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O Centro Nacional da Fotografia apresenta
Um minuto para uma imagem
Eu conheço essa imagem, ela faz parte dos arquivos do exército
e o fotógrafo guardou o negativo durante 20 anos numa gaveta.
Era a Guerra da Argélia e ele fazia seu serviço militar.
Essa mulher foi obrigada a posar para ele, como todas as pessoas da aldeia,
de quem se fazia fotografias para a carteira de identidade obrigatória.
Portanto, ele estava em serviço seguindo ordens
e ela por sua vez foi obrigada a retirar seu véu, a deixar cair seu véu.
Esse duplo constrangimento, essa violência feita a cada um,
é visível, sobretudo, pela incrível força
com a qual essa mulher recusa.
E se a desordem de seu cabelo dá a impressão
de uma dor, de uma emoção, de uma perturbação,
a rigidez de seu rosto, com essa dobra amarga da boca,
e a incrível violência de seu olhar -
tudo isso diz: "Não!".
Pode-se dar ordens a essa mulher,
não se pode submetê-la.
Eu fico muito impressionada pelo rosto dessa mulher.
E pelo trabalho do fotógrafo que,
fazendo seu sujo trabalho de militar,
foi mesmo assim mais longe do que
a compreensão que tinha do que se passava.
Agnès Varda (cineasta) comentou uma fotografia de
Marc Garanger (Mulher Argelina, 1960)