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Este é o Natureza das Coisas.
[canto]
Legendas: Kalango
David: Por milhares de anos, as culturas indígenas da Bacia Amazônica
têm usado tratamentos com ervas para curar o que os atormenta.
O mundo ocidental, também, tem se beneficiado desses medicamentos antigos
desde que o contato europeu foi feito com os povos das florestas tropicais
há centenas de anos atrás.
O intercâmbio mais recente entre esses mundos
está acontecendo entre a Amazônia peruana
e as duras ruas do Downtown Eastside em Vancouver.
Em cada lugar, um médico está desafiando o modelo médico ocidental,
através do uso de medicamentos antigos
em conjunto com curandeiros tradicionais
para curar pacientes viciados em drogas.
A mistura de ervas que eles usam é a Ayahuasca,
uma medicação psicotrópica capaz de causar catarses de mudança de vida.
Poderia esse chá da Amazônia
ajudar a revolucionar a maneira que nós entendemos o vício?
A Natureza das Coisas com David Suzuki
A Prescrição da Floresta
Há um crescente interesse nos medicamentos tradicionais com plantas,
como este potente chá da Amazônia.
Ele é chamado Ayahuasca.
Poderia ele oferecer uma solução a um dos maiores
desafios da sociedade: o vício?
O Dr. Gabor Maté,
que trata viciados há décadas no Downtown Eastside em Vancouver,
decidiu descobrir.
Estou acompanhada agora mesmo, no estúdio Democracy Now,
por um médico que gastou os últimos 12 anos
trabalhando em uma das populações de maior concentração
de viciados em drogas do mundo.
O Dr. Gabor Maté é um médico residente no Portland Hotel,
uma casa de custódia e clínica de diminuição de danos em Vancouver,
na região do Downtown Eastside.
Agora, fale das pessoas que você trata.
Bem, os viciados crônicos que eu trato são, sem excessões,
pessoas que têm levado vidas extraordinariamente difíceis.
O Dr. Gabor Maté é um médico doutor e escritor,
dedicado a entender como nossa saúde é afetada por
fatores não-físicos como pressões psicológicas,
condições sociais e desenvolvimento infatil.
Oi.
Seu último livro é focado em como esses fatores
influenciam o vício.
Isso rendeu-lhe muita atenção da imprensa,
e ele ganhou o maior prêmio canadense de não-ficção.
Bom, vício, na minha definição,
é qualquer comportamento que tem consequências negativas,
que se repete ao longo do tempo, e que a pessoa anseia e recai nele,
apesar dessas consequências negativas.
Agora, dada essa definição,
Há muito mais viciados entre nós
do que simplesmente as pessoas que injetam drogas.
Através de seu trabalho, Maté tem montado o quebra-cabeça
do que se encontra na raiz de nossas tendências a vícios.
Maté acredita que podemos entender
como curar a nós mesmos.
Bem... temos utilizado opiáceos na medicina
por 3 mil anos...
E o que é importante notar, contudo,
é que os opiáceos não somente aliviam a dor física.
Eles também aliviam dor emocional.
E isso significa que a questão saliente na dependência
é sempre não o porquê do vício, mas o porquê da dor.
Os insights do Dr. Maté a respeito das causas subjacentes do vício
ajudaram-no a entender alguns de seus pacientes mais problemáticos,
como uma treinadora de cães de trenó, Megan.
Eu estava grávida de gêmeos.
Sim.
E já no primeiro ultrasom eu descobri
que o coração deles não batia.
E [os médicos] me apresentaram uma série de diferentes maneiras em que poderia
se desenvolver o aborto espontâneo.
Não funcionou e eu tive que fazer uma cirurgia de emergência.
Dois dias depois, meu parceiro me deixou...
e eu simplesmente como que desisti das coisas.
O que eu tenho aqui é que você deu baixa [na sua conta],
e se descarregou.
Eu me descarreguei? Em qual dia?
Em 2 de Outubro.
Isso foi ontem.
Eu nem mesmo estava aqui ontem.
Pode aguardar um momento?
Tenho que esclarecer isso, ok?
Ok.
E quanto tempo isso vai levar?
Se você voltar em 15 minutos
eu espero já ter a resposta.
Você quer que eu aguarde calmamente na Hastings Street,
sendo uma viciada em drogas, durante 15 minutos?
Bem, eu não posso deixar você entrar
até ter isso esclarecido, isso é tudo.
Cynthia, uma Canadense nativa,
esforça-se para resistir às suas tendências viciantes
nas perigosas ruas do Downtown Eastside em Vancouver.
Metadona, metadona, metadona...
Então, o que aconteceu na última semana?
O que esteve fazendo na última semana?
Sem comer, sem dormir,
fixando pensamentos...
sobre onde eu iria para conseguir dinheiro para me drogar
e o que ia fazer depois disso.
E era tudo sobre me drogar.
Eu nem mesmo sei que dia é hoje.
Perdi meu aniversário...
Quando foi o seu aniversário?
Ontem.
Feliz Aniversário.
Obrigada.
Quantos anos você tem?
22.
22?
Viciadas como Breanne e seu namorado, Colin,
estão sendo tratados com Metadona, mas não está funcionando.
Dr. Maté enxerga isso como uma falha
do estreito modelo de tratamento baseado em prescrições
em que a medicina ocidental se sustenta.
Pode amarrar, por favor?
Bem forte.
Ah! Obrigado!
Na escola acadêmica, o Dr. Maté foi ensinado a entender
o corpo humano como uma máquina,
um mecanismo biológico separado de nossas emoções.
Mas a experiência do médico tem ensinado a ele que a saúde
não é apenas dependente de nossos corpos físicos.
Isso tem mudado sua forma de abordar, e também a de seus amigos de classe,
pela ênfase na compaixão e na importância do ouvir.
Então, como estão as coisas para você?
Esta é a vida de Cynthia em um milhão de pedacinhos.
Este é meu filho.
Ele tem 6, ela tem 4.
São adoráveis!
Destiny acabou de fazer 9. Sidney, 13.
Ah é? Onde estão seus filhos agora?
Com meus pais.
Eu mesma chamei o governo e pedi a eles
para que viessem e levassem meus filhos.
Frustrado com modelos de tratamento falhos,
Dr. Maté está em busca de novas soluções para seus pacientes.
Em um café em Vancouver, Maté ouviu em primeira-mão de um amigo
que tem passado anos estudando os curandeiros tradicionais indígenas
que usam ayahuasca, um misterioso medicamento
das selvas da América do Sul.
Alguém aqui já pensou ou realmente tentou
usar a planta para curar especificamente vícios,
aqui no Canadá e na América do Norte?
Não tem sido guiado de uma forma consistente.
No Peru há um centro que tem funcionado
por muitos anos. Um médico francês,
Dr. Jacques Mabit...
Mabit?
Mabit... que trabalha no Takiwasi,
onde ele integra práticas tradicionais de cura da Amazônia
com práticas de psicoterapia ocidentais.
E ele é Doutor, treinado na medicina ocidental também.
Para descobrir mais, Dr. Maté decide viajar ao Peru.
Talvez esse medicamento pudesse dar algumas respostas a seus pacientes
antes que seus tempos se esgotem.
Eu não conseguia entorpecer... a dor que sentia.
Sim.
E você tentou realmente se matar?
Sim.
Quando eu ia me picar com a seringa,
era pra eu ser capaz de sentir a dor,
para realmente me sentir como uma pessoa,
porque já não me sentia mais como ninguém.
Me diga como se sente sobre isso agora.
Sem esperança.
Sim?
No por que...
Por que você é colocado aqui nesta terra, para...
se sentir dessa forma, entende?
Maté quer observar e aprender mais sobre o Centro de Tratamento
que tem ajudado com sucesso a viciados,
utilizando um chá ancestral amazônico chamado Ayahuasca.
Separados do mundo exterior, pacientes gastam 9 meses
no lendário centro de tratamento chamado Takiwasi;
uma palavra Quíchua para "A Casa que Canta".
O intenso processo terapêutico divide seu tempo com a vida em comunidade,
psicoterapia moderna, e tratamentos com plantas
extraídas da medicina da floresta tropical.
O homem que criou este estabelecimento é o médico francês
Jacques Mabit.
Quase tudo o que criamos aqui foi inspirado por visões, ou sonhos...
mesmo o processo de tratamento em sí.
Minha experiência tem sido um processo de progressiva descoberta.
Vim aqui há 30 anos atrás junto aos Médicos Sem Fronteiras,
e fiz contato com os médicos tradicionais locais.
Fiquei surpreso ao descobrir que tinham respostas para certos problemas
que a medicina ocidental não podia resolver.
Suas práticas giravam em torno de uma bebida chamada Ayahuasca,
que diziam permitir a alguém ir profundamente em seu verdadeiro ser.
Bebi Ayahuasca e senti que havia aprendido mais sobre mim mesmo
em uma só noite do que nos 20 anos anteriores.
Meu interesse era descobrir se eu,
treinado como um doutor médico ocidental
com uma formação bastante acadêmica,
estaria apto a realmente acessar
este mundo que os xamãs me contavam.
Por 25 anos, Mabit trabalhou lado-a-lado
com os curandeiros tradicionais, como Humberto Piaguaje,
e continua a aprender deles ainda hoje.
Seu trabalho é parte de uma mudança em curso nos círculos médicos globais.
Depois de séculos sendo rotulados como "primitivos",
medicamentos tradicionais estão recuperando gradativamente
a aceitação acadêmica e institucional.
Yawarpanga é uma planta muito importante aqui.
É um purgante muito forte, com efeitos muito interessantes
no tratamento dos sintomas da abstinência.
Irá esta planta funcionar para todo tipo de abstinência?
Se alguém vir aqui, parando com a heroína esta noite,
não entrará em uma intensa abstinência de opiáceos,
mesmo com esta planta?
Para cocaína, heroína, maconha,
para todas funciona da mesma forma.
Também metadona.
Os sintomas da abstinência são bastante reduzidos
em 1 ou 2 semanas.
Plantas medicinais como a yawarpanga são parte
da farmácia natural da Amazônia.
Tradições estabeleceram como preparar e administrar apropriadamente
essas plantas poderosas.
No centro do processo de tratamento de Mabit está a Ayahuasca,
Quíchua para "Videira dos Ancestrais"
ou "Vinha das Almas".
É uma preparação composta de duas plantas: a trepadeira da ayahuasca,
banisteriopsis caapi,
e as folhas do arbusto psychotria viridis.
Sozinhas, nenhuma das duas provêm muito efeito.
Contudo, se cozidas juntas, elas criam uma das mais poderosas
experiências psicotrópicas.
O fato de que, há milhares de anos atrás,
médicos da floresta conseguiram encontrar esta potente combinação,
em meio a inúmeras espécies de plantas,
é um enorme feito de descoberta botânica.
Hoje, a ayahuasca ainda é utilizada em rituais xamãnicos
por mais de 70 tribos ao longo da Bacia Amazônica.
Para as tribos que a utilizam, a ayahuasca é considerada
um medicamento sagrado; uma entidade vivente,
uma planta que ensina aos humanos como viver.
O vício é uma patologia tipicamente ocidental.
Não existia em culturas tradicionais até a chegada dos ocidentais.
A patologia ocidental transformou e profanou
o uso dessas plantas sagradas, utilizando-as fora de seu contexto,
ritual de preparação, ou intenção.
O resultado foi que os efeitos desses medicamentos
foram torcidos, mesmo invertidos.
Eu entendo exatamente o que está dizendo.
A "maneira ocidental" é pegar as plantas sagradas
e a partir delas produzir substâncias viciantes, e então...
começar a temê-las.
Nós realmente perdemos a conexão com o poder curativo das plantas.
Não só plantas.
Nós perdemos nossa conexão com a cura; ponto.
Estou rindo aqui por que, se um grupo de...
médicos canadenses ou franceses ouvirem essa conversa
eles irão imediatamente chamar um psiquiatra
e nos internar a ambos em alguma instituição psiquiátrica,
entende?
Para aprender mais sobre a ayahuasca, o Dr. Maté
se submeteu a algumas preparações pouco ortodoxas.
AAAAAAAHHHHH!!!!!!!!!
Para ajudá-los em sua concentração, os pacientes declaram suas intenções
antes da cerimônia.
Para ficar bem, preciso recuperar a confiança
das pessoas que me amam.
Quero descobrir de onde estes medos vêm...
No Peru, o Dr. Gabor Maté foi convidado a participar
de uma cerimônia tradicional de ayahuasca.
Na Amazônia, eles dizem que o que mais importa
não é o que está no copo, mas como ele é servido.
Realizadas em completa escuridão,
estas cerimônias duram a noite inteira,
e são supervisionadas pelos curandeiros tradicionais.
A ayahuasca cria estados oníricos,
acompanhados frequentemente de intensa náusea.
Muitas pessoas relatam revisitarem os acontecimentos mais significativos
de suas vidas, como sequências em um filme caótico.
O bebedor é envolvido de uma visão subconsciente para a próxima,
e assim que memórias enterradas ascendem à superfície,
isso frequentemente o leva a agudas catarses emocionais.
É como estar em uma montanha-russa, você vai pra cima e pra baixo,
fica com o estômago "embrulhado" e pensa: "nunca vou fazer isso de novo".
Mas... isso não foi o que restou comigo;
Fui deixado com uma exaltação vigorosa e a...
e a cura, e a pura alegria de tal experiência.
Logo que me limpei, e você veio até mim,
e colocou sua mão na minha cabeça,
isso trouxe meu pai, e a memória de meu pai
colocando sua mão na minha cabeça e me abençoando,
e foi a experiência mais profunda que eu havia me lembrado,
por que o que eu me lembrei era
de uma experiência um pouco embaraçosa:
meu pai, não sendo muito religioso,
estava tentando realizar um ritual.
Recebi isto com um pouco de embaraço.
Mas quando você veio, e você fez essa bênção,
eu experienciei meu pai realmente me dando esta bênção,
e eu entendi que por debaixo do embaraço dele
e do meu embaraço, houve realmente uma bênção.
A pesquisa feita em Takiwasi mostra que a ayahuasca combate a dependência
por que ajuda os pacientes a se reconciliarem com seus passados.
Esta é a chave para mantê-los livres das drogas a longo prazo.
Takiwasi aplica descobertas como esta a seus tratamentos de viciados,
como o recém chegado Emek, um alemão viciado em heroína.
Eles passam 9 meses aqui,
vivendo em quarteirões fechados.
O aspecto da vida em comunidade é muito importante,
Por que os insights que vêm das plantas
são testados pelos atritos
que ocorrem nos relacionamentos do dia-a-dia.
Todos os incidentes, os distúrbios
e conflitos que advêm
da convivência
tornam-se parte do processo terapêutico.
No Takiwasi, as plantas ajudam os pacientes a enxergar
a origem de seus problemas.
Esta é a primeira parte da recuperação.
A segunda parte é traduzir estes insights
em mudanças duradouras que irão lhes permitir se manterem
livres das drogas, uma vez que deixem o centro.
Durante os 9 meses de sua estadia,
eles são constantemente assistidos através de aconselhamentos, tarefas,
e da interação diária com os outros.
A ayahuasca apenas revela o que está dentro de nós;
é como um semáforo numa encruzilhada,
apenas mostra o caminho.
A ayahuasca não irá fazer o trabalho por você;
é você quem tem que fazer isso.
Centros padrões de tratamento e desintoxicação na América do Norte
têm uma taxa de sucesso a longo prazo em torno de 8%.
Estudos de acompanhamento do Takiwasi relataram que 60% daqueles que terminaram
o tratamento de 9 meses ainda se mantém livres das drogas 3 anos depois de saírem.
Que Deus o guie e o proteja em sua jornada.
Nós podemos conversar e teorizar o quanto quisermos.
Mas o que queremos, clinicamente, como médicos,
é provar que um paciente que estava passando mal tomou as plantas
e agora está passando bem.
Esta é a idéia por trás do que fazemos,
e de deixarmos que isso seja conhecido, para que outros médicos no Canada
e outros lugares possam se inspirar neste modelo,
que não inventamos mas apenas recebemos
dos povos indígenas.
Na Amazônia colombiana, os curandeiros mais respeitados
de 9 grupos indígenas se reúnem anualmente
para se assegurarem do uso apropriado da Ayahuasca,
que em suas tradições requer anos
de treinamento rigoroso.
Enquanto um intercâmbio legítimo entre médicos
de diferentes tradições revela grande potencial,
curandeiros indígenas têm preocupações
a respeito da comercialização da ayahuasca
e da perda de seu contexto cultural.
Como um bisturi, a ayahuasca pode ser uma ferramenta poderosa
nas mãos de um profissional.
Nas mãos de um amador, pode causar grande dano.
Dr. Maté sabe agora que tipo de diferença
a ayahuasca pode fazer nas vidas dos que são tratados com ela
no ambiente apropriado.
Antes de retornar ao lar, contudo,
ele precisa entender mais sobre como este medicamento funciona.
A pesquisa mais importante na neuroquímica da ayahuasca
tem sido feita ao longo da última década na Espanha,
no Hospital Universitário de Sant Pau em Barcelona.
Dr. Jordi Riba tem estudado os efeitos do medicamento
no corpo e mente humanos.
O que realmente me surpreendeu foi que eles aparentaram estar muito calmos.
Depois que tomaram ayahuasca eles permaneceram sentados
com seus olhos fechados...
mas mais tarde, quando entrevistei-os,
eles me contaram que tiveram revelações e visões.
Eles tiveram insights muito interessantes sobre suas personalidades,
a forma como se comportaram, como se relacionaram com os outros,
e eles descobriram que isto era muito útil para sua vida diária
e para seu crescimento pessoal.
E para seu passado talvez, também.
Sim, eles também tiveram memórias emocionais de seus passados,
às vezes eventos traumáticos...
Há algum tempo atrás eu costumava brincar dizendo que a ayahuasca
permitia às pessoas terem
algo como que um acesso aleatório à memória...
Mas já penso que não seja aleatório
porque o que geralmente vem à tona são memórias que têm
uma carga emocional muito importante.
Não é simplesmente como se lembrar
do que comeu ontem no jantar,
mas talvez como tenha se sentido a respeito de um parente
ou alguém amado há alguns anos atrás,
ou a lembrança de alguma experiência
que foi emocionalmente relevante para você.
O Doutor Riba e seu time descobriram que a ayahuasca
hiper-ativa o altamente desenvolvido neocórtex,
a área do cérebro que nos faz humanos.
É nela aonde nós percebemos, raciocinamos, e tomamos decisões.
A ayahuasca também ativa regiões como a amígdala,
que atua como um armazém para as primeiras memórias emocionais;
especificamente, as mais traumáticas ou significativas,
como a perda de um dos pais.
Para finalizar, a ayahuasca ativa a insula,
à qual acredita-se criar uma ponte
entre nossos impulsos emocionais
e nossa capacidade de tomada de decisão.
Então, seria onde a sabedoria é mediada?
O neurologista Antonio D'Amasio,
diz que a área em que estados sentimentais
são gerados é a insula.
De acordo com muitos neuro-cientistas,
nosso processo de tomada de decisão tem um poderoso componente emocional.
Quando qualquer estímulo entra no cérebro,
o cérebro tenta entendê-lo baseado em experiências anteriores.
No início da vida, eventos poderosos ou traumáticos
criam uma impressão no cérebro; um padrão.
Este padrão é como um atalho,
ativado toda vez que enfrentamos uma situação similar.
Por exemplo, se fomos uma vez atacados por um cachorro,
nosso cérebro pode fortalecer um conjunto daquelas vias
que associam aquele cão com todos os outros cães,
fazendo-nos temê-los em geral.
Nós podemos mesmo reagir negativamente a um latido distante.
Eventos repetidos causam estes padrões neurais que
reforçam estas conexões ligando-as com proteínas
e construindo-as como uma cicatriz.
Se é assim que esses traumas são originados em nosso cérebro,
como a ayahuasca afeta esses padrões enraizados?
A ayahuasca hiper-ativa a região inteira do cérebro
onde guardamos e processamos a memória emocional,
frequentemente descobrindo memórias há muito esquecidas.
Esta hiper-ativação habilita a parte consciente
do novo cérebro a substituir temporariamente
padrões anteriormente entrincheirados,
permitindo que novas conexões sejam feitas.
Cachorros, por exemplo, podem não ser mais temidos,
assim que estas novas conexões são criadas
e memórias reavaliadas.
Em estudos de campo, usuários de ayahuasca descrevem tipicamente
terem emergido com novas perspectivas
de experiências passadas e de padrões de comportamento profundamente enraizados.
Ainda em Barcelona,
Maté visita o Doutor Josep Fabregas,
que tem conduzido o maior estudo do mundo
a respeito dos efeitos de longo prazo da ayahuasca.
Ao longo de um período de vários anos,
usuários regulares foram submetidos a *** padronizados
para medir os efeitos do chá
no raciocínio e na tomada de decisão.
Seus resultados mostram que a ayahuasca não é viciante,
e que o uso ritualizado não tem efeitos prejudiciais
em sujeitos saudáveis.
De fato, em certas tarefas e *** cognitivos,
usuários de longo prazo graduaram melhor que os grupos de controle.
É claro que a pergunta mais interessante é,
agora que sabemos que é segura,
Será que é também prestável? Será que é útil?
Para alguns problemas,
esta é uma solução muito boa.
Por exemplo?
Por exemplo, estresse pós-traumático,
para abuso *** em jovens e adolescentes...
às vezes a psiquiatria não é a solução para isso,
ela irá apenas mudar os sintomas,
mas com a ayahuasca você tem a possibilidade
e a capacidade de reviver essa situação
com o mesmo sentimento,
e a mesma dor, mas com a capacidade
de mudar a situação,
e isso é um tesouro.
E em um ambiente seguro.
Sim!
A maior parte dos vícios relacionam-se a estresse pós-traumático.
É uma auto-medicação.
Então pessoalmente, posso ver que funciona
e posso também enxergar porque funciona.
Mas provar aos colegas,
esta é inteiramente outra questão.
Não é a ayahuasca:
é a uso ritual da ayahuasca.
O Doutor Maté está determinado a aplicar
o que aprendeu para ajudar seus pacientes,
mas ele sabe que isto será uma perspectiva desafiante.
Oi.
Bem-vindo ao lar.
Está tudo bem?
Você virá ver a mamãe de novo em breve.
Ok?
Tchau mamãe!
Tchau mãe!
De volta a Vancouver,
Cynthia tem que deixar suas crianças novamente.
Outros pacientes do Dr. Maté ainda estão lutando,
E as opções legais de tratamento abertas ao médico
talvez não sejam suficientes.
Se extraídos, alguns dos componentes do chá
são illegais, colocando-os em uma área cinzenta da lei.
Maté sabe que o programa experimental que ele planeja
implementar deve atrair controvérsia,
mas ele deseja correr o risco envolvido
para ajudar a seus pacientes.
Então, eu gostaria de conversar com você a respeito de um tratamento
que usa uma planta curativa peruana.
O que ele oferece é um conhecimento que pode custar às pessoas,
às veses, anos para ser adquirido.
Então essa é uma oportunidade de conhecer de forma profunda
o que realmente está por trás do vício,
e depois, também o que está do outro lado disso.
O grupo do Dr. Maté inclui participantes com questões
que vão desde o vício crônico de heroína
até a luta contra depressão.
Ele não será capaz de replicar o programa intensivo de 9 meses
do Peru, mas ele está tentando verificar
o que um regime mais limitado pode realizar.
Um time experiente irá guiar a sessão de ayahuasca.
Em conjunto, eles têm mais de 20 anos de treinamento
na Amazônia com médicos indígenas de ayahuasca.
Este será o primeiro experimento deste tipo
na América do Norte.
Olá a todos, meu nome é Tracy.
Eu não tenho problemas com abuso de substâncias,
mas acho que estou aqui apenas, acho que tenho tipos similares...
e emocionais de... bloqueios.
Minha vida está simplesmente estagnada.
Cynthia, bem-vinda.
Então, qual é o seu vício?
Ahn... heroína, cocaína, crack...
Agora, você me contatou,
interessada no processo.
Eu acreditava que eu
iria apenas morrer na Hastings.
Meu objetivo é chegar a um ponto em que eu consiga viver a vida
não sendo um viciado
e, na verdade, viver a vida novamente,
e não ter as drogas no controle de minha vida,
então essa é a minha meta.
Eu pareço ter esquecido quem sou.
Quando tenho que olhar para mim mesma
Eu me drogo, porque não quero enxergar.
Megan, a sua grande questão é o alcoolismo.
Hum-humm.
Nada irá funcionar enquanto você estiver bebendo,
simples assim.
Agora, eu não quero dizer que você tem que parar de beber.
Você não precisa fazer nada.
Mas estou dizendo,
enfrente isso internamente de forma contínua.
Então, posso ouvir você falar quais são suas intenções?
A questão é, com suas próprias palavras?
Ah, minha intenção seria de olhar o que será preciso
internamente para que eu... você sabe, largue este hábito negativo.
(canto)
Eu não sei porque isso me atinge tanto,
mas tipo, eu simplesmente não conseguia...
pensar em mim mesma de qualquer forma, como...
Eu nem mesmo tenho uma imagem de mim mesma na minha cabeça,
exceto fotografias que vi de mim mesma.
Eu virei algo como...
quem sou eu?
Isso trouxe à tona muitas coisas.
O passado, com meu pai,
porque meu pai era um alcoólatra.
Eu estava sentindo abandono,
e estou fazendo exatamente a mesma coisa a meu filho
sendo uma viciado em droga
e não estando lá ara ele.
É realmente como se alguém estivesse apontando
uma lanterna em meus olhos.
Você pode pensar sobre o que você era
logo antes da cerimônia de hoje a noite?
E o que está lá para você agora?
Agora estou apenas...
calma e relaxada.
Você está calma e relaxada.
Sim.
Você percebeu a diferença?
Isso é exatamente o que vejo.
É exatamente o que vejo.
Estou vendo a sua calma e relaxamento.
E como isso a faz se sentir?
Bem, mm-hmm.
Entendi completamente como é tão difícil
desistir de qualquer coisa; pensamentos disfuncionais,
co-dependências, vícios, padrões de pensamento.
Nós simplesmente nos prendemos a eles.
Maté sabe que todo programa de tratamento apresenta desafios,
e a possibilidade de uma recaída é uma ameaça constante.
Diferentemente de Takiwasi, os viciados mais vulneráveis de Maté
voltam para as ruas apinhadas de drogas, entre as sessões.
Eu sinto que irei usar.
Me sinto muito, muito, muito em risco.
Eu vou, baby.
Desculpe, mas eu vou.
Eu sei que preciso do seu suporte o dia inteiro...
o dia inteiro...
Por um período de 7 meses,
em um local isolado da British Columbia,
Dr. Maté e sua equipe realizaram sessões grupais mensalmente.
Tive uma visão muito bonita
de minha pequena irmã como uma pequena garota.
E isso me fez como que perder o senso completamente.
Isso simplesmente me fez...
ficar super-emocional.
Ela é tão bonita...
intocada pelo mundo...
Parecia que eu... meio que havia me esquecido dela nessa forma.
Alguns membros do grupo vêm padrões profundamente enraizados
começarem a mudar.
Outros vacilam, "caem do degrau".
Para muitos, essas lições são difíceis de incorporar.
Realizações não acontecem sempre na vida diária.
Ah meu Deus...
Libertar-se do vinho e cerveja...
Isso é difícil.
Libertar-se de drogas prescritas...
Breanne e Colin se esforçam para se manterem limpos por várias semanas,
mas neste ambiente,
recaídas são mais comuns do que casos de sucesso.
Quer 2 ou 1?
Quero 2.
Aqui!
Está fazendo o meu, certo?
Sim.
Colin!
Tem gente ali perto.
Bem, sim, é um parque, Breanne,
claro que tem gente.
Sabe, se nós realmente chegarmos a algum lugar com essas pessoas,
seria absolutamente fantástico.
Mesmo com um deles!
Sim.
O Dr. Maté tem preocupações sobre o bem-estar de seus pacientes,
e o quão eficaz seu programa pode ser.
Trabalhar com ayahuasca é um processo difícil,
mas o potencial que ele testemunhou o encoraja.
Estou realmente tendo um momento difícil, acreditando nas imagens que vejo.
Tive vários abusadores masculinos.
Eu me lembro muito claramente daquela foto de minha mãe
me deixando uma vez, e indo para o bar,
e eu tinha provavelmente em torno de 4 anos.
Perseguindo-a rua abaixo...
Implorando para que ela não me deixasse...
Oh, Jesus...
Estou tendo um momento difícil compreendendo por que iria alguém
te amar tanto ao ponto que pudesse levar tanta inocência
de você...
A dor em meu peito se foi.
O que está lá em seu lugar?
Alívio.
Se com 35 é re-experienciado algo que aconteceu
quando tínhamos 5, pode ser que seja a mesma situação,
mas agora, é entendida através de capacidades
e da estrutura de alguém com 35 anos de idade,
que pode nos dar uma chance
de reposicionar a experiência.
A ayahuasca tem me ajudado muito.
É como...
ter 34 e sentir-se como um recém-nascido.
Nada foi revelado a você que você não pudesse suportar.
Não.
Quanto de tristeza você tem tido em sua vida?
Muita.
Mas sou sempre a otimista ingênua.
Esta era minha próxima pergunta.
Então há muita tristeza aí.
Mas você tem reconhecido suas experiências.
Está dominando elas agora.
Meu coração dói, mas o que este medicamento me deu
foi a habilidade de aceitar que estou ferida...
E... E que está tudo bem.
Sim...
E a pergunta é, você pode conviver com a sua dor?
Você pode conviver com a sua tristeza?
Sim.
Ok. Isso é tudo o que eu preciso.
É isso.
Ok?
Sim.
Todos os hábitos de auto-medicação de Megan desapareceram.
Ela está em um novo relacionamento, e tem planos para iniciar um negócio.
Retornando da última sessão em grupo,
O doutor Maté conversa com sua esposa, Rae,
sobre sua experiência com o medicamento.
Foi mesmo uma conclusão muito surpreendente
desse processo com aquele grupo.
Eu tive um súbito senso de que isso pode realmente ser a vida.
Que as pessoas realmente poderiam apoiar-se uns aos outros
e amarem-se uns aos outros.
E estabelecerem contato com quem realmente eram.
Debaixo de toda a dor e de todos os mecanismos
para se defender da dor, e então...
havia uma beleza a respeito disso,
havia a presença de algo muito maior.
Sim.
Não é que esteja tudo sobre estas pessoas,
Não é que não conseguiram emprego ou têm miséria a sua frente; eles têm.
Mas a capacidade de cura
e a riqueza de seus seres verdadeiros,
que se apresentou e se declarou,
eles nunca irão se esquecer.
O uso da planta no contexto das pessoas
que vivem no Downtown Eastside, os dois não combinam.
Digo, em Takiwasi não se faz isso,
pessoas chegam de onde quer que sejam
e permanecem lá durante 9 meses,
e não fazem uma cerimônia para logo depois
voltar a viver em guetos dominados pelas drogas.
Para realmente demonstrar o que este processo pode fazer,
precisamos visualizar o quadro inteiro.
Acho que o que nós fazemos é mostrar as possibilidades
que são inerentes ao processo.
Porque as pessoas têm essas libertações,
e alguns deles têm feito mudanças reais em suas vidas.
Mãe!
Te amo.
Te amo também mãe.
Onde estão meus pequeninos?
Estão lá atrás.
Agora, livre das drogas, Cynthia está progredindo.
Ela encontrou um novo lar,
e trabalha para readquirir a custódia permanente
de seus filhos.
Maté continua trabalhando com ayahuasca
em ambientes controlados,
tratando vícios,
doenças agravadas pelo estresse,
assim como histórias emocionais não resolvidas das pessoas.
O Dr. Maté é agora mais um de um grupo de médicos
trabalhando no avanço de seu conhecimento dessas plantas,
para promover a cura onde a medicina ocidental tem se provado ineficiente.
A planta tem enormes possibilidades, enorme poder,
e enorme potencial.
E com o contexto apropriado, então temos uma ferramenta...
não só uma ferramenta mas um parceiro, um aliado
na cura, que nós simplesmente não podemos nos permitir ignorar.
Obrigado.
(Aplausos)