De volta a Billy Al Bengston,
onde os "boys", os amigos,
passam juntos o domingo.
- Bem vinda ao Grand Hotel.
- Muito obrigada
- De onde você é?
- França, somos da televisão francesa.
- Querem se registrar?
- Ok, obrigada.
- Vão ficar muito tempo?
- Ainda não sei... posso ver os quartos?
- Você prefere algum quarto específico?
- Ainda não sei...
- Este é o quarto Jesus, todo bom hotel... - Que quarto é este?
- ... o quarto Jesus, quer dizer, o quarto dos noivos.
- Ah, o quarto dos noivos...
- Todo bom hotel deve ter um quarto dos noivos.
- Ah, o quarto dos recém-casados...
Isto é fantástico!
- Porquê todas estas figuras?
- Todas elas sou eu,
diferentes tipos de roupa.
- Isto tudo é você?
- Sim, sou eu,
estou morando em Hollywood há 5 anos,
e decidi documentar todos os tipos de roupa que usei.
Um hotel-galeria bem peculiar.
Eis o quarto de Cristo.
Os "boys" preparam a sua exposição.
Aqui, entramos no mundo de Larry Bell,
do amigo Larry Bell,
no qual terão oportunidade de ver a enorme máquina
que parece a baleia de Jonas.
O que ele estará fazendo ali?
- Mas como Larry Bell fez para comprar essa máquina fantástica,
deve ter custado uma fortuna, não?
- Sim, no começo, ele vendeu bastantes trabalhos,
e investiu todo o dinheiro que ganhou nessa máquina.
- A galeria paga a máquina na qual ele trabalha,
e empresta-lhe dinheiro.
- Larry Bell tem um viés político?
- Parece que sim, ele mudou muito,
e tornou-se bastante radical, sob esse ponto de vista.
- Radical em francês significa conservador...
- Ah não, aqui chamamos radical aos revolucionários.
- E em que sentido ele é revolucionário?
- Ele está produzindo um filme revolucionário,
todos esses jovens que vimos na casa dele
são jovens revolucionários.
- Mas o que você chama de revolucionário, aqui, neste momento, nos EUA?
- Bem, isso é complicado...
porque os jovens aqui falam muito da revolução,
mas não fazem grandes coisas.
Depois de vários ajustes,
a máquina,
a enorme máquina,
põe-se a dormir, sem um sorriso,
mas com a promessa
de transparência,
de reflexos,
vítreos.
Aqui está!
E agora, em direção a Venice.
Veneza...
na Califórnia.
- O que era isto antes?
- Para que servia este carro antes?
- Era o carro do pão.
- Pão?
- Sim, servia para entrega de pão.
- Então aqui é Venice?
- Sim.
- Parece que por volta de 1900 havia um cara muito rico,
que morava aqui,
Ele "descobriu" esta Veneza, ainda uma região selvagem,
e cavou os canais que agora vemos...
- Voltemos um segundo a Bob Irwin, por exemplo. - Sim?
- Bom, ele começa pela pintura, - Sim...
- ... passa para a luz, - Sim...
- uma espécie de ambientação da luz, - Sim...
- Você não acha que um dia
ele vai acabar por cair numa espécie de meditação completa,
- uma espécie de... - Ele já fez experiências,
quer dizer...
creio que ele se interessa muito pelas experiências psicológicas,
da psicologia da percepção.
quer dizer, da pior psicologia da percepção.
Ou seja, o que ele deseja neste momento
é ultrapassar completamente os objetos,
não querer mais as formas dos objetos, isso é evidente.
E creio que toda escola de Los Angeles,
já que ele é o "chefe" deles todos,
segue os seus passos. - O guru, poderíamos acrescentar...
- Sim, poderíamos dizer que sim.
- Quer dizer, a direção apontada pela obra de Bob Irwin
é muito importante para os outros,
já que ele é um pouco o líder do grupo.
- Este é um dos que eu fiz.
que representa a minha idéia inicial,
e depois fiz aquele que está ali...
E de novo, Bob Irwin,
o guru.
Os artistas da Califórnia
e como sempre, o reflexo, a transparência,
o vidro,
a luz.
- Este aqui está sendo polido agora.
- Me explique essa história da NASA...
- Há mais ou menos um mês
um grupo de médicos, pedagogos, cientistas,
especialistas que vieram até aqui
a este espaço que Bob Irwin transformou completamente, com seus tubos
- Eu os vi, na entrada - Sim, na entrada.
E ele quis transformar esse espaço.
E eles vieram para pensar sobre a possibilidade de viver no espaço.
A nave que parte para Marte, por exemplo:
será preciso ficar 1 mês fechado no mesmo espaço.
Essas pessoas entraram, e depois de 15 minutos, começaram a ficar nervosos,
porque não havia nada, não havia luz,
era tudo tão vazio, então decidiram ir embora, saíram,
e todos ficaram contentes com isso...
Los Angeles, sempre.
Hoje vamos visitar, no Museu Municipal,
uma exposição muito peculiar,
arte e tecnologia.
E aqui, para começar, a "Ice Bag",
do senhor Oldenburg,
"A Bolsa de Gelo",
mecânica...
Eis Oldenburg.
De Andy Warhol
veremos "Margaridas Artificiais Debaixo de Chuva Artificial"
Maurice Tuchman,
o curador e organizador
da exposição.
Qual é o significado desse trabalho para você?
Este é o trabalho de Rauschenberg
chamado "Mud Muse" ("Musa de Lama")
É o trabalho de Rauschenberg.
É um trabalho que envolve 7,5 toneladas de lama,
L - A - M - A.
Banho de rejuvenescimento.
E lá fora, o Icebag de Oldenburg
subitamente, senta-se,
como um cachorrinho.
São Francisco...
bairro chinês...
Estamos de passagem e vamos para o outro lado,
em direção à Universidade de Berkeley,
na esperança...
... na esperança de aí encontrar... Soleri,
Paolo Soleri, o arquiteto,
mas a exposição já tinha terminado.
Nos mandámos para o Arizona,
Phoenix,
onde mora Paolo Soleri,
numa casa construída por ele mesmo.
- Há sociólogos que trabalham com Soleri?
- Não o bastante, acredito.
- Soleri propôs uma solução arquitetônica,
a Arcologia, unindo a Arquitetura à Ecologia,
a partir de uma definição da ordem da Natureza bem pessoal,
em cima da qual propôs uma solução arquitetônica.
Eis Paolo Soleri.
Estes desenhos, estes esboços,
o trabalho de seu cérebro.
O deserto do Arizona, onde ele quer construir a sua primeira cidade.
No momento, para ganhar a vida,
ele faz campanas.
Campanas que dão um quê de tibetano.
à sua casa.
E dos alto-falantes gigantes sai a música em direção ao deserto.
- Senhor Soleri, em que língua vamos conversar?
- Não sei...
- Inglês?
- Sim.
- Um pouco de francês e até italiano. - Um pouco...
- Encontrar você depois de ver a sua exposição...
- Você entende francês? - Sim.
- ok...
- ...tive a sensação de estar perante do mundo do futuro.
Eis as maquetes da utopia
segundo Paolo Soleri,
que amplifica e repercute
a música de Edgar Varése.
Neste museu de Ottawa,
no Canadá,
onde elas foram expostas,
fomos imediatamente atingidos
por essa beleza de um outro mundo.
- Você diz que, ou empregamos as soluções que você propõe,
ou então o mundo corre risco de sufocação, de asfixia, de morte mesmo.
- Eu acho isso,
porque o problema não é o próprio Homem,
mas a relação com a Natureza.
E nós estamos esquecendo isso.
- No seu entender, os homens neste momento
constroem, mas ao mesmo tempo, destroem a Natureza,
eles destroem a Natureza e acabam por se destruir a si próprios.
Eis o nosso futuro mundo,
uma arquitetura de reação muito viva
contra o culto aos ângulos retos como os de um Mies van der Rohe,
- Devido ao elevado número de pessoas envolvidas nesse processo,
a invasão da Natureza está se tornando muito perigosa.
- E a sua proposta é que devemos não só criar formas,
mas que devemos nos preocupar com a ecologia,
ou seja, da relação do Homem com a Natureza?
Razão pela qual, creio, você se denomina, não um arquiteto, mas um...
- Arcologista. Escolhi esse nome porque chamo o trabalho que faço de arcologia,
para lembrar às pessoas que estamos lidando com uma questão ecológica.
Sim, um mundo radicalmente novo,
onde a difícil exigência de economizar o espaço
de recuperar o máximo de terra,
conduzirá a estas fantásticas concentrações humanas.
100 mil, 900 mil pessoas viveriam no interior destas formas gigantes.
Embaixo, árvores, florestas, lagos.
Aqui está, para nos ajudar a visualizar melhor a escala,
a comparação com o Empire State Building.
Ao lado das casas de Paolo Soleri,
quase insignificante.
- Você é contra o sistema de Los Angeles,
você é contra essa cidade que se estende, se estende, se estende,
que come terreno, devora as árvores?
- Definitivamente! Não tanto porque o sistema não funcione,
e por causa da poluição que dele resulta,
mas porque para mim a sociedade é um fenômeno de agrupamento, e não de dispersão.
E as cidades continuam sendo o exemplo mais importante desse agrupamento.
A época moderna.
Agora, o Texas,
muito próximo a Houston.
"Campos" de petróleo,
como se fossem, em França, campos de alcachofra,
ou campos de milho.
depois... Etapa em Houston, Texas.
Rice Museum.
Veremos aí uma exposição para crianças,
organizada pela Senhora Jean de Mesnil.
À proibição do "Não toque em nada!",
dos museus da velha Europa e da velha França,
acontece aqui o "Please, toquem, crianças, divirtam-se!"
"Que as vossas mãos e olhos sintam a obra de arte"
Giorgio de Chirico está presente.
Magritte também.
assim como Brauner.
E no labirinto,
muitas surpresas aguardam as crianças.
Arman aqui,
depois Max Ernst.
Depois da brincadeira,
a meditação,
o silêncio,
a capela de Rothko,
feita alguns meses antes do seu suicídio.
Foi lá, ainda, que Jean de Menil e sua mulher
imaginaram tudo,
organizaram tudo.
- Nós queríamos construir uma capela,
e nos disseram que iríamos encontrar um grande artista.
E grande artista, pensamos logo em Rothko,
porque ele tinha uma dimensão para além da pintura,
que buscava a expressão de algo além da pintura.
que buscava a expressão do que era impossível expressar com a pintura.
- E você disse muito bem logo no começo da conversa,
ao falar de um silêncio que regenera, enfim,
de uma pintura que faz bem.
- Sim, para mim é uma pintura do silêncio.
- Todos os dias, aparecem de 30 a 150 pessoas,
e que se sentam.
Não dizem nada, apenas ficam sentados, meditam.
- É engraçado que isso aconteça na cidade de onde se planeja a viagem à Lua...
- É isso.
- De um lado, em Houston, o petróleo jorra da terra, vai-se à Lua,
e vocês, vocês enchem este lugar de silêncio
onde o Homem pode refletir sobre o seu destino,
e isso me comove.
No que ele acreditava?
- Ele dizia que não tinha fé,
mas no fundo era um homem profundamente religioso,
que diz que não tem fé,
mas que quando começa a falar da sua infância,
mostra como era não somente religioso,
mas fervoroso.
- E Barnett Newman também era religioso, não?
- Ele não era um judeu praticante,
mas a sua inspiração tinha raízes profundas
na tradição, nos textos hebraicos.
- Ele lia Espinoza sempre, não?
- Sim, e ele conhecia os textos hebraicos muito bem.
- Os textos hebraicos foram os primeiros,
que depois ele traduziu nesses quadros.
- Isso é notável, venho de Nova Iorque, onde vi a retrospectiva de Newman,
e o que me impressionou é que isso me fez pensar, de certa forma, na capela.
- Exato.
Depois desta filmagem,
em Houston,
Jean de Menil morreu.
No paraíso dos artistas,
ele se juntou ao espírito de um Rothko e de um Barnett Newman,
mas na noite texana, graças a ele,
justamente o obelisco de Newman,
sentinela eternamente acordada,
mostra àquele que a olha
uma imagem segura da eternidade.
Esta foi "A Incursão Americana"
ou
Os Estados Unidos vistos através do olhar dos artistas americanos
hoje... A Costa Oeste
ou... O Culto da Luz
Este programa foi realizado com a participação de: